Saturday, June 30, 2007

Sonho de uma noite de verão

Uma chuva de chapéus de feiticeiro voou sobre minha cabeça enquanto eu lançava o meu próprio pelos ares. Era impossível esconder o sorriso e a felicidade que estava sentindo naquele momento.
Senti alguém pulando em cima de mim e dobrei os joelhos com o impacto do peso. Patrick dava saltos enquanto se pendurava no meu ombro.

PB: CONSEGUIMOS! CONSEGUIMOS!
SB: Se minha coluna sobreviver depois desse salto, eu grito isso. – ele riu e nos abraçamos.

Cumprimentei todos os meus amigos, um por um, então sai procurando minha família. Não foi difícil encontrar mamãe, Pierre e Samara entre as cadeiras. Mamãe acenou felicíssima quando me aproximei, enquanto Pierre e Samara observavam tudo ao redor com muito interesse.

RB: Estou muito orgulhosa de você, meu filho! – mamãe me deu um abraço e um beijo estalado no rosto. – Muito mesmo!
SB: Obrigado mãe. – sorri carinhoso para ela recolocando o chapéu na cabeça. Pierre se levantou apertando minha mão.
- Parabéns rapaz! Foi ótima a cerimônia! – apertei sua mão e sorri. Ele se aproximou falando baixo de maneira que só eu conseguisse escutar. – Essa tal de... cerveja amanteigada... é boa? – ri com a pergunta.
SB: Excelente! Acho que você vai ter oportunidade de experimentá-la hoje. Madame Máxime deve ter pedido um estoque delas, e de whisky de fogo! – Ele arregalou os olhos parecendo bastante interessado nas bebidas bruxas. Depois sorriu novamente dando um tapa no meu ombro e soltando minha mão. Samara deu um pulo no meu colo.
- Parabéns Samuca!
SB: Obrigado irmãzinha. – Colocando-a no chão e olhando para ela. – Como você cresceu! Mamãe anda te dando chá de trepadeira é??? – ela, mamãe e Pierre riram. Olhei ao redor. Estava faltando alguém ali... – Bom, se quiserem ir para o Salão Principal, tem uma mesa reservada no meu nome. Vou procurar meu pai.

Mamãe ficou séria e olhou ao redor também, como se desejasse que meu pai estivesse por ali conversando com alguém. Pierre e Samara concordaram empolgados com a idéia de andarem pelo castelo e acabaram arrastando mamãe com eles. Olhei ao redor. Meu pai não estava lá e senti um amargo de pensar que talvez ele tivesse esquecido, ou que estava ocupado demais. Não tive tempo de pensar muito nisso. Logo duas mãos cobriram meus olhos.

SB: Impossível não reconhecer esse seu perfume, Isa. – Isa soltou meus olhos e sorriu.
IM: Você sempre estraga minhas surpresas. – me abraçou – Parabéns Samuca! Espero que você continue sempre desbocado assim... Vou sentir falta de vocês ano que vem!
SB: Eu também. Mas sempre que der venho visitar vocês. Prometo! Vou sentir falta de você também, Izzy! – ela riu diante da cara que fiz e lhe dei um beijo no rosto – Se tudo der certo... – falei mais baixo vendo Anne passar caminhando e me olhar de relance sorrindo – nos veremos em todas as visitas à Paris também.

Isa se virou para ver Anne indo conversar com uns amigos e riu olhando para minha cara. Ela ia falar alguma coisa, mas um grito furioso ao meu nome nos fez interromper a conversa. Dominique vinha com o chapéu na mão me olhando irritado.

DC: O que raios você está fazendo aqui ainda??? A maior parte da turma já está reunida no Salão Principal para tirarmos fotos! Me mandaram vir te buscar. Vem depressa! - Dominique saiu me arrastando. Isa sorria e acenava para eu ir andando...

A sessão de fotos não poderia ter sido mais engraçada. A turma se empolgou em poses diversas e quando nos cansamos de nos embolar de todas as maneiras imagináveis...

Uma bateria fraca... Um teclado... Uma voz rouca começou a cantar... Vários gritos e pulos ao meu redor. Virei para o palco querendo acreditar que era, mas não conseguindo. Não podia ser...

IL: OS DUENDEIROS! OS DUENDEIROS!!! Não eram boatos Samuel! – Ian dava pulos ao meu lado e meu queixo ia ao chão. Eram eles! Eram eles realmente! Demorei uns minutos para digerir a idéia e começar a pular também.

A agitação estava imensa, todos dançavam e cantavam. Na mesa reservada aos professores, todos eles se dividiam entre cantar as músicas ou conversar entre si. Professor Armand era o único que parecia tedioso e tomava um cálice de whisky de fogo desanimado. Olhei para Ian do lado abraçando Marie enquanto dançavam e tive uma idéia louca. Cutuquei os dois e todas as pessoas que faziam a peça de teatro e pedi para que me seguissem até um canto.

IL: O que você tem de tão importante pra falar que nos tirou no meio do show dos Duendeiros??? – Ian resmungou sem desgrudar os olhos do palco.
SB: Todos aqui tem os textos da peça decorados?
BL: Do que você está falando Samuel? Já começou a ficar tonto? – Bernard perguntou sem entender e ri. – A peça foi cancelada, se lembra?!
SB: Sim, me lembro, mas quero apresentá-la! Acho que vai ser engraçado e o professor Armand vai no mínimo levar um belo de um susto. O que acham???

Gabriel, Miyako começaram a rir da idéia imediatamente a apoiando. Meus amigos me encaravam preocupados com minha sanidade.

IM: Você tem certeza de que não está bêbado Samuel? Não ensaiamos praticamente nada!!!
ML: Ele está blefando. Com certeza está. Nunca teria coragem de interromper um show dos Duendeiros para nos fazer apresentar uma peça de teatro que mal ensaiamos!
SB: Se eu interromper... Vocês fazem a peça?
IL: Faço! – Ian respondeu impaciente tirando os olhos do palco e me encarando. – Mas você tem que subir nesse palco agora!

Olhei Anne que permanecia calada, mas tinha um semi-sorriso no rosto. Só precisava anunciar... Aproveitei quando o vocalista terminou de cantar “Looking for Trouble” e subi no palco pulando em frente a um dos microfones, e pedi à eles um minuto. Pude ver de relance a cara assustada de Ian, mas não ia desistir agora que todos os pais e alunos me encaravam esperando uma reação.

SB: Um minuto de sua atenção... O show está ótimo, e eu realmente devo dizer que sou fã dos Duendeiros, mas antes de qualquer coisa, eu e alguns amigos resolvemos concluir um último projeto escolar que ficou em aberto. Durante todo o ano viemos ensaiando e nos preparando para apresentarmos a peça “Sonho de uma noite de verão” de Willian Shakespeare, mas infelizmente por causa dos acidentes trágicos na escola, cancelamos a apresentação. Pelo menos até esse momento... Agora decidimos apresentá-la. Essa peça está sendo dedicada a Michel Ducasse, um amigo único e que vai deixar saudades. E claro, aos professores Armand e Emily que durante meses nos instruíram e nos ensaiaram. Pedimos desculpa desde já pelos futuros prováveis erros de texto e caracterizações, pois não tivemos muitos ensaios... Mas espero que se divirtam!

Professor Armand estava de pé me encarando como se eu estivesse brotado do chão naquele exato momento. Os pais e professores se levantaram e aplaudiam empolgados, enquanto meus amigos ainda em choque subiam ao palco e tomavam suas posições. Os Duendeiros também ficaram no palco para nos assistir.

A peça começou mais divertida do que em todos os ensaios que já tínhamos tido! Bernard, Patrick, Rubens, Brendan e Dora gaguejavam e ficavam andando de um lado para o outro parecendo muito preocupados com a multidão de olhos os acompanhando. Ian e Marie resolveram encurtar de vez os diálogos monstruosos de Shakespeare, idéia imediatamente aprovada por mim, Anne, Miyako, Gabriel e Isa.

Vez ou outra olhava de relance para o professor Armand que agora estava sentado em frente ao palco com Emily e parecia empolgadíssimo com cada movimento que fazíamos, e hora ou outra batia palmas freneticamente.

Quando eu e Anne saímos da última cena de mãos dadas, e fomos até o fundo do palco formarmos uma fila única com os outros para agradecermos, toda a platéia estava de pé rindo. Armand subiu ao palco, os olhos brilhantes, nos abraçando.

- Ah, vocês foram ótimos, ótimos! Divertidos e românticos! E com classe! Sem palavras! Sem palavras! Obrigado por essa maravilhosa surpresa!!!

Descemos do palco minutos depois, Os Duendeiros retomando o show e as danças recomeçando.

IL: Estou saindo de Beauxbatons com a sensação de que não conheço direito meus amigos! Juro, nunca pensei que você fosse ter coragem de subir naquele palco! E estou impressionado comigo mesmo por ter me lembrado a maioria das falas! Marie ia me cochichando as outras...
SB: Eu também não sei como fiz isso! Mas estou me sentindo mais formando do que nunca!

Ian riu dando um soco fraco no meu braço. Uma mão pesada segurou meu ombro e me virei. Meu pai estava ali sorrindo para mim.

IS: Nunca estive tão orgulhoso de você, filho.

Sem dizer mais nada, ele me puxou para um abraço passando a mão na minha cabeça e bagunçando o cabelo. Era a segunda vez naquela noite que um sorriso sem precedentes, imenso e totalizante, se abria no meu rosto.

IS: Desculpe o atraso. Preocupações do Ministério. Mas peguei o final do teatro e devo dizer que você daria um bom ator!

Eu sorri e conduzi-o até minha mesa, onde mamãe mostrava para uma Samara encantada, um grupo de fadinhas voando ali perto. Pierre, pude ver, fazia uma cara ótima segurando uma garrafa de cerveja amanteigada na mão e a girava provavelmente atrás dos ingredientes... Meu pai os cumprimentou formalmente. Peguei o diploma que estava ali em cima.

SB: É seu. – estendi para ele que ficou me olhando sem entender. Continuei. – Por sua causa estou me formando hoje. Por sua causa tive os sete melhores anos da minha vida! Nada mais merecido do que você ficar com esse diploma.

Ele pegou o diploma e pude ver seus olhos brilharem. Sorriu sem dizer uma palavra. Ali perto, Madame Máxime o convidava para ir se sentar junto com os professores.

IS: Estarei lá com eles, tudo bem? Agora vá aproveitar o resto da sua última noite em Beauxbatons!

Concordei com a cabeça e sai. Para a noite terminar melhor do que já estava. Para eu sair de Beauxbatons sem deixar nada pendente, ainda havia uma coisa a ser feita e só dependia de mim realizá-la com perfeição.

I think I can make it now the pain is gone
All of the bad feelings have disappeared
Here is the rainbow I've been praying for
It's gonna be a bright
bright sunshiny day

I can see clearly now – Jimmy Cliff

Nossa colação de grau havia terminado e lentamente, as pessoas se encaminhavam para o salão principal, onde mesas reservadas às esperavam. Cada um de nós se juntou a sua família nessa hora, e entrei com minha mãe a todo instante me apertando. Quando as portas se abriram, tive um choque: em toda a extensão do salão havia árvores, o chão estava coberto de folhas secas e entre as árvores tinham mesas redondas de madeira, com troncos no lugar de cadeiras. Bem no fundo dele tinha um palco imenso montado, também com folhas espalhadas pelo chão e bandeiras das cores da casas. Era como se tivéssemos acabado de atravessar os portões que nos levavam a Camelot.

- Uau, quando eles falaram que iam fazer uma festa temática, eles falaram sério! – ouvi Sophie comentar com meu avô e ele concordar
- Acho que nossa mesa é aquela ali... – apontei para uma mesa ao lado de uma macieira

Minha família se acomodou em volta da mesa, mas eu continuei de pé, observando o resto do salão. A família de Bernard estava sentada na mesa ao lado e a mãe dele não parava de beijá-lo, sem conter a felicidade. Amélia estava sentada calada no canto, ainda traumatizada com tudo que aconteceu, e o pai deles brigava com Vincent, que estava arrancando as folhas da árvore. Olhei para o outro lado e vi a família da Marie. Ela estava sentada conversando com uma senhora que aparentava ser sua avó, enquanto os outros olhavam atentamente a tudo em volta, conversando entre si.

- Ian, meu amor, estou tão orgulhosa de você – minha mãe agarrou meu rosto e beijou minha bochecha – Você agora é um bruxo formado!
- Mãe, por favor, aqui não – tentei tirar as mãos dela do meu rosto fazendo careta
- Ok, desculpa, esqueci que seus amigos estão aqui... – ela me olhou com cara de desapontamento e revirei os olhos
- Também te amo, mamãe – segurei o rosto dela do mesmo jeito que ela sempre faz comigo e lhe dei um beijo. Ela abriu um enorme sorriso – Vou dar uma volta, daqui a pouco eu volto aqui
- Eu também vou andar, vi alguns ex-colegas de turma por aqui e vou conversar com eles, matar as saudades – Sophie levantou da mesa e me deu um beijo antes de passar – Parabéns, Luke

Afastei-me da mesa para começar a percorrer o salão quando senti uma mão segurar meu braço. Era meu pai. Ele estava muito sério, não via ele sorrir desde que Michel morreu. Mas de repente, ele esboçou um sorriso fraco, quase que tímido, como se estivesse se recriminando por se permitir sorrir quando todos estavam tristes. E mais inesperado que o sorriso, foi o abraço para o qual ele me puxou.

