Das lembranças de Ian Lucas Renoir Lafayette
Depois de uma longa e debatida reunião de cúpula, ficou decidido que ‘o lobo’ ia agir ainda essa noite. Eu havia saído da sala antes de ficar acertado os detalhes de onde, como e a quem ele iria atacar, pois pelo andar da carruagem isso ainda ia tomar muito tempo e eu tinha outros planos para essa noite. Refiz o caminho para o Salão Comunal da Sapientai e depois de tomar banho e me arrumar, sai outra vez. Pensando em pregar uma peça no pessoal quando voltasse, peguei a máscara laranja do meu baú e escondi no bolso da calça jeans.
Era por volta de 20hs quando saí do Salão Comunal e desci junto com Manuela, que não iria participar da brincadeira por estar em detenção. Deixei-a na biblioteca e segui direto para o 1° andar, onde sabia ter uma passagem secreta no armário de vassouras que dava direto numa cabana abandonada no vilarejo trouxa perto da escola. Estava tão distraído, pensando em chegar logo lá, que não reparei quando minha máscara caiu do bolso da calça no meio do corredor...
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Já passava de uma da manha quando retornei ao castelo, pela mesma passagem. Já havia esquecido por completo meus planos de assustar o pessoal usando a roupa do lobo e fui direto para o dormitório. Manu estava deitada no sofá do Salão Comunal absorta numa conversa com Gabriel Storm, do 5° ano, que estava sentado no chão contando uma história para ela. Ambos estavam tão concentrados que não perceberam que entrei, desviando os olhos um do outro apenas quando pigarreei alto.
- Estou interrompendo alguma coisa? – falei brincando e Manu riu
- Oi Luke! Gabriel está me contando a história do livro, já que não li nem metade dele.
- Ah sim. Nossa Manu, a professora pediu isso há quase um mês!
- Mas você me conhece, sabe que deixo tudo pra ultima hora. Só não contava em receber uma detenção no meu tempo de fazer os deveres!
- Onde você estava? – Gabriel perguntou como se tivesse acabado de notar minha presença
- Lugar nenhum. Fui dar um passeio.
- Um passeio de madrugada, com todos os boatos que circulam pela escola? – ele falou desconfiado e Manu e eu nos entreolhamos receosos
- Não tenho medo desses boatos. Bom, eu vou dormir e deixar vocês terminarem o papo. Boa noite. – disse depressa e subi, a fim de evitar mais perguntas.
- Boa noite – disseram ao mesmo tempo
Ouvi os dois retomaram o assunto assim que comecei a subir as escadas e o som da conversa morreu quando fechei a porta do dormitório. Bernard não estava na cama dele, foi a 1ª coisa que notei ao entrar. Onde ele estaria? Será que ainda estavam juntos, pondo em pratica o plano? Ao pensar nisso me lembrei que pretendia assusta-los e instintivamente pus a mão no bolso a procura da máscara. Senti meu sangue gelar quando constatei que ela não estava lá. Onde estava? Havia deixado cair, sem duvida. Mas aonde? E se alguém tivesse apanhado?
O grito de alguém nos jardins desviou minha atenção e corri para a janela. A principio não vi ninguém do lado de fora, mas ao olhar com mais cuidado, pude ver a silhueta de alguém sendo arrastado perto da orla da floresta. Não era possível, daquela distancia, dizer quem estava sendo arrastado e gritando, a não ser que era uma garota. Mas não havia duvidas que a pessoa que a arrastava usava a roupa do lobo. Ri sozinho no quarto, imaginando que isso fizesse parte do plano que eles bolaram na minha ausência e fechei a janela, indo colocar o pijama. Quem quer que esteja arrastando a menina, é um dos meus amigos e amanhã eu saberia os detalhes. Os gritos logo cessaram e deitei na cama cansado, dormindo imediatamente.
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Acordei atrasado no dia seguinte e Bernard já havia descido para o café. Sua cama ainda estava desarrumada, o que indicava que ele havia voltado para o dormitório. Sai da cama me arrastando e depois de tomar um banho quase dormindo debaixo do chuveiro, fui para o Grande Salão. Não foi preciso mais que 30 segundos para perceber que a atmosfera no salão estava pesada. Muitos alunos tinham expressões assustadas no rosto e os professores estavam sérios, conversando quase que em sussurros na mesa deles. Mais que depressa corri os olhos pelo salão a procura dos meus amigos. Tinha certeza que o clima estava daquele jeito por causa da nossa brincadeira, então queria saber o que tinha acontecido, quem era a garota. Estavam todos sentados na mesa da Fidei e quando me aproximei eles levantaram apressados, me arrastando para os jardins. Não deu nem tempo de pegar uma torrada ou um suco.
- O que está acontecendo? Deu tudo certo ontem? É por isso que estão todos com aquelas caras assustadas, não? – falei rindo, mas eles não riram.
- Aonde você foi ontem, Luke? – Dominique perguntou
- Eu saí da escola, tinha uns assuntos para resolver.
- Que assuntos? – agora foi Marie que falou
- Assuntos pessoais, que não interessam a mais ninguém. – falei ríspido
- Você estava fora da escola mesmo? – Viera perguntou preocupado – não voltou antes de meia noite, certo?
- Sim, cheguei por volta de uma hora. A Manu estava no Salão Comunal com o Gabriel, ela me viu!
- Ele está falando a verdade pessoal, eu vi quando ele chegou... – Manu falou, claramente segurando o choro.
