Sunday, March 12, 2006

Reviravoltas...

Das anotações de Samuel Berbenott

PB: Ah, chegaram as corujas. – Patrick estava apontando para a janela em nossa frente com a boca cheia de torta de caramelo. Muitas corujas entravam carregadas de pacotes e envelopes para estudantes e voavam por todos os lados do salão. – Já não era sem tempo liberarem nossas correspondências!
SB: É... De que temos aula hoje?
PB: Ham, Sereiano, Etiqueta, Oclumência e Defesa Contra as Artes das Trevas, os dois últimos horários...
SB: Ótimo! Agora meu humor está bem melhor...
PB: Ah, a professora Mariska é encantadora!
SB: E você que odiava sereiano ano passado hein?

Desde o Baile do dia dos Namorados, eu andava tentando evitar encontros com Amaralina. Sabe, acho que fui um pouco precipitado quando a beijei, e como a aura dela estava em um estado de perturbação aquele dia, apenas se deixou levar... No dia do passeio à Paris fomos juntos, mas em hora nenhuma tive coragem de conversar sério com ela sobre o que tinha acontecido, sobre o que eu realmente sentia. Andamos pela cidade como amigos, e ela não parecia estar se importando com isso! O ataque dos Comensais lavou qualquer outro pensamento da minha cabeça.

Enquanto descíamos para o lago vi Amaralina com a Isabel esperando que a aula começasse. Ela estava sorrindo, os cabelos soltos, levados pelo vento... Tive a impressão de estar viajando longe em meus devaneios quando alguém me puxou para a realidade. Gerard segurava meu pulso e olhava sério pra mim...

- Perdão, monsieur Stardust, mas tenho ordens de levá-lo até a Madame Máxime neste momento...
SB: O que eu fiz dessa vez?
- Não sei de nada... Por favor, me acompanhe?!

Olhei assustado para o Patrick que se despediu de mim e continuou sua caminhada até a turma. Caminhei ao lado de Gerard fuçando na memória algo que tivesse feito de errado nos últimos tempos, mas ela não denunciou nada, minha ficha estava limpa. Assim que entrei na sala dei de cara com meu pai sentado em uma poltrona em frente á mesa de Madame Máxime. Ele tinha uma cara cansada e descrente e muitas novas rugas haviam brotado no rosto dele desde a última vez que o vi. Madame Máxime tomava chá descontraída em sua poltrona, e Sávio também estava lá, além de um homem alto, com cabelos longos, pretos e ondulados, barbas e bigodes. Me parecia estranhamente o Sávio de rosto, mas com um pouco mais de primitividade. Vestia longas vestes azuis e peles negras jogadas aos ombros. Me lembrou um urso. Gerard se retirou e fechou a porta. Meu pai veio até mim, me olhou por bastante tempo, e então me abraçou aliviado e me sentou em uma cadeira do lado dele. O primeiro pensamento que me veio à cabeça foi que seria mandado imediatamente para a Durmstrang novamente com o Sávio, e que aquele ursão seria meu segurança 24 horas, andando atrás de mim no castelo para evitar uma nova fuga, e que aquele abraço que meu pai me deu era um tipo de despedida a longo prazo... Felizmente, ou talvez, nem tanto assim, eu pensei uma coisa bem distante da realidade...

Madame Máxime sorriu pra mim, mas ela também tinha uma expressão cansada e nervosa. Depois começou a falar...

OM: Monsieur Stardust, espero que tenha se recuperado do terror ao ataque dos Comensais da Morte em Paris, e que tenha alcançado o barco do colégio em segurança...
SS: Bem, na verdade sim... Não foi tão traumático, estava perto da Pont de La Concorde... Mas pai, o que está fazendo aqui? Como está no Ministério? Conseguiu resolver tudo?
IS: Depois conversamos sobre isso Samuel. Este senhor é o pai do Sávio, Gorion Iakóviski. Ele está um tanto quanto irritado com você sabe... Samuel, como você inclui ele em sua fuga do castelo, em um artefato trouxa, e expõe ele a tamanho perigo? Sávio está de partida...
SS: Mas pai, não fui eu! Ele quis vir comigo e... Ele não pode voltar pra lá, ele não quer! Já até tem aulas de francês e uma namorada, ou seja lá o que eles são um do outro. Ele não gosta de lá!
IS: É o pai dele que decidiu Samuel...
GI: @$%&#$@%¨#%¨$#%¨
SS: Quê?
IS: Despeça-se logo do Sávio, ele não está falando nada que seja agradável!