- Estou orgulhoso de você, filho – papai tinha a voz meio embargada, como se estivesse prendendo o choro – Sei que nunca disse isso antes, mas sempre me orgulhei de você
- Eu sei, pai – abracei-o também, apoiando o queixo em seu ombro – Também nunca disse o quanto tenho orgulho de ser seu filho, então estamos quites – ouvi-o deixar escapar uma risada antes de se afastar do abraço e me encarar
- Parabéns pela formatura. Agora vai lá conquistar sua namorada de volta – ele indicou a mesa de Marie com a cabeça e me entregou uma das rosas que estavam em cima da mesa – Talvez precise disso
- Obrigado pai – peguei a rosa da mão dele e sorri, voltando a encarar a mesa de Marie

Ela ainda estava absorta na conversa com a senhora que não percebeu quando me aproximei. Deixei a rosa cair em seu colo e ela olhou para mim, surpresa.

- Desculpa, desculpa e desculpa
- Desculpa pelo que? – ela continuou sentada enquanto me encarava
- Por ser um idiota, por me isolar de todo mundo e não querer ver ninguém, nem mesmo você, a pessoa mais importante pra mim – ajoelhei diante dela para ficarmos no mesmo nível e a senhora ao meu lado se ajeitou na cadeira para prestar mais atenção
- Luke, levanta – Marie falou baixo, ficando vermelha
- Não sem antes você dizer que me perdoa. Eu sei que eu não mereço, mas você é a única pessoa cuja opinião tem importância pra mim
- Você percebeu que está fazendo isso na frente da minha família inteira? – ela aproximou o rosto do meu e falou mais baixo ainda
- Sim – respondi no mesmo tom, olhando para a platéia na mesa
- E não está nem um pouco constrangido?
- Um pouco, talvez... Mas contanto que você me perdoe, posso superar isso

Marie levantou da cadeira e segurou minha mão, fazendo com que eu me levantasse também. Ela encarou os pais, que prestavam atenção a cena com curiosidade, e deu um sorriso sem graça.

- Er, mãe, pai, esse é o Ian... – ela me encarou e sorriu – Meu namorado
- Muito prazer, senhor Laforêt – estendi a mão para o pai dela com um sorriso que ia de uma orelha a outra e fiz o mesmo com a mãe dela
- Bem, e esses são meus avôs, tios, primos... – ela revirou os olhos – Já chega né? Vamos dar uma volta!

Marie saiu me empurrando para longe da mesa e paramos quando chegamos a alguns sofás que faziam parte da decoração do hall de entrada. Ainda estava vazio, pois todos estavam se acomodando pelo salão. Ela sentou em um deles e sentei ao seu lado.

- Não vou dizer que não fiquei chateada quando você se recusou a falar comigo – ela começou a falar, segurando minhas mãos – Mas também não vou brigar com você, porque sei como está se sentindo por causa do Michel
- Mesmo assim, você não tinha culpa de nada, não deveria ter tratado nenhum de vocês como tratei. Você me desculpa?
- Eu te amo, seu bobo – ela segurou meu rosto com uma das mãos e me beijou – Claro que eu te desculpo. Agora vamos entrar, querem tirar uma foto da turma antes que a gente comece a desmontar as fantasias

Ela levantou animada do sofá e me puxou pela mão de volta para o salão. Nossa turma já estava toda reunida perto do palco, onde uma fotografa contratada pela diretora esperava apenas por nós dois para fazer a foto. Passamos correndo pelas pessoas e nossos amigos começaram a gritar e fazer bagunça, nos vaiando por atrasar o trabalho da mulher. Apertamos-nos entre Bernard e Samuel e colocamos o chapéu de feiticeiro de volta. Quando a fotografa fez sinal positivo dizendo que a foto havia saído perfeita, começamos a pular uns em cima dos outros. Agora sim o álbum teria a cara da turma de 1998.

Assim que a sessão de fotos acabou, a cortina do palco se abriu e ouvimos a voz do vocalista dos Duendeiros cantar ‘Spell From a Broken Wand’. A turma inteira começou a berrar enlouquecida e os demais convidados começaram a se amontoar perto do palco. Estava começando a ultima noite dos sete melhores anos de nossas vidas, e a noite do qual ninguém mais se esqueceria...

Friday, June 29, 2007

A Formatura

Das lembranças de Ian Lucas Renoir Lafayette

- Por que ainda não está pronto??

Ergui a cabeça e encarei Bernard, mas tornei a abaixá-la sem lhe responder. Ele já estava vestido para a colação de grau, usava uma beca azul que ia até os pés e segurava o chapéu de feiticeiro na mão. Hoje era o dia da nossa formatura e pela hora, nossos pais já estavam acomodados nos jardins aguardando madame Maxime entrar com a turma do 7º ano e dar início a cerimônia. Mas se tinha um único lugar no mundo naquele momento onde não queria estar, era no jardim da escola.

- Ian, a colação de grau começa em meia hora, já estão todos prontos no saguão e estão perguntando por você!
- Diga a eles que não vou descer – falei tão baixo que se ele não estivesse esperando uma resposta, não teria ouvido – Mas vá logo, você não vai querer perder sua formatura.
- Que papo é esse de que não vai? – ele colocou o chapéu na cama e sentou ao meu lado
- Desculpa Bê, mas não estou com animo para comemorar nada, quando não se tem o que comemorar.
- Luke, todos nós estamos abalados e tristes com a morte do Michel, ninguém se recuperou ainda e sei que para você a dor é pior, pois ele era seu primo. Mas não há nada que possa fazer, ficar aqui e se recusar a sair não é a solução de nada.
- Eu sei que não é a solução, mas não sinto vontade de sair.
- E a Marie? Ela vai ficar chateada se você não for...
- Que se dane a Marie! – explodi – Estou pouco me lixando se ela vai ficar chateada!
- Sei que está dizendo isso da boca pra fora, e que se importa sim com o que ela sente – Bernard falou calmo – Está agindo como uma criança.
- Vá embora, Bernard! Não estou com vontade de ouvir sermão!
- Acha mesmo que era isso que Michel queria? – ele me ignorou e continuou falando – Ele estaria lhe chamando de criança mimada, diria que essa sua atitude é patética!
- Pare de falar do Michel, estou lhe avisando...
- Senão vai fazer o que? Bater o pé? – Bernard levantou a voz e olhei para ele assustado – Tire o traseiro dessa cama agora, pois seu primo não ia querer que você perdesse sua própria formatura por causa dele! A vida continua, Luke. Está na hora de começar a encarar isso, e seguir em frente. Estamos nos formando hoje, amanhã vamos embora e não voltaremos a Beauxbatons. Cada um, a partir de amanhã, segue seu próprio caminho e talvez muitos deles não se cruzem mais. Não desperdice a ultima chance que tem de estar com todos os amigos que fez em sete anos aqui, por causa de algo que não pode mudar.

Bernard pegou o chapéu na cama e me encarou uma ultima vez antes de desaparecer pela porta do dormitório. Levantei da cama e fui até a janela. Do nosso dormitório se tinha a melhor visão dos jardins, e pude ver muitas cadeiras arrumadas no gramado, todas elas ocupadas pelos pais dos alunos. Meus pais estavam sentados bem ao centro delas, junto com vovô, Sophie e os pais de Michel. Surpreso por ver tio Edmond e tia Eva entre os presentes, fechei a janela outra vez e caminhei até o armário, tirando a beca do cabide.

----------------

- Não tenho certeza se o Ian vai aparecer, ele ainda está muito abalado e...
- Economize as palavras para o juramento, Sr. Juramentista – cheguei ofegante na fila e Bernard sorriu – Já estou aqui!
- Que bom que mudou de idéia – ele falou sem esconder que estava feliz
- Michel ficaria revoltado comigo se perdesse minha própria formatura – disse terminando de fechar a beca – Ele diria: muito bem, jogue a culpa no morto, ele não pode se defender! – e todos riram
- Muito bem crianças, está na hora! – madame Maxime se aproximou sorridente e batendo palmas – Vamos!

Ouvimos a voz do vice-diretor no microfone nos chamando, e ela logo foi substituída pelos aplausos dos pais e dos alunos convidados para assistir à cerimônia. Maxime puxou a fila e a seguimos, saindo para os jardins devidamente decorados para a entrega dos diplomas. As 2 primeiras fileiras estavam reservadas para que sentássemos nelas e também pudéssemos assistir a tudo. Sentei entre Marie e Bernard, e ele logo foi chamado ao palco. Bernard era o juramentista da nossa turma.

Todos ficamos de pé para o juramento e ele permaneceu no palco quando Viera foi chamado para fazer o discurso como orador mais votado do 7º ano. Sentamos outra vez para ouvir o que ele tinha a dizer, que pela sua cara, não seria nada sério. Viera bateu no microfone 3 vezes e desamassou o pergaminho com o discurso pelo menos 5 vezes antes de pigarrear uma única vez e encarar as pessoas presentes.

‘Senhoras e senhores, boa noite. Em primeiro lugar gostaria de agradecer a presença de todos, ou melhor, gostaria de agradecer vosso sacrifício. Sabemos que a cerimônia de colação de grau é o segundo evento mais chato já criado pelo homem, só perdendo para as aulas de herbologia da queridíssima professora Milenna. Para que as próximas horas não sejam tão penosas, sugiro a vocês o seguinte exercício: imaginem que todas estas jovens moças estão usando uma provocante cinta liga vermelha por baixo de suas becas.

Poderia fazer um longo discurso de 3 horas, usando todo o jargão político que aprendi para convencê-los, por cansaço, que a carreira de advogado bruxo é uma das ocupações mais nobres da sociedade, mas seria muita cara-de-pau começar a maquiar a realidade logo em minha primeira noite como futuro estudante de direito. Também não acho justo usar em vocês o mesmo tipo de tortura que nossos professores usaram durante sete anos. No lugar disso, prefiro discorrer sobre um problema que está afetando toda a nossa sociedade: o sucateamento do ensino médio bruxo. Por favor, não se levantem ainda, o tema não será abordado sob a ótica de um estudante drogado de Beauxbatons.

Logo em meu primeiro ano aqui presenciei o golpe fatal desta lei que simplesmente irá matar nossa escola. Não existe eleição para reitor nessa instituição! Nossa ilustríssima diretora, que, devo dizer antes que se levante da cadeira localizada atrás de minha pessoa e desligue meu microfone, conseguiu conduzir muito bem os alunos em seu mandato, decretou que Milenna Dartagnam fosse a responsável pela reitoria que lança maior parte das regras da escola, sem que nem alunos e sequer corpo docente votasse. A sabotagem estava apenas começando. A sua primeira medida estratégica foi proibir o consumo de cerveja amanteigada nas propriedades da escola. Senhores, todos sabemos que freqüentar qualquer aula em uma escola de magia a partir do 5º ano sem o auxílio da cerveja amanteigada é uma coisa impossível. Nós, pobres estudantes dedicados, ficamos sem qualquer recurso sedativo para que, devidamente alcoolizados, pudéssemos debater sobre os rumos da sociedade bruxa na próxima década.

A falta de cerveja amanteigada também minou completamente as relações amorosas dentro da escola, pois sem a sua ajuda, nossas poucas companheiras de sexo feminino disponíveis ficaram bem menos atraentes. A cultura do Snap Explosivo, que tanto estimulava nossa competitividade e habilidade para mentir, foi destruída, pois é impossível jogar uma partida inteira estando sóbrio.

É por isso que não vejo muito futuro nesta turma de formandos e nas próximas que nos seguirão. Lamentavelmente fazemos parte de uma geração que foi obrigada a aprender em uma instituição desmoralizada pela ausência de álcool. Onde está a seriedade da Academia de Magia Beauxbatons? Até mesmo os professores e funcionários perderam sua moral. Como acordar cedo e dar uma aula de Cálculos Lunares sem uma boa dose de whisky de Fogo? Como corrigir uma pilha de provas ilegíveis e com idéias absurdas de Poções, sem a ajuda de generosas taças de vinho?

Só vemos bagunça em nossos corredores, o nível dos debates cai, os argumentos fazem cada vez mais sentido e alunos não alcoólatras que não mereciam estar em uma instituição com tamanho prestígio continuam freqüentando nossas salas de aula. Ninguém tem a falta de sobriedade para expulsá-los.

