Wednesday, April 25, 2007

Fechando o cerco

Por Ian Lucas Renoir Lafayette

- Não te dedico amor; não me persigas. Vai-te! Fora daqui! Não me persigas!
- Imã de coração endurecido, sou por vós atraída, mas de ferro não tenho o coração; como o aço é puro. Cessai de me aliciar e, incontinenti, deixarei de seguir-vos.
- Alicio-vos? Acaso já vos disse galanteios? Ou com franqueza não vos falo sempre que não vos amo nem vos posso amar?
- Por isso mesmo é que vos amo tanto.
- Será então que se começar a lhe desprezar, acreditaria que te amo?
- Essa ultima frase não está no script, monsieur Lafayette... Por favor, siga o roteiro sem improvisos, isso é Shakespeare! – meus amigos prenderam o riso e Marie ficou vermelha na minha frente
- Com licença Armand – a professora Emily interrompeu a aula – Têm alguns aurores aqui e eles estão solicitando a presença de alguns alunos...

Olhei para meus amigos e eles já sabiam que era com a gente. O professor Armand protestava por ter sua aula interrompida, mas a professora Emily estava séria e fez sinal para que saíssemos da sala. Do lado de fora, três aurores do Ministério nos aguardavam, todos com expressões cansadas no rosto.

- Por favor, tenho que pedir que nos acompanhem, sem resistência ou questionamentos, até Paris – o auror que aparentava ser o mais velho falou

Como ele havia pedido naquele tom de voz que soava quase como que se nos implorasse para não criar problemas, assentimos com a cabeça e os seguimos até o escritório da diretora. E através da lareira dela, fomos levados para fora do castelo.

Saímos em uma lareira que não conhecia, mas que bastou uma rápida olhada ao redor, nos cartazes colados nas paredes, para identificar onde estávamos: era o QG dos aurores do ministério francês. A professora Emily nos acompanhou até lá e saiu com os aurores, nos deixando sozinhos dentro do escritório deles. Assim que eles saíram, começamos a falar.

- O que está acontecendo? – Dominique foi o primeiro – Por que nos trouxeram aqui?
- Só porque estou me entendendo com meu pai, sou trazido para o trabalho dele! – Samuel se largou na cadeira irritado
- Só pode ser algo relacionado ao lobo... – falei preocupado – Eles ainda acham que sabemos quem é?
- Parece que sim, não é? – Bernard constatou – Do contrario não estaríamos aqui
- Não acho que seja só isso... – foi a vez de Marie falar – Tenho a impressão que eles querem a nossa ajuda
- Como é isso?
- Eles ainda acham que temos culpa, mas talvez pensem que podem nos separar, para que entregássemos o culpado. Cooperar, sabe?

Mas não tivemos oportunidade de responder a ela, pois a porta se abriu e um auror que nunca havia visto pela escola entrou. Ele tinha o porte de um daqueles competidores de luta trouxa, das mais violentas, e a cara sisuda. Com poucas palavras, ele nos separou. Cada um foi encaminhado para uma sala, e vi um auror diferente entrar em cada uma das salas, fechando a porta ao passar. Entrei na que me indicaram e senti meu estomago embrulhar quando o auror sisudo entrou na mesma sala, fechando a porta ao passar. Por que eu sempre fico com o pior?

- Boa tarde – ele falou em tirar os olhos de uma ficha – Lafayatte. É o filho de Gerard e Patrice? – assenti com a cabeça sem falar nada – Estou surpreso, não posso negar
- Não tenho nada a ver com meus pais – disse seco diante do comentário que ele fez
- Isso está bem claro, seus pais nunca seriam chamados ao ministério para um interrogatório, acusados de assassinato
- Mas eu não matei ninguém!! – cheguei a berrar quando falei
- Controle seu tom de voz, não está em casa
- Eu não matei ninguém, e nem seqüestrei ninguém – disse com calma
- Então quem foi? - ele bateu com as mãos na mesa e me assustei
- Não sei!
- Mentira. Você sabe e está acobertando!
- Não estou acobertando ninguém! Se soubesse quem é já teria dito, uma pessoa morreu!
- Garoto, pense bem... Se você colaborar, pode sair ileso disso. O responsável pelos crimes vai para Azbakan, e seus cúmplices também. Mas podemos chegar a um acordo, o conselho pode aliviar as coisas se você decidir cooperar...
- EU JÁ FALEI QUE NÃO SEI QUEM É A PORCARIA DO LOBO!
- Por que não consigo acreditar em você? – o auror tinha um ar debochado que me fez espumar de raiva, e não me contive
- Talvez porque sejam tão incompetentes a ponto de não conseguirem capturar um aluno, e estão desesperados para culpar o primeiro otário que parecer se encaixar no perfil

Como previ, minha resposta atrevida despertou a fúria do auror. Nenhum deles gosta de ouvir que é incompetente, e principalmente quando sabem que são. O homem levantou da mesa chutando a cadeira para longe. Vi que ele contava ate 10 para não me estrangular até que eu confessasse o que ele queria, mas conseguiu se acalmar e puxou a cadeira tombada, sentando outra vez de frente pra mim. Ele puxou um frasco do bolso e logo reconheci como sendo veritasserum.

- Vou pedir que você beba essa poção, e se está mesmo falando a verdade, não há o que temer... – ele empurrou o frasco para mim
- Quer que tome tudo, ou uma gota basta pra você?
- Uma já basta – ele disse entre os dentes, com raiva

Ele me empurrou um copo com água e deixei cair uma gota nele, tomando em seguida. A sensação era estranha, tive uma vontade quase incontrolável de contar a ele tudo sobre minha vida, até o que ele não perguntasse, mas por sorte talvez uma única gota nos permitisse calar a boca e só falar quando solicitado. Ele percebeu que eu já estava sob o efeito da poção e me encarou sério.

- Quem é o lobo?
- Não sei
- Quem você acha que é o lobo?
- Não sei
- Quem espalhou os rumores sobre os ataques inexistentes na escola?
- Eu e meus amigos
- Então vocês criaram o assassino?
- Não. Nós apenas demos um nome a ele, com a intenção de assustar as pessoas
- Então alguém se aproveitou do nome, e resolveu torna-lo real?
- Sim
- Alguém fora do grupo de irresponsáveis que, junto com você, teve essa idéia imbecil?
- Sim

O auror levantou da cadeira sem dizer nada e saiu da sala, me deixando sozinho. Acho que fiquei sentado na mesma posição por quase 10 minutos, até que ele voltou. Felizmente, àquela altura o efeito do veritasserum já tinha passado. Ele fez sinal para que saísse e não hesitei, sai depressa.

- Pode ir, está liberado
- Acreditou em mim, então?
- Espere naquele banco por seus colegas, outros aurores levarão vocês em segurança para o castelo
- Regalski, acho que descobrir uma coisa, venha até aqui – ouvi alguém falando no corredor e o auror que me interrogou respondeu ao chamado
- Regalski? Você é...
- No banco, garoto

O auror chamado Regalski apontou para o banco no final do corredor e não vi alternativa senão ir para lá. A professora Emily estava por lá com Dominique, Samuel e Manu, e depois de poucas palavras, chegamos à conclusão que Marie estava certa, eles tentaram nos separar para tentar descobrir a identidade do lobo, convencidos de que ele é um de nós. O cerco se fechava cada vez mais e era apenas uma questão de tempo até que eles o capturassem, mas tinha a estranha sensação de que algo muito ruim ainda aconteceria antes de tudo se resolver...

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