Thursday, November 30, 2006

Bem longe de suspeitas...

- Tudo bem, por hoje é só... Podem descer!

Direcionei minha vassoura para o chão e encostei os pés levemente na grama molhada do campo. Todos os artilheiros dos quatro times de quadribol da escola estavam recebendo treino direcionado do professor, que agora, avaliava o desempenho de cada um. Quando ele finalmente terminou e nos liberou, Isa veio correndo até mim, parecendo aflita.

IM: Samuca, preciso falar com você!
SS: Tudo bem... Vamos conversar lá no lago, eu já imagino do que se trata.

Saímos caminhando juntos e em silêncio até o lago, então ela se virou de frente pra mim e disse sem rodeios.

IM: Foram vocês? Vocês que pegaram aquela menina?
SS: O QUÊ? Isa, eu gosto de brincadeiras, mas nunca seqüestraria alguém pra pregar uma peça! Esse “lobo” não é nenhum de nós! As coisas saíram de controle, eu também estou com medo. Medo inclusive de ficar conversando aqui a essa hora da noite, tão perto daquela floresta! – olhei em direção à floresta, onde as árvores escuras se erguiam.
IM: Eu não achei que tinha sido vocês, mas era a minha última esperança! E agora? E se ele atacar de novo?
SS: Duvido... Tem muitos aurores circulando aqui, ele vai dar um tempo, espero.
IM: É, imagino que sim, e enquanto isso, a menina fica desaparecida... – Isa tinha uma expressão triste, e olhou a floresta também. Ficamos em silêncio quando ela arregalou os olhos. – Eu devo estar ficando louca!
SS: Isa? O que foi? – olhei para a direção dos olhos dela, e meus olhos se arregalaram também, em choque. Vi nitidamente, saindo das árvores, uma única figura silenciosa. – É... ela?!
IM: Mathilde!!! – Isa saiu correndo até ela, e fui atrás, entrando em colapso.

Quando nos aproximamos, pude reconhecer a menina que estava desaparecida há quase uma semana. Estava com o uniforme sujo, e uns botões da blusa abertos. Os cabelos desarrumados e sujos de terra, e uns arranhões no rosto e nos braços, descalça. Olhou desconfiada para Isa, que estava a um palmo de distância dela, mas não parou de andar. Alcancei as duas ofegante.

SS: Mathilde! Você está bem? Onde você estava? Quem é ele? O que ele fez com você???

A menina parou me encarando como se eu fosse algo sobrenatural, e sorriu docemente.

- Oi?!
IM: Mathilde, você está bem?
- Quem são vocês? O que eu estou fazendo aqui? Eu estava com meu irmão, ele estava jogando bexigas e mamãe ainda não serviu o jantar! Vai ficar danada se eu não tiver em casa na hora do jantar!

Olhei pra Isa em desespero. Era a menina, eu tinha certeza, mas ela estava delirando. Isa estava com os olhos cheios de água, tremendo, enquanto segurava o braço da menina com força.

SS: Mathilde, você está no castelo, em Beauxbatons, se lembra? E alguém te levou pra dentro da floresta, você ficou lá quase uma semana! Consegue se lembrar de mais alguma coisa?
- Não, não estava no castelo, já disse! Estava com o meu irmão, jogando bexigas! Quem são vocês? Eu tenho que ir pra casa, depressa! Me solta! – ela puxou o braço com violência, se livrando da mão da Isa.

Continuou andando e ficamos atrás, perplexos.

IM: Ela está fora de si, ela não se lembra de nada! Samuca, o que “ele” fez com ela? – Isa não conseguiu segurar as lágrimas.
SS: Temos que anunciar que ela voltou, e levar até a enfermaria! Me ajude a arrastar ela até o castelo, está bem? – ela concordou com a cabeça e alcançamos Mathilde novamente, cada um segurando com força um dos braços dela e fazendo-a ir conosco até o castelo.

Estava na hora do jantar, e a maioria dos alunos, estavam reunidos no Salão Principal comendo. Assim que entramos, Isa gritou pedindo ajuda. Um dos aurores, o McGregor, veio correndo até nós ajudando a amparar a menina. O barulho chamou a atenção, e em poucos segundos, toda a escola se encontrava reunida em choque ao nosso redor. Máxime veio correndo e abrindo caminho.

MM: Por Merlin! Onde ela estava?

Isa começou a relatar como a tínhamos encontrado, e o estado de alucinação de Mathilde, que logo foi levada à enfermaria, parecendo desesperada agora em voltar para casa antes que sua mãe servisse o jantar...

***

IL: Ela não se lembra de nada?
SS: Nada, absolutamente nada! Estava delirando, falando que estava em casa jogando bexigas com o irmão enquanto esperava a mãe fazer o jantar!
BL: Mas como? Quem a pegou deve ter feito um feitiço ilusório ou alguma coisa assim, não consigo entender!
SS: Não sei o que fez com ela, só que não consigo me decidir se acho isso bom, ou ruim!
DC: E a máscara?
IL: A minha máscara, você quer dizer né? Eu não acredito que esteja usando a MINHA máscara para atacar as pessoas! – Ian deu um soco na mesa, frustrado. Madeline fez “shh” olhando ao redor parecendo alarmada.
OV: Bom, pelo menos ela está aparentemente bem, e viva, o mais importante. Quando Madame Magali conseguir recuperar a memória dela, ela vai nos dizer quem é o idiota...
MD: E quando ela nos disser quem é, eu faço questão de enforcá-lo com minhas próprias mãos. – Michel fez um sinal ameaçador com os punhos.

O clima de tensão estava óbvio na nossa conversa, enquanto eu relatava o que tinha acontecido para o restante. Respirei fundo, sentindo de repente um amargo no estômago.

SS: Não quero passar o Natal em casa, meu pai vai me mandar para Azkaban. Vai fazer um interrogatório, até me dar “Veritasserum”. Eu tenho certeza que ele sabe que a brincadeira partiu de mim também, ele sempre sabe...
MD: Não quero nem pensar nos meus pais...
IL: E nos meus! Meu pai vai me transferir de Beauxbatons para uma clínica psiquiátrica.
BL: E se não passássemos as festas em casa?
MV: O que você está querendo dizer com isso?
BL: E se viajássemos? Sozinhos...
SS: Depois do México? Esqueceu que eu voltei matrimoniado? Meu pai não me deixa viajar sozinho nunca mais, nem pra esquina de casa!
ML: O que você está planejando Ber? – Marie perguntou interessada.
BL: Bom, meu pai tem o barco, certo? E ele vai estar à disposição esse final de ano, porque eles não vão viajar. E eu sei velejar, o Luke também tem uma noção. Alguns aqui já são maiores de idade, então eu pensei...
OV: Você está oferecendo o barco do seu pai para viajarmos no final do ano? Sozinhos? Bernard, você está bem?
BL: Eu estou falando sério! Porque não vamos? Podemos sair de Paris direto para a...
MD: Alemanha! Sempre quis conhecer a Alemanha! E se saíssemos do Rio Sena, pararíamos lá, pegando a rota certa! – Manuela falou com brilho nos olhos.
DC: Cara, ótima idéia! Então, podemos fazer uma lista de quantos vão?

Em poucos segundos o clima de empolgação era tamanho que nem nos lembrávamos mais de Mathilde, lobo, máscara ou qualquer outra coisa tensa. Se der tudo certo... Paris, au revoir!

Wednesday, November 29, 2006

Por que não continuei dormindo?

Das lembranças de Seth K. C. Chronos

Ele estava novamente no telhado da Lux, olhando o céu noturno, pensativo. Já passavam da meia noite. Ele lembrava da carta de seus pais e quanto mais pensava, mais confuso e preocupado ficava. Então seu coração pulsou, seu corpo foi percorrido por um calafrio, seus instintos se aguçaram, suas pupilas dilataram e bocejou sem saber o porquê... Caiu lentamente de lado, sem conseguir segurar o sono...

Gritos...
Medo...
Dor...
Desespero...
Por que posso sentir essas coisas?

- Onde estou? O que estou fazendo aqui? – Acordou no meio dos jardins, sem saber como chegara lá...
- Acho que o vi por aqui, venham!
- Os gritos vieram de lá.
- Tem um pedaço de capa aqui! Apressem-se!

Seth olhou em volta. Já era de madrugada. Seu sobretudo estava sujo e ele sentia dor no peito, mas também uma satisfação. Seus olhos ainda estavam dilatados e vermelhos, e, infelizmente, não sentia mais a sede. Assustado e com medo, levou a mão aos lábios, temendo tocar no líquido... Mas por Merlim, os lábios estavam limpos e secos... Ainda ouvia os gritos das pessoas se aproximando, e confuso, sumiu, voltando para o castelo...

