Por Ian Lucas Renoir Lafayette
- Não foi culpa sua...
Eu estava sentado no gramado de um cemitério. Era dia, o céu ainda estava claro. Eu encarava uma lápide enquanto chorava, tinha os olhos vermelhos. Alguém mantinha a mão em meu ombro, repetindo sempre a mesma coisa.
- Não foi culpa sua...
- Sim, foi! Eu vi e não fiz nada, podia ter impedido!
- Não havia nada que você pudesse fazer Ian...
- IAN!
Cai da cama com o susto e Bernard estava parado em pé, rindo. Sonhei outra vez com a maldita lápide, e continuava sem ter idéia de quem era. E também, com tudo que estava acontecendo, já havia desistido de descobrir. Era véspera da semifinal entre Sapientai e Lux e precisávamos vencer para disputar a final, que seria contra a Fidei. Saí da cama esquecendo o sonho e em meia hora estava sentado no salão principal tomando café.
- O treino hoje vai ser às 15hs, Lafayette. Não se atrase. – Ty passou por mim na mesa e avisou sobre o treino, saindo com os amigos
- Ok, ok, já sei...
- O que foi, Luke? – Bernard acompanhou meu olhar intrigado – O que tanto olha pra mesa da Fidei?
- Acabei de ter uma idéia ótima pra amolecer um pouco a Marie!
- Ai Merlin, o que vai fazer?
- Só faça com que ela assista ao treino mais tarde, ok? Deixa que eu cuido do resto...
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- Devlin, você não está sincronizado com o Tewlis e o DeVille! Não vamos ganhar a taça assim! – Ty estava vermelho de tanto gritar
- Relaxa Ty, nosso time está bom, não vamos perder – Derkier tentou acalmá-lo.
- Não, não está nada bom! Podem continuar voando, ninguém sai daqui hoje até que eu ache que está bom! Ian, solte o pomo de novo e comece a procurar! Brenda, para os aros outra vez!
Abri a mão e deixei o pomo voar pela 5ª vez naquela noite, que parecia não ter hora para terminar...
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- Ok pessoal, acho que por hoje está bom!
Quase deitei na minha vassoura enquanto voltava para o chão, cansado. Mas nada se comparava ao estado dos outros jogadores, que faziam mais esforço que procurar um pomo. Era quase 22hs e estávamos no campo desde as 15hs! Ty estava tão determinado a vencer amanhã que não nos deu descanso. Mas não me queixava, afinal, era meu ultimo ano e tudo que mais queria naquele momento era sair da escola como campeão do campeonato de quadribol. Notei que Bernard ainda estava na arquibancada com Marie e abordei Ty na saída do vestiário, de maneira que os dois na arquibancada pudessem nos ver.
- Ei Ty! Espera ai!
- O que foi?
- Queria te pedir um favor
- Que favor?
- Será que você pode me acertar com o bastão?
- O que?? Está louco?
- Não, acredite, tem fundamento, mas preciso que você me bata com ele...
- Não, esquece. Não importa que fundamento possa ter nisso, não vou machucar meu apanhador na véspera do jogo!
- Eu juro que amanha vou estar bem! Madame Magali cura em um instante!
- Não, vai dormir, Ian! O treino deve ter afetado seu cérebro...
- Ok, tudo bem, não ia surtir efeito mesmo... Você rebate como uma garotinha...
Pronto, a frase surtiu o efeito desejado. Nem um segundo depois, Ty virou o bastão pra cima de mim. O reflexo fez com que colocasse o braço na frente, e ouvi o som do meu osso se partindo com a pancada. Ty na mesma hora largou o bastão no chão e fez cara de horror.
- EU FALEI PRA ME BATER, NÃO ME MATAR!
- Droga! Por que me provocou?? Ah não, vamos perder amanha!
- Calma, já falei que vou estar bom!
- Luke!! O que aconteceu? você está bem??
E mais uma vez, tive o efeito que queria. Marie e Bernard desceram correndo das arquibancadas e vieram ver o que estava acontecendo. Bernard na hora entendeu que aquilo era armação minha, mas Marie não sabia e logo apontou o dedo para Ty.