Espero que a recém eleita Reitora, a professora Claudine Tiercelin, nossa admirável paraninfa aqui presente, fique sensibilizada com este discurso e libere imediatamente o consumo de cerveja amanteigada e demais bebidas alcoólicas dentro de nossa escola. Por Merlin! Somos uma escola de magia, e não um templo evangélico trouxa! Aja rápido! Nós somos uma geração de bruxos perdidos, mas ainda há tempo de salvar os calouros que estarão ingressando no próximo semestre.

Muito obrigado pela atenção e paciência. Para finalizar o meu discurso gostaria de propor um brinde ao nosso futuro incerto e ao inventor da cinta liga vermelha. Saúde!’


Quando ele dobrou novamente o papel, todos os alunos do 7º estavam de pé, divididos entre o riso e os aplausos. A maioria dos professores também ria e aplaudia, todos os pais davam risada, a professora Milenna parecia controlar o impulso de estrangular Viera e madame Maxime secava as lágrimas, achando tudo muitíssimo divertido. Por sorte Bernard fora designado a encerrar o discurso de Viera com um pouco mais de seriedade, já que todos sabíamos que isso seria algo inexistente no discurso oficial. Meu amigo parou rindo ao lado dele e puxou o microfone para si, e no mesmo instante todos sentamos outra vez e nos calamos.

- É desnecessário dizer que os últimos sete anos foram marcantes para todos nós. A convivência com pessoas diferentes, de lugares diferentes e com idéias diferentes trouxe ensinamentos que completaram a nossa formação acadêmica. Entre colas e trapaças, entre festas e provas, entre saudades de casa e amizades aqui feitas, mais uma das etapas de nossas vidas foi concluída – Bernard olhou para Viera e passou o microfone
- As noites varadas estudando, as noites varadas com as cachaçadas clandestinas, o lanche na cozinha altas horas da noite, o café da manhã de ressaca, os passeios a Paris, os bailes de fim de ano, a eterna frase “amanha eu estudo”, as estratégias de conquista do Dominique, os foras da Madeline nos garotos, a comida que Samuel milagrosamente conseguia para as festinhas, a falta de vergonha da Manuela em se apresentar até ao poste, as piadinhas sem graças do Rubens que todo mundo ria para ele não ficar no vácuo, os discursos moralistas da Marie e os comentários "tudo a ver" do Ian, as rebeldias esporádicas do Bernard, o jeito bem humorado e debochado de Michel para encarar as coisas, que embora não esteja mais entre nós jamais será esquecido, e tantas outras coisas que já começam a fazer parte do passado – ele parou de falar por um instante e devolveu o microfone a Bernard
- Agora, cada um seguirá seu caminho. O futuro está logo adiante e cabe a nós aproveitarmos toda a bagagem aqui adquirida na longa estrada que cada um ainda tem para seguir. Valeu por tudo, galera.

Todos aplaudiram novamente, dessa vez com ainda mais entusiasmo, e muitos estavam chorando, principalmente as meninas. A professora Claudine Tiercelin, sem esconder as lágrimas, foi chamada ao microfone para fazer seu discurso como paraninfa da turma e quando terminou, Maxime deu inicio à entrega dos diplomas. Um a um éramos chamamos ao palco para receber o certificado e os cumprimentos dos professores. Meu nome foi um dos últimos a ser chamado, e vi meus pais, meu avô, meus tios e minha prima acenaram felizes de onde estavam sentados. Sentia que uma etapa da minha vida acabava de ser concluída e eles estavam orgulhosos disso. Voltei ao meu lugar ao lado de Marie e ela olhou para mim, seus olhos cheios de lágrima.

- Senhoras e senhores, a turma de 1998! – madame Maxime falou animada no microfone quando entregou o ultimo diploma.

A turma ficou de pé mais uma vez, e em um único gesto, atiramos os chapéus de feiticeiros para o alto, pulando e comemorando o fim de sete anos de estudo. Por um momento, tudo de ruim que aconteceu no ultimo mês foi esquecido, e tudo que queríamos era apenas abraçar as pessoas ao nosso lado e aproveitar cada segundo da nossa ultima noite como uma turma de Beauxbatons.

Thursday, June 28, 2007

Even if...

Voltamos do enterro do Michel com olhos inchados e gargantas secas. Ninguém conseguia falar nada e nem conseguíamos digerir o fato de que ele não estava mais entre nós, rindo e brincando. Contando os dias para a formatura e fazendo planos para o futuro. Ian não falava nada, não escutava nada. Nem mesmo Marie estava conseguindo fazer com que ele se distraísse um pouco, e tínhamos receio de lhe perguntar alguma coisa.

De repente, a lembrança de alegria que tive quando estávamos comemorando um boato de que “Os Duendeiros” iriam tocar na nossa festa me pareceu muito distante. Estava tão desligado de tudo que nem me dei conta de que faltava apenas dois dias para o fim do ano, para a apresentação da peça de teatro, para nossa formatura...

Ensaio Geral – Sonho de uma noite de verão
Sexta-feira às 18:00. Todos os atores devem estar caracterizados de acordo com seus personagens.

O aviso grudado nos murais era curto e direto, mas senti uma pontada no estômago ao lê-lo. Como diríamos ao professor Armand que não haveria mais peça? Que o ensaio geral seria um fracasso? Que ninguém compareceria? Será que ele ainda acreditava que essa peça ia sair?

Não conseguia ver como poderia, se metade do elenco estava profundamente abalado pela morte do Michel e a outra metade estava assustada com os acontecimentos em Beauxbatons.

E não estava enganado quando pensei que o ensaio seria um fracasso. Quando cheguei à sala do professor Armand para dizer que não participaria mais da peça e que duvidava que algum dos meus amigos o fizesse, o encontrei sentado à sua mesa, a cabeça apoiada nas mãos olhando os baús de roupas e o cenário. Não foi preciso dizer nada. Quando me viu entrar ele suspirou decepcionado.

- Tanto trabalho! Tantos ensaios! E só agora me dei conta de que tudo foi pelo ralo...

Fiquei sem saber o que dizer. Apenas enfiei as mãos no bolso e encarei os baús. Ele continuou falando.

- Se veio pedir desculpas e anunciar que também não vai participar, não se dê ao trabalho. A peça já foi pelos ares mesmo! Só queria que vocês se divertissem, sabe?
SB: E estávamos nos divertindo, professor! Sinceramente! Shakespeare era um pouco cansativo, mas era legal ensaiar aquilo tudo. Mas você tem que entender que não podemos...
- Está tudo bem. Eu sei que não e nem exigiria isso de vocês... –pela primeira vez ele olhou para mim. Me senti mal, mas não havia nada a fazer. Pedindo desculpas mais uma vez, sai da sala.

Fui até o jardim e me sentei perto do lago, que possuía uma camada de gelo fino cobrindo sua superfície. Apertei o cachecol no pescoço. Fiquei repassando tudo o que tinha acontecido... Não só a morte do Michel. Tudo. Tudo o que tinha vivido em Beauxbatons foi passando como um filme diante dos meus olhos. O dia que cheguei. O dia que conheci os melhores amigos que tinha. O dia que me apaixonei, o dia que me desapaixonei. O dia que me apaixonei novamente... Senti um nó na garganta em pensar que tudo estava acabando. Que estávamos no fim.

Fiquei ali não sei responder quanto tempo, quando senti as costas de alguém contra as minhas. Anne estava sentada de costas para mim. Não disse nada e não perguntei.

AR: Então... Resolveu pensar na vida sentado aqui fora no dia mais frio do ano? – perguntou com a voz fraca depois de um minuto de completo silêncio. Sorri.
SB: É. Gosto do frio. Mas pelo visto não sou o único né? Você também está aqui...
AR: Precisava esfriar a cabeça. Estou fazendo isso, literalmente. Você está bem?
SB: Relativa essa pergunta. Externamente, sim. Internamente... Não tem como estar.

Novamente caímos em profundo silêncio. Anne começou a esfregar uma mão na outra tentando se esquentar.

AR: Meus pais acabaram de me deixar aqui... Thierry já foi julgado. – ela completou, mas não tinha interesse na voz dela. Senti raiva ao me lembrar dele e me lembrar que eles eram irmãos. – Nunca nos demos muito bem. Sempre fomos muito diferentes. Ele é muito mimado e sempre acha ser o certo em tudo. Fica obcecado quando quer alguma coisa. – ela soltou um sorriso sem ânimo algum. Continuei calado. – Vai para Rikers. Uns bons anos. Não sei quantos, mas se sair um dia, não vai ter muita vida mais para aproveitar!
SB: Ele mereceu isso! – falei sem pensar. Estava sentindo raiva, como se ele estivesse na minha frente.
AR: Eu sei, eu sei! Não estou dizendo que não mereceu. Só achei que você quisesse saber... Só quero que você saiba que somos muito diferentes, Samuel. Nunca fiz questão de ser associada a ele, e ele também não. Sinto muito pelo o que aconteceu ao amigo de vocês...

Ela se levantou e me dei conta de que não tinha visto o rosto dela nem uma vez. Me virei para olhá-la quando ela já estava caminhando de volta ao castelo.

SB: Anne!

Ela parou e se virou. Corri e quando estávamos bem próximos foi como se uma fogueira tivesse sido acesa dentro de mim. Todo o frio passou. Toda a raiva. Sorri e ela me encarava sem entender.

SB: Por que faz tanta questão de se diferenciar do seu irmão para mim?
AR: Por que... Por que quero. Sei lá, Samuel. Gosto de me explicar para as pessoas.
SB: Para as pessoas ou para mim? – ela corou um pouco, mas continuou séria.
AR: Por que sentiria vontade de me explicar só para você? Só vim por que achei que seria legal você saber...
SB: Já entendi. Aquele lance de só encenação está valendo então? Não tenho chances com você?
AR: O quê... Er...
SB: Tudo bem. De qualquer maneira... Você é muito especial Anne. Não vou me esquecer de você.

Sai caminhando e ela continuou para olhando a neve. 1...2...3...4...5.

AR: Samuel!

Foi a vez de ela me chamar, minha vez de parar, e ela correr até se aproximar de mim. Parou na minha frente e ficou me olhando. Ia perguntar o que ela queria dizer, mas ela me deu um beijo.

SB: Isso quer dizer que tenho chance com você? – sorri passando a mão pelo cabelo dela.
AR: Isso quer dizer que estou te dando uma chance de me conquistar. E não é fácil hein? Sou muito exigente. Se está achando que sou igual Doras, Malus e afins... – ela fez uma careta e eu ri.
SB: Não vai se arrepender. Se até o tapado do Lisandro conquista a doce Hérmia... Acho que consigo te conquistar!
AR: Você tem um par de dias! Boa sorte!

Ela sorriu mais uma vez para mim e voltou para o castelo. Fiquei observando-a entrar e por uns momentos, todos os meus problemas se tornaram soluções.

Now we’re alone gonna show
How much I need you
Kiss you so won’t ever wanna leave me

‘Cause even if the sun came tumbling down
You light the ground I walk on
Even if the moon fell out the sky
You light the ground I walk on

Música: Even If – The Corrs

Wednesday, June 27, 2007

And it’s not a cry you can hear at night
It’s not somebody who’s seen the light
It’s a cold and it’s a broken hallelujah

Hallelujah – John Cale

- Lucas, vamos sair em 5 minutos. Está pronto?

Assenti com a cabeça e meu avô fechou a porta do meu quarto. Ouvi seus passos enquanto descia a escada e encarei o espelho para terminar de dar o nó da gravata. Meus olhos não estavam mais vermelhos ou inchados, sobraram apenas alguns arranhões daquela noite. As coisas de Michel ainda estavam espalhadas pelo quarto e chutei uma goles no meio do tapete janela afora, com raiva. Quando ouvi me chamarem mais uma vez, resolvi descer.

Segui com meus pais e Sophie para o cemitério, enquanto vovô foi com meus tios em outro carro. Desde que cheguei em casa, na noite em que Michel morreu, minha cabeça parecia que ia explodir. Passei o dia seguinte inteiro trancado no meu quarto, me recusando a falar com quem quer que fosse. Nem mesmo Marie, que me chamou diversas vezes pelo espelho de duas vias. Decidi pular o velório, mas minha ultima chance de me despedir do meu primo seria no seu enterro, e resolvi ir.

Toda minha turma de Beauxbatons estava parada em fileira perto da capela quando chegamos, madame Maxime de pé à frente deles confortando a namorada de Michel. Tinham também alunos de outras séries, pessoas com quem Michel fez amizade durante o ano, ele sempre teve facilidade em se aproximar das pessoas. Vi Dominique com uma expressão séria no rosto, fazendo um enorme esforço para não chorar, enquanto Marie, Samuel e Bernard não escondiam as lágrimas. Vi também Manu e Viera tentando parecerem fortes, mas, no entanto Mad, que sempre foi conhecida como insensível, não ter vergonha de chorar abraçada a Gabriel. Todos eles me cumprimentaram quando passei com a minha família, mas sem trocarmos uma única palavra sequer. Acho que todos sabíamos que elas não eram necessárias.