ooooooooooooooooo

Eu estava deitado na cama do dormitório e não conseguia dormir...
- Já vai amanhecer e não preguei os olhos... O que foi que aconteceu? Já não basta o que já passo?! Droga!!
Soquei a cama e me revirei nela ainda muito confuso. Porém a palavra que sempre me vem à mente desde pequeno é: Controle-se. Eu e papai conseguimos nos controlar e eu nunca perdi o controle, sempre me controlei melhor que meu pai na minha idade. Mas sei que isso requer uma boa dose de sorte, pois papai mesmo já quase perdeu o controle diversas vezes, e em todas quase machucou pessoas importantes como à tia Alex, tio Kyle, o tio Sergei, e especialmente mamãe. Por sorte, o lado humano acabava prevalecendo.
O que me impediria de perder o controle e atacar um desconhecido?! Ou mesmo um de meus amigos?
Ouvi os primeiros bocejos do resto do dormitório que começava a acordar. Decidi sair antes deles, sem falar com ninguém, nem mesmo o Griff. Levantei-me e deixei o meu sobretudo na cama, queria ficar sozinho... Fui para o Salão Principal através das passagens secretas que eu já descobrira, sem encontrar ninguém... Quando cheguei ao salão, foi como se eu tivesse batido numa parede sólida.
A tensão no salão era intensa e palpável, cheguei a ficar tonto. Apesar de ainda estar muito cedo, já havia alunos com expressões de medo e conversas sussurradas aqui e ali. Os professores também estavam do mesmo jeito, conversando entre si preocupados. A Professora Emily quando me viu veio correndo na minha direção com um semblante cansado e preocupado.
- Você está bem? O Griffon está bem também?
- Estamos, por quê?
- O Gabriel, a Miyako e o Ty estão bem?
- Emily você está me assustando... Não os encontrei ainda, mas imagino que esteja tudo bem. O que aconteceu?
- Por Merlim ainda bem... Desculpe, mas quando te vi entrando, você estava com uma expressão triste e preocupada, pensei que tinha acontecido mais alguma coisa... Já basta essa noite... - Ela baixou os olhos visivelmente cansada e preocupada, e isso me deixou desconfortável.
- Por quê? O que houve?
- Lobo. Ele atacou a escola. Levou uma aluna da sua casa que ainda está desaparecida... – meu coração pareceu parar.
- Quan... Quando foi isso?
- Ontem, por volta da 1 da manhã. Por Merlim, ainda bem que vocês estão bem. Fiquei tão preocupada, mas não podia parar de vasculhar o castelo com os outros para ir ver como vocês estavam.
Ela continuou falando sobre o que aconteceu. Falou das investigações e sobre a preocupação de todos, desabafando pouco a pouco. Mas não conseguia ouvi-la direito. Meu coração havia parado; sentia-me tonto e fraco, e quase desmaiei, mas Emily me segurou e se sentou comigo na mesa da Lux, gritando para que alguém trouxesse algo pra mim.
- Seth, acalme-se, está tudo bem... Ai perdoe-me por deixá-lo assim...
- Não, não foi nada, não se preocupe. Só fiquei um pouco tonto, mas estou melhor...
- Eu também fiquei meio tonta quando soube... Ah! Se te deixa melhor, papai vai liderar uma equipe de aurores que virão para o colégio.
- O tio Kyle vai vir? Preciso falar com ele...
- Ele deve chegar daqui a pouco, acho que está falando com madame Maxime... Tenho que voltar para a mesa dos professores, mande um beijo para os outros.
Ela se despediu e voltou para a mesa dos professores ao mesmo tempo em que os garotos chegavam. Fiquei o tempo todo calado e olhando para o nada, ignorando o babão do Griffon. Mi, Biel e Ty perguntaram se eu estava bem, mas Griffon respondeu que não sabia e eles foram para a mesa deles, conversando sobre os acontecimentos... E isso não saía da minha cabeça... PODIA TER SIDO EU!?
A agitação parou quando madame Maxime chegou seguida pelo grupo de aurores que se espalharam pelo salão. Ela anunciou que eles ficariam na escola para nos proteger e todos respiraram aliviados. Tio Kyle veio falar conosco e ver como estavam todos e tive uma conversa rápida com ele. Ele já sabia como eu poderia estar me sentindo, e usando a Legilimência, pedi que ele me encontrasse nos jardins.
Sai na frente dos outros e o Griff me seguiu tentando me animar, pois me estressei com as indiretas dele para os garotos. Na entrada me separei deles, mas a Mi me segurou quando eu estava saindo.
- Seth, o que houve? – Ela perguntou preocupada.
- Não é nada não, não se preocupe minha querida...
- Ah agora sim estou preocupado! – Gabriel falou rindo do jeito dele – Primeiro, você desceu sem sua capa!
- Segundo: chamou a Mi de "minha querida" e está um tanto mais emotivo que o normal! – Ty completou rindo.
- Terceiro: você e o tio Kyle tiveram uma conversa meio estranha! – Mi continuou rindo.
- Quarto: você está assim desde a carta de papai! – Griff falou.
- E quinto: você não nos engana! – Os quatro falaram juntos.
- Aff eu mereço vocês... Não precisam se preocupar, está tudo bem – menti, e eles pareceram acreditar. – Vocês são importantes para mim... Perdoem-me por qualquer coisa que já possa ter feito... - Os abracei um por um forte enquanto mantinham expressões perplexas. Antes que pudessem perguntar mais algo, saltei pra trás e corri para os jardins... Gabriel ainda gritou que teríamos aulas e eu respondi que já voltava.
Tio Kyle já me esperava no jardim de primavera, longe de onde ocorreu o seqüestro, queríamos privacidade.
- Tio... Eu... - comecei de cabeça baixa, controlando a preocupação.
- Não precisa falar, já sei o que houve. Você está com medo de ter sido você não é? – Ele foi direto ao assunto, bagunçando meu cabelo, tentando me animar. Eu fiz que sim com a cabeça e fiquei calado por um tempo.
- Acalme-se Kam... Sei que não foi você.
- Como pode ter certeza? Não lembro de nada de ontem à noite! Lembro que meus sentidos se aguçaram, e eu caí no sono de repente.
- Acalme-se! Sou legilimente esqueceu? Já vi tudo o que podia de suas memórias de ontem à noite. Eu te conheço desde que era um bebê! Você é uma das pessoas mais calmas e mais controladas que conheço!
- Papai também era, mas perdia o controle...
- Você e seu pai não são assassinos! Você tem uma alma boa, não há instinto assassino...
- Todos como eu, SÃO assassinos em potencial... Por que quando acordei, estava na cena do crime? Sem a sede, com os sentidos ativados e satisfeito? – Perguntei sem conseguir segurar a emoção e a preocupação. Ele ficou calado por uns momentos me olhando calmamente.
- Sempre há uma explicação, mas o que você tem que por na cabeça é que você não é assassino! Não é o Lobo!
- Quem na escola tem força para arrastar uma garota daquele jeito? Quem teria “motivos” para atacar uma aluna? E o pior, eram 1 da manhã! Ninguém anda pelos jardins a uma hora dessas! Só se for por um motivo!
- O que quer dizer com isso? O que você sabe?
- A garota é da minha casa, e por causa do que eu sou, algumas garotas babam por mim, mesmo sem perceber, seria fácil, eu levá-la para fora do castelo e sumir com o corpo.
- Seth! Devagar! Você não fez nada disso! Eu era auror antes mesmo de você nascer, e embora não seja um gênio, sei reconhecer um assassino! Apenas você sabe disso, mas seus pais têm meios de "vigiar" você. Acha que se alguma coisa destas tivesse acontecido, Alucard não apareceria aqui para te impedir? Ou Mirian não teria dado um jeito de segurar você mesmo que te machucasse? – perante os argumentos tive que ficar calado e concordar...
- Seth, meu pequeno cabeça-dura, olhe pra você, acha mesmo que faria isso?
- Não sei... Essas trevas dentro de mim, esse monstro, essa maldição! Eu sou um perigo!
- Você fala exatamente como seu pai quando foi mordido sabia? Claro que o excesso de drama veio da convivência com o Ty. – tentou fazer graça.
- Tio, por favor, me vigie! Ninguém na escola, além do senhor, da Madame Maxime e do Griffon, sabem o que realmente sou... Por favor, me vigie... Não quero fazer mal, mas não sei o que esse monstro pode fazer... Tenho medo pelos meus amigos
- Se te deixa melhor, vou cuidar e não vigiar você ok? Pedirei que Alex faça o mesmo, e não precisa fazer esta cara, não vai ser nenhum sacrifício, ela te adora. Não fique assim, filho. Seus pais virão e você sempre se sente melhor perto deles.
- Eles virão mesmo? Estou precisando deles... Sinto falta deles... Ele me deu um abraço forte e deixei a emoção sair... Chorei como quando criança e fazia alguma besteira e corria pra papai com medo... Ele me acalmou por um tempo e ouvia meu desabafo... Falei em como estava com medo... Como tinha medo de machucar as pessoas... Como tinha medo que descobrissem tudo... Como tinha medo de me acusarem, de deixarem de ser meus amigos... Ele ralhou comigo, dizendo que até nessas idiotices eu era igual ao anta do meu pai, nas palavras dele. E isso me fez rir um pouco, e depois voltamos pro castelo, antes que pensassem que o Lobo tinha nos pegado também...

Tuesday, November 28, 2006

Entre luzes e sombras - parte II

anotações de Ty McGregor

Entramos na sala de feitiços e a professora Tiercelin, já estava toda agitada, enquanto os alunos do quinto ano das quatro casas se ajeitavam.
-Vamos, vamos logo, hoje teremos muitas coisas para aprender.
Fiquei perto do Gabriel e da Miyako, Jean Savoy se juntou a nós e os irmãos Chronos ficaram perto de duas garotas da Lux. Rory estava junto com Danielle e Savannah, além de uma garota da Fidei que eu não lembrava o nome. Olhei para Rory e ela me encarou por um tempo, e depois desviou os olhos. Gabriel me cutucou:
-Ty, porque você não dá um jeito de trocar de lugar com alguém e fazer par com ela hein? Daqui a pouco você vira uma girafa de tanto que se estica.
-Isso não seria uma coisa tão ruim Biel, tem garota que se amarra em pescoço. Quanto mais melhor. - disse Miyako zombeteira e começamos a rir.
-Prestem atenção: Muito bem, hoje aprenderemos os feitiços de animar, não, não olhem assim, achando que sabem tudo. Estes são mais complexos e vão cair num simulado que vou preparar. Oops... Falei demais... - disse a professora Tiercelin dando risada enquanto cobria a boca.
-Conta, conta, conta, conta... - Começamos a fazer pressão e a gordinha começou a rir:
-A professora Owen vai querer me matar, mas como vocês são meus alunos favoritos e isto vai ser feito para todos os alunos, vamos lá...
-UUhhhuuuu. Lindona, lindona... - os garotos começaram a gritar e ela rindo muito vermelha, contou:
-Vamos começar a ensinar alguns feitiços mais avançados para que ao final do ano possamos fazer uma gincana entre os alunos, vamos misturar alunos de todas as séries, faremos muitas brincadeiras trouxas, teremos até amigo oculto. Será uma forma de todos os alunos interagirem numa data tão festiva. E todas as casas vão ser beneficiadas, não pensem que vamos esquecer de dar os créditos obtidos de acordo com a execução das tarefas, todos os professores estão empenhados e vão participar. Vai ser nossa festa de Natal antecipada, o que acham?
Todos gostaram das novidades e se puseram a prestar atenção em tudo que ela dizia, e foi uma das aulas mais divertidas que eu tive. Ao final, aproveitando que ainda estava me sentindo animado, aproximei-me da Rory na fila de saída e disse:
- Você melhorou Rory? (não Ty, eu ainda to desmaiada na ala hospitalar, num tá vendo?).
- Tudo bem Ty.
- Você gostou da aula? – (Cara bate a cabeça na parede, desaprendeu?).
- Aham... - ela disse e sua amiga ficava nos olhando e sacudindo a cabeça segurando o riso. Aquilo foi demais para o meu orgulho:
-Rory eu gostaria de conversar com você, pode ser? Temos um período vago agora.
- Eu tenho que estudar. Hoje aprendemos coisas novas e... - vi quando Danielle deu um cutucão nela.
- Podemos revisar a matéria depois Rory, e o Ty foi muito bem nos feitiços da Claudine, ela até deu pontos pra casa dele, ele pode te ajudar. - ela ficou corada e mordeu os lábios:
- Tá bem. Mas não posso demorar...
Caminhamos até um corredor mais afastado e silencioso. Virei-me para ela de repente, assustando-a:
- Tudo o que você disse naquela noite é verdade?
- Não me lembro daquela noite...
- De nada?
- Er... Hum... Quase nada. - ela admitiu e senti como se tivesse levado um balde de água fria.
- Do que você lembra? – insisti.
- Lembro de apostar com meu irmão sobre quem conseguia beber mais, uma aposta idiota, eu sei... Er...Só?
- Você lembra de quando eu me aproximei de vocês na festa?- e fui chegando mais perto. - e ela foi encostando-se à amurada, e mordeu o lábio inferior. Sabia que de alguma coisa ela lembrava, mas não queria admitir.
- Não.
Senti-me frustrado. Respirei fundo e perguntei:
- Rory porque você age assim comigo?
- Não sei do que você está falando...
- Quando cheguei à festa e você me puxou pela mão para dançar, você estava sóbria o bastante para dizer na frente de todos que era um encontro. Tá, não tão sóbria, mas você não me pareceu tão bêbada...
- Então você viu que eu havia bebido o bastante e resolveu se aproveitar... Imagina se eu iria querer um encontro com você. - disse áspera.
- E porque não iria querer um encontro comigo? Por acaso sou algum trasgo fedido? - disse irritado. (Droga, tô ficando irritado)
- Ty, eu não faço parte do clubinho de meninas doidas para um encontro com o capitão da Sapientai ok? Se eu disse alguma coisa neste sentido quando estava bêbada, foi porque eu estava fora de mim.
- Não foi só isso, Rory. Você disse e fez outras coisas quando ficamos sozinhos. - seus olhos se arregalaram.
- O que quer que eu tenha dito ou... Feito, foi por causa da bebida. As pessoas perdem a noção das coisas... - disse cuidadosa.
- Você disse que gostava de mim... Que eu devia escolher você.
- Não podemos... Eu não posso...
- Porque Rory? Você gosta de alguém?- e fiquei bem próximo dela, a ponto de sentir que ela respirava rápido.
- Não... Sim... Não... Não sei...
- Eu te perturbo Rory?- aproximei-me mais e coloquei minhas mãos na parede, uma de cada lado de sua cintura pendendo-a na amurada, mas sem tocar nela.
Ela tinha os olhos presos nos meus e quando passou a língua pela boca seca, eu a beijei. Depois do beijo encostei minha testa na dela e disse:
- Rory, eu gosto de você, muito. E acho que você gosta de mim, pelo menos um pouquinho...
- Ty, você está muito perto, eu não consigo pensar direito... Isso não é justo... Não sei o que dizer...
Resolvi ir pro tudo ou nada.
- Você sabe o que eu sinto por você. Pense sobre nós. Se você quiser e achar que vale a pena ficar comigo, sabe onde me encontrar.
Saí de lá a deixando sozinha e fui encontrar meus amigos. Acho que me afastar foi a melhor solução neste caso, porque sei que se ela me procurar, vai ser porque quer, e não porque estava bêbada. Resolvi confiar nos meus instintos e algo me diz que vou conseguir o que eu quero, basta ter paciência e isto eu estou aprendendo a ter.

