Friday, April 13, 2007

Histórias de uma Grécia nem tão Antiga assim...

Por Bernard Lestel

BL: Para de viajar Dominique!
DC: Ah sim, é claro. Sempre sobra pra mim o papel de mente fértil! Bê, presta atenção! A menina está quase te comendo com os olhos, e você dizendo que EU estou viajando???

Dominique falou em tom indignado. Talvez ele estivesse com um pouco de razão... Estávamos na última festa da viagem de formatura, um luau na praia. O clima entre todos estava muito bom, e já saudoso, uma vez que indiretamente estávamos nos despedindo ali. Sentei com Dominique e conversávamos normalmente até a hora que um grupo de garotas trouxas chegou. Dominique, como não poderia ser diferente, lançou todos os olhares de cobiça para elas, que logo começaram a retribuir. Uma delas, em especial, começou a me encarar. No começo achei que estivesse olhando para ele e sabia que se estivesse não demoraria muito até que fosse a chamar para um passeio. Mas depois que Dominique chamou minha atenção dizendo que ela olhava para mim, ficou evidente. Me encarava tanto que estava começando a me incomodar.

BL: Certo, e se ela estiver me olhando?

O copo de bebidas fumegantes que estava na mão de Dominique esteve a um milésimo cair na areia. Me encarou incrédulo, um sorriso cínico no rosto.

DC: E se ela estiver me olhando? E se ela estiver me olhando? – repetiu a frase em tons de ironia. – Às vezes você me irrita com sua lerdeza, Bernard! Se ela está te olhando, certamente está esperando que você levante essa sua bunda daqui e vá até ela chama-la para dançar uma “hula”.
BL: Bom, vai morrer esperando então... – disse franco. Os pensamentos viajando em um segundo até a Bel.
DC: Você e a Anabel estão namorando? Namorando oficialmente? – Dominique parecia ter lido minha mente.
BL: Bem... Não teve bem um pedido oficial e um “sim” oficial. Mas acho que nós dois concordamos que isso é um namoro!
DC: Se não tem pedido oficial, e “sim” oficial, não é namoro oficial! Você está solteiro aqui, e ficar com uma menina solteira, não é traição oficial também! Anda logo! Vai tirar ela pra dar um passeio!

Dominique me encarou esperando uma posição. Aquilo estava muito engraçado, para falar a verdade. Eu me lembrando da Bel, Dominique me lembrando que teoricamente não éramos namorados, eu dizendo que não ia chamar a menina, Dominique afirmando que eu ia. Quando ele se cansou de esperar que eu me levantasse, bufou e disse um “lerdo” antes de abrir um sorriso conquistador e ir caminhando em direção à menina ruiva do grupo. Fiquei sentado ali o vendo chegar e conversar com ela um minuto, antes de eles saírem andando sozinhos para um canto afastado. Por uns segundos, meus olhos encontraram os da menina que continuava me encarando, e ela sorriu convidativa.

Ian veio até mim se despedir dizendo que já ia para o hotel, e me entregou um copo de whisky de fogo quase no topo. Bebi metade dele e senti a cabeça rodar.

“Bernard Lestel, já para o seu quarto! Vá dormir antes que faça alguma besteira!”.

Levantei cambaleante e saí andando para o hotel também. Antes que eu pudesse completar meu quinto passo, senti um puxão forte na parte de trás da camisa e parei. Me virei e uma menina linda, com uma pele clara, dois olhos grandes e verdes e os cabelos muito pretos e encaracolados me encarava, mais sorridente do que nunca. Meu estômago afundou.

- Oi... – abrindo um sorriso ainda maior e levando a mão até o colar de flores havaianas que eu tinha no pescoço. Abaixei o rosto para ver a mão dela passear de flor em flor até o final do colar, e atingir meu abdome. Senti um arrepio.
BL: Oi.
- Você não estava indo embora, estava? – mordendo os lábios.
BL: Embora? Ah... É, sim. Estava sim, para falar a verdade.

Ela sorriu e subiu o dedo que estava na altura do meu umbigo de volta para o colar.

- Por que a pressa? A festa nem começou ainda...
BL: Não gosto muito de agitação. Estou com sono já, e... Boa noite. – tentei retroceder um passo longe dela, e ela agarrou me pulso.
- Depois que você dançar uma música comigo, te deixo ir. Vem!

