Das lembranças de Ian Lucas Lafayette
- Fechem os olhos... O lobo está nessa sala. Conseguem senti-lo? Sentem sua presença? Quem consegue me dizer qual dos alunos é o lobo?
Estávamos na aula de teatro e apesar de não admitir, começava a gostar delas. O professor, Armand, era muito engraçado e tornava tudo menos ridículo. Hoje ele inventou uma brincadeira onde escolheu um dos alunos para ser o ‘lobo’ e os demais deveriam descobrir quem era o escolhido, através de pistas. Estávamos todos sentados em círculos, de olhos fechados, enquanto o ‘lobo’ rodeava o grupo. Já passava das 20hs quando ele encerrou a aula e nos dispensou. Os demais alunos seguiram para suas casas, mas meu grupo ficou para trás, ajudando o professor a recolher as coisas e conversando.
- Muito boa sua aula hoje, professor! – Viera comentou apanhando uma mascara do chão
- Obrigado Olivier, que bom que gostou. Vamos ensaiar algo mais sombrio semana que vem e queria que vocês entrassem no clima. Vocês apagam as luzes? Ainda preciso preparar algumas coisas...
- Ah tudo bem professor, pode ir! – falei e ele fechou a porta da sala
- Alguém leu o jornal hoje? – Marie falou – sobre a menina que morreu?
- Eu li alguma coisa sim, ela foi assassinada, não é? – Mad falou
- Sim, a encontraram enterrada, mas a pessoa esqueceu de enterrar a mão.
- Será que é um Serial Killer? – Bernard falou preocupado – imagina o caos que não seria se fosse? Afinal, a menina morreu num vilarejo vizinho a escola!
- Não, não é... – falei pensativo – mas pode passar a ser...
- O que quer dizer com isso, Luke? – Dominique perguntou e todos pareciam curiosos
- E se criássemos um assassino? Criássemos um e fizéssemos toda a escola acreditar que é o mesmo da menina do vilarejo vizinho e que ele está infiltrado aqui?
- E assim veríamos até onde uma mentira pode ir e a reação que ela pode causar nas pessoas... – Samuel completou parando ao meu lado
Todos se entreolharam por um tempo, considerando a idéia, até que Dominique quebrou o silencio nos dando apoio. Bernard puxou um pergaminho e uma pena da mochila e começou a anotar nossas idéias, descrevendo como seria o assassino, seu nome, seu padrão de assassinatos, ultimas vitimas e próximas, onde descrevemos o jeito que cada um de nós ia morrer nas mãos dele. Quando terminamos, Michel fez cópias do texto sobre ‘o lobo’, nome dado ao assassino, e espalhamos alguns pela escola. Samuel ficou encarregado de pedir a Isa que encaixasse uma cópia dele no jornal daquela semana e fomos dormir certos de que tínhamos acabado de criar a peça do ano.
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- Não foi culpa sua...
Eu estava sentado no gramado de um cemitério. Era dia, o céu ainda estava claro. Eu encarava uma lápide enquanto chorava, tinha os olhos vermelhos. Alguém mantinha a mão em meu ombro, repetindo sempre a mesma coisa.
- Não foi culpa sua...
- Sim, foi! Eu vi e não fiz nada, podia ter impedido!
- Não havia nada que você pudesse fazer Ian...
Acordei assustado e Bernard já calçava os sapatos, pronto para descer e tomar café. Nem comentei com ele sobre o sonho, não precisava. Já era a quinta vez que sonhava com a mesma coisa e sempre que eu despertava daquele jeito, ele já sabia o que era. Eu continuava sem saber de quem era a mão e quem estava enterrado, mas já desistira de tentar. Descemos juntos para o Grande Salão e quando chegamos lá, pude notar um ar pesado entre os alunos, que não paravam de correr de mesa em mesa, como se algo muito serio tivesse acabado de acontecer.
- O que houve? Alguém morreu? – perguntei me sentando ao lado de Michel na mesa da Fidei
- Sim... Cinco pessoas já foram assassinadas pelo ‘lobo’ e parece que ele está infiltrado em Beauxbatons! – ele disse piscando e prendi o riso
- Deu certo então? A noticia se espalhou? – Bernard perguntou baixo enquanto os demais se juntavam a nossa volta
- Aqui não é lugar pra isso – Viera falou – nos encontramos hoje à noite na sala dos fundadores para pensarmos no próximo passo
- Viera tem razão, vamos nos espalhar antes que desconfiem – falei e cada um foi sentar em sua mesa, esquecendo a historia pelo resto do dia.
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- Como puderam fazer uma brincadeira dessas? – o professor Armand me alcançou no corredor enquanto me dirigia para a sala dos fundadores
- Fazer o que, professor?
- Inventar que o assassino das minhas aulas é o autor do crime daquela menina trouxa e ainda dizer que ele esta dentro da escola!
- Foi só uma brincadeira?? – disse cínico
- Toda a escola acreditou e os alunos estão preocupados. Vocês precisam desmentir isso, ou eu farei. Sua ficha aqui não é das melhores, sabe que não pode se dar ao luxo de ser expulso no ultimo ano!
- Faça o que achar melhor, professor. Não fizemos nada e mesmo que tivéssemos, quem poderia provar?
Deixei o professor parado no meio do corredor pensativo e apertei o passo, alcançando a sala dos fundadores alguns minutos depois. Já estavam todos lá me esperando e se calaram quando viram que eu estava serio.
- Precisamos de um crime. O lobo precisa agir.
Se o professor, mesmo que sem provas, fosse desmentir nossa historia, teríamos que dar força a ela. Teríamos que fazê-la crescer.