Por Gabriel Storm Lupin
- Falta um, o Pedro viajou – Sandro contou outra vez – Precisamos de reforço pro time, não podemos jogar com um a menos!
- Ok, deixa comigo!
Chutei a bola de volta pro Breno e corri pela areia até onde Chris estava sentado brincando com Nicholas. Já havíamos voltado pras férias de fim de ano e como todos passariam o natal na minha casa, ele veio comigo depois do jogo de quadribol no Texas para voltar com o tio Kegan e a tia Karen dia 26. Ele ajudava Nicholas a montar um castelo de areia e enfrentavam dificuldade em mantê-lo de pé sem magia.
- Precisamos de mais um pra completar o time, quer jogar? – falei parando ao lado deles
- Ah não sei, não sou muito bom em futebol. Prefiro quadribol
- Ninguém é profissional, é só um time de amigos, jogamos nas férias pra nos divertirmos. E você os conhece, vamos!
Chris inclinou o corpo e olhou na direção das traves. Igor, Luiz, Breno e Sandro brincavam de cabecear a bola e Breno, sem camisa, fazia jus ao apelido de cotonete. Ele era incrivelmente magro e alto! Sandro fazia o estilo moderninho e andava sempre arrumado, até a sunga de praia dele era diferente. Igor era o gordinho do grupo e também o mais desinibido, o pé de valsa das festas. E o Luiz era o tímido e ao mesmo tempo atrevido, e que agora queria virar modelo. De todos eles apenas Igor também era bruxo e estudava no Instituto Brasileiro de Magia. E para minha total inveja, todos estavam de férias até Fevereiro. Chris os observou por um instante e me encarou.
- E ele? – Disse indicando Nicholas
- Nicholas, você se importa de brincar mais perto das traves? – Ele fez que não com a cabeça e levantaram – Só não fique perto demais para não levar uma bolada
- Gabriel, eu sou muito ruim jogando futebol, é serio – Chris falou preocupado e ri
- Nota-se que você nunca viu a gente jogando...
Chegamos perto dos outros e eles pararam de brincar, cada um indo para sua posição. O time adversário já estava esperando, e eram os garotos mais malas da cidade. Moravam todos no prédio vizinho ao nosso e tínhamos uma rixa desde crianças. Artur, o mais encrenqueiro da turma de lá, começou o jogo. E o que era pra ser uma pelada de fim de tarde se transformou numa batalha à moda da Roma antiga. Éramos 12 gladiadores correndo pelas areias da praia do Leblon tentando forçar a bola, coadjuvante no embate, a atravessar as balizas protegidas pelo Igor e pelo cão de guarda do Artur, Rafael.
Chris havia entendido que para sair vivo teria que abandonar a diplomacia e passou a ir com tudo para cima deles nas tentativas de roubar a bola. Já ficando irritado porque ganhávamos de 2 x 0 e eles ainda não haviam conseguido fazer nenhum gol em cima do Igor, Artur veio correndo feito um touro e acertou Breno com um carrinho. Breno rolou na areia e foi parar longe, não levantando de tanta dor. Corremos até ele e vi os outros rindo debochados.
- Está vivo? – Igor virou o corpo dele e o deixou de barriga pra cima – Quantos dedos têm aqui?
- A pancada não foi na cabeça, seu burro – Luiz empurrou Igor pro lado e rimos –Conseguiu anotar a placa do caminhão ou nem viu ele chegando?
- Como é que é, maricas? – ouvimos Artur gritar e os outros rirem – Vamos jogar ou não?
- Depende – Respondi irritado ajudando Breno a se levantar – Vamos jogar direito ou vai continuar fazendo faltas desnecessárias?
- Não tenho culpa se esse cotonete ai não agüenta uma pancadinha. Devia fazer balé ao invés de jogar futebol. Isso é esporte de homem, não de mulherzinha
- EI – Sandro apontou o dedo na cara dele e nos assustamos. Ele odiava confusão – Só a gente pode chamar ele de cotonete, seu jeca tatu!
Bingo. Sandro tinha atingido o pronto fraco dele. Artur morava no prédio vizinho desde os 8 anos, tinha sido o último a chegar de todos os garotos e veio com a família do interior do Rio, depois que o pai dele enriqueceu. E tudo que ele mais odiava era ser chamado de caipira e similares, quando seus maiores esforços eram esconder o sotaque do interior, forçando o sotaque carioca.