É, foi assim mesmo. Não tive o direito de recusar. Ela saiu abrindo caminho entre o restante das pessoas até chegarmos a um espaço mais ou menos vazio. Tocava uma música leve, lenta. Ela me encarou um segundo e vendo que me mantinha paralisado, jogou seus dois braços para trás do meu pescoço, mas não antes de levar os meus braços em volta da cintura dela. Dançamos passos de um lado para o outro, eu cada vez mais estático.

- Você não leva jeito para a dança... – disse bem perto do meu ouvido. Me senti tremer. Não respondi. Tudo o que eu mais queria era deitar na minha cama, sossegado, e dormir. – Acho que leva jeito melhor para isso.

Parou de dançar e agarrou meu rosto com as duas mãos. Foi se aproximando lentamente... Os olhos abertos me encarando maliciosamente. Senti o coração disparar, mas consegui me afastar a tempo, assustado.

BL: Não posso! Bel...

Ela sorriu divertida. Olhou ao redor como se estivesse procurando alguém.

- Bel? Quem é Bel?
BL: Minha namorada.
- Hum... E cadê ela? – disse se aproximando mais, com calma.
BL: Ela não veio, mas...
- Mas?
BL: Não posso. Me desculpa. Boa noite.
- Ah, pode sim. Se você não tivesse dúvidas desse namoro, não teria tremido quando te toquei.

Sem mais dizer uma palavra, ela me puxou pelo colar e me beijou tão profundamente que fui incapaz de tomar qualquer reação contra. Não ouvi mais música, não vi mais nada. Só senti as mãos dela me puxando mais pra perto com força, enquanto eu a envolvia em um abraço.

°°°
Acordei com a cabeça latejando, mas infelizmente, cada cena e cada ação da noite anterior estava bem visível na minha mente. Dominique, é claro, estava cantando aos quatro ventos o quanto se sentia orgulhoso de mim.

Enquanto voltávamos para Beauxbatons, revisei tudo. Me lembrei de Samantha me abraçando, me lembro de corresponder ao beijo dela, de conversarmos até o amanhecer... Senti uma coisa estranha. Uma sensação amarga. Arrependimento, culpa, raiva. A primeira coisa que faria quando chegasse ao castelo seria procurar a Bel!

...

Encontrei-a na biblioteca. Estava atrás de uma pilha de livros. Sem querer que ela me reparasse, caminhei em silêncio e me posicionei atrás de sua cadeira, tapando seus olhos com as minhas mãos. Ela tateou meu braço, abrindo um sorriso.

AM: A julgar o cheiro de protetor solar desse braço, eu poderia apostar que acaba de voltar de uma viagem ótima, com praias lindas... Acertei, Bernard?

Sorri, liberando os braços e abaixando para dar-lhe um beijo. Não era preciso entender muito dessas coisas de sentimentos para saber a diferença daquele beijo para o da noite anterior. Me senti mais arrependido do que nunca. Não conseguia sorrir para ela. Ela continuou escrevendo enquanto eu me sentava ao seu lado.

AM: Então... Como foi?
BL: Bom. Bem animado e tudo ocorreu muito bem.
AM: Que bom!

A observei escrevendo. Flashes passavam na minha cabeça me deixando tonto. Louco.

BL: Bel...
AM: Hum?
BL: Preciso te perguntar uma coisa. – disse, agarrando a mão dela e a fazendo parar de escrever. Ela me olhou preocupada.
AM: O que é?
BL: Como você classifica nós dois? Amigos? Caso? Namorados?
AM: Ai Bernard, que bobagem! – disse sorrindo constrangida e molhando a pena novamente. Insisti, segurando a mão dela novamente.
BL: É importante. Eu preciso que você me responda.

Ela soltou a pena e ficou me olhando sem reação. Acho que ela não se sentia confortável com aquele assunto também...

AM: Faz alguma diferença? O que acontece entre a gente é legal...
BL: Certo, mas esse “o que acontece” é o que? Eu considero como namoro. E você? Concorda?
AM: É, como se fosse... Não houve pedido e nem nada disso, mas...
BL: Bel, quer namorar comigo? – ela arregalou os olhos e tossiu.
AM: A Grécia não te fez bem!
BL: Quer?
AM: Pensei que já éramos namorados Bernard! Você às vezes me confunde!

Sorrindo aliviado para ela, por finalmente ter certeza do que estava acontecendo, a puxei e lhe dei um beijo, atirando pela janela tudo o que tinha acontecido antes daquele momento.

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