Saturday, November 25, 2006

Entre sombras e suspeitas

Anotações Ty McGregor

- E ai? O que vocês acham que aconteceu com a garota? Acham que foi o "lobo" mesmo?- Mi perguntou preocupada.
- Ah vai ver ela resolveu chamar a atenção de todos, fugindo do castelo, e não sabe que gritar com professores é que está na moda. - respondi provocador.
- Bocó. :P - respondeu Gabriel e riu também. Mi estava nervosa e insistiu:
- Ainda tenho pesadelos com o ataque dos comensais na escola, e agora isso... - abracei-a para confortá-la.
- Ouvimos esta história do lobo nas aulas de teatro, aí acontece o crime no vilarejo e depois esta garota some... Tem alguma coisa faltando... - respondeu Gabriel com seu jeito de analisar as coisas.
Era a hora do café da manhã e todos sem exceção tinham um ar preocupado no rosto. Os professores estavam na sua mesa sussurrando entre si, olhei para Emily e ela estava entretida ouvindo Sir Shaft falar com ela e o professor de vôo, muito próximos. Griff olhava para eles como se quisesse fazer leitura labial. Seth fingia não estar nem aí, mas os olhos dele eram vigilantes.
O grupo do Lafayette estava quieto e isto sim me deixou preocupado. Eles eram aqueles que nunca levavam a sério as coisas, já haviam se metido em mais confusões do que eu podia me lembrar. Se este assassino fosse alguma brincadeira de mau gosto, com certeza seria invenção deles. Os comensais falsos foi uma delas e muita gente ainda tem raiva deles pelos sustos que passou. Ok, eu não sou santo, mas eles me superavam com larga vantagem.
Começamos a comer, e logo madame Máxime entrou na sala e vinha acompanhada por várias pessoas com capas de viagem, que reconhecemos como sendo aurores. Meu pai vinha ao lado dela e com uma rápida olhada pelo salão me encontrou. Acenou com a cabeça e foi para a mesa dos professores. Os Aurores começaram a se posicionar em volta do grande salão. A bruxona bateu com o talher na própria taça pedindo silencio. O que foi desnecessário, pois todos nem respiravam direito de tão quietos:
- Atenção: Devido aos últimos acontecimentos que culminaram no desaparecimento de uma aluna, novas regras foram impostas: Teremos a presença de aurores para vigiar a entrada e saída da escola. Eles ou os professores acompanharão vocês nas aulas e ninguém deve ficar fora dos dormitórios após as seis horas da tarde...
Alguns murmúrios foram surgindo e ela bateu na taça novamente:
- A principal tarefa deles será investigar sobre o desaparecimento da nossa estudante e garantir a segurança dos alunos, até que prendam o fugitivo de nome Lobo, peço a colaboração de todos que souberem de alguma coisa que possa elucidar este caso.
Após o anúncio o salão se encheu de conversas especulativas. Meu pai ficou conversando com Emily por um tempo, e depois veio na minha direção. Ele parecia cansado. Griff e Seth se aproximaram cautelosos da mesa da Sapientai:
-Mamãe te mandou um beijo Ty e outro pra vocês. - disse dando-me um abraço e olhando para meus amigos que estavam perto de nós.
- Se acabaram o café, eu os acompanho ate a sala de aula antes de ir verificar o resto do castelo. - e começamos a caminhar com ele.
- Alguma noticia da garota Tio Kyle? Ela foi seqüestrada mesmo ou está morta?- perguntou Mi.
- São várias pistas que temos Mi, vamos tentar localiza-la o mais breve possível, mas até lá quero que vocês tomem cuidado. Vamos aumentar a quantidade de aurores na escola para inibir o tal Lobo de entrar aqui.
- Acham que ele é alguém da escola?- perguntou Griffon.
- Espero que não. Depois do último ataque reviramos a vida de todas as pessoas daqui do avesso e não encontramos nada. Mas nunca se sabe o que leva uma pessoa a se voltar para o mal. Alguns não conseguem resistir às trevas...
- E algumas pessoas não têm opção, já nascem com elas. – disse Seth tenso e meu pai se virou para ele encarando-o.
- Apesar disso, não são as trevas que definem o que somos Seth, são as nossas escolhas. – parecia que eles estavam se falando através dos olhares. Depois de algum tempo, Seth relaxou e meu pai rompeu o contato visual dizendo:
- Ty, você vai começar a ter aulas particulares com Sir Shaft.
- HÃ? O que houve? Minhas notas em DCAT são boas, você mesmo disse.Não preciso de aulas de reforço. - respondi defensivo.
- Calma. Não tem nada a ver com suas notas, em DCAT, ele vai ajudá-lo com a projeção astral.
- Mas eu tô bem. Nem fiz mais a projeção, não tenho tido insônias...
- Depois que descobrimos um poder, deve-se aprender a usá-lo para não ser pego desprevenido. Lembra como foi quando você o usou? Ficou fraco e desmaiou. E com relação às insônias elas logo recomeçarão. Emily disse que você não anda comendo direito estes dias parece preocupado com alguma coisa. Gostaria de saber o que é...
- Não sabia que ela estava me vigiando. - disse azedo. ¬¬ e meus amigos resolveram me encarar segurando risinhos idiotas para ver se eu tinha coragem de dizer o nome da minha "preocupação". E isso vinha ocorrendo desde a festa de Halloween.
- Ela não está te vigiando, eu perguntei se você andava visitando a cozinha regularmente á noite e ela disse que não, pois vai lá todo dia. E se ela o vigiasse, é porque obedecia a uma ordem minha e de sua mãe para tomar conta de você, afinal ela é sua irmã mais velha. Entre as opções, Sir Shaft é o melhor, pois além de competente tem nossa inteira confiança e pelo que ouvi dizer, ele se dá bem com os alunos, e isso é importante. Procure-o para marcar as aulas, você terá muito a ganhar.
- Ah sim, claro, mais lição pro fim de semana hehe. Você ou a mamãe podem localizar a garota usando a projeção, não é?- perguntei.
- Já tentamos, mas há uma forte barreira mágica nos impedindo. Só nos resta ter esperanças e fazer o melhor que pudermos, Alex está pesquisando com alguns desfazedores de feitiços um jeito de romper o escudo protetor. Estamos fazendo tudo que está ao nosso alcance. Vocês ficam por aqui, e eu vou trabalhar. Cuidem-se. – e foi embora verificar o castelo.
- Que negócio é este de projeção astral? – perguntou Griff.
- Um dom de família. Acabei descobrindo sem querer, durante o ataque dos comensais na escola. - respondi.
- Uau, que legal. Bem que o papai avisou que iríamos achar esta escola bem interessante não é Seth? Mais pessoas tem dons de família...
- Cala a boca Griff, que mania que você tem de falar demais. - Seth respondeu e foi andando na frente para chegar logo na sala de feitiços. Griff o seguiu dando risada e olhei para meus amigos:
- Porque eu acho que perdi alguma coisa aqui? Tanto naquela conversa do Seth com o meu pai quanto agora?
- Acho que vou ver o diário da minha mãe quando tiver tempo. Ela fala muito sobre os amigos dos tempos de Hogwarts, talvez lá tenhamos mais informações sobre os amigos dela e seus dons.
Entramos na sala e nos acomodamos. Reparei que Seth ainda estava preocupado, apesar dos esforços do Griff. E tudo começou depois da carta do pai dele. O que será que os preocupa tanto?

Thursday, November 23, 2006

Just a little help...

Das memórias de Gabriel Graham Storm

Já passava das 21hs quando desci as escadas do dormitório depois de terminar meus deveres e saí do Salão Comunal da Sapientai rumo à biblioteca para cumprir a detenção por ter gritado com a professora de Etiqueta. Ty e Miyako não receberem detenção, a professora aparentemente só tomou como desaforo a minha atitude e talvez querendo me ensinar uma lição, fez com que somente eu fosse punido. Mas não estava me importando nem um pouco, pra falar a verdade. Se ela acha que assim se convence que está certa, não posso fazer nada.

Cheguei à biblioteca e ela estava vazia, exceto por uma menina loira sentada em uma das mesas distraída lendo um livro. A reconheci imediatamente como Manuela, a monitora do 7º ano da Sapientai. Ela levantou a cabeça quando me ouviu chegar e sorriu em cumprimento, voltando à atenção ao livro em seguida. Procurei uma mesa do outro lado da sala para sentar, imaginando se ela também estava ali por causa de uma detenção. A idéia me fez rir. Dois monitores em detenção, e ambos da mesma casa. Passaram-se alguns minutos e nem sinal de algum professor para nos dizer o que fazer, então resolvi quebrar o silencio.

- Sabe onde está o Gerard?
- Não, mas espero que esteja dormindo – ela falou desviando a atenção do livro – preciso terminar de ler isso ainda hoje, pois teremos teste amanha.
- Sobre Homens e Ratos... – falei lendo a capa do livro – já li esse livro, é muito bom. Que professor pediu?
- Minha professora de Literatura Mágica – disse com voz de tédio – não sei no que um livro trouxa vai acrescentar na aula, mas o fato é que tenho que ler.
- Ainda não tenho essa matéria – falei meio vago antes de mudar de assunto – você está por quê?
- Pelo mesmo motivo que você, Einstein. Detenção.
- Isso já percebi. Perguntei por que você levou detenção.
- Digamos que algumas alunas daqui são muito sensíveis a insetos... é tudo que você precisa saber. E você, o que pode ter feito?
- Gritei com uma professora... e chamei ela de louca.
- Está me dizendo que foi você que gritou com a Defossez??
- Ah ótimo, a historia se espalhou... – falei impaciente
- Claro que espalhou! Mas não foi o meu caso, pois minha turma teve aula depois do ocorrido e a Marie caiu na besteira de perguntar se a professora estava bem. – ela falou fechando o livro e me encarando empolgada – ela começou a chorar contando o que tinha acontecido e disse que nunca foi tão desrespeitada em toda sua vida! Ah mas não se preocupe – ela acrescentou quando viu que eu arregalei os olhos – era tudo drama! Falou mais um monte de besteira, mas não ouvi porque estava concentrada tentando não rir!
- Que bom que meu temperamento inconstante tenha entretido sua turma...
- Nós que agradecemos, foi a melhor aula de Etiqueta em 7 anos!
- Boa noite, desculpe o atraso – Gerard apareceu na porta cortando a conversa.

Levantamos da mesa e Gerard nos comunicou que passaríamos boa parte da noite organizando todos os livros da biblioteca. Eram realmente muitos, nem eu tinha conseguido ler metade deles em 2 anos aqui! Ele nos deixou sozinhos com um imenso catalogo constando a ordem que os livros deveriam ficar e saiu bocejando, provavelmente para dormir confortável em sua cabana. Cada um foi para um lado começar a ajeitar os livros, sem conversar. Queria terminar isso o quanto antes para voltar ao dormitório. Já estávamos ali há quase meia hora quando Manuela resolveu falar, sem a menor cerimônia.

- Você gosta da Mad...
- O que? – falei pego totalmente de surpresa pela cara de pau dela
- Você gosta da Mad, eu sei.
- É impressão sua
- Ah sim, claro, impressão minha... – ela falou rindo – eu sei quando um menino ta afim da minha amiga, já foram muitos desde que entramos para a escola.
- Acho que se não conversarmos, terminamos isso mais rápido e saímos daqui.

Ela não me respondeu e ficou muda, mas só por dois minutos. Senti uma sombra atrás de mim e dei de cara com ela quando virei.

- Eu posso te ajudar. A conquistar ela, sabe... Sei do que ela gosta
- E por que está me dizendo isso?
- Por que gosto de você, acho que você é legal e a única pessoa capaz de botar um pouco de juízo na cabeça dela.
- E não vai dizer que sou novo demais também?
- Ah a idade não faz a menor diferença! Ela não se importa com isso...
- Eu não tenho a menor intenção de mudar a sua amiga, se é esse o seu interesse em me ajudar – falei passando por ela e indo para outro setor.
- Também não tenho vontade de mudar o jeito da Mad, se é isso que você está pensando! Mas até agora ela só namorou garoto sem juízo e eles só pioram as coisas... Você é diferente.

Fiquei calado um tempo, sem saber o que responder. Não a conhecia o suficiente para dizer se ela estava falando sério ou fazendo hora com a minha cara, mas tinha a impressão que ela não estava brincando. Como eu não respondi, ela deu meia volta e continuou a arrumar sua metade da biblioteca e não falamos mais nada pelo resto da detenção. Durante esse tempo podia jurar que vi um vulto passando pela porta e fiz um esforço muito grande para não pensar na história do assassino rondando a escola. Manuela não parecia ter notado nada.

Quando terminei minha parte, percebi que ela já havia acabado há muito tempo, mas ficou sentada na biblioteca terminando de ler o livro e me esperando. Ela fechou o livro e levantou quando viu que eu estava indo embora, caminhando calada ao meu lado. Já estávamos perto do Salão Comunal quando ela falou.

- Olha, não estou querendo pregar uma peça em você, como sei que você está pensando. Realmente quero ajudar, porque já percebi que se ninguém te der um empurrão, você nunca vai chegar nela.
- Eu não preciso de técnico pra isso – falei irônico
- Que seja, mas eu posso ajudar você a se aproximar dela. O resto fica por sua conta!
- Não, obrigado.
- Argh como você é teimoso! Tudo bem então, vamos fazer uma troca de favores!
- Como assim? – disse confuso. Essa menina era louca.
- Você me resume esse livro quando entrarmos na Sapientai, já que você leu e gostou, e eu te ajudo a se aproximar dela. Você me faz um favor e eu faço outro pra você. Justo, não?

Parei de andar e fiquei encarando ela, pensativo. Agora tinha certeza que ela não estava de gozação comigo e queria mesmo ajudar. Como também tinha certeza que ela não ia me deixar em paz até que eu aceitasse sua ajuda, estendi a mão para selar o acordo. Ela estendeu a dela sorridente e entramos no nosso Salão Comunal. Ficamos sentados no sofá até quase 2hs, tempo que levou até que eu conseguisse resumir toda a historia do livro e que ela a entendesse, e depois fomos cada um para seu dormitório. Se eu quisesse ao menos uma chance com a Mad, essa parecia ser a maneira mais fácil...

