Por Ian Lucas Renoir Lafayette
Estava cumprindo detenção por brigar com Antoine no meio da aula de Poções e limpava a sala de troféus da escola, já tarde da noite. A verdade era que eu poderia ter terminado isso há horas atrás, mas estava levando mais tempo do que o necessário para polir cada troféu e esfregar o chão. Não estava com sono, não tinha dever para fazer e não sentia a menor vontade de voltar para o dormitório. Só preferia passar o tempo fora dele vagando a toa pelos corredores do que com um esfregão na mão.
Olhei no relógio e já era quase meia noite. Acho que podia parar de enrolar e ir dormir, em alguns minutos Gerard apareceria na porta querendo saber se havia sido engolido pelo balde de água suja. Peguei minhas coisas no fundo da sala e quando virei, deixei a mochila cair com o susto que levei. Parado bem na minha frente, bloqueando a passagem, estava ele. O lobo. Era um aluno, tinha certeza disso. Ele era da minha altura, tínhamos o mesmo porte físico. Ameacei correr e ele se mexeu, indicando que não me deixaria passar. Só então que percebi que ele segurava em uma das mãos o mesmo punhal apreendido pela diretora.
Eu não tinha muita escolha. Se ficasse parado ele me matava e se corresse, ele também poderia me matar. Mas correndo ao menos teria uma chance de escapar. Fiz como quem não ia resistir e quando ele se aproximou, joguei meu corpo contra o dele e corri para fora da sala, aproveitando que o baque fez ele cair. Mas ele logo se levantou e veio atrás de mim pelos corredores. Eu ia derrubando tudo que tinha no meu caminho na esperança dele tropeçar ou se machucar, e assim o retardar um pouco para que eu tivesse chance de chegar até a Sapientai. Mas nada o atingia e ninguém parecia ouvir o barulho nos corredores, pois nem sequer um professor apareceu para me socorrer.
Já estávamos no 5ª andar quando ele me alcançou e nos embolamos no chão. Tentei tirar sua máscara, mas ele devia ter pensado nesse detalhe antes e a selou no rosto com um feitiço, de maneira que eu não consegui arrancá-la. Consegui chutar o punhal para longe e com isso acertei seus dedos. Sabia que havia o machucado, pois ele saiu de cima de mim quando o punhal voou e apertou a mão que recebeu o chute com a outra livre, gritando de dor. Aproveitei o momento para correr e dessa vez ele não conseguiu me alcançar. Em poucos segundos já estava na entrada da Sapientai e entrei disparado até o dormitório, fechando a porta com violência quando passei por ela. Bernard não estava no quarto, mas como ele havia dito que ia encontrar a Bel essa noite não dei importância e afundei na cama, não pregando os olhos por um longo tempo.
ººº
Levantei cedo na manha seguinte, mal consegui dormir a noite. O lobo era um aluno, agora estava obvio, e ele podia ser de qualquer casa, até mesmo da Sapientai. Logo, dormir não era mais seguro. Ainda estava muito cedo, pois pouquíssimos alunos circulavam pelos corredores. Entre eles meu primo Michel. Ele estava sentado sozinho na mesa da Fidei e fui até ele. Sua cara não era das melhores.
- Que cara é essa?
- Não tive uma noite muito agradável – Michel respondeu irritado
- Junte-se ao clube! A minha também não foi muito boa... O que aconteceu na sua?
- O lobo, ele me atacou!
- O QUE?? - Michel saltou do banco com meu grito e me olhou assustado – Que horas foi isso??
- Não lembro, mas já estava tarde, acho que meia noite. O que foi, Luke?
Levantei depressa e comecei a andar de um lado para o outro. Como o lobo pode ter atacado ele, se ele também me atacou? Ou ele pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, ou são duas pessoas...
- LUKE! O que aconteceu? – Michel gritou e sentei outra vez, falando baixo
- Ontem eu também fui atacado pelo lobo... Por volta de meia noite!
- Mas como pode isso? Ele não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo
- Exatamente... Onde você estava quando foi atacado?
- Na biblioteca
- A biblioteca fecha às 22hs
- Bom, eu não estava exatamente lendo um livro. Estava com a Isabella quando ele apareceu. Senti falta da minha mochila quando ia sair e voltamos para pegar, foi quando o encontramos. Ele nos perseguiu pelo meio das estantes, fizemos a maior bagunça atirando livros nele, mas nenhum o atingiu. Mas tinham tantos no chão que conseguimos correr antes que ele os pulasse. E você, onde estava?
- Na sala de troféus, 4 andares acima de você... Ou ele pode aparatar aqui dentro, ou não temos um maníaco só...
- Está dizendo que são dois assassinos?? Ah ótimo, como se já não estivesse difícil capturar um só!
- Não, não acho que temos dois assassinos, mas sim dois amigos bem sacanas...
- O que quer dizer com isso?
Mas já não estava mais ouvindo Michel falar. Os alunos começavam a entrar no salão principal para o café da manhã e minha atenção se prendeu em Samuel. Ele vinha carregando a mochila em um ombro só e na outra mão seus livros. Mas ele fazia careta segurando eles, como se estivessem muito pesados ou algo estivesse dificultando carregá-los, como, por exemplo, uma mão machucada.
- Não posso afirmar que os dois lobos eram falsos, mas um deles era, com toda certeza
- E como pode afirmar isso com tanta convicção?
- Porque ontem eu chutei a mão do que me atacou, e hoje o Samuca aparece com ela inchada. Coincidência? Eu acho que não!
- Er... Luke? Não quero quebrar a sua teoria, mas olha para trás...
Olhei na direção onde Michel apontava e não acreditei no que vi. Vários alunos, muitos mesmo, estavam com as mãos enfaixadas. Foi então que me lembrei que na aula de Botânica do dia anterior, quase toda a turma do 7º ano teve que ir para a enfermaria por causa de um pus venenoso de uma das plantas, todos com as mãos inchadas e cheias de bolinhas. Senti-me frustrado, mas a sensação passou assim que uma idéia passou pela minha cabeça.
- Ok, não posso dizer quem foi, mas sei que um deles era falso!
- Sim, nisso concordo com você. Mas como descobrimos quem é?
- Simples. Como não podemos saber qual dos nossos amigos é um amigo da onça...
Michel levantou a sobrancelha intrigado, mas logo abriu um sorriso diabólico igual ao meu, entendendo aonde queria chegar. Se não se sabe em quem atirar, mande as flechas para todos os lados...
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