Thursday, November 23, 2006

Just a little help...

Das memórias de Gabriel Graham Storm

Já passava das 21hs quando desci as escadas do dormitório depois de terminar meus deveres e saí do Salão Comunal da Sapientai rumo à biblioteca para cumprir a detenção por ter gritado com a professora de Etiqueta. Ty e Miyako não receberem detenção, a professora aparentemente só tomou como desaforo a minha atitude e talvez querendo me ensinar uma lição, fez com que somente eu fosse punido. Mas não estava me importando nem um pouco, pra falar a verdade. Se ela acha que assim se convence que está certa, não posso fazer nada.

Cheguei à biblioteca e ela estava vazia, exceto por uma menina loira sentada em uma das mesas distraída lendo um livro. A reconheci imediatamente como Manuela, a monitora do 7º ano da Sapientai. Ela levantou a cabeça quando me ouviu chegar e sorriu em cumprimento, voltando à atenção ao livro em seguida. Procurei uma mesa do outro lado da sala para sentar, imaginando se ela também estava ali por causa de uma detenção. A idéia me fez rir. Dois monitores em detenção, e ambos da mesma casa. Passaram-se alguns minutos e nem sinal de algum professor para nos dizer o que fazer, então resolvi quebrar o silencio.

- Sabe onde está o Gerard?
- Não, mas espero que esteja dormindo – ela falou desviando a atenção do livro – preciso terminar de ler isso ainda hoje, pois teremos teste amanha.
- Sobre Homens e Ratos... – falei lendo a capa do livro – já li esse livro, é muito bom. Que professor pediu?
- Minha professora de Literatura Mágica – disse com voz de tédio – não sei no que um livro trouxa vai acrescentar na aula, mas o fato é que tenho que ler.
- Ainda não tenho essa matéria – falei meio vago antes de mudar de assunto – você está por quê?
- Pelo mesmo motivo que você, Einstein. Detenção.
- Isso já percebi. Perguntei por que você levou detenção.
- Digamos que algumas alunas daqui são muito sensíveis a insetos... é tudo que você precisa saber. E você, o que pode ter feito?
- Gritei com uma professora... e chamei ela de louca.
- Está me dizendo que foi você que gritou com a Defossez??
- Ah ótimo, a historia se espalhou... – falei impaciente
- Claro que espalhou! Mas não foi o meu caso, pois minha turma teve aula depois do ocorrido e a Marie caiu na besteira de perguntar se a professora estava bem. – ela falou fechando o livro e me encarando empolgada – ela começou a chorar contando o que tinha acontecido e disse que nunca foi tão desrespeitada em toda sua vida! Ah mas não se preocupe – ela acrescentou quando viu que eu arregalei os olhos – era tudo drama! Falou mais um monte de besteira, mas não ouvi porque estava concentrada tentando não rir!
- Que bom que meu temperamento inconstante tenha entretido sua turma...
- Nós que agradecemos, foi a melhor aula de Etiqueta em 7 anos!
- Boa noite, desculpe o atraso – Gerard apareceu na porta cortando a conversa.

Levantamos da mesa e Gerard nos comunicou que passaríamos boa parte da noite organizando todos os livros da biblioteca. Eram realmente muitos, nem eu tinha conseguido ler metade deles em 2 anos aqui! Ele nos deixou sozinhos com um imenso catalogo constando a ordem que os livros deveriam ficar e saiu bocejando, provavelmente para dormir confortável em sua cabana. Cada um foi para um lado começar a ajeitar os livros, sem conversar. Queria terminar isso o quanto antes para voltar ao dormitório. Já estávamos ali há quase meia hora quando Manuela resolveu falar, sem a menor cerimônia.

- Você gosta da Mad...
- O que? – falei pego totalmente de surpresa pela cara de pau dela
- Você gosta da Mad, eu sei.
- É impressão sua
- Ah sim, claro, impressão minha... – ela falou rindo – eu sei quando um menino ta afim da minha amiga, já foram muitos desde que entramos para a escola.
- Acho que se não conversarmos, terminamos isso mais rápido e saímos daqui.

Ela não me respondeu e ficou muda, mas só por dois minutos. Senti uma sombra atrás de mim e dei de cara com ela quando virei.

- Eu posso te ajudar. A conquistar ela, sabe... Sei do que ela gosta
- E por que está me dizendo isso?
- Por que gosto de você, acho que você é legal e a única pessoa capaz de botar um pouco de juízo na cabeça dela.
- E não vai dizer que sou novo demais também?
- Ah a idade não faz a menor diferença! Ela não se importa com isso...
- Eu não tenho a menor intenção de mudar a sua amiga, se é esse o seu interesse em me ajudar – falei passando por ela e indo para outro setor.
- Também não tenho vontade de mudar o jeito da Mad, se é isso que você está pensando! Mas até agora ela só namorou garoto sem juízo e eles só pioram as coisas... Você é diferente.

Fiquei calado um tempo, sem saber o que responder. Não a conhecia o suficiente para dizer se ela estava falando sério ou fazendo hora com a minha cara, mas tinha a impressão que ela não estava brincando. Como eu não respondi, ela deu meia volta e continuou a arrumar sua metade da biblioteca e não falamos mais nada pelo resto da detenção. Durante esse tempo podia jurar que vi um vulto passando pela porta e fiz um esforço muito grande para não pensar na história do assassino rondando a escola. Manuela não parecia ter notado nada.

Quando terminei minha parte, percebi que ela já havia acabado há muito tempo, mas ficou sentada na biblioteca terminando de ler o livro e me esperando. Ela fechou o livro e levantou quando viu que eu estava indo embora, caminhando calada ao meu lado. Já estávamos perto do Salão Comunal quando ela falou.

- Olha, não estou querendo pregar uma peça em você, como sei que você está pensando. Realmente quero ajudar, porque já percebi que se ninguém te der um empurrão, você nunca vai chegar nela.
- Eu não preciso de técnico pra isso – falei irônico
- Que seja, mas eu posso ajudar você a se aproximar dela. O resto fica por sua conta!
- Não, obrigado.
- Argh como você é teimoso! Tudo bem então, vamos fazer uma troca de favores!
- Como assim? – disse confuso. Essa menina era louca.
- Você me resume esse livro quando entrarmos na Sapientai, já que você leu e gostou, e eu te ajudo a se aproximar dela. Você me faz um favor e eu faço outro pra você. Justo, não?

Parei de andar e fiquei encarando ela, pensativo. Agora tinha certeza que ela não estava de gozação comigo e queria mesmo ajudar. Como também tinha certeza que ela não ia me deixar em paz até que eu aceitasse sua ajuda, estendi a mão para selar o acordo. Ela estendeu a dela sorridente e entramos no nosso Salão Comunal. Ficamos sentados no sofá até quase 2hs, tempo que levou até que eu conseguisse resumir toda a historia do livro e que ela a entendesse, e depois fomos cada um para seu dormitório. Se eu quisesse ao menos uma chance com a Mad, essa parecia ser a maneira mais fácil...

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