Monday, November 20, 2006

O feitiço vira contra o feiticeiro

Das lembranças de Ian Lucas Renoir Lafayette

Depois de uma longa e debatida reunião de cúpula, ficou decidido que ‘o lobo’ ia agir ainda essa noite. Eu havia saído da sala antes de ficar acertado os detalhes de onde, como e a quem ele iria atacar, pois pelo andar da carruagem isso ainda ia tomar muito tempo e eu tinha outros planos para essa noite. Refiz o caminho para o Salão Comunal da Sapientai e depois de tomar banho e me arrumar, sai outra vez. Pensando em pregar uma peça no pessoal quando voltasse, peguei a máscara laranja do meu baú e escondi no bolso da calça jeans.

Era por volta de 20hs quando saí do Salão Comunal e desci junto com Manuela, que não iria participar da brincadeira por estar em detenção. Deixei-a na biblioteca e segui direto para o 1° andar, onde sabia ter uma passagem secreta no armário de vassouras que dava direto numa cabana abandonada no vilarejo trouxa perto da escola. Estava tão distraído, pensando em chegar logo lá, que não reparei quando minha máscara caiu do bolso da calça no meio do corredor...

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Já passava de uma da manha quando retornei ao castelo, pela mesma passagem. Já havia esquecido por completo meus planos de assustar o pessoal usando a roupa do lobo e fui direto para o dormitório. Manu estava deitada no sofá do Salão Comunal absorta numa conversa com Gabriel Storm, do 5° ano, que estava sentado no chão contando uma história para ela. Ambos estavam tão concentrados que não perceberam que entrei, desviando os olhos um do outro apenas quando pigarreei alto.

- Estou interrompendo alguma coisa? – falei brincando e Manu riu
- Oi Luke! Gabriel está me contando a história do livro, já que não li nem metade dele.
- Ah sim. Nossa Manu, a professora pediu isso há quase um mês!
- Mas você me conhece, sabe que deixo tudo pra ultima hora. Só não contava em receber uma detenção no meu tempo de fazer os deveres!
- Onde você estava? – Gabriel perguntou como se tivesse acabado de notar minha presença
- Lugar nenhum. Fui dar um passeio.
- Um passeio de madrugada, com todos os boatos que circulam pela escola? – ele falou desconfiado e Manu e eu nos entreolhamos receosos
- Não tenho medo desses boatos. Bom, eu vou dormir e deixar vocês terminarem o papo. Boa noite. – disse depressa e subi, a fim de evitar mais perguntas.
- Boa noite – disseram ao mesmo tempo

Ouvi os dois retomaram o assunto assim que comecei a subir as escadas e o som da conversa morreu quando fechei a porta do dormitório. Bernard não estava na cama dele, foi a 1ª coisa que notei ao entrar. Onde ele estaria? Será que ainda estavam juntos, pondo em pratica o plano? Ao pensar nisso me lembrei que pretendia assusta-los e instintivamente pus a mão no bolso a procura da máscara. Senti meu sangue gelar quando constatei que ela não estava lá. Onde estava? Havia deixado cair, sem duvida. Mas aonde? E se alguém tivesse apanhado?

O grito de alguém nos jardins desviou minha atenção e corri para a janela. A principio não vi ninguém do lado de fora, mas ao olhar com mais cuidado, pude ver a silhueta de alguém sendo arrastado perto da orla da floresta. Não era possível, daquela distancia, dizer quem estava sendo arrastado e gritando, a não ser que era uma garota. Mas não havia duvidas que a pessoa que a arrastava usava a roupa do lobo. Ri sozinho no quarto, imaginando que isso fizesse parte do plano que eles bolaram na minha ausência e fechei a janela, indo colocar o pijama. Quem quer que esteja arrastando a menina, é um dos meus amigos e amanhã eu saberia os detalhes. Os gritos logo cessaram e deitei na cama cansado, dormindo imediatamente.

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Acordei atrasado no dia seguinte e Bernard já havia descido para o café. Sua cama ainda estava desarrumada, o que indicava que ele havia voltado para o dormitório. Sai da cama me arrastando e depois de tomar um banho quase dormindo debaixo do chuveiro, fui para o Grande Salão. Não foi preciso mais que 30 segundos para perceber que a atmosfera no salão estava pesada. Muitos alunos tinham expressões assustadas no rosto e os professores estavam sérios, conversando quase que em sussurros na mesa deles. Mais que depressa corri os olhos pelo salão a procura dos meus amigos. Tinha certeza que o clima estava daquele jeito por causa da nossa brincadeira, então queria saber o que tinha acontecido, quem era a garota. Estavam todos sentados na mesa da Fidei e quando me aproximei eles levantaram apressados, me arrastando para os jardins. Não deu nem tempo de pegar uma torrada ou um suco.

- O que está acontecendo? Deu tudo certo ontem? É por isso que estão todos com aquelas caras assustadas, não? – falei rindo, mas eles não riram.
- Aonde você foi ontem, Luke? – Dominique perguntou
- Eu saí da escola, tinha uns assuntos para resolver.
- Que assuntos? – agora foi Marie que falou
- Assuntos pessoais, que não interessam a mais ninguém. – falei ríspido
- Você estava fora da escola mesmo? – Viera perguntou preocupado – não voltou antes de meia noite, certo?
- Sim, cheguei por volta de uma hora. A Manu estava no Salão Comunal com o Gabriel, ela me viu!
- Ele está falando a verdade pessoal, eu vi quando ele chegou... – Manu falou, claramente segurando o choro.
- O que aconteceu pessoal? Quando eu subi, vi uma garota sendo arrastada perto da floresta. Quem era? Qual de vocês estava com a roupa?
- Ninguém... – Bernard falou calmo – Não era nenhum de nós. Nós não chegamos a fazer a brincadeira, estávamos nos preparando ainda quando... – mas ele parou de falar
- Quando o que?? – falei já desesperado – se não eram vocês, quem era??
- Estávamos indo para a biblioteca, pois sabíamos que a única pessoa acordada no castelo era o menino que estava em detenção com a Manu, nossa intenção era espera-los sair para darmos um susto nele. – Michel falou num fôlego só
- Eu não sabia do plano idiota de assustar ele, e conseqüentemente a mim! – Manu falou já não conseguindo segurar as lagrimas
- O problema foi que quando estávamos nos posicionando, vimos alguém de fora do grupo passar correndo pelo corredor, usando nossa roupa. – Marie falou, também chorando.
- Eu não estou entendendo nada! Será que dá pra chegar ao ponto logo? – falei impaciente
- Luke, a principio nós pensamos que fosse você. – Samuel falou nervoso – você era o único que não estava conosco e não sabíamos onde você estava, mas ai... – ele fez uma pausa – mas ai a pessoa passou direto da biblioteca. Ainda pensando que era você, decidimos mudar o rumo da brincadeira e lhe pregar uma peça. Demos meia volta, mas perdemos o rastro da pessoa.
- Então resolvemos parar no jardim para montarmos um esquema de pegar você mais rápido, nos dividindo – Viera continuou a historia – já havíamos nos separado há uns 15 minutos, quando ouvimos um grito vindo da orla da floresta. Em seguida vimos uma menina sendo arrastada pelo casaco, por uma pessoa usando a máscara! Tudo que conseguimos pensar era que você tinha armado um plano sozinho para agir e nos assustar também. Nós já havíamos nos encontrado outra vez e visto que não era ninguém do grupo. Você era o único que poderia ter feito isso, só nós temos a roupa.
- Não, não. – falei me dando conta da confusão – eu sai sim com a mascara, pretendia assusta-los quando voltasse, mas a deixei cair! Não sei aonde, só percebi que estava sem ela quando cheguei no dormitório. Devo tê-la deixado cair ainda na escola e alguém apanhou!

Ficamos mudos um tempo, sem nem nos olhamos direito. Se não foi nenhum deles e nem eu, quem estava usando a marcara do lobo? Quem poderia ter virado nossa brincadeira contra nós mesmos, nos fazendo duvidar uns dos outros? Madeline resolveu quebrar o silencio.

- A menina era da Lux, 2° ano. Mathilde Serrell. Ela desapareceu, ninguém sabe pra onde ela foi levada.
- E vocês não têm nem idéia de quem possa ter pego a minha mascara? – falei me sentindo mal. Tinha a impressão que poderia vomitar a qualquer instante
- Nem uma única pista. Só que a pessoa parecia ser forte, pra ter conseguido arrastar a menina.
- Precisamos descobrir quem foi. Isso é nossa culpa, nós inventamos esse assassino e agora tem um imitador na escola usando essa identidade e o fato de saber que é mentira, pra atacar os outros. – Samuel falou também parecendo se sentir mal
- Temos que descobrir quem foi – falei com urgência na voz – o professor de teatro sabe que fomos nós que começamos o boato e podem contar que ele vai vir até nós, nos acusando!
- Ele não tem provas de que fomos nós que começamos nada e muito menos de que fomos nós que... – Marie parou de falar de repente, como se tivesse percebido o que estava prestes a dizer – que fomos nós que matamos aquela menina.
- Calma Marie, ninguém sabe se ela morreu de verdade! – Bernard falou tentando se manter calmo, mas sem conseguir fazer um bom trabalho.
- Bernard tem razão, estamos entrando em pânico à toa. – Dominique falou – ao invés de começarmos a nos culpa e lamentar, devemos nos unir pra pegar esse desgraçado e entrega-lo à diretora, antes que a culpa caia sobre nós!
- É, isso mesmo, vamos nos acalmar – Michel parecia tranqüilo – não sabemos ainda o que realmente aconteceu com ela. A pessoa pode estar querendo nos ensinar uma lição e ate onde sabemos, pode ate ter sido obra do professor Armand! – e todos concordaram
- Ok, chega, de nada vai adiantar ficarmos procurando um culpado sem qualquer tipo de provas! – Manu falou nervosa – vamos entrar, temos uma prova daqui a 20 minutos e depois dela, começamos a pensar no que fazer.
- Se pudesse voltar no tempo, não tinha topado participar dessa brincadeira estúpida. Essa foi a coisa mais idiota que já fizemos... – Mad falou quase chorando, mas segurando as lagrimas.

Ela saiu andando pelo gramado de volta para o castelo com Marie e Manu e as seguimos, calados. Na verdade, ninguém trocou mais nenhuma palavra pelo resto do dia. E nem nos reunimos depois da prova para bolarmos um plano, sequer nos olhamos e fomos cada um para o seu lado. Madeline tinha razão, essa foi a coisa mais estúpida que já fizemos em nossas vidas. Mas agora era tarde demais para arrependimentos e não poderíamos voltar no tempo para consertar. Teríamos que limpar nossa própria bagunça do nosso jeito, não importa o que tenhamos que fazer para isso.

Friday, November 17, 2006

Mudança de hábito

Das memórias de Gabriel Graham Storm

- Vai comer essa torrada?
- Que? – falei distraído e vi que Ty apontava para o meu prato – ah não, pode comer...
- Bom dia meninos! – Mi sentou-se à mesa da Sapientai seguida por Seth e Griff e deu um beijo em cada um de nós
- Não muito bom... Temos aula de Etiqueta agora, não? – Griff falou fazendo careta

Eles ainda estavam conversando, mas eu não prestava mais atenção. Tinha meus olhos posicionados na mesa da Nox, onde Mad conversava com Thiery Renault, o monitor do 7° da Lux. Não o suportava, o achava metido demais, arrogante, do tipo que se acha melhor que os outros só porque tem sangue-puro. E juro que não passei a achar isso só porque gosto dela. Nunca fui mesmo com a cara dele. Ty de repente pareceu encontrar o que eu tanto olhava.

- Quem é o mané dando em cima da sua namorada?
- Renault, ele é monitor da Lux... e ela não é minha namorada.
- Obviamente que não, meu caro. Do contrario você já estaria com a testa coçando. – Griff falou zombador e todos riram, mas pararam ao verem que eu estava serio.
- Por que você não vai falar com ela, Biel? – Mi arriscou, incerta – afinal, você não tem nada a perder... tem?
- A aula já vai começar, é melhor irmos – falei levantando e pegando a mochila.
- Biel? – Mi tentou outra vez
- Vocês vêm ou não?

Percebendo que eu não iria entrar naquele assunto, por mais que insistissem, eles desistiram e levantaram também, indo atrás de mim para a aula de Etiqueta.

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- Eu troco meu artilheiro do Puddlemere United pelo seu batedor do Proud of Portree
- Não, ele é valioso! Mas eu troco meu apanhador do Ballycastle Bats pelo seu artilheiro...
- Biel, qual você tem aí? Não vai trocar nada??

Estávamos agora na aula de Etiqueta e meus amigos e eu fizemos uma roda no fundo da sala para trocarmos nossos cartões de jogadores de quadribol, ignorando por completo a aula que acontecia na frente da sala. Bom, eu estava ignorando também o troca-troca de cartões, estava distraído demais para negociar. Acenei fazendo sinal de que não queria trocar nada e eles voltaram a atenção aos cartões.