Não sei ao certo quanto tempo durou o enterro, pois para mim foi uma eternidade. Parecia que estava ali, diante do caixão de Michel, há horas. Tia Eva chorava descontroladamente e tio Edmond, mesmo que chorando, se mantinha firme para dar algum tipo de apoio a ela. Mamãe também não saiu do lado dela em momento algum, assim como meu pai permaneceu durante todo o enterro ao lado de meu tio, mas eu me sentia tão enjoado com aquilo tudo que não serviria para dizer algo reconfortante nem mesmo a um bebe de um ano. Tinha vontade de gritar, sacudir Michel até que ele acordasse, chorar e me vingar por isso, tudo ao mesmo tempo. Sentia-me frustrado por não ter chegado a tempo, sentia culpa por Michel estar morto. Eu mandei ele pegar a arma e correr, se tivesse ficado com ela, ele ainda estaria vivo.

Um a um, meus amigos foram deixando algo pessoal sobre o caixão e saindo. Quando tia Eva colocou um porta-retrato com uma foto de família em cima de tudo, o caixão começou a descer. Era a ultima vez que veria o rosto de Michel...

---------------

- Não foi culpa sua...Eu estava sentado no gramado do cemitério e ainda era dia, o céu estava claro, mas quase todos já haviam ido embora para casa. Eu não quis sair, e encarava a lápide de Michel enquanto chorava, tinha os olhos vermelhos. Senti alguém colocar a mão no meu ombro ao falar e me virei. Era Dave. Ele ainda estava muito machucado e seus olhos estavam tão vermelhos quanto os meus. - Não foi culpa sua...- Sim, foi! Eu vi e não fiz nada, podia ter impedido!- Não havia nada que você pudesse fazer Ian... Michel já estava morto quando você alcançou a clareira
- Não consigo acreditar que isso seja verdade – deixei mais lagrimas caírem e olhei para Dave – Desculpa...
- Pelo que?
- Por tudo que fiz a você desde que começamos a estudar. Sempre impliquei com você em tudo, eu sei que eu sou chato, e você sempre foi minha vitima favorita por nunca se defender...
- Pode parecer patético, mas eu já estava tão acostumado que não me importava mais
- Então por que ficou tão nervoso e partiu pra cima de mim quando me acusou de roubar seu caderno, no dia que Michel morreu?

Dave me encarou sério por um instante, e então puxou algumas folhas um pouco amassadas de dentro do bolso, sentando ao meu lado no chão. Ele parecia um pouco relutante, mas estendeu a mão para que eu pegasse as folhas. Dei uma olhada rápida e na capa estava escrito ‘Le Loup’. Olhei para ele sem entender.

- O que é isso?
- Um livro inacabado – quando não falei nada, ele continuou – Minha maior ambição, para o desgosto de meu pai, sempre foi escrever um livro. Mas nunca, ninguém em minha vida me incentivou. Até o dia em que Michel veio transferido de Hogwarts e passou a dividir o dormitório comigo. Diferente do resto das pessoas da minha turma, ele nunca me discriminou por ser diferente, ser calado e tímido. Acho que ele nunca contou a você ou a ninguém que era amigo do Dave, o esquisito, mas isso não me incomodava. Um dia contei a ele sobre essa minha ambição, e coincidentemente, ele me disse que tinha uma historia para que eu pudesse começar.
- A história do lobo – falei olhando para a capa que segurava
- Exato. O dia em que contei isso a ele, foi no dia que vocês criaram o personagem. Michel me contou tudo, pude ler tudo que vocês escreveram para ser publicado no jornal da escola, e passei a ter uma historia de suspense. Mudei os nomes, mas mantive todo o resto. Ele sempre me contava o que vocês estavam armando, as reuniões para decidir quem atacar, a brincadeira que deu errado com Mathilde, as desconfianças que começaram a surgir...
- Então desde o começo você sabia de tudo?
- Só não sabia a identidade do lobo... Enfim, isso aí é o primeiro rascunho do livro, o original. Quero que fique com ele, pois é a pessoa mais próxima de Michel que conheço. Ele foi o único amigo que tive em toda vida e vou terminar o livro por ele.

Dave levantou do gramado e deu uma ultima olhada na lápide de Michel antes de caminhar para a saída do cemitério. Comecei a passar as folhas que ele me entregou e no final delas, tinha uma dedicatória para Michel, assinada por toda nossa turma. Arranquei-a do meio das folhas e deixei em frente à lápide, antes de descer até a capela e me juntar a meus amigos, para voltar à escola. Mesmo que triste, precisava me formar...

Tuesday, June 26, 2007

A hora do pesadelo

Anotações de Ty McGregor

Gritos... Dores... Respiração difícil... O gosto de sangue cada vez mais forte... Um dos meus olhos se abriu com esforço... Conversas...

-Crucio!
-Não o maltrate muito Rodolpho, precisamos dele vivo. - disse uma voz de mulher.
-Os anos misturados aos trouxas a amoleceram Cibelle. Se eu o matar que falta ele fará?
-Nenhuma, mas imagine o desespero do McGregor ao ver o filho morrer na frente dele. - risadas.
-Não vejo a hora de conhecer a minha sobrinha, ela foi excelente em se envolver com o garoto, só espero que ela não esteja apaixonada. - disse o homem.
-Minha filha sabe que vingar a morte do pai é mais importante, eu a fiz prometer que faria isso por mim. Rory tem noção do seu dever com a família.
-Veja, ele acordou. Parece ser duro na queda, vamos nos divertir mais um pouco com o garoto, rapazes.
Socos e pontapés surgiram de todos os lados. Apaguei.

Acordei com gritos e o barulho de feitiços sendo lançados.
-Você vai pagar pelo que me fez... A vingança é minha. - gritava a mulher.
-Vão voltar para Azkaban...
-Hoje você vai morrer aqui, seu amante de sangues- ruins, até numa hora destas andando com a escória...
-Ele sempre será superior a vocês. - disse a voz de meu pai, e aquilo me confortou. Abri os olhos e olhei ao redor, e vi uma coisa que me gelou os ossos: vi o tio Lu com os olhos vermelhos e com presas, lutando ao lado de meu pai. Dava para sentir o ódio que exalava dele, durante a luta.
Dói tanto manter meus olhos abertos.
Devo ter desmaiado por alguns minutos novamente, quando abri os olhos vi meu padrinho Sergei estava duelando com os comensais também, e Seth estava junto com eles, mas ele não estava normal. Seth tinha presa e olhos vermelhos como o tio Lu, ele parecia um... Vampiro. ELES SÃO VAMPIROS!
Vi meu pai duelando com o homem que tinha o nome Lestrange, ele estava tão concentrado que não viu a mãe da Rory se aproximar pelas costas. Ela tem alguma coisa na mão. Ela vai...
- Atrás de você, papai!- senti minha boca se mover, mas não ouvi meu grito de aviso. Ele a derrubou e se aproximou de mim. Papai me abraçou e sorriu aliviado, acho que o meu aviso chegou a tempo, me senti seguro.
- Aguenta firme filho. Estarei sempre com você.
Mexi minha boca para tentar sorrir, mas senti que a escuridão me envolvia novamente.

Correria... Vozes desesperadas... O cheiro forte de remédios...

- Salve o meu filho...
- Foi o Lobo?
- Quem fez isso?
- Comensais... Redobrem a segurança dos alunos...
- Ty, você vai ficar bom, está me ouvindo? Vou chamar o Gabriel...
- Papai você tem sangue nas vestes...
- Estou bem... Cuide do seu irmão... Selene eu preciso de você. - o barulho de um corpo caindo ao chão se fez ouvir.
- Papai, papai... Socorro! – ouvi a voz de Emily, e instintivamente me encolhi quando vi a luz prateada de uma varinha vir em minha direção, porém lembro que pedi fracamente antes de adormecer.
- Não morra, papai!


Senti um calor percorrer todo o meu corpo, mas mantive os olhos fechados com medo de sentir dores novamente. Ouvia uma voz de mulher dando instruções:
-Muito bem Griff, agora concentre os poderes de cura para aliviar as dores pelo corpo, vou cuidar deste olho machucado.
O calor se intensificou em meu rosto, e aos poucos fui abrindo os olhos. Quando os abri vi o rosto de tia Mirian próximo ao meu:
- Bem vindo á vida meu querido, quero me diga aonde dói.
- Sede. - foi só o que saiu da minha boca.
Tia Mirian pegou um copo com água e antes de me dar ela colocou as mãos em cima dele e uma luz dourada saiu delas. Ela me ajudou a me sentar na cama e me deu o copo com a água. Ao beber tive uma sensação reconfortante que se intensificou quando vi minha mãe, abrindo a cortina e entrando seguida pelo meu padrinho. Ela tinha os olhos inchados, e meu padrinho pigarreou, enquanto me analisava.
- Meu pai está bem?- fiz a pergunta olhando para minha mãe e ela respondeu séria, segurando minha mão:
- Ele se foi Ty. Sinto muito...
- Não é possível... Ele estava bem quando o vi pela última vez...
Senti um bolo crescer na minha garganta.
Rory entrou no reservado junto com Emily, e ela tinha os olhos marejados. Ao olhar para ela, as lembranças de tudo o que ouvi na floresta vieram à minha mente com força total e despejei minha revolta:
- O que faz aqui? Veio ver o que deu errado em seu projeto de vingança e tentar uma nova abordagem?- todos se assustaram com meu tom de voz e Rory disse numa voz fraca:
- Não sei o que você quer dizer...
- Ty, isso não é jeito de tratar a Rory filho... Ela não tem culpa do que aconteceu e... - intercedeu mamãe.
- Cibelle Lestrange é familiar a você? – perguntei e Rory ficou pálida, enquanto mamãe e meu padrinho olhavam de mim para ela.
- Esta mulher está morta há vários anos, filho. - minha mãe respondeu devagar.
- Mas ela não está morta não é Rory? Diga a eles que ela está bem viva e É a sua mãe. Conte a eles que ela ainda é uma comensal da morte e que você me usou para preparar uma emboscada para o meu pai. Vamos confesse que tudo fazia parte de um plano para se vingar da minha família. – disse alto e meu peito doeu e fiz uma careta. Tia Mirian tocou meu ombro e a dor começou a ceder. Griffon olhava para Rory com uma expressão de incredulidade.
- Eu não usei você Ty, nunca faria isso. Eu amo você. - ela disse e lágrimas recomeçaram a cair de seus olhos, mas ao invés de me amolecer, elas me irritavam mais ainda.
- Você sabia que sua mãe era uma comensal? Sabia que ela odiava aos McGregor’s?– perguntou Emily séria.
- Sim, ela me disse. Mas nunca achei que ela fosse fazer isso ao Ty. Ela disse que havia mudado... - Porque você não avisou a algum de nós que isso poderia acontecer menina?- disse meu padrinho ríspido.
- Eu tentei contar a você Ty, juro que tentei, mas nunca conseguíamos conversar direito e...
- Chega dessa farsa! Eu sei que você se aproximou de mim, cumprindo ordens dela. Sua mãe deixou isso bem claro em todos os momentos. Muito bem seu trabalho foi feito, já pode receber a marca negra com louvor.
- Ty, por favor, tente entender, eu não sabia que ela faria isso... Sei que devia ter contado sobre o passado da minha mãe, mas como dizer isso para você? Apesar de tudo é a minha mãe, vocês a mandariam para Azkaban. - disse olhando aflita de mim para minha mãe, meu padrinho, tia Mirian e Emily.
- Não tenho raiva de você por esconder o passado dela Rory, você não me conhece bem mesmo, se acha que eu faria algo contra ela. Minha decepção com você, é que pela sua omissão, meu pai está morto e suas lágrimas falsas não o trarão de volta. Saia daqui está difícil continuar olhando para você e não te sufocar. – deitei-me, pois me sentia exausto.
- Rory, por favor, vá ficar com seus irmãos. Talvez numa outra hora vocês possam conversar, com a cabeça mais fria. - disse mamãe e seu tom de voz era dolorido. Ouvi quando Rory pediu perdão, antes de sair correndo da enfermaria.
Continuei deitado e fechei os olhos, senti que meu rosto estava molhado, mas não me mexi para enxugá-lo.
- Vamos deixar o Ty sozinho por um tempo ok? Ele precisa de privacidade. Você pode cuidar dele novamente depois Mirian, agora você poderia ajudar a menina que foi seqüestrada pelo Lobo. Ela ainda está muito traumatizada.E..Temos mais algumas famílias que perderam entes queridos, precisando de conforto. - disse meu padrinho e senti a hesitação de minha mãe, mas ela concordou. Antes de sair deu-me um beijo na testa e fecharam as cortinas. Abri os olhos e me vi sozinho, senti um pouco de alívio, pois agora eu poderia deixar a minha tristeza sair livremente.