- O que aconteceu pessoal? Quando eu subi, vi uma garota sendo arrastada perto da floresta. Quem era? Qual de vocês estava com a roupa?
- Ninguém... – Bernard falou calmo – Não era nenhum de nós. Nós não chegamos a fazer a brincadeira, estávamos nos preparando ainda quando... – mas ele parou de falar
- Quando o que?? – falei já desesperado – se não eram vocês, quem era??
- Estávamos indo para a biblioteca, pois sabíamos que a única pessoa acordada no castelo era o menino que estava em detenção com a Manu, nossa intenção era espera-los sair para darmos um susto nele. – Michel falou num fôlego só
- Eu não sabia do plano idiota de assustar ele, e conseqüentemente a mim! – Manu falou já não conseguindo segurar as lagrimas
- O problema foi que quando estávamos nos posicionando, vimos alguém de fora do grupo passar correndo pelo corredor, usando nossa roupa. – Marie falou, também chorando.
- Eu não estou entendendo nada! Será que dá pra chegar ao ponto logo? – falei impaciente
- Luke, a principio nós pensamos que fosse você. – Samuel falou nervoso – você era o único que não estava conosco e não sabíamos onde você estava, mas ai... – ele fez uma pausa – mas ai a pessoa passou direto da biblioteca. Ainda pensando que era você, decidimos mudar o rumo da brincadeira e lhe pregar uma peça. Demos meia volta, mas perdemos o rastro da pessoa.
- Então resolvemos parar no jardim para montarmos um esquema de pegar você mais rápido, nos dividindo – Viera continuou a historia – já havíamos nos separado há uns 15 minutos, quando ouvimos um grito vindo da orla da floresta. Em seguida vimos uma menina sendo arrastada pelo casaco, por uma pessoa usando a máscara! Tudo que conseguimos pensar era que você tinha armado um plano sozinho para agir e nos assustar também. Nós já havíamos nos encontrado outra vez e visto que não era ninguém do grupo. Você era o único que poderia ter feito isso, só nós temos a roupa.
- Não, não. – falei me dando conta da confusão – eu sai sim com a mascara, pretendia assusta-los quando voltasse, mas a deixei cair! Não sei aonde, só percebi que estava sem ela quando cheguei no dormitório. Devo tê-la deixado cair ainda na escola e alguém apanhou!
Ficamos mudos um tempo, sem nem nos olhamos direito. Se não foi nenhum deles e nem eu, quem estava usando a marcara do lobo? Quem poderia ter virado nossa brincadeira contra nós mesmos, nos fazendo duvidar uns dos outros? Madeline resolveu quebrar o silencio.
- A menina era da Lux, 2° ano. Mathilde Serrell. Ela desapareceu, ninguém sabe pra onde ela foi levada.
- E vocês não têm nem idéia de quem possa ter pego a minha mascara? – falei me sentindo mal. Tinha a impressão que poderia vomitar a qualquer instante
- Nem uma única pista. Só que a pessoa parecia ser forte, pra ter conseguido arrastar a menina.
- Precisamos descobrir quem foi. Isso é nossa culpa, nós inventamos esse assassino e agora tem um imitador na escola usando essa identidade e o fato de saber que é mentira, pra atacar os outros. – Samuel falou também parecendo se sentir mal
- Temos que descobrir quem foi – falei com urgência na voz – o professor de teatro sabe que fomos nós que começamos o boato e podem contar que ele vai vir até nós, nos acusando!
- Ele não tem provas de que fomos nós que começamos nada e muito menos de que fomos nós que... – Marie parou de falar de repente, como se tivesse percebido o que estava prestes a dizer – que fomos nós que matamos aquela menina.
- Calma Marie, ninguém sabe se ela morreu de verdade! – Bernard falou tentando se manter calmo, mas sem conseguir fazer um bom trabalho.
- Bernard tem razão, estamos entrando em pânico à toa. – Dominique falou – ao invés de começarmos a nos culpa e lamentar, devemos nos unir pra pegar esse desgraçado e entrega-lo à diretora, antes que a culpa caia sobre nós!
- É, isso mesmo, vamos nos acalmar – Michel parecia tranqüilo – não sabemos ainda o que realmente aconteceu com ela. A pessoa pode estar querendo nos ensinar uma lição e ate onde sabemos, pode ate ter sido obra do professor Armand! – e todos concordaram
- Ok, chega, de nada vai adiantar ficarmos procurando um culpado sem qualquer tipo de provas! – Manu falou nervosa – vamos entrar, temos uma prova daqui a 20 minutos e depois dela, começamos a pensar no que fazer.
- Se pudesse voltar no tempo, não tinha topado participar dessa brincadeira estúpida. Essa foi a coisa mais idiota que já fizemos... – Mad falou quase chorando, mas segurando as lagrimas.
Ela saiu andando pelo gramado de volta para o castelo com Marie e Manu e as seguimos, calados. Na verdade, ninguém trocou mais nenhuma palavra pelo resto do dia. E nem nos reunimos depois da prova para bolarmos um plano, sequer nos olhamos e fomos cada um para o seu lado. Madeline tinha razão, essa foi a coisa mais estúpida que já fizemos em nossas vidas. Mas agora era tarde demais para arrependimentos e não poderíamos voltar no tempo para consertar. Teríamos que limpar nossa própria bagunça do nosso jeito, não importa o que tenhamos que fazer para isso.
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