Thursday, August 03, 2006

Acertando as contas com o papai

Das memórias de Gabriel Graham Storm

Era o penúltimo dia de férias e estávamos todos no Beco Diagonal comprando o material novo. Ty e Miyako voltaram a Londres para passar a ultima semana e andamos fazendo planos para o novo ano letivo. Junto com minha lista de livros veio um distintivo com um M no meio, eu agora era monitor da Sapientai, então meus amigos já pensavam nos benefícios que isso traria. Depois de abastecer os bolsos com porcarias para o ano todo na loja de logros dos gêmeos Weasley meu pai veio nos buscar, deixando cada um em sua casa. Como minha mãe estava de plantão no St. Mungus e tio Scott a serviço da ordem, acabei indo com ele e Gina para Godric’s Hollow.

- Prometo não demorar. Só preciso resolver algumas coisas com Quim e já vamos embora. – ele falou quando entramos
- Tudo bem. Não estou com pressa...
- Vem Biel, me ajuda a terminar de arrumar minha mala então. Amanha já é 1º de Setembro e minhas coisas ainda estão espalhadas! – Gina falou

Subi com ela e a ajudei a empacotar as coisas enquanto conversávamos. Já havíamos terminado e resolvemos esperar na cozinha. Quando estávamos descendo, passamos por um quarto que estava sempre lacrado, ninguém nunca entrava lá. Desde que minhas férias começaram, eu me coçava para saber o que tinha ali, mas nunca consegui perguntar. Sem pestanejar, girei a maçaneta e passei por baixo da fita que o isolava, entrando. Gina veio atrás de mim curiosa.

Era o quarto que eu havia visto no meu 1º dia aqui, quando ainda não estava fechado. Tinha um berço velho, já um pouco corroído, cortinas rasgadas e marcas de luta nas paredes. Até hoje não sabia quem morava ali, mas Gina parecia saber e começou a falar, a voz embargada.

- Foi aqui que você-sabe-quem matou a mãe do Harry e perdeu os poderes...
- O que? Está brincando!
- Não... Essa casa era dos pais dele e agora é dele. Estava fechada desde que os Potter foram assassinados.
- Huum, então é por isso que ele anda pelos cômodos com aquele ar autoritário?
- Acredito que sim... Tudo aqui pertence a ele.
- Não entendo o que você viu no Harry... Ele é tão idiota!
- Bom, nem eu, mas não tenho controle sobre isso. Anda, vamos sair daqui, esse quarto me dá arrepios! – e me puxou pela mão
- O que estão fazendo aí?

Uma voz conhecida ecoou no quarto e virei assustado para a porta. Ainda estava hipnotizado pensando na ultima vez que alguém dormiu aqui e não percebi que ele havia chegado. Harry estava parado na porta com uma cara séria, de braços cruzados, parecendo incomodado por estarmos dentro do quarto que foi dele quando bebê. Ou isso, ou ele estava incomodado do ver Gina de mãos dadas comigo. E ela parecendo pensar o mesmo que eu, não as soltou e continuou parada.

- Quem lhes deu permissão de entrar aqui? Não viram o lacre na porta?
- Nem reparei nele, onde está? – falei debochado
- Façam o favor de sair do meu quarto, não quero ninguém fuxicando aqui!
- Não estávamos fuxicando, só olhando! – Gina falou
- Sei muito bem o que estava fazendo, dada a sua fama...
- Olha como você fala dela, seu otário! – gritei
- Falo com ela do jeito que quiser!
- Não fala não, pensa que ela é o que?
- Gina, fala pro seu namoradinho ficar quieto...
- Deixe pra lá Gabriel, vamos embora.
- Não! Quem ele pensa que é pra falar com você assim?
- Olha aqui garoto, não pense que só porque você é filho do professor Lupin que eu não te azaro!
- E não pense você que só porque ele te protege, eu não lhe acerto um soco!
- HÁ! Essa eu quero ver! – falou rindo – Acho que ninguém lhe avisou que...

Mas não esperei ele terminar a frase. Juntei todas as minhas forças e acertei o pé em cheio na canela dele, fazendo Harry cair no chão gritando. Com os olhos lacrimejando ele sacou a varinha e berrou qualquer coisa na minha direção, mas me abaixei e o feitiço estourou o lustre no corredor. Gina começou a gritar por socorro e aproveitei que ele ainda estava caído para chutar a mão que segurava a varinha, arremessando ela pro outro lado do quarto. Ele agarrou minhas pernas e nos embolamos no chão, podia ver os dedos vermelhos que havia atingido com o chute. Mas antes que começássemos a desferir socos, senti uma mão me agarrando por trás e me segurando com força. Era meu pai, que aparentemente veio correndo com Quim atraídos pela gritaria de Gina. Eu me debatia tentando me soltar e via que Harry também lutava para se libertar de Quim, mas ele era imensamente mais forte que ele e mal fazia esforço para segura-lo.

