Wednesday, January 10, 2007

There, and back again... [Parte I]

Do diário de Isa McCallister

Depois de assistirmos de camarote o náufrago do Poseidon II, unimos toda nossa criatividade para pensarmos em um meio de voltarmos pra casa. Pensamos em vassouras, chaves de portal, pó de flú em lareiras trouxas, tapete mágico, legiões de botes amarelos, avião, e corremos atrás de uma passagem de trem, mas a última hipótese foi pedir carona na beira da estrada, onde tudo aconteceu... Ou melhor: onde tudo o que faltava acontecer, aconteceu!

°°°

BM: Nunca pensei que fosse sugerir isso, mas porque não vamos de avião?

Bel perguntou incerta, mas nem cheguei a ter esperança. Nas últimas horas, estava tudo indo tão mal, que duvido que tivesse esperanças de voltar pra Paris de novo. Antes que algum deles se empolgasse inocentemente com essa possibilidade, decidi descartá-la.

IM: Impossível... A não ser que todos vocês tenham passaportes em mãos.

Eles me olharam torto, como se eu fosse um tipo de destruidora de sonhos, mas naquele momento, juro, só estava tentando ser realista, e quem sabe assim encontrar alguma válvula de escape. Bernard sugeriu o trem, e até pensei que podia dar certo, até...

- Lamento muito senhor, mas os trens para Paris foram cancelados.
IL: O que você quer dizer com cancelados?
- O último partiu há duas horas. Os trilhos para lá estão muito velhos, sofrerão alteração a partir de amanhã. Creio que em 20 dias, teremos outros trens para lá, se já quiserem deixar reservada alguma cabine especial...
DC: Se em 20 dias eu ainda não tiver em Paris, daqui não saio mais e tenho dito!

Eu já estava conformada de ligar para meu pai, ou para minha mãe. Se ela desse um jeito de aparatar, ótimo. Eu realmente tinha isso em mente, era meu último plano de fuga, quando uma mente brilhante disse...

- Vamos pegar carona! A estrada daqui a Paris deve ser bastante movimentada! Não é possível que não tenha alguém indo para Paris!

Com todas as idéias sendo vetadas, e todos exaustos de não pensarem em nada melhor, concordamos que a carona não poderia ser tão ruim... Céus, eu concordando que uma carona de beira de estrada para outro PAÍS não seria tão ruim assim? Onde eu estava com a cabeça? Eu estava esperando o quê? Pegar carona com um ônibus de luxo vazio? Bom, isso não importa agora! Não adianta chorar pela poção derramada. O fato é que juntamos nossas coisas e fomos para a beira de estrada pedir carona.

Não me lembro bem quantas horas ficamos sentados no encostamento esticando os braços sempre que víamos um farol, mas o fato é que depois de um longo tempo de espera, um carro parou. Um carro não, uma caminhonete. Foi como um daqueles momentos mágicos! Era uma daquelas caminhonetes antigas. Na cabine, só um rapaz, sorridente e simpático. Ele disse que estava indo para Paris ver a família, e que podíamos subir na carroceria.

Ta, não era um avião, nem um ônibus confortável... Na verdade, perdia de muito para o trem de Hogwarts, mas só a sensação de alívio de finalmente estarmos indo para casa, foi boa demais para me incomodar com luxo! Marie e eu nos esprememos na cabine com Clinton, o motorista, o resto foi na carroceria, com as malas.

Alias, me deixa fazer um aparte... Mesmo antes de entrar, não aprovei em nada o jeito que ele olhava para a Marie. Um olhar diferente, não de um conquistador, mas de um psicopata. Merlin, eu realmente fiquei com medo daquele olhar, fato que me fez comentar com o Samuel sobre isso...

IM: Não sei se devemos confiar nele! Ele está encarando a Marie de uma maneira obsessiva.
SB: Isa, você só precisa de um banho e dormir um pouco! Estamos todos cansados, e só o Clinton nos deu essa chance! O cara é legal!
IM: Samuca, eu conheço olhares assim... Já passei na frente de muitas construções trouxas cheias de operários. Eu realmente sei como eles encaram obsessivamente. Acho que é melhor, hm...
SB: Não temos outra opção melhor, temos? O jeito é confiar nele... E, ah, nem fala isso pro Ian! Você sabe, é a Marie... – Samuel riu e pulou na carroceria.

Um pouco contrariada, entrei depois da Marie na cabine, e Clinton seguiu estrada...

°°°

Estava escurecendo quando ouvimos um barulho do motor. O carro foi perdendo a velocidade gradativamente, obrigando Clinton a entrar no encostamento novamente. A caminhonete parou, e uma fumaça começou a sair do capô.

OV: Ei, Isa, o que aconteceu? – Viera gritou da carroceria. Virei pra trás balançando o ombro. Clinton falou um palavrão baixo e deu um soco no volante.
- Acho que o motor fundiu.
ML: E o que quer dizer isso, exatamente?
- Quer dizer que vamos ter que ficar parados aqui um tempo, até eu conseguir arrumar. Ei, pessoal, melhor descerem da carroceria e esticarem as pernas, pode demorar!

Bernard foi o primeiro a descer e ajudar a Bel. Viera fez o mesmo com a Manu. Samuel, Ian e Dominique saltaram sem cerimônias. Marie e eu nos entreolhamos em dúvida, mas achamos melhor descermos também, enquanto Clinton examinava o motor com uma vareta.

A conversa estava animada, acho que estávamos empolgados de estarmos quase na metade do caminho para Paris, que nem estávamos nos importando mais de ficarmos parados um tempo. A conversa estava tão divertida e alta, que nem mesmo notamos o que aconteceu em seguida a tempo de evitar!

Clinton fechou o motor, entrou na cabine, ligou a caminhonete, e Ian só deu um grito para ele esperar quando ele já tinha alcançado a estrada e acabado de sumir na curva.
Ficamos parados em choque encarando a curva vazia. O “cara legal” tinha acabado de nos assaltar sutilmente e ido embora com todas as nossas coisas! Com todas as minhas malas!

°°°

- Mas o que vocês estão me contando não faz sentido algum! Deixa ver se entendi direito... Vocês vieram de barco, certo?
BL: Certo, era o barco da minha família. Mas na festa de Reveillon, acidentalmente, com fogos, ele naufragou.
- Então, vocês não tendo mais como voltar para Paris decidiram pedir carona. Certo?
IL: Certo, certo! – Ian falou cansado do lenga-lenga.
- E foram assaltados pelo homem que deu carona para vocês?
IM: É isso aí! Quer que eu desenhe? – falei irritada. O delegado me olhou cético e depois, voltou sua atenção para o pedaço de papel que Dominique o entregara no começo da denúncia, com a placa da caminhonete. – Bom, suponho que eu não possa fazer muita coisa por vocês.
DC: E você narrou nossa história quinze vezes a troco de nada?
- Posso mandar a polícia rodoviária barrar ele em algum ponto à frente, caso ele continue a estrada...
OV: Já é alguma coisa.
- E entraremos em contato com os pais de vocês, então, mandaremos vocês pra casa com viaturas da polícia...
SB, IL, BL: NÃO!

É, foi mais ou menos assim que a “viagem perfeita” terminou...

((continua))

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