Anotações de Ty McGregor
Minha mãe acabou descobrindo nossa aventura numa boate trouxa, e como previsto ficou brava. Por algum milagre ela não nos pôs de castigo, mas mandou meu pai ter uma daquelas conversas de "homem para homem" comigo e meu primo. Meu pai disse à ela que já havia tido esta conversa comigo, há um bom tempo, não seria necessário, mas ela insistiu que ou ele reforçava a conversa ou ela o faria.E lá fomos nós três conversar sobre "os fatos da vida". Confesso que só não dormi, porque a expressão do Riven ao fazer algumas perguntas óbvias, era muito engraçada.
A irmã do Riven, Ariel, conseguiu vir nos visitar. Ela havia aproveitado uma passagem dos Duendeiros por Londres para um show e veio jantar em casa, junto com o namorado, que era vocalista da banda. Ela trabalhava para a banda como assessora de imprensa, e por conta disso, viajava o mundo inteiro com eles. Meu pai resolveu bancar o tio ciumento e encheu o rapaz de perguntas, olhava de cara amarrada para o coitado e fazia ameaças. Riven e eu fazíamos cara feia para apoiá-lo.
- " se você fizer algum mal para nossa Ariel, o mundo vai ser pequeno demais para você se esconder de nós..." OU "Acho que métodos como cortar fora uma mão boba, ou outra coisa acalma namorados afoitos..."
-TIO! – gritou Ariel envergonhada e minha mãe começou a rir. Papai que já havia feito o Kevin engasgar apreensivo, riu e pediu desculpas pelas coisas ditas. O resto da noite foi muito animado, eu até consegui autógrafos para mandar para a Luna junto com uma camiseta da banda. E Kevin adorou meus pais, especialmente depois que o velho contou que viu o último show dos Beatles.
Riven e Desireé havia se entendido antes dele voltar para a Escócia, e por conta disso, eu havia começado a sair sozinho pros lugares, sem meus pais saberem, não ia ficar de vela não é?
Um dia voltei para casa, e para não ser percebido entrei pelos fundos. Ouvi o som ligado e fui até a sala ver quem ouvia aquela música melosa. Pelo que eu sabia meu pai estava no Ministério trouxa e minha mãe devia estar dormindo, pois havia passado a noite trabalhando para a Ordem, mas eram pais na sala. Não costumava ficar observando-os quando estavam sozinhos, mas desta vez fiquei parado onde estava. Acho que mamãe estava com uma das crises de insônia, notava-se o cansaço no rosto dela. Vi quando meu pai a pegou no colo e começou a dançar com ela, bem devagar, sussurrando palavras em seu ouvido. Dava pra sentir o quanto eles se amavam. Fui para meu quarto começar a arrumar minhas coisas, faltavam dois dias para voltar à escola, pois Gabriel e Miyako vieram a Londres e fomos juntos comprar o material no Beco Diagonal. Meu amigo agora era monitor, e eu havia ficado feliz por ele. Além de ele merecer, iria facilitar nossa busca pelas passagens secretas do castelo para a confecção do mapa. E claro que havia outras novidades: tia Louise havia se acertado com o pai do Gabriel, (o lobo-pai voltou á matilha.) Gabriel estava tão feliz que nem me cutucou quando uivei para zoar com ele. E meu padrinho Sergei após anos apaixonado, pediu tia Yulli em casamento. Miyako, dizia toda feliz que iria ganhar um pai lindo de morrer. Garotas...
Tudo estava nos eixos, e nada poderia estragar isso.
....
- Ty aonde você vai agora?
- Preciso ir até o centro rapidinho mãe.
- Mas seu pai logo vai chegar para te levarmos até a escola.
- Volto logo. Não se preocupe. - joguei um beijo e sai rápido para pegar o ônibus para ir ao centro da cidade. Havia encomendado uma cera especial para passar na minha vassoura e como o artigo era bom, fui comprar uns potes para o Gabriel e a Miyako. Na volta resolvi cortar caminho passei por um beco, perto de uma joalheria. Nunca fui muito ligado neste tipo de loja, mas um movimento chamou minha atenção. Olhei e vi meu pai. Enchi o pulmão de ar para chamá-lo quando vi uma garota com ele. Arregalei o olho quando ele colocou a mão sobre a dela. Ela era bem jovem, devia ter mais ou menos a idade da Ariel. A vendedora se aproximou trazendo algumas peças, vi quando meu pai colocou um colar em volta do pescoço da garota, e ela o abraçou. Fiquei tão nauseado com o que havia presenciado que passei mal. Voltei para casa e acabei contando tudo para mamãe. O que mais doeu em mim foi ver a dor estampada nos olhos dela. Quando meu pai chegou, óbvio que negou, disse que eu havia entendido errado, cheguei a ficar em dúvida se havia agido certo em contar, pois eu mesmo não acreditava no que tinha visto. Claro que eu via o quanto ela se esforçava para não chorar na minha frente e isso aumentava a raiva que eu sentia dele.
- Ele não podia fazer isso com ela... Com a gente. Eu... Odeio meu pai. - disse alto demais e tio Logan ouviu.
- Não diga isso nem brincando Ty. Ele sempre vai ser o seu pai, e isso não vai mudar.
- Gostaria que mudasse... Ou que eu não tivesse contado a ela. Porque eu não o confrontei no lugar dela? Droga... Não deveria ter voltado para a escola... - disse frustrado, enquanto olhava para o ex-namorado dos tempos de escola da minha mãe.
- Numa crise como esta, eles precisam de espaço Ty. Nem sempre as palavras trocadas serão agradáveis de ouvir, e sua mãe queria te poupar deste tipo de coisa, isto é um assunto de casal e não de pais e filhos.
- Tenho medo que eles briguem e as coisas saiam de controle. Nunca houve uma coisa séria assim entre eles... – murmurei.
- Sua mãe sabe se defender, e seu pai, apesar do que houve, nunca a machucaria fisicamente. Siga sua vida e logo seus pais falarão com você sobre o que decidirem. Eles o amam muito, não se esqueça disso, e vão resolver esta situação da melhor maneira possível. (ele pensou um tempo e disse) - Procure não julgá-lo Ty, seu pai é um ser humano, e comete erros.
Conversamos por mais um tempo e depois disso ele foi embora, me deixando na escola, esperando por meus amigos. Agora entendo porque apesar dos ciúmes do tio Logan, meu pai nunca conseguiu expulsá-lo da nossa vida. Ele é um bom homem e a prioridade dele sempre vai ser a minha mãe, e por isto ele tem a minha amizade.
Sempre achei que meus pais fossem envelhecer juntos, que o amor deles seria pra sempre e eu achei que um dia eu teria isto também. Vejo que tudo isto é mentira, um conto de fadas que a gente ouve para dormir. Só que quando você acorda, descobre que na vida real nem sempre temos finais felizes.
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