Madame Máxime olhava horrorizada com as palavras do homem, e tampava a boca com as mãos. Acho que ela não achava provável que alguém falasse palavras de tão baixo calão na frente de tão educada senhora. Sávio estava calado e deprimido a um canto. Cheguei até seu lado e estendi a mão. Ele apertou com força e depois pegou rápido a mochila e me entregou o pato mumificado. O pai saiu rebocando ele pra lareira e eles desapareceram nas chamas verde-esmeralda.

Fiquei com um certo remorso de ver o Sávio partir. Tinha me apegado a ele... Não é todos os dias que se encontra alguém com tamanho nível de loucura a ponto de aceitar fugir com você de um país para outro oposto e se encantando com o meio utilizado para tanto: um bote amarelo! Nem é todo mundo que olha a água entrando no bote e acha graça... E o que é mais engraçado, virar amigo inseparável, quase pai, de um ser inanimado. Uma pessoa muito engraçada!

Madame Máxime ainda estava atordoada e pediu licença um instante. Papai me encarou pesaroso e começou a falar.

IS: Cinco mortes de trouxas registradas, mais 13 feridos em estado de choque e total confusão. Tivemos que obliviar a mente de quase todos os moradores de Paris e para o restante ficou valendo a versão de que um grupo de adolescentes inconseqüentes estouraram uma bomba na Avenida. O caos foi imenso, tivemos que repassar por quase todas as casas da região e fazer Legilimência. Não queremos ninguém fingindo que não viu nem sabe de nada... Recebemos milhares de berradores do país inteiro durante essas três semanas. Pessoas pedindo explicações e até a minha demissão. Os aurores andam trabalhando dobrado. O Ministério ainda está de pernas para o ar!
SS: Mas, já conseguiram resolver alguns dos problemas?
IS: Sim, espero que nessas próximas semanas todas as medidas de segurança já estejam sendo tomadas. Recebi a notícia de que tinha fugido do castelo de Durmstrang. O diretor parecia revoltado. Madame Máxime também me escreveu contando de você e do seu hóspede. Porque não me falou que tinha fugido? Já tinha feito mesmo, o que eu poderia fazer para evitar?
SS: Porque depois que cheguei as coisas começaram a se atropelar. Desculpa pai... Eu sei que preocupei o senhor, mas sabe, não achei certo ter me mandado pra lá. Eu não consegui me adaptar... Frio, falta de amigos, não entendia nada que eles falavam...
IS: Tudo bem, eu agi sem pensar. Comensais andam atacando em todos os lugares, e você é apenas um adolescente normal que às vezes extrapola nas brincadeiras. Bom, Sávio queria se despedir da menina, não sei bem o nome dela... Ma...
SS: Miyako...
IS: Isso! Será que você pode avisar para ela o que aconteceu?
SS: Claro...
IS: Eu tenho que voltar ao Ministério, e você, deve pegar o restante das aulas... Me mantenha em contato Samuel, e sua mãe também. Já me mandou muitas cartas só essa semana querendo saber notícias de você... Não recebeu as cartas dela?
SS: Na verdade só hoje foram liberar nossas correspondências. Recebi sim, mas ainda não abri.
IS: Irão ficar de olho nos pacotes a partir de agora. Todas as escolas de Magia estão tomando essa medida de segurança.
SS: Tudo bem... Até mais pai! Tenho que ir...
IS: Até...

Sai da sala de Máxime ao mesmo tempo que ela voltava mais aliviada. Segui para a aula de Etiqueta pensando em tudo que meu pai disse e prometendo que pelo menos por um bom tempo não seria mais uma preocupação pra ele.

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