- Deixe-o em paz, Ty! – Mi falou quando Ty fez menção de me chamar de novo
- Sim, mas...

VAPT!

O som do metal de encontro com a madeira ecoou na sala e saltamos assustados, derrubando tudo. A sombra da professora Defossez cobriu as cartas espalhadas no chão e olhamos para ela revoltados por ter misturado tudo. Ela parecia furiosa, não disse uma única palavra e apontou para frente da sala, que logo entendemos que deveríamos ir para lá e obedecemos. Cruzei os braços irritado e segui meus amigos, que também tinham caras aborrecidas. Ela entregou um livro para cada um e mandou que os colocássemos na cabeça, tendo que andar pela sala sem deixá-lo cair. Isso era ridículo, é a 1ª coisa que ela ensina, para o 1° ano! Estava nos fazendo passar por isso de novo como troco. Seth obedeceu de imediato e caminhava como se tivesse apenas um boné sobre a cabeça. Griff e Ty esticaram os braços para equilibrar o livro e ouviam a professora reclamar que estavam fazendo errado. Fiquei parado um tempo ainda olhando para Mi, que também não parecia muito disposta a obedecer, mas ela acabou desistindo e pôs o livro na cabeça, andando devagar e a toda hora segurando ele. Eu continuei parado no mesmo lugar, encarando o meu.

- Ande monsieur Storm! Não ouviu minha ordem? – mas eu continuei parado – O que está esperando?

Quando viram que eu não me mexi, todos os quatro pararam de andar e me encararam espantados. Me mantive no mesmo lugar segurando o livro e olhando pra cara da professora. Ela começava a se irritar. Estava conseguindo o que queria.

- Vai ficar parado aí até quando? Ponha o livro na cabeça e comece a andar!
- Não.
- Como é? – ela parecia espantada também por eu ter respondido
- Não vou andar com livro nenhum na cabeça!

Agora podia ver, mesmo que não tivesse virado a cabeça, que toda turma prendia a respiração e mantinha os olhos em mim. Nem eu sabia por que estava fazendo isso, mas a verdade era que estava gostando de ver a professora soltando fumaça e não pretendia parar.

- Eu não estou lhe pedindo um favor, monsieur Storm. Estou lhe dando uma ordem! – sua voz já soava um pouco alterada
- E eu estou dizendo que não vou fazer nada. Isso é loucura, a senhora é louca! Pra que andar com esses livros pela sala? Já não fizemos isso há 4 anos?
- Saia! – ela falou com a voz aguda e gesticulando teatralmente – saia da minha sala, imediatamente!
- Com prazer... Sua aula é um saco mesmo! – disse alto e ouvi meus amigos prendendo o riso

Joguei o livro no chão aos pés dela, apanhei minha mochila e sai da sala batendo a porta. Uma vez que estava sozinho no corredor, me larguei no chão com a perna tremula. Eu acabei de gritar com a professora de Etiqueta? Porque era essa a impressão que eu tinha! Nem um minuto se passou e a porta tornou a abrir. Ty e Miyako saíram juntos e sentaram cada um de um lado, me encarando com caras sérias, tentando não rir.

- Viemos te fazer companhia... – Mi falou depois de uma longa pausa
- Sim, sim, mas saímos de bom grado, não foi preciso atirar um livro no chão e nem gritar, sabe...

Ty falou sério e não me contive e acabei rindo, o que fez com que eles parecessem aliviados. Ficamos sentados calados no corredor alguns minutos e quando faltava pouco para o sinal tocar, desaparecemos da vista da professora. Eu certamente levaria uma detenção, mas pela primeira vez não sentia o menor remorso pelo que a causou...

Thursday, November 16, 2006

Feliz eu? Imagina

Diário de Griffon F. C. Chronos

- Professora, a senhora se importaria se eu te perguntasse algo? – perguntei meio sem jeito, corando um pouco, o que causou uma explosão de risadas contidas de Seth, Ty, Mi e do Gabriel. A Professora Emily os olhou intrigada, mas sorriu jovialmente.
- Claro Sr. Chronos, por que não deixaria? E pode me chamar de Emily!
- Érr tudo bem... Profess...Desculpa, Emily, pode me chamar de Griffon ou até mesmo Griff também se quiser! – falei com um sorriso que parecia de criança, gerando novas risadas dos meus amigos.
- Tudo bem Griff, mas o que você quer tanto perguntar!
- Queriasaber,senãoformuitoatrevimentomeu,sevocêiriaverostestesdaLuxhoje, voumecandidataragoleiro. – Falei meio correndo, e engoli várias palavras e pontuações.
- Desculpa Griff, mas não consegui entender uma palavra! – Ela sorriu novamente
- Desculpa, você iria ver os testes para o time de quadribol da Lux hoje? Eu vou me candidatar a goleiro!
- Claro, e por que não? Adoro quadribol! Vai se candidatar a goleiro?! Ouvi papai falando que o seu pai era goleiro também. Seguindo os passos do pai?
- De certa forma. Modéstia a parte, meu pai era um ótimo goleiro!
- Eu ouvi dizer, e tenho certeza que você também vai ser um ótimo goleiro! Pode contar comigo lá!
- Obrigado Emily! – sai da sala dela com um sorriso de orelha a orelha e meio vermelho. O pessoal veio atrás rindo da minha cara e a Emily lançou um olhar pra eles, que responderam com um olhar no tipo: “ele não bate bem”.

Íamos à direção do campo da escola, os meus amigos iam me seguindo rindo e comentando das minhas caras, mas eu nem ligava muito. O dia já havia começado bem! Acho que mesmo se eu não fosse aceito pelo time, ficaria feliz!
- Não parecia que ele estava convidando o Ministro para um jantar? – Gabriel perguntou rindo e me imitando.
- O Ministro? Parecia que ele estava falando com o Merlim em pessoa! – Seth riu alto imitando minhas feições, que ele falou que pareciam com as de um cachorrinho pidão!
- A Defosséz iria adorar te ver assim, Griff! Que fofinho! – Mi comentou rindo.
- Humpf! Tem que pedir minha autorização pra sair com minha irmã hein Griffon Fuuma Capter Chronos! – Ty falou fingindo estar sério e me dando bronca. Os quatro explodiram na gargalhada e eu fiquei apenas mais vermelho.
- NÃO ENCHAM! Não é nada do que vocês estão pensando! – respondi ainda mais vermelho.
- Ai que está seu anta, não estamos pensando, temos certeza! – Seth falou rindo me puxando para um abraço. – Meu irmão está apaixonado!
- O GRIFF ESTÁ APAIXONADO! O GRIFF ESTÁ APAIXONADO! – Ty começou a cantar e Mi, Gabriel e Seth o acompanharam, cantarolando isso no meio do corredor do segundo andar.
- É bom vocês correrem! Eu vou matar vocês! – saquei a varinha rindo e ameacei lançar alguns feitiços. Eles saíram correndo rindo e ficamos “brincando” de pique-e-pega pela escola, até o salão principal. Lá, Hórus já rodopiava pelo teto me esperando. Ele mergulhou e pousou no braço estendido de Seth, piando feliz.
- Sua coruja não era cinzenta? – Gabriel perguntou.
- E é, mas essa não é a Toth, é a Hórus, a coruja dos meus pais. Toma Griff, papai e mamãe te mandaram uma carta também.
Ele jogou a carta pra mim e se sentou isolado de nós enquanto comíamos alguma coisa rápido antes de irmos pro campo. Ty olhava ao redor procurando a Rory, o que foi bom, depois eu podia zoa-lo com a história de "estar apaixonado", o Gabriel comia mais um pouco, enquanto a Mi olhava ao redor do salão procurando alguém também. A carta dos meus pais, era basicamente para desejar boa sorte nos testes, mas tinha algo mais:

"Griffon, ficamos sabendo do que aconteceu em Paris. Não deixe seu irmão chegar naquele estado novamente sem motivos extremos. Ele ainda precisa treinar com seu pai mais um pouco de controle. A propósito, assim que puderem voltar para casa, voltem. Já avisamos à Madame Maxime, precisamos falar com vocês. Principalmente você. Boa sorte nos testes meu querido! Lembre-se você tem o meu sangue! Beijos Papai e Mamãe".

Eu terminei de ler a carta e mostrei ao pessoal, eles também ficaram intrigados com o pedido de voltarmos pra casa um pouco mais cedo, mas isso não nos preocupou muito. Seth é que nos preocupava mais. Hórus saltitava pelo seu ombro enquanto ele lia a carta, que pela letra reconheci como sendo de meu pai. A carta era muito maior que a minha e ele estava muito pensativo e preocupado de certa forma. Quando ele terminou de ler a carta, a Mi o abraçou um pouco e perguntou se tinha acontecido alguma coisa. Ele falou que não, que estava tudo bem, apenas ficara pensativo demais. Mas ele estava mentindo e eu sei disso... Ele não consegue me enganar, mesmo que engane os outros...
Finalmente fomos para o campo, e nessa hora meu estômago já se revirava de nervosismo. Ao chegar ao campo, vimos que havia poucos candidatos. Eram apenas 6 contando comigo, isso porque haviam poucas vagas, apenas vagas para 2 artilheiros e um goleiro. Eram dois candidatos a goleiro e 4 a artilheiros. Casel, o capitão do time, nos encarou do lado de fora do campo e mandou que todos entrassem nos vestiários. Despedi-me dos meus amigos e eles me desejaram boa sorte, mas não havia sinal dela ainda...
Casel começou nos dando as boas vindas e iniciou um sermão sobre o quadribol, que todos estavam preparados e que deveríamos trazer a taça para a Lux. Eu ouvi até a metade, depois disso eu ficava cabeceando de sono... Sorte que ele não viu, porque acho que me expulsava na hora! Huhauahuahua.
Ele mandou que todos entrassem no campo e foi... Uma sensação inesquecível: entrar em um campo de quadribol e ver as arquibancadas lotadas. Tá que hoje não estavam lotadas, mas era como se estivessem. Todos meus amigos estavam lá torcendo por mim! O Ty, a Mi, o Seth, o Gabriel e... a Emily! Meu coração quase saiu pela boca quando vi que ela estava lá com eles, gritando junto deles boa sorte e que eu me desse bem.
Atrapalhei-me na hora de subir na vassoura e cai do outro lado. Todos no estádio riram de mim, que corei intensamente. O outro candidato a goleiro riu alto e com gosto, como se tivesse certeza que a vaga era dele...
- Bem novatos, são poucos, então não haverá testes preliminares. Vamos direto a um "jogo-teste". Eu não jogarei, nem o apanhador, que é o Renault. Nós iremos analisar vocês do alto, assim como as irmãs Valdostano vão analisá-los durante o jogo. Cada goleiro para um lado! E dois artilheiros para cada lado, além de uma batedora por time.
Time 1:
Goleiro: Chronos
Batedora: Hanna Valdostano
Artilheiros: Meyer e Stratovius

Time2:
Goleiro: Hammed
Batedora: Heriel Valdostano
Artilheiros: Dartagnam e Sabbare

Todos à suas vassouras!
Ele nem precisou falar duas vezes. Demos impulso às vassouras e alçamos vôo para nossas posições. Ele apitou e lançou as bolas ao jogo! Na mesma hora foi como se o estádio ligasse no mudo e eu não ouvia mais nada, apenas os sons das bolas voando, das vassouras e dos jogadores... Sabbare tomou a goles de Meyer e veio na minha direção, tocando em seguida para Dartagnam. Hanna tentou acertá-la com um balaço, mas ela desviou habilmente e veio na minha direção, lançando a goles com força. Eu voei na direção da goles, mas cheguei atrasado e ela marcou. Xinguei baixinho enquanto devolvia a goles para Meyer que voou rapidamente trocando passes com Stratovius, terminando com uma jogada de Stratovius que resultou em uma defesa de Hammed. Eu xinguei novamente e com mais raiva, via minha chance de entrar pro time escapando pelos dedos! Hammed jogou a goles para Sabbare que, com o apoio de dois balaços seguidos de Heriel, conseguiu chegar em mim rapidamente. Ele fintou para a esquerda e eu o acompanhei, mas no último segundo ele lançou a goles para o aro direito. Eu xinguei alto, mas dessa vez empurrei a vassoura com toda a força chegando a tempo de agarrar a goles. A rebati com força para Stratovius que tocando com Meyer possibilitou ponto de Meyer.
O jogo continuou desse modo e a cada nova jogada eu melhorava mais, era como se aos poucos eu me acostumasse com eles e minhas habilidades acordassem pouco a pouco. Após alguns minutos de jogo era o Hammed que xingava alto, vendo que eu melhorava, enquanto ele piorava, pois já estava cansado, demonstrando pouco fôlego e resistência. E ambos eu tenho demais! Quem é o cabeça dura da família?! GRIFFON! Rsrsrsrs. Casel apitou dando o jogo por encerrado.
- Meus parabéns a todos, mas vamos ser bem diretos, não acham? Pois bem o novo time é:

Artilheiro/Capitão – Philipe Casel
Batedora - Hanna Valdostano
Batedora – Heriel Valdostano
Artilheiro – Darlan Meyer
Artilheira – Nicole Dartgnam
Apanhador – Thiery Renault
Ele fez uma pausa e olhou de mim para Hammed com um sorriso enigmático, mas falou por fim:
Goleiro – Griffon F. C. Chronos

Eu simplesmente me esqueci do resto do mundo e gritei de felicidade saltando pelo campo. Eu ouvi sim a explosão de gritos na arquibancada por um curto tempo, pois o resto do novo time saltou em cima de mim me abraçando e dando os parabéns gritando mais alto que eu se bobear. Um pouco depois eles me largaram dando os parabéns e falando que joguei bem, mas mal conseguir ficar de pé direito, e fui jogado no chão pelo Ty, que correndo mais que os outros me jogou no chão dizendo que ia ficar feliz de me derrotar. O Gabriel e o Seth chegaram em seguida e se juntaram ao Ty me prendendo no chão, debaixo de um verdadeiro monte de gente! A Mi chegou junto da Emily e me abraçou forte me dando um beijo no rosto. A Emily veio com um sorriso imenso e me abraçou também, me enchendo de beijos na bochecha e dando os parabéns! Eu estava sem reação, mas fiquei feliz dela ter ido e de estar me dando os parabéns.
- Obrigado por vir professora!
- Nada de professora! É Emily eu já disse!
Ela fingiu brigar comigo e junto da Mi me deram um beijo sanduíche no rosto, o que me deixou mais vermelho que o uniforme da Lux... Eu ignorava os meninos zoando com minha cara, nada iria estragar essa felicidade!