Wednesday, June 20, 2007

I wish that I could cry
Fall upon my knees
Find a way to lie
'Bout a home I'll never see

Superman – Five for Fighting


Dave ainda estava deitado no chão com o rosto molhado de lágrimas quando passei correndo pelo caminho aberto pelo cavalo alado e entrava cada vez mais na floresta. Meu desespero era tanto que não estava me importando com os galhos que batiam no meu rosto, ia arrancando-os do caminho com a mão, só queria encontrar Michel o mais rápido possível.

- Você viu meu cavalo? – um garoto loiro de no máximo 14 anos veio correndo na direção contraria e estava muito machucado – Ele ficou nervoso com o barulho e me derrubou
- Não, não vi cavalo nenhum! – disse com asco e ele me olhou assustado – Quer dizer, ele passou correndo por mim há alguns metros daqui, foi na direção do castelo. Você viu de onde veio o tiro?
- Sim, não foi muito longe daqui. Tem um bando de garotos lá na clareira no centro da floresta, parece que alguém se machucou...
- Obrigado!

O menino acenou com a cabeça e continuou caminhando na direção oposta e eu voltei a correr agora em pânico. Não demorei nada para encontrar a clareira de que ele estava falando, meus amigos estavam todos reunidos nela, prendendo alguém contra uma árvore. A cena de Samuel, Dominique e Viera esmagando alguém contra uma árvore prendeu minha atenção, que demorei a perceber que as meninas estavam ajoelhadas no chão em cima de alguém. Meu estomago veio na boca quando me deparei com o corpo de Michel deitado no chão com a camisa suja de sangue.

- MICHEL! – me atirei no chão e sacudi meu primo, mas ele não reagiu
- Luke, ele- - a voz de Marie cortou de repente e ela começou a soluçar
- Não, não fala isso! Michel acorda!! – o sacudi com mais força e Mad segurou meu braço
- Não adianta Luke, já tentamos de tudo! – os olhos dela estavam muito vermelhos
- QUEM FEZ ISSO?? – gritei descontrolado e Manu olhou na direção dos meninos

Levantei do chão totalmente fora de controle e empurrei Dominique com força, afastando-o da árvore. Viera e Samuel recuaram na mesma hora e vi Renault com o olho inchado e a boca cortada esmagado contra o tronco da árvore. Minha cabeça começou a girar e a imagem de Michel morto no chão me fez agarrá-lo pela camisa e atirá-lo no chão. Ninguém tentou me segurar enquanto eu batia nele com uma força que nem eu mesmo sabia que tinha. E o mais estranho era que ele não reagia. Ele sequer tentou se defender. Era como se estivesse esperando por isso e tivesse desistido de lutar. Puxei a varinha do bolso e encostei-a em seu rosto, mas sem saber o que fazer. Queria fazer o que ele fez com Michel, mas não tive coragem, então fiquei de pé apenas apontando a varinha pra ele, tentando me controlar.

- Ele é o lobo? – virei para Samuel e ele deu de ombros
- Foi tudo muito rápido, Michel estava sozinho com ele quando chegamos – Dominique também tinha os olhos vermelhos – Eles estavam brigando, quando de repente a arma disparou e Michel caiu para o lado
- Não adianta perguntar, ele não vai responder nada, já tentamos – Viera também apontava a varinha para Renault, que agora limpava o sangue da boca
- É O RENAULT, É O RENAULT! – Bernard surgiu do meio das árvores com falta de ar e quando viu a cena na sua frente, paralisou – O que aconteceu?
- O que é o Renault, Bernard? – Samuel pisou na barriga de Renault quando ele ameaçou levantar e apontou a varinha contra seu peito
- Foi ele quem seqüestrou minha irmã! – Bernard olhava tudo ao redor em estado de choque, mas tentava manter a calma – Amélia acordou, ele não apagou sua memória, ela contou tudo a madame Maxime, os aurores estão vindo
- Como esse merda pode ser o lobo? – falei olhando para ele com nojo – Ele mal sabe se comportar em publico, não poderia ter driblado toda a segurança da escola!
- Deixe isso com os aurores, Luke – Bernard olhava de Renault para Michel e parecia querer vomitar – Eles vão arrancar tudo dele, não tenha duvida
- ONDE ESTÁ O GAROTO??

Um bando de aurores, pelo menos 8 deles, entrou correndo na clareira com as varinhas apontadas em todas as direções. Logo de cara vi meu pai à frente do grupo, e ele se adiantou na direção onde eu estava. Atrás dele estava meu tio Edmond, seguido pela tia Eva e minha mãe. Tudo aconteceu muito rápido, numa fração de segundos: meu pai me empurrou para imobilizar Renault, tio Edmond perguntou por Michel e tia Eva soltou um grito. Quando olhei para trás, ela estava debruçada sobre o corpo de Michel e mamãe tentava acalmá-la.

- Vamos, todos de volta para o castelo, chega de tumulto por hoje – a voz de papai saiu embargada e ele apertou meu ombro quando viu tio Edmond segurando Michel no colo

---------

- Ian, se quiser ficar, tudo bem. Mas terá que ficar calado ouvindo. Se interromper, irei tirá-lo da sala

Meu pai me encarou sério e assenti com a cabeça sem dizer nada, sentando no canto da sala sem tirar os olhos de Renault. Estávamos no escritório da madame Maxime e com a exceção dos meus tios, todos os aurores que estavam no floresta se encontravam ali dentro. Renault estava sentado em uma cadeira no meio da sala e não estava imobilizado, mas nem era necessário. Qualquer movimento não autorizado que ele fizesse poderia lhe custar à vida. Mamãe abriu uma maleta e tirou um frasco de dentro dela, que reconheci na hora como veritasserum. O pai de Dave me forçou a beber aquilo no Ministério, nunca mais esqueceria a aparência. Todos sentaram ao redor de Renault e mamãe lhe entregou um copo com água, que ele bebeu sem relutar. Foi madame Maxime quem falou primeiro.

- Como é o seu nome?
- Thiery Gustave Renault – ele respondeu sem esboçar qualquer tipo de reação. A poção já fizera efeito
- Você é o aluno que atende pelo codinome de lobo? – mamãe continuou
- Sim
- O que aconteceu com Patrice Benoir, a garota trouxa que foi encontrada enterrada nos arredores da escola? – Madame Maxime tornou a falar
- Saí com ela algumas vezes, ela morava no vilarejo vizinho a escola e eu saia quase toda noite para me encontrar com ela. Um dia ela resolveu que não queria mais se encontrar comigo e tentei forçá-la a me beijar. Ela me deu um tapa no rosto e a empurrei para longe. Ela bateu com a cabeça em uma pedra e não levantou mais. Enterrei-a na mata com receio de alguém ter me visto com ela.

Madame Maxime sentou outra vez em sua poltrona e parecia prestes a chorar. Ela fez sinal para que os aurores continuassem o interrogatório, demonstrando que não faria mais perguntas. Sergei, o auror russo que até o momento se mantinha calado, foi quem fez a pergunta seguinte.

- E quanto a Mathilde Serrel? Também estava se encontrando às escondidas com uma menina de 12 anos?
- Ela me perseguia, se dizia apaixonada por mim, mas nunca nem olhei para ela. Quando os garotos inventaram essa brincadeira de assassino, atribuindo a morte de Patrice ao psicopata da cabeça deles, vi a chance de fazer com que ela parasse de me perseguir. Com o trauma de ter sido seqüestrada ela certamente largaria do meu pé. Mas claro, precisei apagar sua memória antes de liberá-la, ou a fedelha estragaria tudo.
- E Pierre Chirac? – papai se aproximou dele, mas Renault não se abalou – O que houve com ele? Ele morreu, foi planejado por você?
- O irmão dele, Danilo, comprou briga comigo durante um jogo de quadribol. Ele trapaceou e me ameaçou depois do jogo, então quis dar um susto nele, levando embora àquele que ele mais prezava: o irmãozinho frágil.
- Por que matou um menino de 14 anos? O que ele pode ter feito a você? – papai estava se controlando para não bater nele
- Não era para ter sido assim, saiu tudo errado. Pierre conseguiu se soltar das cordas e fugiu. Eu ainda não tinha alterado sua memória, o desgraçado ia contar tudo aos aurores e corri atrás dele. Mas ele era muito rápido, o único modo de pará-lo foi lhe atingindo com uma pedra. Não era para ele morrer, e fiquei assustado, larguei-o no meio da floresta e voltei para a escola.

A cada palavra que saia da boca dele, meu estomago embrulhava ainda mais. Estava com raiva, nojo e pena, tudo ao mesmo tempo. Tive pena de Renault, ele sempre foi um zero a esquerda que se fazia de valentão para chamar atenção, e agora se tornara um assassino. Uma pessoa assim é digna de pena, sem duvida. Mas esse sentimento não era maior que o de desprezo, e se papai não fosse me expulsar da sala, teria voado no pescoço dele.

- E quando a Amélia Lestel? – mamãe o encarou e pela primeira vez, Renault reagiu. Ele se encolheu na cadeira diante do olhar ameaçador de minha mãe, que tinha por Amélia um carinho como se ela fosse sua filha – Por que seqüestrou Amélia? O que uma menina doce e pura como ela pode ter feito a você?
- O irmão dela me provocou e queria apenas fazê-lo sofrer com a angustia de não saber o paradeiro da irmã. Eu afrouxei a segurança e ela escapou, fui atrás dela e acertei-a com uma pedra, mas diferente de Pierre, ela não caiu. Apenas se machucou e conseguiu alcançar a orla da floresta. Quando vi que ela escaparia, tentei fugir.
- Então quer dizer que atirou a pedra com a intenção de matá-la? – Maxime se pronunciou depois de um longo tempo apenas ouvindo e sua voz era de puro horror. Renault não respondeu
- E Michel?? – não agüentei e falei, mas voltei a me calar quando meu pai me olhou severo
- Responda a pergunta dele – disse encarando Renault
- Ducasse esbarrou comigo na floresta dizendo que o lobo era Dave, e que ele tinha atacado Amélia. Entrei na dele e tentei parecer chocado, mas ele percebeu. Ele tentou me imobilizar, mas acabamos nos embolando no chão. A arma disparou acidentalmente, Ducasse não fazia parte de nada.
- E o Tyrone? – Sergei tornou a falar segurando o braço de Renault com força – Foi você quem o levou??

Quando Renault negou, o auror saiu desabalado da sala, batendo a porta com estrondo e sem dizer aonde ia. Meu pai respirava devagar para manter a calma e se virou para a diretora.

- Maxime, por favor, será que tenho permissão de retirar este aluno imediatamente de sua escola para ser julgado como adulto pelo Ministério? – ela assentiu com a cabeça, a expressão de total horror ainda estampada no rosto – Levante garoto, você vem conosco.

Papai segurou Renault pelo braço e ainda meio grogue pelo efeito da poção, ele seguiu meu pai para fora do escritório. Os demais aurores faziam uma escolta em volta deles e saí por último com minha mãe, que agora caia no choro pela morte de Michel ao ver que eu também não consegui mais controlar as lágrimas. Muitos alunos estavam parados no corredor esperando que Renault saísse e começaram a vaiar e xingar quando os aurores passaram com ele. Olhei para meus amigos no meio da multidão e todos tinham lágrimas nos olhos, as piores expressões possíveis. O caso estava finalmente resolvido, mas infelizmente, deixou danos irreparáveis.

Kidnapped

Anotações de Ty McGregor


De manhã cedo antes das provas de final de ano letivo...

- Tudo bem com você Rory? E o bebê?- perguntei baixo ao vê-la pálida.
- É sobre isso que quero falar: eu não estou grávida. Bom não é? – ela perguntou.
- Ér.., acho que sim... Quer dizer, é sim. Precisamos tomar mais cuidado de agora em diante. – respondi sorrindo e a enlacei em meus braços. Senti um nó na garganta enquanto a abraçava, era como fosse uma despedida.

Ao anoitecer depois de um longo dia...

