- Monsieur Lafayette, 5 minutos para terminar.
- Ok, só preciso de mais um instante...
O examinador assentiu com a cabeça e começou a recolher os telescópios vazios espalhados na torre. Eu era o único que ainda estava fazendo o exame de Astrologia. Precisava desesperadamente de nota máxima em tudo, até mesmo nas matérias que não vou rever nunca mais, e isso fazia com que eu fosse sempre o ultimo a sair. Não estava com a menor pressa enquanto anotava as constelações que encontrava na luneta. Pela primeira vez não inventei nomes engraçados para anotar no pergaminho, tinha usado os nomes verdadeiros, pois tinha encontrado todas que foram pedidas.
- Pronto, terminei – enrolei meus rolos de pergaminho e entreguei ao examinador
- Merlin, esse foi o exame de Astrologia mais completo que já me entregaram – ele sorriu simpático para mim – Por acaso encontrou alguma constelação nova?
- Acho que não cheguei a tanto, mas anotei algumas a mais
- Muito bem então, o resultado sairá em meados de Julho. Boa noite.
- Boa noite – peguei minhas coisas na bancada e sai, deixando o velhinho sozinho na torre
Desci as escadas muito cansado, o dia havia sido puxado. Na parte da manhã tivemos o exame de DCAT mais exaustivo de todos, seguido de um exame tenso de Legilimência, mas estava confiante que havia obtido nota máxima nos dois. Minha cabeça doía e fiz o caminho direto até a enfermaria pensando em tomar alguma coisa, mas antes mesmo de chegar no corredor dela, senti duas mãos espalmando no meu peito e fui lançado para trás. Arregalei os olhos espantado para dar de cara com Dave Regalski parado na minha frente, os punhos fechados na defensiva, totalmente desengonçado.
- Perdeu a noção do perigo, Regalski?? – disse avançando para cima dele
- Devolve meu caderno – ele mantinha as mãos protegendo o rosto
- Que caderno? Aquela porcaria caindo aos pedaços que você carrega feito um ursinho de pelúcia?
- Devolve, sei que foi você quem pegou! Você o rouba todo dia, mas o Michel me devolve. Só que ele não está aqui hoje, então vim buscar sozinho
- Tem certeza que vai me bater? – falei rindo – Você está tremendo...
- Posso te bater sim, se não me devolver o caderno. Você não sabe o que tem nele, não tem o direito de ler
- Já falei que não peguei ele, seu esquisito – empurrei ele com as mãos e passei – Agora some da minha frente antes que perca a paciência
- Você vai pagar por isso...
Dave saiu correndo pelo corredor e vi quando ele desceu as escadas para a Fidei. Sacudi a cabeça rindo e continuei andando, a dor de cabeça pior que antes. Madame Magali me deu uma poção para passar a dor e sai outra vez, pensando em relaxar deitado na grama pela madrugada toda. Queria ficar do lado de fora, curtindo a liberdade e sem hora para voltar para o salão comunal. Quando sai, percebi que Bernard e Marie compartilhavam dessa idéia comigo. Os dois estavam deitados no meio do jardim encarando o céu estrelado e riam como duas crianças.
- Qual é a piada? – falei deitando ao lado de Marie e a beijando
- Piada nenhuma – ela respondeu ainda rindo – Só estamos felizes por termos finalmente concluído os estudos
- Sim Luke, meu irmão... ESTAMOS LIVRES – Bernard gritou rindo com gosto e acabei rindo também
- É... Nem acredito que conseguimos – Marie me abraçou e parecia tão cansada quanto eu
- Precisamos de uma festa de despedida – falei animado – Será que-
Mas minha pergunta foi interrompida por um grito vindo da orla da floresta. Saltamos ao mesmo tempo do chão assustados e já estávamos com as varinhas em punho apontando para o vulto que corria em nossa direção. Empurrei Marie para trás de mim e apertava os olhos para ver quem era, mas Bernard parecia estar mais atento aos detalhes e senti quando ele esbarrou com força em mim e correu na direção da pessoa.
- AMÉLIA! – Bernard abraçou a irmã a tempo, pois ela desabou
- Ela está bem?? – ajoelhei ao lado de Bernard e me deparei com ela coberta de sangue – Está viva?
- Amélia, quem fez isso com você? – Bernard perguntou limpando o rosto dela
- O que aconteceu? – Samuel, Dominique, Viera, Manu e Maddy apareceram correndo quando viram a movimentação
- Amélia conseguiu escapar do lobo! – falei agitado
- Acha que ele apagou a memória dela? – Manu falou assustada
- Não, não apagou, ela não está com os olhos esquisitos – olhei para ela e Amélia parecia querer falar alguma coisa – O que foi, Amélia?
- Floresta, ela está apontando para a floresta! – Dominique ficou de pé e empunhou a varinha – O lobo está na floresta... Vamos nos espalhar!
