- SAMUEL STARDUST, você desobedeceu a minha ordem de permanecer nas festas de fim de ano no castelo para ir nessa viagem irresponsável??? É muito bom para a sua saúde, que você não me volte da Alemanha casado, e nem pai de algum bastardo, estamos entendidos? E ouse me pedir ajuda de qualquer tipo, para bancar essa viagem! Ouse! Já que foi sem minha permissão, volte por sua conta, e se mantenha, igualmente... Conversaremos assim que o ano letivo recomeçar, esteja avisado!
O berrador se desfez na minha mão em mil pedacinhos, mas já não me importava mais, estávamos indo para a Alemanha e nossa viagem sairia perfeita!!!
°°°
BL: Eu nunca dormi com uma garota!
A afirmação de Bernard caiu como uma bomba de bosta no centro do círculo. O silêncio era quase sepulcral, cortado apenas pela música que vinha do fundo do barco, onde as meninas dançavam e cantavam felizes. Viera, quebrando a falta de assunto e ação, levantou o copo e deu um longo gole, sorrindo depois e lançando um olhar para a Manuela. Ian, sorrindo também, deu um gole no seu copo. Olhei para Dominique esperando uma reação, mas ele mantinha os olhos fixos no copo, quase ameaçadoramente, e eu olhei para o meu próprio em dúvida.
Para ser sincero, eu já tinha me perguntado isso algumas vezes, mas nunca tinha conseguido uma resposta exata. A noite no México, que me casei por engano, e acordei do lado da Letícia quase sem roupa, ela com o vestido do avesso, e nós dois abraçados, realmente muito próximos um do outro. Mas isso indicava uma certeza? Nenhum dos dois se lembrava!
Depois desse turbilhão de lembranças me invadindo em segundos, decidi beber, porque ia de acordo com o que eu acreditava ter de fato acontecido...
°°°
Estávamos sentados em um pub de Berlim e a primeira rodada de chopp chegou à mesa. O copo era imenso! Duvidava que alguém conseguisse beber mais do que um daquele sem sair tombado. Isa estava ao meu lado, e com as duas mãos, agarrou o copo e virou quase metade de um gole só. Olhei chocado pra ela, que virou pra me olhar, passando levemente a língua na boca pra limpar a espuma.
SB: Isa, você está bem?
IM: Uhum...
Tomei um gole do meu copo, e Isa virou a outra metade. Ela se levantou de repente e antes que pudesse começar a andar, caiu sentada na cadeira, zonza.
SB: Ei, quantos copos você tomou hoje?
IM: Três... Eu to bem Samuca, é só uma tonteira...
Ela se levantou de novo e saiu andando torta pelo mar de pessoas. Olhei ao redor e ninguém parecia estar reparando no que estava acontecendo, então, levantei e sai atrás dela. Vi-a sair pra fora do bar e a segui... Ela foi subindo a rua, andando quase sem equilíbrio algum, até parar em uma praça e se jogar no primeiro banco, olhando a fonte de água em frente. Recolheu um pouco de neve com as mãos e fez uma bola, lançando pra dentro da água. Devagar, cheguei perto dela e sentei ao lado, em silêncio, enquanto ela lançava mais uma bola de neve na fonte...
IM: Eu já disse que estou bem, não disse? Você não precisava ter me seguido, eu já ia voltar...
SB: Não sei do que você está falando. Não estava te seguindo não, sabe? Estava louco de vontade de vir aqui lançar umas bolas de neve na fonte! Encontrar você foi acidente!
Disse, recolhendo um pouco de neve e formando uma bola grande, lançando em cheio no lago. Ela parou de enrolar mais uma bola e me olhou, começando a rir, mas com uma expressão desanimada.
SB: Vai parar de tentar congelar a fonte e me contar o que está acontecendo com você?
IM: É, acho que sim... Todo bêbado precisa de um poste velho pra conversar mesmo. Já que meu poste é você, não vejo outra saída. – ela lançou a bola na fonte e suspirou. – Eu acho que tenho algum problema sério. Acho que a Anabel tem razão...
SB: Hum, razão sobre?
IM: Sobre mim! Sobre o meu jeito de ser! Eu sempre fui assim, desde os 8 anos de idade, quando ganhei o concurso de miss primavera infantil, na festa de independência dos Estados Unidos!
SB: Não sabia que você era o tipo de bêbada que entrava na sessão nostalgia... Mas, continua, ainda não captei o que você está querendo dizer...
IM: E então, eu era fascinada com isso. Compras, moda, beleza, saúde, estética, estilo... Você me conhece, não é? Eu adoro fazer compras, adoro mudar o cabelo! Mas eu não sou daquele tipo mesquinha, fresca! Sou?
SB: Quem mata um baratão daquele sozinha, fresca? Ah, não é mesmo!
IM: Você está levando na brincadeira, não é? – quase chorando.
Olhei para ela sério, e segurei o ombro dela forte, pra fazê-la olhar pra mim.