Nossas provas de final de ano haviam acabado e eu e Miyako estávamos no meu quarto, tentando falar com o Gabriel e saber como foram as provas dele na escola americana.
- Biel você ta ai? Responde logo. - dizia Miyako impaciente e sacudia o espelho de duas vias, que Gabriel deu a ela antes de ir embora.
- Já pensou que ele pode estar ocupado fazendo provas também? Sei lá, vai ver ainda nem saiu da sala... – disse enquanto segurava o meu espelho.
- Ah, mas quando que ele terminaria as provas depois de nós? - ela disse e de repente nosso amigo entrou em foco e disse rindo:
- É isso aí, abram alas para o maior sabe-tudo, podem me reverenciar rsrsrs. Tudo bem com vocês?
- Tudo sim,e com você?- perguntei.
- Aqui vai tudo bem, vocês iriam adorar estar aqui. Novidades?- antes que eu falasse alguma coisa, Miyako disse agitada:
- O Ty vai ser papai. Vamos ser tios.
- O QUÊ?- ele arregalou os olhos e Mi continuou:
- Parece que o Ty e a Rory se empolgaram demais e ela está grávida. Vai ser uma loucura quando os pais deles souberem da novidade. Imagina o quanto nossas mães vão zoar a “vovó” Alex? Ela vai deserdar o Ty depois de matá-lo algumas vezes. E não vai haver lugar longe o bastante pro Ty correr do tio Kyle. – disse de um fôlego só.
Gabriel após o choque inicial perguntou:
- É sério?
- Não. Foi um alarme falso.
- Como alarme falso? Você só me conta agora Ty? Eu já estava me preparando pra ouvir muito sermão da minha mãe sobre os cuidados que os jovens devem tomar blá, blá, blá... – disse Miyako.
- Ah, eu que não ia estragar a sua fofoca em primeira mão. Tenho noção do perigo rsrs. – respondi e Gabriel após me olhar daquele jeito analítico dele disse:
- Ty é impressão minha ou você ficou triste?
- Eu? Não. Quer dizer... É que eu já estava acostumando com a idéia sabe? Já estava fazendo planos... Pode dizer: eu sou esquisito. - e ambos disseram em uníssono.
- Você é esquisito! – rimos e ficamos conversando por algum tempo, falamos sobre nossas suspeitas de quem seria o Lobo, ficamos felizes quando Gabriel falou sobre os amigos da Califórnia, que eram legais com ele, até que deu o horário que eu havia combinado de encontrar a Rory. Despedi-me deles e antes de sair Gabriel me chamou:
- Ty, toma cuidado ok? É sério.
- Pode deixar Lobão, eu vou me cuidar.

Caminhei até o jardim e fiquei esperando a Rory aparecer quando ouvi um barulho, e vi uma mulher aparecer com a varinha na mão. Ela me olhou esquisito e disse:
- Olá McGregor! Você me facilitou muito as coisas...
- Olha, só vim esperar minha namorada, mas já estou indo embora. Não precisa contar ao seu chefe ok?- e ela respondeu:
- Ela não vem, o Lobo a levou.
- Você tem certeza disso? Já avisou aos outros?- perguntei alarmado.
- Sim, avisei, eu achei que talvez ela estivesse com você por isso vim verificar. Eles foram para a floresta.
- Eu vou atrás dela... - saquei a varinha e me virei em direção da floresta, quando senti uma mão segurar meu braço com força.
- Você ainda é um aluno... Cuidaremos disso... - e nesta hora apontei minha varinha para ela e a encarei.
- É a minha garota que aquele louco pegou e eu vou buscá-la. Pra me deixar aqui vai ter que duelar comigo e eu garanto que posso dar trabalho. - disse ríspido e ela me respondeu friamente.
- Você é mesmo igualzinho ao seu pai. Vamos logo garoto, não podemos perder tempo.
Começamos a correr e logo entramos na floresta, e à medida que avançávamos tudo ia ficando mais sombrio. Andamos por um bom tempo e de repente eu perguntei para a mulher:
- Você é de qual divisão? Pensei que conhecia todos os aurores que estão no castelo.
- Fui transferida de Genebra há pouco tempo. - ela respondeu e me empurrou mais para frente com a varinha. O fato de ela fazer isso me fez ficar alerta, e eu perguntei uma coisa qualquer:
- Como vai Gwen Savoy?
- Ela está bem. Estamos quase chegando. - quando ela respondeu isso, eu estaquei e me virei para ela apontando a varinha:
-Você não é um auror. Quem é você?
Ela me olhou, e um pouco tarde percebi um olhar maldoso naqueles olhos azuis.
- Alguém que teve que viver uma vida miserável por causa de sua família, alguém que finalmente vai devolver em dobro todo o mal que os McGregor's fizeram a mim.
De repente ouvimos um tiro, e eu me desesperei.
- RORY! – empurrei-a e quis correr em direção do som e alguém disse, quando um jato verde me acertou:
- Petrificus Tottallus. - caí duro como uma estátua de cara no chão e ouvi quando mais pessoas se aproximaram. Vi três pessoas usando máscaras de comensais e ficaram ao meu redor e a mulher enquanto me virava de barriga para cima disse:
- Minha filha está segura no castelo garoto. Não deixaria a Rory correr nenhum perigo. Mas sei que você nem iria desconfiar que estivesse caindo em uma armadilha quando eu dissesse que ela corria perigo. Ah o amor adolescente. Tão lindo! – e gargalhou enquanto eu a olhava chocado.
- A floresta está movimentada hoje, Cibelle. Vamos pegar o garoto e levá-lo para a cabana. Ainda temos um vilarejo para tomar. - disse o que parecia ser o líder deles.
Senti o feitiço enfraquecer e ao me levantar, levei um soco no queixo que me fez dobrar os joelhos, enquanto ouvia um homem dizer sarcástico ao me chutar e me fazer ver estrelas:
- Está querendo ser valente. Vejamos quanto tempo ele agüenta. CRUCIO!
Senti como se facas entrassem em meu corpo, tamanha era a dor. Após o que me pareceram horas o feitiço cessou e um outro disse:
- Levante-se garoto. Seu pai não vai gostar de saber o quanto você é fracote. – e riram.
- Não vou obedecer. - era meu pensamento e não me mexi.
O homem abaixou-se e de sua varinha saiu um jato vermelho enquanto ele dizia:
- IMPÉRIO!- parecia que todo o som ao meu redor havia cessado e só a voz daquele homem era ouvida. Não conseguia resistir.
- Temos uma boa caminhada pela frente, antes que eu volte a brincar com você novamente. Comece a andar agora. - e levantei como se fosse um fantoche e me pus a andar para algum lugar, que não conseguia saber aonde era.
Caminhamos por um longo tempo, e chegamos a uma cabana bem no meio da floresta. Abriram a porta e me jogaram lá dentro. Senti que começava a ser dono da minha vontade novamente e comecei a pensar num jeito de fazer a projeção e avisar que era uma cilada para os meus pais. O homem pareceu ler meus pensamentos e disse:
- Isso... Avise ao papai onde estamos. Quero ter o prazer de matar o assassino do meu irmão pessoalmente.
- Meu pai não é um assassino. - respondi automaticamente e o homem disse cruel:
- Vejamos se ele não vai virar um assassino quando souber o que fizemos com o filhinho dele e novamente apontou sua varinha:
- Crucio!
Ouvi alguém gritar, enquanto todo o meu corpo doía novamente. Só depois quando senti minha garganta ardendo e o gosto de sangue na minha boca me dei conta de que aqueles gritos de dor eram meus.

Tuesday, June 19, 2007

- Monsieur Lafayette, 5 minutos para terminar.
- Ok, só preciso de mais um instante...

O examinador assentiu com a cabeça e começou a recolher os telescópios vazios espalhados na torre. Eu era o único que ainda estava fazendo o exame de Astrologia. Precisava desesperadamente de nota máxima em tudo, até mesmo nas matérias que não vou rever nunca mais, e isso fazia com que eu fosse sempre o ultimo a sair. Não estava com a menor pressa enquanto anotava as constelações que encontrava na luneta. Pela primeira vez não inventei nomes engraçados para anotar no pergaminho, tinha usado os nomes verdadeiros, pois tinha encontrado todas que foram pedidas.

- Pronto, terminei – enrolei meus rolos de pergaminho e entreguei ao examinador
- Merlin, esse foi o exame de Astrologia mais completo que já me entregaram – ele sorriu simpático para mim – Por acaso encontrou alguma constelação nova?
- Acho que não cheguei a tanto, mas anotei algumas a mais
- Muito bem então, o resultado sairá em meados de Julho. Boa noite.
- Boa noite – peguei minhas coisas na bancada e sai, deixando o velhinho sozinho na torre

Desci as escadas muito cansado, o dia havia sido puxado. Na parte da manhã tivemos o exame de DCAT mais exaustivo de todos, seguido de um exame tenso de Legilimência, mas estava confiante que havia obtido nota máxima nos dois. Minha cabeça doía e fiz o caminho direto até a enfermaria pensando em tomar alguma coisa, mas antes mesmo de chegar no corredor dela, senti duas mãos espalmando no meu peito e fui lançado para trás. Arregalei os olhos espantado para dar de cara com Dave Regalski parado na minha frente, os punhos fechados na defensiva, totalmente desengonçado.

- Perdeu a noção do perigo, Regalski?? – disse avançando para cima dele
- Devolve meu caderno – ele mantinha as mãos protegendo o rosto
- Que caderno? Aquela porcaria caindo aos pedaços que você carrega feito um ursinho de pelúcia?
- Devolve, sei que foi você quem pegou! Você o rouba todo dia, mas o Michel me devolve. Só que ele não está aqui hoje, então vim buscar sozinho
- Tem certeza que vai me bater? – falei rindo – Você está tremendo...
- Posso te bater sim, se não me devolver o caderno. Você não sabe o que tem nele, não tem o direito de ler
- Já falei que não peguei ele, seu esquisito – empurrei ele com as mãos e passei – Agora some da minha frente antes que perca a paciência
- Você vai pagar por isso...

Dave saiu correndo pelo corredor e vi quando ele desceu as escadas para a Fidei. Sacudi a cabeça rindo e continuei andando, a dor de cabeça pior que antes. Madame Magali me deu uma poção para passar a dor e sai outra vez, pensando em relaxar deitado na grama pela madrugada toda. Queria ficar do lado de fora, curtindo a liberdade e sem hora para voltar para o salão comunal. Quando sai, percebi que Bernard e Marie compartilhavam dessa idéia comigo. Os dois estavam deitados no meio do jardim encarando o céu estrelado e riam como duas crianças.

- Qual é a piada? – falei deitando ao lado de Marie e a beijando
- Piada nenhuma – ela respondeu ainda rindo – Só estamos felizes por termos finalmente concluído os estudos
- Sim Luke, meu irmão... ESTAMOS LIVRES – Bernard gritou rindo com gosto e acabei rindo também
- É... Nem acredito que conseguimos – Marie me abraçou e parecia tão cansada quanto eu
- Precisamos de uma festa de despedida – falei animado – Será que-

Mas minha pergunta foi interrompida por um grito vindo da orla da floresta. Saltamos ao mesmo tempo do chão assustados e já estávamos com as varinhas em punho apontando para o vulto que corria em nossa direção. Empurrei Marie para trás de mim e apertava os olhos para ver quem era, mas Bernard parecia estar mais atento aos detalhes e senti quando ele esbarrou com força em mim e correu na direção da pessoa.

- AMÉLIA! – Bernard abraçou a irmã a tempo, pois ela desabou
- Ela está bem?? – ajoelhei ao lado de Bernard e me deparei com ela coberta de sangue – Está viva?
- Amélia, quem fez isso com você? – Bernard perguntou limpando o rosto dela
- O que aconteceu? – Samuel, Dominique, Viera, Manu e Maddy apareceram correndo quando viram a movimentação
- Amélia conseguiu escapar do lobo! – falei agitado
- Acha que ele apagou a memória dela? – Manu falou assustada
- Não, não apagou, ela não está com os olhos esquisitos – olhei para ela e Amélia parecia querer falar alguma coisa – O que foi, Amélia?
- Floresta, ela está apontando para a floresta! – Dominique ficou de pé e empunhou a varinha – O lobo está na floresta... Vamos nos espalhar!

Amélia confirmou com a cabeça e desmaiou. Bernard ainda tentou acordá-la, mas ela não reagia. Fiquei de pé e também empunhando a varinha, corri para dentro da floresta com os outros, deixando os dois sozinhos no gramado. Quando passamos da orla, cada um correu para um lado diferente. Precisávamos cobrir o maior espaço possível, e em menos tempo possível. Eu corria o mais depressa que podia e começava a perder o fôlego quando, pela segunda vez em menos de meia hora, fui atingido de surpresa. Mas dessa vez foi absurdamente forte e me acertou em cheio no meio do peito. A pancada que recebi de um pedaço de madeira foi tão forte que perdi o fôlego e cai embolado no meio das raízes das árvores. Quando abri os olhos, Dave estava com os pés em cima de mim e apontava uma arma de aparência antiga pro meu peito.

- O que está fazendo?? – falei engasgado – Aponta essa coisa pro outro lado!
- Está tremendo por que, Ian? – Dave tinha uma voz esquisita, era como se ele estivesse fazendo a coisa mais normal do mundo – Perdeu a valentia?
- Você é louco! – levantei do chão depressa e caminhava para trás devagar – Foi você que seqüestrou a Amélia, não foi? Ela disse que o lobo estava na floresta e você está aqui.
- Você também está aqui...
- Mas eu não sou um assassino! É você quem está segurando uma arma de fogo!
- Eu não matei o Michel! – a mão dele tremia enquanto segurava a arma e eu estava ficando com medo
- Michel não está morto, ele está na África!
- Isso é o que você quer que os outros pensem, não é? Para ninguém desconfiar que ele está morto!
- Não, estou falando a verdade! Era tudo uma brincadeira, ele está viajando de verdade!
- MENTIROSO!
- Luke, conseguiram pegar ele? Bernard falou que você estava-

Dave abaixou a arma e encarou o recém-chegado. Michel estava parado ainda de mochila nas costas no meio das árvores e olhava de mim para Dave, perplexo. Quando ele fez menção de se aproximar de Dave, ele apontou a arma para o meu primo. Michel recuou outra vez com as mãos pedindo calma e Dave recomeçou a tremer.

