Do diário de Isa McCallister
AM: Acredite você ou não Isabel, eu tenho coisas mais interessantes pra fazer da minha vida do que pregar peças nas pessoas, ainda mais com uma coisa tão séria.
AM: Que a minha família, quer dizer, nossa família é uma droga! Olha, lê isso...
O Grimoire, como você bem sabe, é o livro da família Damulakis desde o surgimento. No tempo em que foi criado, muito pouco se conhecia da magia, dos feitiços. Nossos antepassados escreveram nele por décadas, séculos, milênios talvez... Foi passando de geração em geração, e então, chegou até mim, como uma carga a ser passada eternamente, e o peso dela é mais do que eu poderia suportar.
Sinto que envergonhei e degradei a tradição quando resolvi deixar de escrever nessas páginas amaldiçoadas, e mais ainda, quando resolvi escondê-lo, ignorá-lo, por medo de te passar algo tão horrível.
Diz a tradição que o livro deve ser passado aos herdeiros imediatos assim que se tornassem maiores de idade. O ganhei no dia do meu aniversário de 17 anos. Estava empolgada, me sentia grandiosa e satisfeita em fazer parte daquele mundo novo. Li essas páginas com tanta empolgação, que quando descobri o que estava por trás, levei o maior tombo que alguém poderia imaginar um dia.
Não conseguia acreditar, eu estava hipnotizada por um mundo mágico, e descobrir que tudo não passava de um beco imundo, me fez saltar da integridade para a solidão. Acho que você deve estar se sentindo assim...
Como você deve ter lido, relido e confirmado, a família Damulakis não é tão confiável assim como imaginávamos não é mesmo? Somos responsáveis pela criação e aprendizado de todas as piores maldições que os bruxos até hoje viram. Fomos aliados das trevas, e pelo jeito, está em nosso sangue continuar desse lado. As maldições imperdoáveis nada passam de uma brincadeira com varinhas que alguém à muito tempo atrás descobriu, achou graça e quis compartilhar.
As maldições imperdoáveis foram feitas no nosso passado, vivem no presente de todos, e acabam com o futuro de muitos.
Diante dessa terrível realidade, como eu poderia continuar? Como eu iria te contar que a família a qual você pertence é lendária? Eu não tive coragem. Acho que um dos principais motivos de ter me tornado auror foi constatar que precisava combater os fantasmas do meu passado pra ajudar a melhorar a realidade. Quis te isolar de tudo, te dar uma visão boa de uma família. Me casei com um trouxa, o melhor que já conheci. Compartilhei com ele todas as melhores e piores coisas que eu vivi, e ele me deu apoio em tudo que precisei. Então, fiquei sabendo que estava grávida de gêmeas. Seria maravilhoso ter gêmeas, em outras circunstâncias...
Quando sua avó soube que havia voltado formada na academia de aurores, casada com um trouxa, e grávida de gêmeas mestiças, fui expulsa de casa. Seu pai e eu agüentamos a barra juntos, e quando vocês nasceram, bem, estávamos tão felizes... Me sentia completa novamente.
Então, de repente, as coisas começaram a mudar. Por causa da sua avó e da minha carga, eu e seu pai tivemos alguns problemas, e eles foram aumentando. Eu sabia que era algum tipo de maldição desse livro, algo por eu não ter completado a tradição de ter filhos “puros” para repassar. Acabei me separando dele, mesmo o amando com toda a intensidade de antes. Tive medo de algo ruim acontecer e ele pagar por meus erros. Sua irmã foi morar com ele, e eu voltei, para a minha casa. Logo sua avó morreu, e você começou a crescer.
Bel, me desculpa te esconder tudo sobre o seu passado, e tudo sobre o passado de todos nós. Eu me sinto fraca, incompetente. A única coisa que consegui escrever nessas páginas, foi a minha história. A história de como finalizei uma tradição milenar por não conseguir ser cruel, por ter tido a capacidade de amar.
Só tenho uns pedidos a fazer... Antes de escolher o que ser da vida, escolha algo que vá te deixar feliz por completo! Você não faz mais parte desse livro, e não terá de escrever nada nele. Sua irmã e seu pai moram
AM: É...
IM: Bem, não vou mentir que estou perplexa de saber que até hoje os comensais da morte usam-se das maldições que um dos nossos antepassados criou, mas admito que agora me sinto mais tranqüila em saber que pelo menos meu pai não se engana quando me diz que nossa mãe é a melhor bruxa que ele um dia conheceu...
IM: Desculpas por quê?
AM: Por ter julgado você, por ter deixado claro que me achava superior só por ter sido criada dentro do mundo bruxo. Por ter julgado nosso pai, e negado o sobrenome. Me sinto perdida. Não estou com raiva da minha mãe, muito pelo contrário! Ao descobrir que ela não quis fazer parte desse passado sujo, eu a admirei ainda mais, mas fico triste em saber que poderíamos ter sido uma família feliz...
IM: Vai, eu converso com meu pai... Conto tudo que aconteceu.
AM: Ok então, vou de flú!
IM: Você acha que eles ainda se amam?
IM: Será que eles voltariam a ficar juntos?
AM: Como?
IM: Bem, agora que ela não tem que esconder mais nada pra proteger ninguém aqui... Não foi esse o motivo?
AM: Não sei... Você quer que façamos eles ficarem juntos de novo?
IM: Por enquanto eu só quero que tudo fique bem, mas se eles se amam e nada impede eles de ficarem juntos, não seria tão má idéia.
No comments:
Post a Comment