Thursday, March 09, 2006

A caixa de Pandora


Das memórias de Ian Lucas Renoir Lafayette

BL: Anda Luke, já estamos atrasados.
IL: Calma, ainda nem peguei as meias!

Estávamos no dormitório do 6º ano, já atrasados para a aula de DCAT. Bernard estava extremamente impaciente, batendo com o dedo no relógio em seu pulso o tempo todo enquanto me esperava. Puxei as meias do fundo do malão e uma caixinha prateada saiu rolando pelo quarto. Bernard a parou com o pé e a apanhou do chão.

BL: O que é isso?
IL: Meu avô me deu quando eu estava voltando, me esqueci completamente dela.
BL: O que tem aqui dentro? – falou sacudindo a caixa.
IL: Não sei, não abri ainda. Nós descobrimos na aula, vamos!

Tomei a caixa da mão dele e descemos correndo para a sala. Sir Shaft impôs algumas novas regras em suas aulas desde os ataques em Paris e passamos a ter mais duelos, pouca teoria. Segundo ele mesmo, se nos depararmos com um comensal na rua, ele não vai nos desafiar para um quiz e muito menos nos acertar com uma torta na cara se errarmos a resposta. Dividimos-nos em duplas como sempre e passamos à aula inteira praticando o “estupefaça” e o “enervate”. Faltavam apenas 10 minutos para o sinal tocar quando Sir Shaft pediu que nos sentássemos e fizéssemos algumas anotações simples sobre os feitiços praticados hoje. Aproveitei a deixa para abrir a caixa e ver o que o vovô tinha me mandado, mas para minha surpresa, a tampa não saiu.

IL: Ta emperrada... Não vejo buraco de fechadura, não pode ter uma chave.
DC: O que é isso ai Luke?
BL: Presente do avô dele, mas não dá pra abrir.
ML: Se não dá, é porque não é pra abrir.
IL: E porque ele me daria uma caixa que não se pode abrir?
DC: Peso de papel?

A sineta tocou e descemos os jardins para a aula de Zoologia. O professor Pierre hoje tinha alguns macacos numa jaula, que pulavam e se penduravam nas barras agitados. Bom, ao menos eles pareciam macacos comuns, não posso afirmar nada porque não prestei atenção na matéria. Sentei encostado a uma arvore perto da bancada dele e passei todo o tempo tentando abrir aquela maldita caixa! Pisei nela, atirei pedras, bati na arvore, bati em uma pedra, mas nada, ela nem se abalava. Michel se juntou a mim na tentativa frustrada, mas também não fazia idéia do que poderia ter ali dentro. Ele sugeriu que eu escrevesse ao vovô perguntando e foi se juntar ao resto da turma para alimentar os tais macacos.

Cheguei pra aula de Mitologia já intrigado, continuando a não prestar atenção no que era dito pelo professor. Dessa vez não usávamos as togas, tivemos uma aula normal. O professor almofadinha tinha alguns objetos sobre o pilar na frente da classe e ia pegando-os enquanto explicava cada um deles. Bernard me deu um cutucão indicando o professor com a cabeça e parei para ouvir o que ele dizia.

FR: Deste mito ficou a expressão caixa de Pandora, que se usa em sentido figurado quando se quer dizer que alguma coisa, sob uma aparente inocência ou beleza, é na verdade uma fonte de calamidades.
IL: O que?
BL: Ouve isso...
FR: Abrir a Caixa de Pandora significa que uma ação pequena e bem-intencionada pode liberar uma avalanche de repercussões negativas...
IL: Ta de sacanagem comigo não é?
BL: Esses mitos são verdades, e se isso for uma espécie de caixa de pandora?
ML: O Bê tem razão, talvez não seja uma boa idéia abrir essa caixa...
IL: Não é só porque a expressão diz que é uma caixa que a coisa realmente é uma, é só uma maneira de falar.
BL: Mas ainda assim, deve ter alguma ligação...
DC: Acho que vocês estão loucos, andam prestando atenção demais nas aulas do François.
IL: Obrigado Nick, alguém sensato no grupo! Parem com essa besteira, abrir a caixinha não vai trazer desgraça pra ninguém.
MD: Vai trazer só pra você, que abriu...
IL: Até você Michel? Pensei que não acreditasse nessas bobagens?
MD: E não acredito, só estava brincando. Me da essa caixa aqui, acho que sei uma maneira de abri-la!

Assim que a aula terminou, Michel correu até o alto da torre sul do castelo e nós ficamos no jardim, embaixo dela. Ele se pendurou na janela e atirou a caixa lá de cima, com força. Enquanto caia, só conseguia pensar que ela se espatifaria no chão em mil pedaçinhos, talvez até quebrando seu conteúdo, mas estava enganado. A caixinha bateu no chão com um estrondo e afundou na grama, fazendo um buraco no formato dela. Enfiei a mão no buraco e tirei a caixa, intacta, sem um arranhão sequer. Balancei a cabeça negativamente para Michel e ele desceu espantado. Ok, agora estou começando a me assustar com isso!

BL: Eu to dizendo...
ML: Desiste Luke, não vale a pena.
IL: Mas agora eu estou curioso!
DC: Eu também! Será que se a gente soldar a caixa ela abre?
BL: Não, esqueçam isso! Luke, não abre essa caixa, por favor!
IL: Para com essa neurose Bernard, ta assustando a Marie! Vamos andando senão perdemos o almoço... Depois eu penso no que fazer.

Voltamos para o castelo e quando Dominique começou a questionar sobre nossos NOMs que se aproximavam cada vez mais, logo o assunto foi esquecido. Pelo menos por eles, pois eu estava começando a ficar intrigado com aquela caixa. E se Bernard e Marie tiverem razão? Mas se ela traria algum tipo de má sorte ou o que quer que seja, porque o vovô me mandaria ela? Será que foi por isso que ele me pediu que não deixasse mamãe vê-la comigo? Talvez eu escreva a ele perguntando, é melhor do que ficar criando essas teorias e suposições malucas!

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