- Calma Dave, abaixa essa arma e vamos conversar – Michel colocou a mochila no chão e tentou uma nova aproximação, mas logo recuou
- Você estava morto – Dave falou baixo – Você foi atacado pelo lobo, é isso que todos ouviram dizer
- Não, eu não fui atacado, eu estava na África com meus pais
- Eu disse a ele, mas ele não acreditou – falei depressa
- Seus pais enviaram uma carta a ele, dizendo que você deveria estar na escola
- Era uma brincadeira! Luke, Sophie e eu combinamos tudo, foi minha prima que escreveu a carta. Luke deveria convencer as pessoas de que era uma brincadeira, pois sabíamos que só um ou dois acreditariam nele
- Você me enganou, mentiu esse tempo todo. Tudo que me contou também era mentira? Também estava mentindo quando disse que era meu amigo? – Dave agora apontava a arma para Michel e tremia descontroladamente
- Não, claro que não! Eu sou seu amigo, tudo que contei sobre o lobo era verdade, e eu ia contar sobre a brincadeira, mas tive que viajar as pressas!
- Mentira! Vocês são dois mentirosos! Eu sei que você é um lobisomem e não contei a ninguém, mas começo a me perguntar se deveria ter sido fiel a você...
- Como sabe que sou um lobisomem?
- Segui você uma noite e descobri, mas mantive seu segredo a salvo. Agora está tudo tão obvio! – Dave parou de tremer e andava de um lado para o outro sacudindo a arma – Você é o lobo, e escolheu o codinome mais obvio do mundo. Como não percebi isso antes?
- Dave, eu não sou o lobo! Eu juro pra você, não estou mentindo!
- Eu não acredito mais em você! Vou levar os dois pro castelo e entregar a madame Maxime, vocês vão ser presos!
- MICHEL, CORRE!

Enquanto Dave discutia com Michel, eu me aproximei devagar e sem que ele percebesse, saltei por cima dele. A arma voou para longe e o prendi no chão com o corpo. Michel apanhou a arma da terra e correu para dentro da floresta, largando a mochila para trás. Dave se debatia e tentava me acertar com o punho fechado, mas ele não era tão forte sem estar armado. Acertei um soco nele que o deixou tonto, e foi o tempo que precisei para imobilizá-lo melhor.

- O que você fez com a Amélia? – gritei quando ele voltou a enxergar as coisas
- Eu não fiz nada com ela, nem sei quem é Amélia!
- Claro que você sabe, não se faz de idiota!
- Ian, eu não sou o lobo! – Dave começou a chorar, mas não o soltei
- Então por que estava apontando uma arma pra mim??
- Só queria assustar você, ela é do meu pai! Eu não ia atirar, só queria humilhá-lo! Segui você depois que saiu da enfermaria e quando correu para a floresta, vi minha chance de pegá-lo sozinho
- Agora é você o mentiroso, Dave... Não acredito em nada que você diz, porque parece que sabia desde o princípio quem eram os autores do lobo, e resolveu se aproveitar disso para soltar esse seu lado maníaco!
- Eu juro que não sou eu, meu pai não pode saber que apontei uma arma a uma pessoa, ele me mataria e-

A frase de Dave for cortada quando o barulho de um tiro vindo do centro da floresta fez todos os pássaros que estavam nas árvores voarem assustados. Soltei-o na mesma hora e fiquei de pé, olhando para a passagem por onde Michel tinha corrido e por onde um cavalo alado acabara de passar galopando...

- NÃO!

TO BE CONTINUED...

Thursday, June 14, 2007

And while I know, based on my track record
I might not seem like the safest bet
All I’m asking you, is don’t write me off, just yet

Don’t Write Me Off – Music & Lyrics Soundtrack


- Raiz de asfódelo em pó, Infusão de losna, Raízes de valeriana, Vagem soporífera... – eu repetia baixo os ingredientes da poção do morto-vivo como um
mantra, o rosto colado no livro quase babando na página – Raiz de asfódelo em pó, Infusão de losna, Raízes soporífera, Vagem de valeriana .. AAAARGH!
- Luke! – Marie me olhou alarmada e a bibliotecária pigarreou alto – Por que está gritando? Estamos na biblioteca!
- Eu não vou conseguir decorar isso! – levantei o rosto e a página sobre a poção do morto-vivo rasgou um pedaço por estar colada na minha bochecha – Acabei de ler e já troquei os ingredientes!
- Você está ansioso, por isso não consegue decorar. Você é inteligente, sabe a matéria, não precisa ficar nesse estado de nervos
- Não preciso? Não preciso?? – falei desesperado – Marie, pretendo conseguir um estágio no St. Napoleon em Setembro, e para isso preciso me formar com um Outstanding em todas as matérias!
- Anda, levanta! – Marie juntou os livros e guardou na mochila, ficando de pé
- Hã? – fiquei olhando para ela perdido
- Levanta daí, vamos! – ela agarrou meu braço e catei os livros depressa, sem entender nada – Aqui dentro você vai surtar, vamos estudar em outro lugar
- Marie, não posso ficar passeando pelo castelo procurando outro canto, preciso ler mais 3 capítulos do livro e ainda nem comecei a parte de contravenenos asiáticos!

Marie virou o rosto e me encarou séria, que achei até melhor não contrariar e ver aonde aquilo ia terminar. Ela continuou me arrastando pelos corredores pela mão e quando percebi, estávamos em um dos túneis que sabia que levava para fora do castelo. Olhei no relógio e já passava das 18hs. Talvez se eu não tivesse convencido Marie de que Michel estava nos pregando uma peça e que ele forjou aquela carta, ela não estaria saindo dos terrenos da escola essa hora. Estava convicto de que tudo não passava de uma brincadeira de Michel e consegui convencer Marie e Bernard do mesmo, mas os demais ainda estavam preocupados. Tinha certeza que Michel apareceria depois dos exames rindo da nossa cara, então toda minha preocupação naquele momento estava em obter um Outstanding nos meus N.I.E.M.s.

- Pronto, chegamos – Marie soltou minha mão e sai do transe. Estávamos no vilarejo trouxa vizinho à escola
- Então é aqui que você se esconde nas vésperas das provas?
- Sim – ela disse sorrindo – Não consigo estudar na biblioteca, as pessoas nervosas em volta acabam me contagiando. Só estava lá hoje para fazer companhia a você. Vamos entrar ou vai ficar parado ai fora?

Ela abriu a porta do Les Deux Magots e entrou. O lugar estava um pouco cheio, mas nada comparado à biblioteca da escola! A atendente, que parecia conhecer Marie muito bem, encontrou uma mesa vazia ao fundo da sorveteria e nos acomodamos, abrindo os livros e espalhando para todos os lados. Entre uma taça de sorvete e outra, Marie ia me tomando nota dos ingredientes das poções que cairiam no exame e descobri que havia decorado todas, pois não errei nenhuma vez. Depois foi minha vez de fazer as perguntas e sem percebermos, o tempo passou voando.

- Ok, qual a finalidade da poção de acônito? – Marie empurrou a 5ª taça de sorvete para o lado e olhou para o livro
- Ela não cura licantropia, mas suaviza a irracionalidade do lobisomem – falei confiante e ela sorriu
- Correto! Acho que terminamos, não?
- Sim, acho que conseguimos estudar tudo, depois de... – comecei a contar as taças na mesa e Marie riu – 13 taças de sorvete, um de cada sabor da loja.
- Estamos preparados, Luke. Vamos tirar notas boas nos exames e você vai conseguir todos os Outstanding que precisa para conseguir o estágio.
- Espero que esteja certa... Não tenho certeza se consegui acertar todas as questões de Botânica, planta nunca foi o meu forte.
- Duvido que tenha errado alguma coisa, vi o quanto você estudou para a prova da Milenna. Quando vai saber se conseguiu o estágio?
- Só no começo de Agosto, eles passam o mês de Julho todo avaliando as fichas e escolhendo a dedo os novos internos. Vou passar um mês inteiro na incerteza e ansiedade...
- Bom, nesse caso precisamos encontrar alguma coisa para fazer e manter você ocupado, assim não fica pensando na vaga
- Sabe que uma viagem não cairia mal? – falei recostando a cabeça no banco – Mas Viera nos convidou para assistir a Copa do Mundo trouxa, então vamos para a casa dele nas primeiras duas semanas do mês
- É verdade, tinha esquecido que Viera nos convidou. Vai ser divertido, vocês vão adorar as partidas de futebol, ainda mais sendo copa do mundo!
- Só por estarmos todos juntos já é divertido. E você? Se inscreveu para estágio em algum lugar?
- Claro que sim! Mas nada na área bruxa, quero fazer uma faculdade trouxa de história, então a professora Claudine me incentivou a me inscrever no estágio do Louvre. Todo ano em Setembro os bruxos que trabalham lá fazem uma seleção de recém-formados em Beauxbatons, espero que consiga.
- Ah claro que você vai conseguir. Você é inteligente, esforçada, criativa, adora história, é bonita... – Marie desviou os olhos de mim e fiz o mesmo – Desculpe, não falo mais nada, prometi a você que ia parar.
- Por que, Luke? – os olhos dela continuavam fixados na mesa
- Por que o que?
- Por que gosta de mim?
- Precisa ter um por quê? – continuava encarando os livros enquanto falava – Não sei Marie, essas coisas não tem explicação. Você é minha melhor amiga, é doce, gentil, linda, inteligente, conversar com você é a coisa mais fácil que existe, eu sinto que não preciso fazer rodeios ou fingir ser outra pessoa, com você eu sei que posso ser só eu, só o Ian que você conhece desde os 11 anos, não preciso fingir que sou comportado e a pessoa mais responsável do mundo, porque você já conhece todas as minhas qualidades e defeitos, sabe exatamente quem sou eu. Do mesmo jeito que conheço você tão bem que talvez você nem imagine o quanto – falei tudo em um fôlego só e a encarei quando fiz uma pausa – Não sei se tenho a explicação que você quer, só sei que eu te amo...

Marie levantou do banco e sentando ao meu lado, fez a ultima coisa que esperava que ela fizesse: ela segurou meu rosto e me beijou. Quando nos afastamos, ela tinha os olhos cheios de lágrima. Mas sorria, o que me deixou aliviado. ‘Isso era tudo que eu queria saber’ ela disse deixando uma lágrima cair e me beijando outra vez. Se consegui amolecer Marie, posso conseguir todos os Outstanding que precisar nos N.I.E.M.s, pelo simples fato de que naquele momento, me sentia a pessoa mais feliz do mundo.

Saturday, June 09, 2007

Aconteceu naquela noite....

Por Rory Montepellier

Antes do jogo de quadribol, num dormitório da Nox Angeli:

- Rory vamos logo, temos que conseguir bons lugares. - Danielle dizia impaciente.
- Já estou indo. Não posso deixar de tomar minha poção. - disse a garota usando as cores da Sapientai, enquanto virava na boca uma garrafinha com uma poção na cor púrpura.
"Que bom, o gosto está um pouco melhor desta vez". - pensou alto.
Saiu e encontrou-se com sua amiga e foram ao campo para assistir a final da copa entre as casas.Mesmo com a ameaça do Lobo rondando o castelo, e o desaparecimento de um aluna, a direção decidiu que a rotina da escola deveria continuar. Durante o trajeto, sentia-se animada, parecia que a final do campeonato havia mexido com seu temperamento, não só porque o capitão da Sapientai era seu namorado, mas porque o dia claro de início de verão, deixava os ânimos mais alegres. Gritou, aplaudiu, e até mesmo xingou violentamente quando viu uma jogada suja do time da Fidei. Mas ela estava se sentindo tão bem, que nada poderia abalar seu humor.
- E VENCE A SAPIENTAI! – quando ouviu o apito final, saiu correndo em direção ao campo. Ty após abraçar os amigos e sair do bolo que era a torcida e os jogadores comemorando, a alcançou e levantou no colo, gritando:
- Somos campeões! Conseguimos.
- Sim, vocês conseguiram. - ela ria enquanto ele a girava no ar, antes de beijá-la.

Salão da Sapientai

"Eu sou Devlin, Tewlis, DeVille, Derkier, Vasseur... Eu sou SapIAAAAN...TY!!!!"
Ainda cantávamos a música que serviu para incentivar a Sapientai a plenos pulmões, enquanto a festa no salão dos campeões corria solta, regada a muita cerveja amanteigada.Algum tempo depois, não sei de onde surgiu uma garrafa de wisky de fogo e ela ia sendo passada de mão em mão. Após o primeiro gole da bebida que achei forte, senti que uma sensação de liberdade se espalhava pelo meu corpo. Continuei a tomar a bebida e a dançar com o Ty, lembro que comecei a sentir muito calor enquanto dançávamos. Tudo é tão lindo quando você vê as luzes piscarem diante de seus olhos junto de quem você ama.

