Das lembranças de Isa McCallister
Quando chegou o dia da segunda visita à Paris, acordei cedo e fui tomar café. Lina se despediu de mim com um olhar como se quisesse se desculpar e saiu pra se encontrar com o Samuca pra irem juntos até a cidade. Na verdade eu nem me importava com isso, muito pelo contrário, estava feliz deles estarem se dando bem, e, porque, também, eu já havia planejado a minha manhã na cidade da luz, e a Lina não gostaria de ir aonde eu iria...
Desci direto na Champs Elysée e segui pela avenida procurando... Lá estava ele, colírio pros meus olhos, do outro lado da rua. Atravessei decidida e alegre a rua e entrei no Noélia Bartilotti, o mais famoso Salão de Beleza do país... Parecia até um sonho!
- Pois não, em que posso ajudá-la?
- Isabel McCallister... Acho que mandei uma carta marcando um horário com vocês pra hoje, não?
- Ah sim, claro... Em cima da hora senhorita McCallister! Queira se sentar, já vai ser atendida por Madame Noélia, em pessoa...
- Obrigada!
Logo uma mulher de idade avançada, que me lembrou a cara de seriedade da Professora Minerva McGonagall, mas que tinha a mesma pose da Professora Françoise, se apresentou como Noélia Bartilotti. Ela tinha um sorriso gentil, mas me percorreu inteira com seus olhos, analisando e me conduziu até uma das cadeiras em frente a um grande espelho.
- O que quer fazer com o seu cabelo, querida?
- Ham, pra falar a verdade ainda não pensei direito! Primeiro, queria tirar essas mechas coloridas dele, e dar um corte mais definido...
- Perfeito! Já sei o que fazer...
Genial! Adoro quando sou compreendida por cabeleireiros e não tenho que ficar especificando muito... Ela começou a picotar o cabelo pra lá, pra cá, alisa, e não sei o que mais e enquanto isso, a moça que tinha me recebido na entrada aplicava uma máscara de pepino no meu rosto, bem gelada. Nem vi o tempo passando... A última coisa que vi foi Madame Noélia colocando uma touca térmica na minha cabeça e me levando pra debaixo de um dos secadores. O creme de pepino ainda na minha cara e senti alguém puxando minha mão e meu pé. Tratamento de primeira aquele!
Sentia meu cabelo começando a fumegar quando se iniciou uma gritaria doida lá fora. Madame Noélia veio correndo na minha direção me puxando bruscamente da cadeira, desesperada, dizendo algo sobre homens, máscaras e explosões. Foi me rebocando pra fora do Salão, eu não estava entendendo nada. As pessoas corriam alucinadas lá fora e berravam... Olhei pros lados pra saber o que estava acontecendo e vi um grupo de Comensais da Morte explodindo a avenida e aterrorizando os trouxas. Tentei entrar pra dentro do Salão de novo, mas Madame Noélia tinha seus dois braços nas minhas costelas e me empurrava com força...
IM: Madame, ainda não deu tempo de acabar a hidratação e eu preciso enxaguar o cabelo...
NB: O que são eles? O que são? Socorroo... Obrigada querida, até algum dia!
IM: Madame são Comensais... Por Merlin, termine meu cabelo???
NB: Passe bem querida, boa sorte e... sua hidratação fica por conta da casa!
PAM! Sim, ela fechou a porta na minha cara e lacrou a chaves, saiu correndo pra dentro do Salão e me deixou lá estática, com uma touca térmica e um creme de pepino na cara em meio àquela balbúrdia. Não conseguia pensar no que fazer... Estava pensando seriamente em sentar ali na porta e chorar, e se os Comensais me atacassem sentiriam dó de mim com aquela aparência deplorável. Arranquei o maior número de pepinos que consegui, mas ainda sentia uma geléia gelada no rosto. Sem saber o que fazer, senti um puxão no meu braço direito e vi que era o Brendan, um dos artilheiros do nosso time de quadribol. Ele corria desesperado avenida abaixo e saia me arrastando junto dentre a aglomeração.
Paramos na Pont de La Concorde que estava abarrotada de estudantes aos berros e subindo apressadamente no barco. Subi junto com Brendan até ficarmos em segurança. Olhando abaixo na avenida, via-se os Comensais se espalhando por todos os lados, pessoas correndo, e Aurores tentando estabelecer a calma e espantar os Comensais...
O barco saiu para o castelo e os alunos só começaram a se acalmar quando já estávamos no meio do caminho pelo rio.
