Wednesday, November 01, 2006

Planos quase imperfeitos...

Por Bel McCallister e Bernard Lestel

- Eu me recuso a sair assim!
IM: Assim como, exatamente?
- Assim, assim oras! Com essa tinta toda na cara! Não sou palhaça de nenhum circo. Tira isso agora do meu rosto Isabel!
IM: Bel é o seguinte: você entende dos livros, eu entendo da moda, ok? Você está linda!

Linda! Linda para uma parada gay! Nunca tinha recebido tanta maquiagem no rosto. E minha cabeça estava doendo com aquele penteado maluco, quase em outra dimensão. Eu já não tinha forças para agredir fisicamente a Isabel, e nem palavras para agredir verbalmente, por isso, meu subconsciente implorava para que aquilo tudo não tivesse passado de um sonho ruim. Fechei os olhos e me lembrei de como tinha começado tudo... “Bel, eu comprei um vestido para você, achei a sua cara! No final das aulas, vamos comigo até o dormitório para eu te entregar, está bem?”

Eu ia pedir pra ela fazer picadinhos do vestido, mas não custava nada ir pegar ele, e depois enfiá-lo no fundo da mala, então, achei que seria menos trabalhoso concordar.
No final das aulas, lá estava eu, dormitório da Isabel, sendo amarrada pelos braços e pernas por uma poltrona, enquanto aquele ser repugnante arrancava minha varinha, não dando ouvidos para os xingamentos e pedidos de libertação que eu exclamava aos berros. Bom, aconteceu o óbvio. Uma hora, depois de tanto ter xingado, minha variedade acabou e me vi obrigada a calar a boca.

IM: Finalmente! Pensei que não ia parar de gritar nunca mais! Bom, você deve estar me perguntando por que está amarrada na minha poltrona. Eu respondo que enquanto você grita e esperneia pra sair daí, eu estou te ajudando e muito! Então, você me pergunta, como? Eu respondo: separando as maquiagens que vou usar em você pra caírem bem naquele –apontando para um vestido esticado em cima da cama- vestido!
BM: Eu vou te pedir com educação... Me solta, AGORA! Você é psicopata! Eu não sei o que você quer comigo, mas se tentar alguma coisa, eu arranco as suas fuças!
IM: Você devia me agradecer, sabia? A minha esperança é que um dia você me agradeça o suficiente... Mas vamos deixar de conversa! Ao trabalho!
BM: QUÊ? Me solta, sua maluca!!!

... O que vem depois, eu não gosto nem de me lembrar! Lápis sendo enfiado dentro do meu olho, coisas geladas sendo aplicadas nas minhas bochechas, grampos sendo enfiados no meu crânio, até que...

IM: Fala a verdade? Você está ou não está linda! O Bernard vai morrer!
BM: Bernard? O que tem ele? Já te pedi para parar com as brincadeiras idiotas Isabel...

Mas então, pela primeira vez, eu vi que ela estava assustada por ter dito Bernard. Sempre quando fazia as brincadeiras comigo sobre ele, ela caía em risada, mas dessa vez não... Ela estava com a boca tampada pelas mãos, os olhos arregalados de choque.

BM: O que foi dessa vez? Se lembrou que não fez a chapinha hoje?
IM: Que droga! Ele vai me matar! – ela segurou meu braço com firmeza, chegava a doer. – Olha, me escuta! Tudo isso que aconteceu hoje, as maquiagens e a roupa, eu tinha sonhado com um dia desses há muito tempo. Mas hoje, eu fiz o que fiz, ou seja, obrigatoriamente, pois as circunstâncias exigiam! Então eu pensei: é a minha chance! É a chance de dar uns tratos na Bel! Então, você conhece o resto... E eu não uso chapinhas!!!
BM: O que você está dizendo? É para a festa de dia das bruxas?
IM: Bel, o Bernard vai te chamar pra sair hoje. Ele contou pro Ian, que acabou comentando com o Samuel, que sem querer e perceber, comentou comigo.
BM: E você, mais do que depressa, deixou escapar sem querer comigo certo? Brilhante! Além de tudo isso, você é fofoqueira!
IM: Bel, agora não, eu estou falando sério...

Estava abismada. Ela estava falando sério? Eu teria que inventar uma dor de dente, grave... O Bernard que me desculpe, mas não vou sair com ele, não estou preparada para tantas surpresas em um dia só!