SB: Presta atenção, Isa. Cada um tem seu jeito de ser... Se você gosta de comprar e de estar sempre no estilo, é o seu jeito. Você não é mesquinha. Você não é fresca. Nunca vi uma menina jogar quadribol como você! Você é linda, por dentro, por fora, em todos os aspectos!
IM: Então porque nenhum garoto gosta de mim, como deveria? Quando ando com homem, são amigos, e só amigos! Até a Anabel, que mal sabe combinar um par de meias, e tinha um amor platônico por um fantasma, até ela está com alguém que gosta dela!
SB: E você já parou para reparar no Bernard? Ele é exatamente perfeito para a Bel! Ele é tudo que ela gosta, e tudo que falta nela! Entende? Eu também estou solteiro, eu também não achei alguém perfeito pra mim! Mas quando eu achar, essa menina vai ter que ser muito paciente pra aturar minha teimosia, minhas brincadeiras idiotas, e todos os meus outros defeitos, e sabe por quê? Porque a gente não deve mudar nosso jeito de ser pra conquistar ninguém, porque isso fica falso!
Ela olhou pro chão quase a beira de lágrimas, e então, começou a rir de novo, dessa vez, descontroladamente. Eu fiquei sem entender nada, só observando.
IM: Não vou contar isso pra ninguém ta? Já era a sua reputação! Você está falando como um terapeuta!
Comecei a rir e dei um encostão nela, olhando para a praça de novo.
IM: Obrigada... Acho que agora eu entendi! E também, se aquela idiota conseguiu...
SB: De que idiota estamos falando? Trocando gentilezas com a Bel?
IM: Não, a Bel é um doce! Estamos falando da... – ela engoliu em seco - Nicole.
SB: Hum, Nicole, filha da Milenna, namorada do Rubens?
IM: É...
SB: E porque a frase desse jeito? “Se até ela...”?
Ela ficou séria de novo, e tudo ficou claro pra mim.
SB: Isa, você gosta do Rubens??? – ela não respondeu, e resolvi me apropriar do ditado “quem cala, consente”.
IM: Eu vou desistir, eu tenho que fazer isso... Quem sabe seja platônico como o da Bel pelo Nick quase-sem-cabeça...
SB: Eu não sei o que dizer. Não esperava isso.
Ficamos em silêncio de novo e ela levantou, me olhando.
IM: Melhor voltarmos, ou daqui a pouco começam a sentir nossa falta e acionam a polícia do país inteiro. – disse rindo, fazendo referência ao “caso Dominique”. Levantei ainda em choque e segui-a até a frente do pub em silêncio. – Obrigada, de verdade... Por ter me escutado, e falado todas aquelas coisas, e não ter me deixado sozinha!
SB: Isa, a minha viagem pro México me ensinou muitas coisas! Uma delas, e a mais importante é: nunca deixe um bêbado andar sozinho! A última e única vez que fiz isso, acabei me casando com uma estranha! – ela riu alto, e sem falarmos mais nada, entramos e nos juntamos aos outros que já entornavam mais copadas de cerveja alemã.
°°°
IL: Ótimo, realmente ótimo! O QUE NÓS VAMOS FAZER AGORA, ALGUÉM PODE ME DAR UMA LUZ? – Ian estava com a cara vermelha e bufava.
BL: Antes de tudo? Vamos nos acalmar e encarar a situação como ela é...
IM: A única situação que eu tenho para encarar é que afundamos um barco, pedimos carona, fomos assaltados, roubaram todas as minhas roupas e o meu dinheiro, e o de todos nós, e que estamos no meio de uma rodovia alemã sem lenço e sem documento! Entendi bem? – Isa falou com a voz tremendo. Não sei se estava tremendo de raiva, de tristeza, ou de desespero.
SB: Acho que devíamos procurar um posto policial e dar queixa do assalto.
IL: Tudo o que eu mais preciso nesse momento é ir parar em uma delegacia trouxa!
SB: Se você tiver uma idéia melhor do que essa, fale, porque estou congelando de frio e essa rodovia está praticamente deserta...
Ian me olhou atravessado, mas eu realmente estava tentando manter o controle. Viera e Manuela estavam abraçados tentando se esquentar. Bernard estava sentando no chão com a Bel em silêncio. Isa andava de um lado para o outro enquanto Marie e Dominique tentavam fazê-la ficar calma. Ian olhou ao redor, e de volta para mim, e concordou com a cabeça.
IL: Espero que você saiba aonde tem um posto policial...
SB: Passamos por um, dez minutos antes de sermos desfalcados! Vamos andando...
Depois de uma extrema caminhada, finalmente avistamos o posto policial. Só tinha um único guarda na cabine, e batemos no vidro para ele abrir e nos deixar falar. De início, ele olhou desconfiado, até com um pouco de medo, mas depois de percorrer o olhar por nossos rostos, abriu o vidro confuso.
- Pois não?
Eu e Ian começamos a contar a história toda em detalhes, e o policial fazia notas em um bloco de folhas. Foi o começo de um longo dia que vinha pela frente...
***
NA: Esse texto NÃO é continuação do texto da Isabel! O recorte final se "encaixa" com o dela, mas só!