Sunday, November 05, 2006

O jogo da mentira

Das lembranças de Ian Lucas Lafayette

- Fechem os olhos... O lobo está nessa sala. Conseguem senti-lo? Sentem sua presença? Quem consegue me dizer qual dos alunos é o lobo?

Estávamos na aula de teatro e apesar de não admitir, começava a gostar delas. O professor, Armand, era muito engraçado e tornava tudo menos ridículo. Hoje ele inventou uma brincadeira onde escolheu um dos alunos para ser o ‘lobo’ e os demais deveriam descobrir quem era o escolhido, através de pistas. Estávamos todos sentados em círculos, de olhos fechados, enquanto o ‘lobo’ rodeava o grupo. Já passava das 20hs quando ele encerrou a aula e nos dispensou. Os demais alunos seguiram para suas casas, mas meu grupo ficou para trás, ajudando o professor a recolher as coisas e conversando.

- Muito boa sua aula hoje, professor! – Viera comentou apanhando uma mascara do chão
- Obrigado Olivier, que bom que gostou. Vamos ensaiar algo mais sombrio semana que vem e queria que vocês entrassem no clima. Vocês apagam as luzes? Ainda preciso preparar algumas coisas...
- Ah tudo bem professor, pode ir! – falei e ele fechou a porta da sala
- Alguém leu o jornal hoje? – Marie falou – sobre a menina que morreu?
- Eu li alguma coisa sim, ela foi assassinada, não é? – Mad falou
- Sim, a encontraram enterrada, mas a pessoa esqueceu de enterrar a mão.
- Será que é um Serial Killer? – Bernard falou preocupado – imagina o caos que não seria se fosse? Afinal, a menina morreu num vilarejo vizinho a escola!
- Não, não é... – falei pensativo – mas pode passar a ser...
- O que quer dizer com isso, Luke? – Dominique perguntou e todos pareciam curiosos
- E se criássemos um assassino? Criássemos um e fizéssemos toda a escola acreditar que é o mesmo da menina do vilarejo vizinho e que ele está infiltrado aqui?
- E assim veríamos até onde uma mentira pode ir e a reação que ela pode causar nas pessoas... – Samuel completou parando ao meu lado

Todos se entreolharam por um tempo, considerando a idéia, até que Dominique quebrou o silencio nos dando apoio. Bernard puxou um pergaminho e uma pena da mochila e começou a anotar nossas idéias, descrevendo como seria o assassino, seu nome, seu padrão de assassinatos, ultimas vitimas e próximas, onde descrevemos o jeito que cada um de nós ia morrer nas mãos dele. Quando terminamos, Michel fez cópias do texto sobre ‘o lobo’, nome dado ao assassino, e espalhamos alguns pela escola. Samuel ficou encarregado de pedir a Isa que encaixasse uma cópia dele no jornal daquela semana e fomos dormir certos de que tínhamos acabado de criar a peça do ano.

**************************

- Não foi culpa sua...


Eu estava sentado no gramado de um cemitério. Era dia, o céu ainda estava claro. Eu encarava uma lápide enquanto chorava, tinha os olhos vermelhos. Alguém mantinha a mão em meu ombro, repetindo sempre a mesma coisa.

- Não foi culpa sua...
- Sim, foi! Eu vi e não fiz nada, podia ter impedido!
- Não havia nada que você pudesse fazer Ian...

Acordei assustado e Bernard já calçava os sapatos, pronto para descer e tomar café. Nem comentei com ele sobre o sonho, não precisava. Já era a quinta vez que sonhava com a mesma coisa e sempre que eu despertava daquele jeito, ele já sabia o que era. Eu continuava sem saber de quem era a mão e quem estava enterrado, mas já desistira de tentar. Descemos juntos para o Grande Salão e quando chegamos lá, pude notar um ar pesado entre os alunos, que não paravam de correr de mesa em mesa, como se algo muito serio tivesse acabado de acontecer.

- O que houve? Alguém morreu? – perguntei me sentando ao lado de Michel na mesa da Fidei
- Sim... Cinco pessoas já foram assassinadas pelo ‘lobo’ e parece que ele está infiltrado em Beauxbatons! – ele disse piscando e prendi o riso
- Deu certo então? A noticia se espalhou? – Bernard perguntou baixo enquanto os demais se juntavam a nossa volta
- Aqui não é lugar pra isso – Viera falou – nos encontramos hoje à noite na sala dos fundadores para pensarmos no próximo passo
- Viera tem razão, vamos nos espalhar antes que desconfiem – falei e cada um foi sentar em sua mesa, esquecendo a historia pelo resto do dia.

*****************************

- Como puderam fazer uma brincadeira dessas? – o professor Armand me alcançou no corredor enquanto me dirigia para a sala dos fundadores
- Fazer o que, professor?
- Inventar que o assassino das minhas aulas é o autor do crime daquela menina trouxa e ainda dizer que ele esta dentro da escola!
- Foi só uma brincadeira?? – disse cínico
- Toda a escola acreditou e os alunos estão preocupados. Vocês precisam desmentir isso, ou eu farei. Sua ficha aqui não é das melhores, sabe que não pode se dar ao luxo de ser expulso no ultimo ano!
- Faça o que achar melhor, professor. Não fizemos nada e mesmo que tivéssemos, quem poderia provar?

Deixei o professor parado no meio do corredor pensativo e apertei o passo, alcançando a sala dos fundadores alguns minutos depois. Já estavam todos lá me esperando e se calaram quando viram que eu estava serio.

- Precisamos de um crime. O lobo precisa agir.

Se o professor, mesmo que sem provas, fosse desmentir nossa historia, teríamos que dar força a ela. Teríamos que fazê-la crescer.

Friday, November 03, 2006

Doce Halloween

Do diário de Isa McCallister

IM: Então, todos prontos?
- Sim, senhorita McCallister!
IM: Todos com cestas, certo? Certo! Ok, podem abaixar, já vi que todos estão com cestas! Então vamos, porque Paris é grande e a noite é curta... Por favor, não se separem, e fiquem aos nossos pés!

Saí à frente com Samuel, guiando uma turma de aproximadamente 40 primeiranistas fantasiados e empolgadíssimos com a coleta de doces que iríamos começar naquele momento. Ian e Terri vinham atrás, para se certificarem de que nenhum deles ia se desviar da trajetória. Saímos da Champs Elysée e tomamos um vilarejo mais afastado e deserto, onde as ruas estavam bastante iluminadas e a maioria das casas contava com uma decoração especial de Halloween.

SB: Vamos nos dividir, Isa? Se cada um tomar conta de um grupo de 10, vamos recolher mais doces...
IM: Hum, é, tudo bem.

Separamos todos em quatro grupos e Samuel foi guiando os seus para a direita, Ian e Terri foram para uma única direção, uma praça em frente, e eu tomei a esquerda.

- Senhorita McCallister?

Parei de chofre. Ainda não estava acostumada a ser chamada tão formalmente por uma criança de 10 anos. A menininha estava com o dedo levantado no ar, e vestida de vampira.

IM: Sim? Er, qual o seu nome?
- Violet. É que eu pensei ter visto alguém correr ali. – apontando para a viela que cruzava, logo em diante.
IM: Hum... Bom, é uma rua, certo? Pessoas podem passar correndo! Não precisa ter medo, ok? Se quiser, pode segurar meu braço.
- Não, não estou com medo. É que achei bizarro!

Arregalei meus olhos. A voz da menina tinha se tornado firme, decidida, e ela carregava um olhar medonho. Decidi seguir adiante só pensando que ela se amarrava em histórias de terror. Parei no meio da rua, e eles atrás, me encarando.

IM: Cinco para a direita, cinco para a esquerda. Podem ir os cinco de uma vez em cada casa ok? Vou me sentar aqui e ficar observando todos. Vocês têm 10 minutos!

Eles começaram a correr e chamar as campainhas. As pessoas que abriam as portas já vinham carregadas de doces e colocavam um punhado em cada cesta. Estava me sentindo uma verdadeira líder! Quando eles terminaram, se juntaram a mim no banco, mascando chicletes e tagarelando. Samuel veio ao nosso encontro, também com um pirulito na boca, sorrindo. E logo, Ian e Terri chegaram também, conversando animados.

Saímos novamente em grupo e íamos nos dividimos a cada quadra, nos reencontrando em seguida. As cestas já estavam pesadas, então, decidimos pedir em uma última vila. Sentei com Samuel, Ian e Terri e ficamos vendo eles bater de porta em porta. Tudo estava tranqüilo até aquele momento...

- AHH, você é doida?

Um grito, uma batida de porta, e uma risada ecoou pela rua. Levantei e corri até onde vinha o barulho, e achei Violet e um outro menino chorando de rir.

IM: Violet! O que aconteceu??? Que barulho foi esse?
- Ele não tinha doces para nos oferecer, então...
IM: Então o que? O que você fez?
- Espirrei spray de pimenta nos olhos, ué... Não encontrei nenhuma “travessura” melhor!
IM: O QUE? Violet! Merlin! Você é doida? Não era esse tipo de travessura, e nem qualquer outro que exigisse violência e dor! No máximo, rabiscar o rosto da pessoa, jogar açúcar no tapete, e coisas inofensivas!
- Eu... eu não sabia! Me desculpa? – prendendo o riso.
IM: Agora já foi né? Vamos, acabou a coleta por hoje, já tem doces demais pra estragar os dentes!

Ian, Terri e Samuel me ajudaram a chamar todos de volta, e começamos a voltar para a festa do castelo quando uma chuva forte começou a cair.

SB: Corram, vamos, vamos ficar ali embaixo até passar!

Samuel tomou a frente e fomos atrás dele até chegarmos na quadra de esportes que tinha na praça. Como era coberta, estava escura e silenciosa. O único barulho eram os pingos grossos de chuva batendo nas telhas. Sentei no chão, e muitos fizeram o mesmo, formando um círculo.

IL: Então, arrecadaram muitos doces?
- Nossa, e como não? As cestas estão transbordando! – Terri disse tirando o pirulito da boca pra falar.
SB: É, foi uma verdadeira maratona, não?
- Vamos fazer o que até a chuva passar? Vamos... – Terri começou.
- Contar histórias de terror! – Violet completou.

Ouve um murmúrio de aprovação, e alguns se encolheram temerosos. Não sei se seria bom começar com histórias de terror naquele lugar escuro e silencioso, mas a maioria estava empolgada, não tive chance de tentar impedir.

IM: Ok, tudo bem! Eu começo contando uma... Aconteceu há muitos anos atrás, na Estônia. Uma jovem, linda, caminhava por uma rua deserta, quando foi atingida por algo forte nas costas e caiu morta no chão. No outro dia, as pessoas de sua cidade encontraram seu corpo, cujo qual, carregava uma machadinha fincada na costela. O desespero tomou conta de todos...
- Ah não, a história do maníaco da machadinha de novo não, por favor?! Posso contar uma melhor?

Olhei aborrecida para Violet, por ter me interrompido. Novamente, senti um arrepio ao olhar a expressão demoníaca que ela estava. Os primeiranistas pediram para Violet contar sua história, e ela levantou as mãos fazendo todos se calarem instantaneamente. E eu me sentindo a líder...