- O que deu em vocês? Por que estão agindo feito bichos? – Quim falava
- Foi ele quem começou me chutando! – Harry me acusou
- Por que fez isso Gabriel? Você não é assim! – meu pai falou me segurando
- Você mal me conhece, como pode saber como sou? – berrei revoltado, me soltando dos braços dele.
- Conheço você sim! Ei, aonde você vai? Volta aqui!
- Você não manda em mim!

Sai do quarto apressado sem olhar para trás. Não sabia por que havia falado com ele daquele jeito estúpido, ele não tinha culpa, mas estava com raiva e acabei descontando na pessoa errada. Meu desafeto com Harry vem desde a época que ainda estudava em Hogwarts, nunca fui com a cara dele e ele também nunca foi com a minha, mas nunca sequer discutimos já que mal nos falávamos. Só que hoje acabei não me segurando e exagerei. Gina veio atrás de mim quando desci as escadas correndo e entrou no quarto onde eu estava, mas meu pai veio logo em seguida e pediu que ela saísse. Mesmo sabendo que ele não tinha culpa, continuei a descontar nele a raiva.

- Veio ouvir minha versão da historia ou só comunicar que já acreditou no que o pequeno príncipe contou?
- Do que você esta falando?
- Ah todo mundo sabe que o idiota do Harry é o seu protegido, que você acredita em tudo que ele diz!
- Eu não o protejo de nada e... Gabriel, você esta com ciúmes dele?
- Ciúmes? Claro que não, de onde tirou essa idéia ridícula? Por que teria ciúmes de você?
- Bom, talvez porque eu seja seu pai e você esta imaginando que se alguém tem que ser meu protegido agora, esse alguém é você...
- Não é nada disso...

A quem eu estava querendo enganar? Era exatamente isso! Por mais que eu negasse, estava com ciúmes da ligação entre ele e o Harry, queria que ele tivesse brigado com ele lá em cima me defendendo, por mais que eu estivesse errado. Mas sabia que ele não faria isso, ainda mais sem saber o que realmente aconteceu.

- Gabriel, a partir do momento em que soube que era seu pai, você passou a ser prioridade na minha vida. Não quero que você duvide disso nunca mais. E não me importo que você não goste do Harry, tudo bem, é um direito seu.
- Não vai perguntar por que eu bati nele?
- Não, não quero saber os motivos.

Ele me encarava sério e abaixei a cabeça, me sentindo um idiota. Mesmo depois de ter o ouvido dizer que sempre daria prioridade a mim, eu ainda não conseguia evitar sentir uma pontada de ciúmes. Ele levantou e foi até uma escrivaninha, puxando um pedaço de pergaminho e uma pena da gaveta e anotando alguma coisa. Quando terminou, sentou ao meu lado e me entregou.

- Caso você ainda tenha alguma duvida, que isso fique como prova...
- O que é? – falei ao ver alguns rabiscos no pergaminho
- São os feitiços que usamos para fazer o mapa do maroto. Não era isso que você tanto queria?
- Mas você disse que não ia me ensinar.
- Sim, disse. Mas quero mostrar que cofio em você e sei que não irá usar isso para fazer bobagens. Aí ensina o passo-a-passo, se segui-lo não tem erro. Só não deixe sua mãe saber disso, por favor. Ela não vai gostar nem um pouco.
- Não vou contar... Obrigada!
- Se tiver alguma duvida sobre os feitiços é só me escrever. – falou se levantando para sair
- Er... Pai? Desculpa por ter dito aquelas coisas...

Ele parou a meio caminho da porta e me encarou. Foi então que eu percebi que era a primeira vez que o chamava de pai. Mesmo tendo sempre dito para os outros, nunca havia falado na frente dele. E ele também percebeu, pois sorriu de leve e voltou para onde eu estava.

- Vamos pra casa, filho. Já terminei o que vim fazer aqui...

Saímos da sede da Ordem e voltamos para casa em Londres, foi a ultima vez que pisei Godric’s Hollow antes de voltar para Beauxbatons. Naquele tarde nós conversamos de verdade pela primeira vez. Eu falei da minha vida até ali e ele me falou da dele, falamos de escola e quadribol, ele me ensinou a executar os feitiços do mapa, me ajudou a arrumar o resto da mala, assistimos filmes comendo pipoca e deixamos a cozinha do tio Scott bagunçada, compartilhamos historias... E quer saber? Eu me senti o garoto mais feliz do mundo...

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