Em Beuaxbatons as coisas estavam tão agitadas quanto na Champs Elysée. Pais de alunos que chegavam a todos os momentos na escola, preocupados procurando por seus filhos, outros desesperados por alguma notícia dos aurores a cada barco que chegava. Havia muita gritaria e discussões por ali, e eu só queria subir logo para o dormitório e lavar o cabelo. Não sei se o Brendan era muito educado ou se não reparou mesmo, mas em hora nenhuma perguntou o porquê da minha aparência, contudo, Anabel... Ela me encontrou na entrada do castelo e me olhou com total desprezo. Rebecca estava ao lado dela, parecia aflita quando me abraçou...
RM: Ah, que bom que você está bem minha filha...
IM: Aprendi a me virar sozinha!
AM: Mamãe, não dê moral, ela está estressada porque não deu tempo de terminar de arrumar o cabelo...
IM: Como você adivinhou Anabel, querida irmã?
AM: Até um trasgo perceberia a julgar pela sua touca e o gel verde na cara, Isabel...
Juro, nunca me irrito com as provocações da Bel, mas estava afetada emocionalmente, precisava falar alguma coisa pra revidar, e então eu me lembrei... Rebecca havia se afastado para conversar com outro auror que estava perto e eu chamei Anabel.
IM: Bom, mas parece que você não está conseguindo decifrar o livro não é? Como é mesmo o nome? Grimoi...
AM: Shiiiiiiiiiii, cala a boca Barbie, esqueceu que mamãe não sabe que pegamos o livro?
IM: Que você pegou né?
AM: Eu estou conseguindo, só pra constar!
IM: Ah, é mesmo? Quero que me empreste ele... Vou pedir ajuda à Amaralina! Ela adora Runas e é cigana...
AM: Nunca! Não entrego o livro pra você e muito menos pra ele ser estudado por uma doid...
IM: Ah, não vai entregar? Então eu acho que mamãe vai ter que ficar sabendo do desaparecimento do livro bizarro dela daquele quarto secreto!
AM: Arghh, ok, ok, mas quero ele de volta rápido, entendido? Não vou parar minha tradução nele por seus caprichos fúteis!
IM: Ótimo, pego com você durante o jantar!
Nem sei porque tinha pedido o livro... Estava claro que nem ia abrir ele, muito menos pedir ajuda à Lina, porque isso daria mais um problema pra cabeça dele, problema esse que era função da Anabel solucionar, mas consegui o que queria, deixei ela alarmada.
Subi correndo as escadas e cheguei ao dormitório. Amaralina não estava lá e fiz pedido a Abraim, todos os Deuses e cristais para que estivesse bem. Depois fui para o banheiro e tomei um banho. Qual foi meu horror quando saí do banho e deparei com a minha imagem do espelho? Meu cabelo estava muito, muito volumoso. O repicado novo não se adaptara e eu não estava acostumada com o seu tom castanho pardo e brusco. As mechas, nossa, como faziam diferença! E o meu rosto? Tinha um tom acinzentado, como se o creme não tivesse saído por completo. Fiz uma trança e saí correndo à Ala Hospitalar, precisava de algum remédio para meu cabelo!
IM: Madame Magáli, preciso de ajuda... Meu cabelo! A senhora por acaso não teria uma poção ou algo assim que possa o deixar liso?
ML: Ora, faça-me o favor... Montes de alunos chegando acidentados aqui toda hora e você preocupada com o seu cabelo?
IM: Mas Madame, ele está acidentado! Veja o estado dele...
Ela me olhou com tanta fúria e pediu pra me retirar que eu fiquei até assustada e estava pronta a sair quando a assistente dela, Marine, me chamou até o escritório.
MJ: Desculpe senhorita, ouvi o que disse à Madame Magáli. Ela anda tão ocupada com esse ataque e... Bom, mas de qualquer modo, acho que posso te ajudar!
IM: Pode? Como?
MJ: Eu passo uma poção, na verdade é uma mistura, no meu cabelo, e como pode ver ele fica liso!
IM: Eu preciso dessa poção! Qual o nome? Onde posso comprar?
MJ: Eu tenho um frasco aqui... Eu mesma que faço! – Ela abriu a gaveta e tirou um frasco com um líquido azul pérola de dentro.
IM: É confiável?
MJ: Sim, uma receita de família! Quando acabar, posso te passar a receita, é muito simples, até pra quem não se dá bem em poções!
IM: Muito obrigada! Merlin se lembrará disso!
Sai em disparada para o banheiro novamente e tratei de aplicar a tal mistura no cabelo. Era morno, apesar do frasco não aparentar. O cabelo se torceu e se esticou, e então, lá estava ele, liso, liso, muuito liso. Ta, estava liso até demais, mas antes assim do que o anterior! Quando chegasse minhas férias, daria um melhor trato nele no Salão da esquina da minha casa mesmo, porque na porta do Noélia Bartilotti não passo nunca mais!
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