***

- Nervoso Bê?
- Não, por quê? Deveria estar?
- Ora, primeiro encontro, expectativa, pressão, sabe como é né?
- Não tem pressão nenhuma, parem vocês dois!
- Claro que não, estamos falando da Anabel.
- Sim, ela não é como umas e outras que saem rolando na areia da praia com um garoto, em publico...

Ian olhou alarmado para Marie ao seu lado, que parecia chocada com o que havia dito. Em seguida deu um soco no meu braço que denunciou que estava falando dele e saiu calado do quarto. Dominique vinha rindo atrás e Marie desceu comigo, calada também. Nos separamos quando chegamos ao hall de entrada e logo avistei Bel conversando com Isa, parecendo agoniada para sair dali. Tracei uma reta até as duas.

- Boa noite! Não vão para o barco? Já está quase saindo!
- Ahn na verdade, estava pensando em ficar no castelo... Fiz uma cirurgia no dente e não posso comer nada e...
- Ah Bel, pode parar! Ela ta ótima Bernard, e é toda sua! Tchau, Samuel está me esperando!
- Então? Vamos? – falei para Bel
- Não sei se é uma boa idéia jantar, sabe... Eu...
- Espera ai! Como você sabe que eu ia convidar você pra jantar?? – mas não esperei ela responder – quer saber? Já ate sei o caminho que a noticia percorreu para chegar aos seus ouvidos... – e lancei um olhar cerrado na direção dos meus amigos
- Mesmo assim, ainda acho que...
- Bel, por favor – e coloquei o dedo em seus lábios – eu gosto de você e sei que apesar de fazer força pra disfarçar, você também gosta de mim. Só o que peço é uma chance. Sai comigo hoje, prometo não forçar você a nada que não queira. E se mesmo assim no fim da noite você não tiver gostado de nada, eu deixo você em paz, nem falo mais com você, se preferir. Mas me da uma chance, ok?
- Eu, er, ahn... Tudo bem... – ela falou por fim, sem reação.

Estendi o braço e ela não teve outra opção senão segura-lo e me acompanhar. Fomos até a festa da qual deveríamos participar junto com os demais alunos, mas saímos junto com os que se ofereceram para monitorar os pequenos, nos afastando deles assim que pisamos na Avenida Champs Elysée...

***

BL: Hum, não vai comer a carne Bel?
BM: Não como carnes desde os 8 anos de idade, sou vegetariana! – disse enfiando um champion na boca. Bernard tossiu com a água.
BL: Jura? Ai, que equívoco! Desculpa, eu não sabia... Por isso escolhi esse restaurante!
BM: Não precisa se desculpar! A salada está bem temperada... – rindo, o que fez ele soltar um suspiro de alívio e rir em seguida também.

No começo, eu estava travada, mas percebi Bernard tremendo levemente quando me deu a mão para andarmos juntos, sem contar que estava gelado, então decidi me acalmar e levar a situação toda na maior naturalidade possível. Agora já estava bem mais solta, e conversamos e rimos até bastante durante o jantar todo.

BL: Bom, vamos pedir a sobremesa? Ou você tem diabetes?
BM: Não, a sobremesa eu como, prometo!
BL: Ok...

Ele pegou o cardápio e o apoiou no enfeite da mesa, olhando. Eu estava olhando as pessoas ao redor, quando senti um cheiro de fogo.

BM: BÊ! O cardápio! Está pegando fogo!!!

Bernard pulou da cadeira e começou a bater o guardanapo com força na chama. O cardápio tinha encostado-se às chamas das velas que estavam em cima do enfeite, e agora estava pegando fogo. Na mesma hora, joguei o copo de água mas não surtiu nenhum efeito. As pessoas ao redor já gritavam desesperadas, e uns dois garçons haviam corrido para a cozinha. O desespero estava armado.

Voltaram correndo com dois baldes de gelo e jogaram sem delicadezas na mesa, cessando o “incêndio”. O cardápio estava em cinzas, e o forro da mesa já tinha um furo de queimado no meio. Me joguei na mesa, uma parte do vestido molhada, ofegando.
Bernard encarava o cardápio, petrificado. O garçom veio com a conta, que inclusive já estava acrescida de todos os danos. Saímos do restaurante calados, mas assim que tomamos a Champs Elysée de novo, cai na risada, chegando a chorar...