- Hem hem... É a história de Samuel...
SB: Pô, Samuel? Não, mudemos o nome ok? História de David! Todos são nomes bíblicos mesmo... *Não quero ser conhecido como vilão das crianças depois dessa história* - Samuel sussurrou para nós, e Ian e Terri riram.
- Ok, história de David...
A mulher, nua, estava deitada na sua cama dormindo. David encarava o teto. Tinha nojo dela, queria matá-la. Mas eles se conheciam somente há um dia, ele não conseguia entender o porquê de tanto ódio. Seu desejo estava incontrolável, então, sem pensar de novo, cravou suas unhas entre as cartilagens tireóidea e cricóide da mulher. Ela acordou, mas já não havia tempo. Seus olhos se saltavam para fora da órbita quando seu rosto pendeu ao lado sem vida, e o sangue escorria pelo travesseiro. David sentiu um prazer inigualável, uma fonte de energia oriunda daquele sangue quente e já sem vida...
IM: Para, chega!

Ao redor, exclamações de desaprovação pela minha interrupção.

SB: É... Sabem... Essa história nem estava tão legal! Preferi a da machadinha! Termina de contar ela, Isa?
IL: É Isa, eu ainda não escutei...
- Bom, vocês vão ter que terminar depois, porque a chuva parou, ouviram? – Terri falou parecendo aliviada. Sorri agradecida e me levantei de um salto.
IM: Depois eu conto! Vamos voltar para a festa? Deve estar muito animada ainda!!!

Eles pareciam terem se esquecido das duas histórias interrompidas abruptamente e se animaram para voltarem à festa exibindo seus doces. Refizemos o caminho, um pouco mais calados. Violet era a última da fila. Arrancou os dentes agudos da fantasia, jogando-os na cesta, e enfiou uma bola de chiclete preta de uma vez na boca. Samuel conversava com Ian e Terri sobre as coletas, e eu apenas andava calada. Quando chegamos à porta, Ian e Terri se despediram, pois Terri não podia entrar lá. Saíram de mãos dadas caminhando pela rua. Samuel entrou primeiro, e a fila de alunos foram entrando atrás. Quando Violet passou por mim, segurei o braço dela e me agachei para olhá-la.

IM: Violet, me desculpa por não ter deixado terminar sua história... É que quando eu tinha a sua idade, morria de medo de histórias de terror, até das mais fracas, e percebi que alguns estavam tremendo...
- Tudo bem! Eu entendo... Não são todos que gostam de histórias de terror não é mesmo? – ela sorriu e a língua dela estava preta.
IM: É, imagino que sim... Você gosta?
- Leio desde quando era criança! Já li todos os livros de terror dos trouxas, e dos bruxos, até os de feitiçaria antiga. Não tenho medo. A história de Samuel, ops, David, foi a mais leve que consegui me lembrar, mas a da machadinha era mais apropriada...
IM: E eu que pensava que tomaria conta de crianças inocentes! Você me surpreendeu!
- Minha mãe sempre me diz que causo esse efeito nas pessoas! – rindo- Me desculpa pelo spray de pimentas ok? Eu não achei que fosse necessariamente pesado demais!
IM: Tudo bem! Não foi no meu olho mesmo... – ela fez uma cara surpresa.- Brincadeirinha! Então, não quer me oferecer um chocolate?
- Seria um prazer, senhorita McCallister!
IM: Isabel! Pode me chamar só de Isabel!
- Ok... “Seria um prazer, Isabel!” – estendendo o chocolate.
IM: Vamos entrar? Quem sabe ainda conseguimos algumas bebidas flamejantes hein?

Ela sorriu concordando e entrou na minha frente. Como a gente se surpreende com a infância atual!!!

Thursday, November 02, 2006

Por uma chance apenas...É Halloween!

Anotações de Ty McGregor

Eu, Gabriel e Miyako estávamos decidindo o que fazer na festa de Hallowen, quando vi a Rory junto com os irmãos e alguns colegas bebendo um drink de cor azul toda animada. Se eu queria uma chance de me aproximar dela, tinha que ser agora, caminhei ate lá e no caminho peguei uma cerveja amanteigada da bandeja de um garçom.
- Oi Ty, fica aqui com a gente. – disse Went quando me aproximei.
- Oi pra todo mundo. -disse olhando para as outras pessoas no grupo que eram: Angelique, Rory, Danielle e Went, quando Jean se aproxima trazendo outros drinks e começou a distribuir para o povo:
- Olá,Ty não vi que você estava aqui e não te trouxe nada.-se desculpou.
- Sem problemas. – e fiquei olhando para Rory que estava corada e com os olhos brilhando.
- Garotas não sabem beber Rory. Melhor ficar no seu leite com maçã e canela. -provocou Lucien.
- Quem disse? Garanto que consigo agüentar mais que você. – ela respondeu e enquanto segurava seu drink.
- Pois eu aposto que você não agüenta. – ele devolveu.
- Bem, então já que temos uma aposta, precisamos ir para algum lugar e resolver isto. - sugeriu Jean. – Você vem Ty?- e antes que eu respondesse Rory se adiantou:
- Ele vem sim. Vamos até aquele café. Estou ouvindo música daqui. – e pegou na minha mão me puxando.
Olhei para Jean e Went e eles começaram a fazer gestos de que eu havia sido laçado, fiz sinal de que eles também, olhando para as garotas ao lado deles.
Chegamos ao café todo decorado e com uma música alta tocando, e logo conseguimos uma mesa, nem precisamos pedir nada, uma garçonete fantasiada de diabinho já colocou algumas canecas com drinks saindo fumaça na mesa sem nem olhar para nossa cara. Lucien e Rory pegaram uma caneca cada um e beberam rápido e ficaram se encarando.
- Vai desistir maninha?
- Nem em sonho. - e lá se foram mais alguns drinks.
Cheirei uma das canecas, e disse pros outros:
- Amanhã eles vão querer estar mortos, tem vodka aqui no meio.
- Vai ser bem feito, pelo menos vão deixar de ser tontos. - respondeu Angelique e Daniele concordou com ela.

well I hope that I don't fall in love with you
Coz falling in love just makes me blue
Well the music plays and you display a heart for me to see
I've had a beer and now I hear you calling after me
And I hope that I don't fall in love with you

Em determinado momento começou a tocar uma musica lenta e Rory olhou para mim, visivelmente alterada pela bebida:
- Sabe que eu sempre quis sair com você?
- Ah é? Agora estamos aqui. Podemos considerar isso um encontro se você quiser. – e os outros na mesa começaram a rir, imaginando quais outras palavras sem noção Rory diria ainda durante a festa.
Quando ela levantou, deve ter sentido tontura, pois se sentou rápido.
- Uow, porque o salão ta rodando assim?
- Zobaaaa, vou... Vou...vencer voze Rory. Voze ta bêbeda huahuahua. – disse Lucien com a língua enrolando.
- Não vai não. Estou ótima. - levantou e me puxou pela mão, fomos para a pista de dança e ela grudou o corpo no meu. Confesso que fiquei chocado, mas como não sou de correr, segurei a cintura dela. Ela passou os abraços ao redor do meu pescoço e encostou o rosto perto da minha orelha, tava ficando difícil de pensar, pois ela começou a falar com uma voz meio rouca:
- Sabe que eu queria repetir o beijo de outro dia?- e beijou meu pescoço. - Seu gosto é bom.

Well the room is crowded people everywhere
And I wonder should i offer you a chair?
Will you sit down and pin the crown and take that frown and break it
Before the evenings gone away I think that you can make it
And I hope that you don't fall in love with me

Sei que ela estava um pouco bêbada, mas eu não sou santo. Beijei-a e ela se colou mais em mim. Ficamos na pista por um tempo, trocando beijos. De repente, ela se soltou e disse:
- Estou com sede, vem comigo.- Voltamos para a mesa e ao sentar a mesa se encheu de drinks novamente, Rory pegou uma bebida gelada e bebeu rápido, e começou a reclamar do calor. Lucien estava com a cabeça apoiada na mesa, levantou e disse:
- Vou..ic, fechar os ic, os olhos, para a tontura passar.....
Angelique se aproximou, olhou para ele e sentenciou:
- Acho melhor levar o Lucien pro barco. Vamos Rory?
- Não! Eu vou curtir a festa com o Ty.- e se pendurou no meu pescoço.
- Deixa sua irmã aproveitar a noite, eu ajudo você Angelique. - se ofereceu Jean. Como Angelique ainda estivesse em duvida sobre se separar da Rory eu disse:
- Eu levo sua irmã de volta. Pelo jeito não vai demorar muito. - e vi-a tomar mais um gole.
Angelique concordou e saiu rebocando Lucien com Jean para o barco.

I can see that you are lonesome just like me
And it be and made you'd like some company
Well I turn around and look at you you look back at
The guy your'e with he's up and spared the chair next to his feet
And I hope that you don't fall in love with me

- Rory vamos embora? – Você já bebeu bastante.
- Não eu quero curtir a festa com você... Sabe que gosto dos seus olhos? E você tem uma boca tão... Macia... - e me beijou de novo.
Ok, devo confessar que eu tava adorando aquele jeito soltinho dela, sem brigar ou me xingar, quando ela resolveu que estava com calor e ia tomar ar. Saímos do bar, e ela começou a correr dando gritinhos e pulos, afastando-se da algazarra, entrou numa rua deserta, se agarrou num poste e disse alto:
- Ty, eu gosto de você há um tempão, porque você não gosta de mim??
- Eu gosto de você Rory. Acho que devemos voltar para o castelo. - respondi paciente.
- Não, o castelo não. Você quer voltar para lá, pra ficar com a Savannah, cor de tripa de carneiro. Ela nem gosta tanto assim de você... Não como eu gosto... Mas eu não posso gostar de você... Posso fazer você sofrer... - e começou a chorar.
- Você não vai me fazer sofrer Rory, e eu não tenho nada com a Savie.
Era só o que me faltava, Rory estava tão bêbada que agora já estava indo para a depressão. Do nada ela parou e disse:
- Tá tudo ficando escuro. - e caiu desmaiada nos meus braços.
- Rory... Acorda... Preciso de ajuda. - levantei-a no colo e antes de dar dois passos, Emily chegou correndo de varinha na mão.
- O que houve?- e esquadrinhou a rua onde estávamos.
- Ela caiu de bêbada. Você consegue faze-la acordar? O que você faz aqui?
- Estou ajudando a manter a segurança dos alunos, papai me escalou e...
Franzi o olho quando ela disse “papai” e ela se corrigiu:
- Seu pai me escalou para trabalhar hoje porque já conheço os alunos e iria ficar mais fácil ajudar. Como vocês conseguiram bebida alcoólica? São menores...
- Olha só sei que alguns bares tão distribuindo bebida grátis ok? Vai me ajudar ou ficar bancando a mãe ultrajada?
- Melhor irmos para o castelo, ela pode estar em coma alcoólico. Vamos aparatar. - disse depois de examinar as pupilas dela.
- Como assim? Eu não posso fazer isso... - e Rory se aconchegou mais em meus braços e disse:
- Me escolha Ty. Amo você...
Emily abriu um sorriso de orelha a orelha e levantou uma sobrancelha:
- Nossa, que paixão. Você é tão requisitado assim??? Pelo jeito os papos na escola são verdadeiros...
- Ela tá de fogo ok? Não sabe o que fala... Que papos? ¬¬
- Ah você sabe, algumas garotas me contam as novidades, porque ficaram minhas amigas. Vamos fazer assim: você a segura e eu apóia voces dois ok? Podemos aparatar no portão da escola e de lá eu ajudo você a levá-la para o dormitório dela ou a enfermaria.
Concordei e quando começamos a aparatar, senti que entrava num funil apertado, apertei a Rory, fechei os olhos e logo a sensação passou. Estávamos na escola. Emily me ajudou a levá-la até a enfermaria e madame Magaly a atendeu sem fazer perguntas. Saímos porta fora e eu olhei para ela e disse:
- Obrigado... Professora...
- Por nada, Ty. Pode me chamar de Emily se quiser.
- Obrigado, Emily. - virei-me para ir embora e ela disse:
- Sabe... eu não tive muito tempo de comer na festa....Quer dizer...Você não gostaria de comer alguma coisa antes de dormir? Eu não gosto muito de comer sozinha... Mas tudo bem pode ir pro seu dormitório, se não quiser.
- Err... Ahnn... Não estou com fome, quer dizer, não muita, mas um copo de suco me faria bem. - respondi meio sem graça.
Olhei para os olhos dela e notei como eles eram parecidos com os meus, quando sorria. Seria bom descobrir o que esta minha irmã mais velha e eu temos em comum, além do gosto por visitas noturnas à cozinha. Ainda mais que eu não vou conseguir dormir logo, pois vou pensar na Rory. Será que tudo aquilo que ela disse sobre gostar de mim, é verdade ou foi apenas efeito do álcool?