Amélia confirmou com a cabeça e desmaiou. Bernard ainda tentou acordá-la, mas ela não reagia. Fiquei de pé e também empunhando a varinha, corri para dentro da floresta com os outros, deixando os dois sozinhos no gramado. Quando passamos da orla, cada um correu para um lado diferente. Precisávamos cobrir o maior espaço possível, e em menos tempo possível. Eu corria o mais depressa que podia e começava a perder o fôlego quando, pela segunda vez em menos de meia hora, fui atingido de surpresa. Mas dessa vez foi absurdamente forte e me acertou em cheio no meio do peito. A pancada que recebi de um pedaço de madeira foi tão forte que perdi o fôlego e cai embolado no meio das raízes das árvores. Quando abri os olhos, Dave estava com os pés em cima de mim e apontava uma arma de aparência antiga pro meu peito.
- O que está fazendo?? – falei engasgado – Aponta essa coisa pro outro lado!
- Está tremendo por que, Ian? – Dave tinha uma voz esquisita, era como se ele estivesse fazendo a coisa mais normal do mundo – Perdeu a valentia?
- Você é louco! – levantei do chão depressa e caminhava para trás devagar – Foi você que seqüestrou a Amélia, não foi? Ela disse que o lobo estava na floresta e você está aqui.
- Você também está aqui...
- Mas eu não sou um assassino! É você quem está segurando uma arma de fogo!
- Eu não matei o Michel! – a mão dele tremia enquanto segurava a arma e eu estava ficando com medo
- Michel não está morto, ele está na África!
- Isso é o que você quer que os outros pensem, não é? Para ninguém desconfiar que ele está morto!
- Não, estou falando a verdade! Era tudo uma brincadeira, ele está viajando de verdade!
- MENTIROSO!
- Luke, conseguiram pegar ele? Bernard falou que você estava-
Dave abaixou a arma e encarou o recém-chegado. Michel estava parado ainda de mochila nas costas no meio das árvores e olhava de mim para Dave, perplexo. Quando ele fez menção de se aproximar de Dave, ele apontou a arma para o meu primo. Michel recuou outra vez com as mãos pedindo calma e Dave recomeçou a tremer.
- Calma Dave, abaixa essa arma e vamos conversar – Michel colocou a mochila no chão e tentou uma nova aproximação, mas logo recuou
- Você estava morto – Dave falou baixo – Você foi atacado pelo lobo, é isso que todos ouviram dizer
- Não, eu não fui atacado, eu estava na África com meus pais
- Eu disse a ele, mas ele não acreditou – falei depressa
- Seus pais enviaram uma carta a ele, dizendo que você deveria estar na escola
- Era uma brincadeira! Luke, Sophie e eu combinamos tudo, foi minha prima que escreveu a carta. Luke deveria convencer as pessoas de que era uma brincadeira, pois sabíamos que só um ou dois acreditariam nele
- Você me enganou, mentiu esse tempo todo. Tudo que me contou também era mentira? Também estava mentindo quando disse que era meu amigo? – Dave agora apontava a arma para Michel e tremia descontroladamente
- Não, claro que não! Eu sou seu amigo, tudo que contei sobre o lobo era verdade, e eu ia contar sobre a brincadeira, mas tive que viajar as pressas!
- Mentira! Vocês são dois mentirosos! Eu sei que você é um lobisomem e não contei a ninguém, mas começo a me perguntar se deveria ter sido fiel a você...
- Como sabe que sou um lobisomem?
- Segui você uma noite e descobri, mas mantive seu segredo a salvo. Agora está tudo tão obvio! – Dave parou de tremer e andava de um lado para o outro sacudindo a arma – Você é o lobo, e escolheu o codinome mais obvio do mundo. Como não percebi isso antes?
- Dave, eu não sou o lobo! Eu juro pra você, não estou mentindo!
- Eu não acredito mais em você! Vou levar os dois pro castelo e entregar a madame Maxime, vocês vão ser presos!
- MICHEL, CORRE!
Enquanto Dave discutia com Michel, eu me aproximei devagar e sem que ele percebesse, saltei por cima dele. A arma voou para longe e o prendi no chão com o corpo. Michel apanhou a arma da terra e correu para dentro da floresta, largando a mochila para trás. Dave se debatia e tentava me acertar com o punho fechado, mas ele não era tão forte sem estar armado. Acertei um soco nele que o deixou tonto, e foi o tempo que precisei para imobilizá-lo melhor.
- O que você fez com a Amélia? – gritei quando ele voltou a enxergar as coisas
- Eu não fiz nada com ela, nem sei quem é Amélia!
- Claro que você sabe, não se faz de idiota!
- Ian, eu não sou o lobo! – Dave começou a chorar, mas não o soltei
- Então por que estava apontando uma arma pra mim??
- Só queria assustar você, ela é do meu pai! Eu não ia atirar, só queria humilhá-lo! Segui você depois que saiu da enfermaria e quando correu para a floresta, vi minha chance de pegá-lo sozinho
- Agora é você o mentiroso, Dave... Não acredito em nada que você diz, porque parece que sabia desde o princípio quem eram os autores do lobo, e resolveu se aproveitar disso para soltar esse seu lado maníaco!
- Eu juro que não sou eu, meu pai não pode saber que apontei uma arma a uma pessoa, ele me mataria e-
A frase de Dave for cortada quando o barulho de um tiro vindo do centro da floresta fez todos os pássaros que estavam nas árvores voarem assustados. Soltei-o na mesma hora e fiquei de pé, olhando para a passagem por onde Michel tinha corrido e por onde um cavalo alado acabara de passar galopando...
- NÃO!
TO BE CONTINUED...