***

- Bel, me desculpa pelo jantar desastroso. Não sei o que me deu!
- Não tem problema Bernard – falou segurando o riso – foi até divertido.
- Sim, um espetáculo de circo: O Incrível Bernard e os Cardápios Flamejantes! – e ela deixou a risada escapar
- Não se preocupa, de verdade. Eu me diverti assim mesmo.
- Bom, ao menos no passeio de balsa nada pode dar errado!

O apito da balsa na qual deveríamos estar acomodados soou alto e olhei assustado para o relógio. Já eram 21:31 e ela sairia às 21:30, em ponto. Agarrei a mão de Bel e sai puxando-a pelo píer na tentativa de conseguir embarcar, mas em vão. A balsa já estava no meio do rio Senna e só um atleta conseguiria saltar dentro dela! Dei um soco no ar revoltado e quando fui gesticular indignado, acabei acertando o nariz dela com força.

- Bel? Bel, você esta bem?? Desculpa, não queria te machucar!
- Tudo bem, não foi nada – falou com a voz embargada.
- Droga! Nada está dando certo! Vamos, vou te levar de volta pra festa, quem sabe assim você fica mais segura...
- Não, não precisa, eu estou bem! Olha, nem ta inchado!
- Não Bel, chega. Não se preocupe que amanha mesmo paro de te importunar.
- Ah não, agora quem não quer voltar sou eu! O jantar não foi um sucesso, você vai ter que reembolsar os cardápios caros do restaurante, perdemos a balsa, quase perdi meu nariz, minha gêmea má me fez de barbie hoje, o sapato está apertado, não gosto desse vestido, enfim, então estou no direito de escolher o que quero! E quero andar, pronto! Vamos andar a toa, nada vai sair errado nisso!

Olhei espantado para ela e achei que seria perigoso desacatar aquela ordem, então tornei a estender o braço, que dessa vez ela segurou de bom grado, e começamos a refazer o caminho que nos levou até ali. Fomos caminhando pelas margens do rio Senna por quase toda sua extensão. Passamos por alguns dos meus amigos mergulhando no rio e nem parei para falar com eles, pois avistei alguns guardas perto. Se ele os pega dentro da água, madame Maxime teria que ir buscar seus alunos na cadeia trouxa... Já estávamos aos pés da Catedral de Notre Dame quando paramos.

- Nunca tive a chance de entrar... Só tive duas três visitas a Paris ate agora e está sempre cheia de turistas!
- Quer conhecer agora?
- Como? Está fechada e...
- Me abraça firme, não solta!

Puxei-a pra junto de mim sem nem deixa-la terminar a frase e com um aceno da varinha, desaparatamos. Havia feito meu exame nas férias e passado na 1ª tentativa, mas era a 1ª vez que fazia isso com outra pessoa junto. Aparatamos no alto da Catedral, na parte onde já é toda cercada a fim de evitar suicídios. Bel ainda estava um pouco chocada quando a soltei, mas desfez a expressão de susto ao ver a vista lá de cima.

- Gostou?
- Sim, é lindo... Dá pra ver a Torre Eiffel! E o Arco do Triunfo! O rio Senna e tudo mais!
- Tinha certeza que ia gostar... É meu lugar favorito de Paris. Quando não está cheio de turistas, claro.
- Na próxima visita a Paris você vem comigo conhecer o interior da Catedral, não é?
- Claro! Vou aonde você quiser, é só falar... – falei me aproximando dela – como está o nariz?
- Está ótimo, nem lembrava mais que você me deu um soco! – e riu – brincadeira, não esta doendo mais. Na verdade sempre o achei meio torto, quem sabe agora ficou encaixado. Isabel sempre diz que...

Mas não deixei que ela dissesse o que a irmã tanto diz. Estava mexendo em seus cabelos enquanto conversávamos e sem perceber, meus lábios já estavam colados nos dela. Mas diferente das outras duas vezes, Bel não pareceu resistir ou tentar me afastar. Ela passou os braços ao redor do meu pescoço e eu envolvi os meus em sua cintura. Naquele exato momento começou a cair um dilúvio, mas não estava mais me importando com qualquer contratempo. Tinha certeza que havia encontrado a garota ideal pra mim e não iria deixá-la ir embora fácil.

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