N: AUTORA: música I hope that I don’t fall in love with you – Natalie Merchant

Wednesday, November 01, 2006

Planos quase imperfeitos...

Por Bel McCallister e Bernard Lestel

- Eu me recuso a sair assim!
IM: Assim como, exatamente?
- Assim, assim oras! Com essa tinta toda na cara! Não sou palhaça de nenhum circo. Tira isso agora do meu rosto Isabel!
IM: Bel é o seguinte: você entende dos livros, eu entendo da moda, ok? Você está linda!

Linda! Linda para uma parada gay! Nunca tinha recebido tanta maquiagem no rosto. E minha cabeça estava doendo com aquele penteado maluco, quase em outra dimensão. Eu já não tinha forças para agredir fisicamente a Isabel, e nem palavras para agredir verbalmente, por isso, meu subconsciente implorava para que aquilo tudo não tivesse passado de um sonho ruim. Fechei os olhos e me lembrei de como tinha começado tudo... “Bel, eu comprei um vestido para você, achei a sua cara! No final das aulas, vamos comigo até o dormitório para eu te entregar, está bem?”

Eu ia pedir pra ela fazer picadinhos do vestido, mas não custava nada ir pegar ele, e depois enfiá-lo no fundo da mala, então, achei que seria menos trabalhoso concordar.
No final das aulas, lá estava eu, dormitório da Isabel, sendo amarrada pelos braços e pernas por uma poltrona, enquanto aquele ser repugnante arrancava minha varinha, não dando ouvidos para os xingamentos e pedidos de libertação que eu exclamava aos berros. Bom, aconteceu o óbvio. Uma hora, depois de tanto ter xingado, minha variedade acabou e me vi obrigada a calar a boca.

IM: Finalmente! Pensei que não ia parar de gritar nunca mais! Bom, você deve estar me perguntando por que está amarrada na minha poltrona. Eu respondo que enquanto você grita e esperneia pra sair daí, eu estou te ajudando e muito! Então, você me pergunta, como? Eu respondo: separando as maquiagens que vou usar em você pra caírem bem naquele –apontando para um vestido esticado em cima da cama- vestido!
BM: Eu vou te pedir com educação... Me solta, AGORA! Você é psicopata! Eu não sei o que você quer comigo, mas se tentar alguma coisa, eu arranco as suas fuças!
IM: Você devia me agradecer, sabia? A minha esperança é que um dia você me agradeça o suficiente... Mas vamos deixar de conversa! Ao trabalho!
BM: QUÊ? Me solta, sua maluca!!!

... O que vem depois, eu não gosto nem de me lembrar! Lápis sendo enfiado dentro do meu olho, coisas geladas sendo aplicadas nas minhas bochechas, grampos sendo enfiados no meu crânio, até que...

IM: Fala a verdade? Você está ou não está linda! O Bernard vai morrer!
BM: Bernard? O que tem ele? Já te pedi para parar com as brincadeiras idiotas Isabel...

Mas então, pela primeira vez, eu vi que ela estava assustada por ter dito Bernard. Sempre quando fazia as brincadeiras comigo sobre ele, ela caía em risada, mas dessa vez não... Ela estava com a boca tampada pelas mãos, os olhos arregalados de choque.

BM: O que foi dessa vez? Se lembrou que não fez a chapinha hoje?
IM: Que droga! Ele vai me matar! – ela segurou meu braço com firmeza, chegava a doer. – Olha, me escuta! Tudo isso que aconteceu hoje, as maquiagens e a roupa, eu tinha sonhado com um dia desses há muito tempo. Mas hoje, eu fiz o que fiz, ou seja, obrigatoriamente, pois as circunstâncias exigiam! Então eu pensei: é a minha chance! É a chance de dar uns tratos na Bel! Então, você conhece o resto... E eu não uso chapinhas!!!
BM: O que você está dizendo? É para a festa de dia das bruxas?
IM: Bel, o Bernard vai te chamar pra sair hoje. Ele contou pro Ian, que acabou comentando com o Samuel, que sem querer e perceber, comentou comigo.
BM: E você, mais do que depressa, deixou escapar sem querer comigo certo? Brilhante! Além de tudo isso, você é fofoqueira!
IM: Bel, agora não, eu estou falando sério...

Estava abismada. Ela estava falando sério? Eu teria que inventar uma dor de dente, grave... O Bernard que me desculpe, mas não vou sair com ele, não estou preparada para tantas surpresas em um dia só!

***

- Nervoso Bê?
- Não, por quê? Deveria estar?
- Ora, primeiro encontro, expectativa, pressão, sabe como é né?
- Não tem pressão nenhuma, parem vocês dois!
- Claro que não, estamos falando da Anabel.
- Sim, ela não é como umas e outras que saem rolando na areia da praia com um garoto, em publico...

Ian olhou alarmado para Marie ao seu lado, que parecia chocada com o que havia dito. Em seguida deu um soco no meu braço que denunciou que estava falando dele e saiu calado do quarto. Dominique vinha rindo atrás e Marie desceu comigo, calada também. Nos separamos quando chegamos ao hall de entrada e logo avistei Bel conversando com Isa, parecendo agoniada para sair dali. Tracei uma reta até as duas.

- Boa noite! Não vão para o barco? Já está quase saindo!
- Ahn na verdade, estava pensando em ficar no castelo... Fiz uma cirurgia no dente e não posso comer nada e...
- Ah Bel, pode parar! Ela ta ótima Bernard, e é toda sua! Tchau, Samuel está me esperando!
- Então? Vamos? – falei para Bel
- Não sei se é uma boa idéia jantar, sabe... Eu...
- Espera ai! Como você sabe que eu ia convidar você pra jantar?? – mas não esperei ela responder – quer saber? Já ate sei o caminho que a noticia percorreu para chegar aos seus ouvidos... – e lancei um olhar cerrado na direção dos meus amigos
- Mesmo assim, ainda acho que...
- Bel, por favor – e coloquei o dedo em seus lábios – eu gosto de você e sei que apesar de fazer força pra disfarçar, você também gosta de mim. Só o que peço é uma chance. Sai comigo hoje, prometo não forçar você a nada que não queira. E se mesmo assim no fim da noite você não tiver gostado de nada, eu deixo você em paz, nem falo mais com você, se preferir. Mas me da uma chance, ok?
- Eu, er, ahn... Tudo bem... – ela falou por fim, sem reação.

Estendi o braço e ela não teve outra opção senão segura-lo e me acompanhar. Fomos até a festa da qual deveríamos participar junto com os demais alunos, mas saímos junto com os que se ofereceram para monitorar os pequenos, nos afastando deles assim que pisamos na Avenida Champs Elysée...

***

BL: Hum, não vai comer a carne Bel?
BM: Não como carnes desde os 8 anos de idade, sou vegetariana! – disse enfiando um champion na boca. Bernard tossiu com a água.
BL: Jura? Ai, que equívoco! Desculpa, eu não sabia... Por isso escolhi esse restaurante!
BM: Não precisa se desculpar! A salada está bem temperada... – rindo, o que fez ele soltar um suspiro de alívio e rir em seguida também.

No começo, eu estava travada, mas percebi Bernard tremendo levemente quando me deu a mão para andarmos juntos, sem contar que estava gelado, então decidi me acalmar e levar a situação toda na maior naturalidade possível. Agora já estava bem mais solta, e conversamos e rimos até bastante durante o jantar todo.

BL: Bom, vamos pedir a sobremesa? Ou você tem diabetes?
BM: Não, a sobremesa eu como, prometo!
BL: Ok...

Ele pegou o cardápio e o apoiou no enfeite da mesa, olhando. Eu estava olhando as pessoas ao redor, quando senti um cheiro de fogo.

BM: BÊ! O cardápio! Está pegando fogo!!!

Bernard pulou da cadeira e começou a bater o guardanapo com força na chama. O cardápio tinha encostado-se às chamas das velas que estavam em cima do enfeite, e agora estava pegando fogo. Na mesma hora, joguei o copo de água mas não surtiu nenhum efeito. As pessoas ao redor já gritavam desesperadas, e uns dois garçons haviam corrido para a cozinha. O desespero estava armado.

Voltaram correndo com dois baldes de gelo e jogaram sem delicadezas na mesa, cessando o “incêndio”. O cardápio estava em cinzas, e o forro da mesa já tinha um furo de queimado no meio. Me joguei na mesa, uma parte do vestido molhada, ofegando.
Bernard encarava o cardápio, petrificado. O garçom veio com a conta, que inclusive já estava acrescida de todos os danos. Saímos do restaurante calados, mas assim que tomamos a Champs Elysée de novo, cai na risada, chegando a chorar...

***

- Bel, me desculpa pelo jantar desastroso. Não sei o que me deu!
- Não tem problema Bernard – falou segurando o riso – foi até divertido.
- Sim, um espetáculo de circo: O Incrível Bernard e os Cardápios Flamejantes! – e ela deixou a risada escapar
- Não se preocupa, de verdade. Eu me diverti assim mesmo.
- Bom, ao menos no passeio de balsa nada pode dar errado!

O apito da balsa na qual deveríamos estar acomodados soou alto e olhei assustado para o relógio. Já eram 21:31 e ela sairia às 21:30, em ponto. Agarrei a mão de Bel e sai puxando-a pelo píer na tentativa de conseguir embarcar, mas em vão. A balsa já estava no meio do rio Senna e só um atleta conseguiria saltar dentro dela! Dei um soco no ar revoltado e quando fui gesticular indignado, acabei acertando o nariz dela com força.

- Bel? Bel, você esta bem?? Desculpa, não queria te machucar!
- Tudo bem, não foi nada – falou com a voz embargada.
- Droga! Nada está dando certo! Vamos, vou te levar de volta pra festa, quem sabe assim você fica mais segura...
- Não, não precisa, eu estou bem! Olha, nem ta inchado!
- Não Bel, chega. Não se preocupe que amanha mesmo paro de te importunar.
- Ah não, agora quem não quer voltar sou eu! O jantar não foi um sucesso, você vai ter que reembolsar os cardápios caros do restaurante, perdemos a balsa, quase perdi meu nariz, minha gêmea má me fez de barbie hoje, o sapato está apertado, não gosto desse vestido, enfim, então estou no direito de escolher o que quero! E quero andar, pronto! Vamos andar a toa, nada vai sair errado nisso!

Olhei espantado para ela e achei que seria perigoso desacatar aquela ordem, então tornei a estender o braço, que dessa vez ela segurou de bom grado, e começamos a refazer o caminho que nos levou até ali. Fomos caminhando pelas margens do rio Senna por quase toda sua extensão. Passamos por alguns dos meus amigos mergulhando no rio e nem parei para falar com eles, pois avistei alguns guardas perto. Se ele os pega dentro da água, madame Maxime teria que ir buscar seus alunos na cadeia trouxa... Já estávamos aos pés da Catedral de Notre Dame quando paramos.

- Nunca tive a chance de entrar... Só tive duas três visitas a Paris ate agora e está sempre cheia de turistas!
- Quer conhecer agora?
- Como? Está fechada e...
- Me abraça firme, não solta!

Puxei-a pra junto de mim sem nem deixa-la terminar a frase e com um aceno da varinha, desaparatamos. Havia feito meu exame nas férias e passado na 1ª tentativa, mas era a 1ª vez que fazia isso com outra pessoa junto. Aparatamos no alto da Catedral, na parte onde já é toda cercada a fim de evitar suicídios. Bel ainda estava um pouco chocada quando a soltei, mas desfez a expressão de susto ao ver a vista lá de cima.

- Gostou?
- Sim, é lindo... Dá pra ver a Torre Eiffel! E o Arco do Triunfo! O rio Senna e tudo mais!
- Tinha certeza que ia gostar... É meu lugar favorito de Paris. Quando não está cheio de turistas, claro.
- Na próxima visita a Paris você vem comigo conhecer o interior da Catedral, não é?
- Claro! Vou aonde você quiser, é só falar... – falei me aproximando dela – como está o nariz?
- Está ótimo, nem lembrava mais que você me deu um soco! – e riu – brincadeira, não esta doendo mais. Na verdade sempre o achei meio torto, quem sabe agora ficou encaixado. Isabel sempre diz que...

Mas não deixei que ela dissesse o que a irmã tanto diz. Estava mexendo em seus cabelos enquanto conversávamos e sem perceber, meus lábios já estavam colados nos dela. Mas diferente das outras duas vezes, Bel não pareceu resistir ou tentar me afastar. Ela passou os braços ao redor do meu pescoço e eu envolvi os meus em sua cintura. Naquele exato momento começou a cair um dilúvio, mas não estava mais me importando com qualquer contratempo. Tinha certeza que havia encontrado a garota ideal pra mim e não iria deixá-la ir embora fácil.