- Por que fez isso?? Quer matar seu apanhador na véspera de uma semifinal??
- Mas foi ele que... – Ty parecia cansado para discutir – Argh é bom que fique bom amanha, ou eu realmente vou ter a intenção de te matar! Boa noite!
- Por que ele bateu em você? – Marie me questionou quando Ty foi embora
- Ah nada demais, estávamos discutindo, mas não foi nada. Madame Magali pode dar um jeito...
- Acho que estou sobrando aqui... Vou voltar pro salão comunal, qualquer coisa me chama... – Bernard se despediu rindo e entrou no castelo
- Anda, eu levo você até a enfermaria...
- Vai me largar lá sozinho? – falei com cara de criança abandonada e ela riu
- Não abusa, Ian... Vai ter que fazer melhor que se machucar pra me conquistar
- Eu já te conquistei, meu bem... Só você ainda não percebeu isso...
Marie me encarou séria e não conseguiu segurar o sorriso, que logo ela transformou numa cara séria enquanto me puxava pela mão até a enfermaria. E claro, ela não saiu de lá até que madame Magali tivesse me liberado. Por que é tão difícil pra ela admitir que esteja apaixonada por mim?
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- Tiago Henri apita e a goles é lançada para o alto! Começa a segunda semifinal do campeonato de quadribol de Beauxbatons: Sapientai x Lux. Quem vai enfrentar a Fidei na final? – a voz de Violet Jabouille foi ampliada no megafone e todo o estádio gritou com o começo da partida
Casel saiu com a posse da goles e numa jogada rápida com Nicole e Meyer, a Lux marcou o primeiro gol da partida. Dei um soco no ar de raiva e vi Renault comemorando e rindo da minha cara. Mas a felicidade dele não durou muito, pois em menos de um minuto, vi Devlin tomar a goles de Casel e afundar o Chronos no aro do meio. Empatamos o jogo.
A partida foi dramática. A cada gol que a Lux fazia, nós marcávamos outro em cima. Seguimos empatados por mais de uma hora, e o pomo ainda não havia aparecido. Meus companheiros de time gesticulavam cansados, e jogavam atentos a qualquer brilho dourado no céu, mas nada. Até que então vi Renault fazer um movimento estranho, quase uma cambalhota. Olhei para ele depressa e vi seus dedos se esticando para alcançar algo dourado que brilhava perto dele. Deitei o corpo na vassoura e disparei em sua direção. Um balaço rebatido por Ty fez ele se desconcentrar e o pomo fugiu.
- Se manda Renoir! A final é Lux x Fidei!
- Só nos seus sonhos mais loucos, Renault... Ei, o que é isso na sua orelha???
Renault virou o rosto rápido, as mãos já voando na direção da orelha como se fosse pegar alguma coisa. O tempo que ele perdeu se dando conta que não tinha nada em cima dele foi o tempo que precisei para me afastar e sair na frente na corrida para capturar o pomo.
- Seu trapaceiro! – Renault inclinou a vassoura para me alcançar
- Cada um joga com as armas que tem... Você tem a melhor vassoura, eu tenho o melhor cérebro
- Vamos ver se o seu cérebro ainda continua bom depois que eu amassar ele!
Senti minha vassoura perder velocidade e quando olhei para trás, Renault segurava minhas vestes. Sacudi o pé tentando fazê-lo soltar, mas não adiantou. O pomo estava muito perto, se ele não estivesse me segurando, bastava esticar o braço e eu conseguiria capturá-lo.
Vi o pomo se distanciar e resolvi arriscar. Era minha única chance, se não desse certo, a Lux venceria. Joguei o corpo para trás até a vassoura parar por completo, e quando Renault percebeu que eu estava parando, era tarde demais e ele não conseguiu frear a sua a tempo. Ele se desequilibrou da vassoura e ia se chocar comigo, mas retomei a velocidade e desviei, deixando ele pendurado no ar. Avancei para o alto e em alguns segundos, pude sentir as asinhas do pomo se debatendo entre os meus dedos. Vencemos o jogo.
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