Cortinas num dormitório da Nox sendo abertas violentamente no dia seguinte...

- Sol não... Meus olhos doem... - Rory resmungou alto enquanto cobria a cabeça.
- Acorda bela adormecida. Já é quase meio dia...Vai ficar sem café da manhã deste jeito...
Ao ouvir as palavras café da manhã, seu estômago deu uma volta de 360 graus e ela se levantou correndo indo para o banheiro. Dali saiu algum tempo depois sentindo que havia sobrado em seu cérebro apenas as células de comando necessárias para que ela se atirasse do alto do castelo, se a sua cabeça continuasse a rodar igual a um carrossel desgovernado, tamanho era o seu mal estar.
- A farra foi boa ontem hein? O Ty saiu daqui agora a pouco, disse que ia procurar alguma coisa para comer. Como ele consegue comer, depois de beber tanto? Deve ter um estômago de avestruz. – comentou Danielle.
Comecei a rir, mas parei comecei a ver pontos coloridos dançando em frente aos meus olhos. Vi quando ela entrou no banheiro e voltou dizendo:
- Toma, isso, vai te fazer bem. - e me empurrou uma poção púrpura para que eu melhorasse.
Quem sabe depois disso, eu descubra que há vida após a ressaca.

Dias depois...

- Não pode ser, Danielle. Estas poções são as minhas.- eu disse preocupada.
- Rory, tenho certeza. Estas são as minhas poções revigorantes, e não as suas.
- Então quer dizer que no dia da festa eu não tomei a poção contraceptiva, tomei uma revigorante. - disse Rory.
- Bem, isso explicaria a sua animação na noite da festa.
- Como assim? O que foi que eu fiz?
- Ah se você tomou uma poção revigorante e misturou com bebida alcóolica, ia ficar bem “animada”. E pelo jeito que o Ty saiu daqui aquele dia...
Ao entender aonde ela queria chegar, decidi o que tinha que fazer. Precisava falar com o Ty. Encontrei-o sentado nos jardins com os amigos e o levei até um canto afastado. Ele foi todo empolgado para o meu lado e tentou me abraçar, e eu espalmei a mão em seu peito para segurá-lo.
- O que foi doçura? Está zangada comigo?
- Nós precisamos conversar a sério.
-Ah é, você disse que tinha uma coisa para falar comigo, mas já aviso: sou inocente. - e riu.
Naquela hora, percebi que falar sobre minha mãe podia esperar, eu tinha um problema mais urgente.
- É sobre a noite da festa da vitória.
- Tremenda noite aquela não? Que jogo, que festa. Nos divertimos muito não é?
- Nos divertimos como?- perguntei cautelosa.
- Ah você sabe... - e me beijou a orelha.
- Ty quero que você me responda uma coisa sobre aquela noite: você tomou precauções extras? Você sabe... Precauções trouxas.
Ele pensou por alguns instantes:
- Não, você disse que não precisaríamos, que havia tomado sua poção. Por quê?
- Porque eu acabei de descobrir que naquele dia eu tomei por engano uma poção revigorante e não a minha.
- Ok. Poção revigorante... E isso quer dizer?- ele realmente parecia não entender o problema.
- Como o que quer dizer Ty? Será que ainda não caiu a ficha? Posso estar grávida. - disse nervosa e comecei a chorar. Ele ficou algum tempo me olhando, parecia em estado de choque, e depois acabou me abraçando apertado. Grudei na sua camisa e as lágrimas corriam com mais força.
- Calma, Rory. Nós vamos resolver...
- Resolver como? Nós ainda estamos na escola, nem somos maiores de idade. Como você pode dizer que vamos resolver? - disse elevando a voz.
- Em primeiro lugar não adianta gritar comigo. Sei que posso ter sido irresponsável, mas ambos fomos, o que podemos fazer? Aconteceu. Agora é nos acalmar e assumir o problema. - ele disse calmo.
- Para você é fácil falar, não é sua vida que vai mudar, é a minha. - funguei.
- A NOSSA vida vai mudar! Ou você acha que é normal um cara de 16 anos virar pai? Amo você e vou estar do seu lado o tempo todo. Seja qual for a sua decisão. – ele disse sério.
- Como assim?
- Rory, se você quiser ter o bebê, vamos ficar juntos. Com ou sem o apoio dos meus pais, eu vou estar com você. Agora se você não quiser ter a criança, eu vou apoiar você, pois vamos continuar juntos. Isso eu sei, e você quer continuar comigo?- e eu assenti positivamente, enquanto ele enxugava minhas lágrimas.
- Não sei se quero ter este bebê Ty. Estou assustada, é uma coisa séria demais.
- Eu também estou assustado, doçura.
Acabamos perdendo aquele período de aula, enquanto eu me acalmava e decidimos que eu iria esperar mais alguns dias, para ter certeza se estava grávida. Não adiantaria soltar uma bomba destas em cima de nossas famílias, se fosse um alarme falso. Mas apesar de tudo, descobrir que o Ty, numa crise, sabe se manter concentrado, para achar as soluções, faz com que eu me veja cada dia mais apaixonada por ele.

Thursday, June 07, 2007

Verdadeiro ou Falso?

Por Ian Lucas Renoir Lafayette

Segunda-feira (11/06)
Botânica - 10:00
Feitiços - 14:00

Terça-feira (12/06)
Transfiguração – 10:00
Zoologia – 14:00

Quarta-feira (13/06)
Poções – 10:00
Sereiano – 14:00

Quinta-feira (14/06)
Mitologia – 10:00
Oclumência – 14:00

Sexta-feira (15/06)
DCAT – 10:00
Legilimência – 14:00
Astrologia – 00:00

Estiquei os olhos no pergaminho que Bernard lia e vi que eram os horários dos nossos N.I.E.M.s. Logo de cara, Milenna Dartagnam! Muito agradável começar uma maratona de provas que determinaria nosso futuro com a mulher mais grossa do castelo. O restante dos horários estava flexível, bem equilibrado. Nada como sofrer para fechar nossa mente depois de um calmo e relaxante exame de Mitologia. Mas a euforia em que a Sapientai, e eu principalmente, se encontrava era tão grande por ter vencido o campeonato de quadribol que eu ia achar lindo se tivéssemos todos os exames em um único dia. O que importa? O que realmente importa é que estamos nos formando em três semanas e meu nome está estampado no troféu lindo e brilhante na sala dos troféus, pra sempre.

- Até que eles colaboraram com os horários, não é? Temos bastante tempo entre as provas da parte da manhã para as da parte da tarde – Bernard guardou os horários dentro do livro e terminou de beber o suco
- É, até que estão tranqüilos. Talvez a sexta esteja mais puxada, mas teremos muito tempo até o exame de astrologia para descansar – comentei desinteressado. Meus olhos estavam atentos ao correio-coruja, que hoje estava particularmente mais demorado – Por que as corujas não chegaram ainda?
- Como vou saber? O que está esperando, afinal? Não para de olhar para as janelas
- Carta dos meus tios...

Bernard fez cara de compreensão e no instante seguinte, várias corujas invadiram o salão principal. Enquanto elas derrubavam os envelopes e pacotes para seus donos, eu tentava localizar Héstia, mas sem sucesso. Não havia mais nenhuma coruja voando. Levantei frustrado da mesa e Bernard veio atrás de mim.

- Não esquenta Luke. Se sua coruja ainda não voltou, é porque encontrou Michel na África e está voltando com a resposta. É uma longa viagem, você despachou a Héstia apenas há dois dias!
- Acontece que quando a despachei, não estava preocupado e achava que vocês estavam sendo paranóicos. E agora começo a pensar: e se eles tiverem razão? E se o lobo atacou Michel?
- Não entra na paranóia do Dominique e da Marie, por Merlin! Michel está bem, a única desaparecida continua sendo minha irmã...
- Tem razão, desculpa. Estou reclamando de uma resposta que não recebi enquanto você está preocupado com a Amélia, que está em perigo de verdade.
- Tudo bem, sei que ela está bem – Bernard tinha um tom de voz triste e ao mesmo tempo confiante – Amélia é forte, e sei que ela está bem. Se ele a machucar, eu vou saber.
- E ai, Luke? – Dominique saltou na nossa frente e me assustou – Noticias do Michel?
- Não, mas a África é longe, Héstia deve estar voando de volta – respondi mais animado
- Ah é, é longe mesmo... – Dominique desanimou e Bernard riu
- Bom, vou para a biblioteca estudar um pouco, os exames começam semana que vem – disse ajeitando a mochila nas costas – Sugiro que vocês façam o mesmo, aproveitem que praticamente não teremos mais aulas essa semana
- Ok, vai na frente que nós já vamos... – respondi rindo e Dominique concordou com a cabeça, rindo também

Deixamos Bernard ir para a biblioteca sozinho e demos meia volta, em direção aos jardins. Estava um dia claro, até um pouco quente, o verão já começava a dar indícios de que estava chegando. Deitamos na sombra de uma árvore mais afastada querendo aproveitar o tempo vago de Feitiços, mas nem tivemos tempo de fechar os olhos, pois a sombra de alguém literalmente voando em nossa direção e caindo com um baque em cima de nossas barrigas nos fez levantar do chão. Samuel estava estirado na grama rindo e Marie, Viera, Manu e Maddie vinham caminhando atrás dele, achando graça do ataque.

- Quanto você pesa, Samuca?? – falei levantando dolorido
- Não sei, mas não estou gordo, olha! – Samuel levantou a camisa e as meninas mexeram com ele
- Posso saber o motivo do rasante em cima da gente? – Dominique sentou outra vez alisando a barriga que recebeu uma cotovelada de Samuel
- Não estão sabendo dos boatos?? – Viera falou chocado
- Que boatos? – não estava entendendo nada
- Merlin, ele não sabe! – Samuel provocou
- Será que podem dizer o que é? – disse sem paciência e eles riram
- Os Duendeiros vêm tocar no baile de formatura!!

Por um instante achei que estavam de gozação com a minha cara, mas eles pareciam tão empolgados com o boato que percebi que estavam falando a verdade. Dominique ficou de pé outra vez e estava paralisado ao meu lado.

- Os Duendeiros? – falei finalmente – Aqui, em Beauxbatons?
- SIM! – todos falaram ao mesmo tempo
- Não, só pode ser mentira – estava descrente – Alguém inventou isso, é coisa de desocupado. Onde vocês ouviram essa historia?
- A escola inteira está comentando! – Samuel era o mais empolgado – Os ingressos pro baile estão quase esgotando! Desde que essa historia vazou, todos querem garantir um!
- Mas não se preocupe, cada formando tem direito a 5 ingressos, já garantidos – Marie falou animada também – Os outros que se matem pelos que sobraram!
- Não gente, isso não deve ser verdade! – ainda não acreditava – Se Maxime fosse contratar os Duendeiros, ela teria divulgado!
- Não se ela quiser fazer surpresa... – Manu falou
- Sim, claro, porque nossa turma merece um premio desses de formatura – falei rindo
- Bom, ela pode estar querendo comemorar o fato de que vai se livrar da gente! – Viera arriscou e rimos
– É, deve ser isso então! – Samuel falou pensativo – E tudo bem que a banda não é a mesma depois da saída de Ben O’Shea, mas...
- O cara é bom, pra mim ele é o ícone da banda, mas ainda são os Duendeiros, com ou sem ele! – falei começando a me animar
- Eu também não estou acreditando muito, Luke – Mad falou mais contida – Mas estou torcendo para ser verdade, seria demais!
- Seria a melhor coisa do mundo!! – Dominique sacudiu Samuel empolgado

Todos sentaram no gramado e passamos a manha inteira conversando sobre o assunto. Ninguém nem lembrou que deveríamos seguir o exemplo de Bernard e estudar para os exames. A possibilidade de ter os Duendeiros tocando no nosso baile de formatura não deixava que nos concentrássemos em mais nada. Já estava quase na hora do almoço quando Vincent, o irmão mais novo de Bernard, veio correndo na minha direção com Héstia no ombro.

- Sua coruja quase caiu desmaiada quando chegou, deve ter feito uma viagem longa – ele me entregou minha coruja e agradeci
- Ela está vindo da África, claro que está cansada – Dominique falou depois que ele foi embora

Desamarrei o envelope da pata dela e deixei que Héstia bicasse minha orelha enquanto abria o pergaminho. A letra no envelope não era a de Michel, era outra caligrafia. Enquanto lia seu conteúdo, ninguém falava nada. Na verdade, mal se ouvia o barulho das respirações.

- E então? – Samuel perguntou curioso – Michel está bem, não está?
- Não é carta do Michel, é do tio Edmond... Ele diz que havia desmarcado a viagem. Eles estão em Praga, sem o Michel.