- Pois é, e se futebol não é esporte de mulherzinha, está jogando por quê? – Provoquei também, motivado pela bravura repentina do Sandro – As meninas que jogam aqui de manhã deixam você no chinelo!
- Ele já jogou com elas, Gabriel – Luiz chegou com Breno apoiado no ombro – Poucos dias antes de você voltar da escola estava aqui na praia e vi quando eles desafiaram as meninas. Foi uma lavada histórica. Aliás Rafinha me tira uma duvida: qual o gosto da areia de praia?
Dois dos garotos ainda tentaram segurar o Rafael, mas ele e Artur já tinham avançado pra cima da gente. Luiz largou Breno no chão e partiu pra cima dele sem nem pensar duas vezes e Igor e eu detemos Artur antes que ele chegasse ao Sandro. Igor era grandalhão e não precisou de muito esforço para jogar ele na areia. Queria poder sacar a varinha e estuporar todo mundo, e sabia que Chris compartilhava desse pensamento comigo, mas não podíamos, ainda éramos menores de idade. Ele correu para pegar Nicholas e quando Breno gritou de dor por um dos garotos ter pisado no seu pé já torcido, Igor se irritou e prendeu o pescoço de Artur nos braços.
- Solta o Luiz, Rafael! – Gritou enquanto enforcava-o. Não sabia se ria ou se ficava sério – Eu juro que torço o pescoço do caipira se você não soltar!
Rafael ainda olhou descrente para Igor, mas quando ele apertou com mais força o pescoço do Artur, ele soltou o Luiz e todos os outros se afastaram. A gente sabia que o Igor não tinha coragem de matar nem mesmo uma mosca, mas eles não sabiam disso. Ele soltou Artur quando Luiz já estava salvo do nosso lado e como num passe de mágica todos desapareceram pelo calçadão.
- Que legal! – Nicholas veio correndo arrastando Chris pela mão – Você ia mesmo quebrar o pescoço dele??
- Não, só queria assustar o valentão – Igor riu – Depois ensino uns truques pra você
- Alô, será que alguém pode me ajudar aqui? – Breno falou alto sacudindo os braços no alto – Torci o pé, não consigo levantar!
Fomos até ele rindo e o ajudamos a levantar, voltando para o prédio. Como minha mãe era a única mãe em casa, fomos direto pro meu apartamento. Quando entramos pela porta da cozinha com Breno apoiado nos ombros e os cabelos bagunçados e cheios de areia, ela parou o que estava fazendo e veio correndo assustada.
- Pensei que tinham saído para jogar bola! – Disse nos empurrando e levando Breno até o sofá
- Foram os garotos do Village – Falei sério e ela entendeu logo
- Quando vão parar com essa rixa boba? Não estão grandinhos demais não?
- São aqueles babacas filhos da mãe que começam sempre!! – Luiz respondeu alto
- Luiz Eduardo! Olha os modos! – Mamãe chamou a atenção dele
- Desculpa tia... – Luiz ficou vermelho e rimos
- Tia, acha que pode dar um jeito nele? – Igor indicou o pé torcido – Sabe, com magia. Não podemos fazer nada, mas uma curandeira tão boa quanto você pode...
- Não precisa puxar meu saco, Igor – mamãe riu e levantou do sofá – Vou resolver isso em um instante, esperem aqui
Mamãe foi até o escritório e voltou minutos depois com alguns vidros de poções, fazendo Breno beber todas. Ele fazia careta com os gostos horríveis, mas engoliu assim mesmo. Ela convidou todos para ficarem para o lanche e passamos o resto da tarde no meu quarto jogando videogame e comendo besteiras, ninguém com pressa de ir pra casa. Só quando mamãe bateu na porta do quarto, já de noite, dizendo que o interfone não parava de tocar com mães pedindo que ela devolvesse os filhos, eles foram embora. No dia seguinte íamos levar Chris e Nicholas pra conhecer o Parque da Tijuca de bicicleta e à noite íamos a um ensaio de escola de samba. Adorava estudar fora, com o ano letivo trocado, mas não via a hora de me formar e voltar a morar aqui, com o horário normal que estou acostumado, podendo passar carnaval em casa e não só me contentando com os relatos dos meus amigos. Calma Gabriel! Só mais um ano e meio, e tudo volta ao normal...
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