Saturday, August 26, 2006
Paixão de ocasião.
Com o novo professor de vôo, fazendo os treinos dirigidos, hoje havia sido o dia dos batedores. O bom neste tipo de treino é que você pode avaliar os adversários abertamente. O ruim é que eles fazem o mesmo. Nas férias, aproveitei para treinar bastante, então não fui tão mal. O novo capitão da Nox, Samuel era ótimo e tinha um bom controle sobre a vassoura. Eu me viro bem, mas o meu maior problema será o treino com o time. Teremos que arranjar um goleiro e excluir um batedor, e o goleiro tem que ser alguém muito bom. Havia recebido uma carta da minha mãe, dizendo que ela e meu pai haviam conversado e resolvido tudo, e que no passeio da escola, eles falariam comigo. Embora, eu estivesse um pouco zangado com o velho, respirei aliviado quando soube que ainda éramos uma família.
Saí do treino, e estava faminto, então resolvi rever meus amigos elfos, afinal eles deviam sentir saudades minhas ;). Voltava da minha visita á cozinha, quando ouvi risos no corredor:
- Aqui é legal não vem ninguém. Os monitores já passaram por aqui.
-Eu vou querer salada mista.
-Devíamos ir embora, pode vir alguém e...
-Ai, deixa de ser boba, até parece que nunca brincou disso...
-Já brinquei sim. E não sei se notou, tem mais meninas que meninos aqui... E eu só estou aqui de companhia...
Comecei a andar mais depressa, queria ver quem eram os lerdos que iriam fazer uma das brincadeiras mais velhas do mundo e que seriam pegos se continuassem com o escândalo.
Quando dobrei o corredor todos pararam de falar com medo de que fosse algum monitor. Olhei para eles e vi que Rory estava no meio do grupo. Resolvi seguir meu caminho, mas uma das garotas falou alto:
- Vejam, é o novo capitão da Sapientai... Ah, se ele ficar, tudo vai ficar mais interessante. Você está mais alto Ty. - disse Savie, uma loira bonita da Nox.
- Ei McGregor quer brincar?- perguntou Duschamps.
- Não, ele não quer... - Rory disse rápido.
Olhei para ela e havia apreensão e um pouco de medo nos olhos dela.
Medo de quê? Ou de quem? Resolvi entrar no jogo e saber onde aquilo ia acabar.
- Depende. Tudo bem pra vocês? Olhei para os outros e Duschamps, falou:
- Tudo bem, ai fica tudo igual. – e os outros assentiram positivamente.
- Uma sugestão: vocês deveriam ficar um pouco mais silenciosos, daqui a pouco o castelo todo aparece para ver. - avisei e todos começaram a falar mais baixo.
- Eu... Acho que vou embora... - Rory disse e começou a haver protestos dos outros garotos, pois a amiga dela quis fazer o mesmo e as outras meninas começaram a pensar na possibilidade também.
- Por quê? Está com medo de beijar alguém?- provoquei.
- Não tenho o que temer. - ela respondeu tentando parecer segura.
- Então prova! – falei e ela me encarou.
Retribuí o olhar e acho que eu devia estar me achando o tal nesta hora, porque ela estreitou os olhos, parecendo irritada. Por dentro eu estava achando tudo muito estimulante. Como se estivesse num jogo decisivo do campeonato e tivesse que me impor pro adversário.
Só nesta hora lembrei de olhar para as outras meninas. Respirei aliviado, quando vi que eram bonitinhas. Se bem que se fossem feias, não tinha mais volta, o jeito era encarar.
Rory torcia as mãos enquanto me olhava e uma de suas amigas tinha um risinho nervoso na cara. Savie, a garota que me convidou tinha um olhar convencido. Sabe aquelas meninas que sempre são cobiçadas pelos garotos? Savie era assim, acostumada a ter os garotos aos pés dela, e ficava de cochichos com a amiga me olhando. Os garotos se reuniram separados das meninas e como sempre acontece nesta brincadeira, todos iam dizer suas preferências, resolvi ser rápido:
- Vou beijar a Rory. Algum problema?
- Por mim não, mas a Savanah, vai ficar desapontada, corre um boato na Nox, que ela está de olho em você, desde que você se tornou capitão.
- Fico lisonjeado, mas eu acho que ela faz mais o seu tipo Edward. Quero beijar a Rory Ok? - após acertamos os detalhes começamos com a brincadeira.
Duschamps tampou meus olhos e após dizer não algumas vezes, ele apertou um pouco mais meus olhos e eu disse: salada mista.
Quando abri os olhos Rory me olhava mordendo os lábios. Olhei sério para ela e fui para frente. Ela não viu outro jeito senão fazer o mesmo. Evitava olhar para as amigas, talvez com medo de fazer o que a cara dela dizia que faria: sair correndo.
Aproximei-me bem, e como, ela hesitasse, falei baixo:
-Feche os olhos e confie em mim.
Ela engoliu seco, e fechou os olhos. Encostei meus lábios nos dela. Senti que ela tremia nervosa. Comecei a beijar de leve sua boca, para que ela relaxasse. Envolvi meus braços ao seu redor e foi estranho. Parecia natural ela estar ali.
Senti que ela começou a relaxar e não sei o que deu em mim, que comecei a beijá-la pra valer. Não sei quanto tempo ficamos assim, até que Duschamps bateu no meu ombro, interrompendo e eu levantei a cabeça ressentido com ele.
- Er... Hum... McGregor. Agora é a vez dos outros brincarem...
Demorei a tirar meus braços da cintura dela e ela me encarava com os olhos arregalados, ofegante.
Finalmente a soltei, e alisei meu cabelo para disfarçar o tremor da minha mão, enquanto voltava para o meu lugar. Ficamos vendo os outros brincarem. Toda vez que olhava para ela, ela desviava os olhos, vermelha.
Quando a brincadeira terminou e todas as meninas haviam sido beijadas, Rory saiu rápido em direção ao salão comunal da Nox, sem nem olhar para trás. Podia jurar que ela queria correr, mas seu orgulho impediu.
ED - Ei, Ty, vocês já saíram alguma vez? A Rory parece um pouco zangada com você.
TM - Não. Nunca saímos.
ED - Então porque ela foi embora brava?
TM - Quem entende as garotas? A gente se vê por ai, Duschamps. – dei de ombros e voltei ao meu salão comunal e nem parei para falar com Gabriel, todo absorto lendo o diário da mãe dele. Ele vai me zoar muito quando eu contar que estava brincando de salada mista rsrsrs.
Deitei na minha cama, fechei o cortinado e fiquei lá de olhos abertos pensando no que tinha acontecido.
- Se a Rory não gostava de mim antes, depois de hoje, acho que ela me odeia. Se bem que eu gostaria muito se ela... Ah, deixa para lá. Seria querer demais, e no momento eu só quero me dedicar ao time. Este será o ano da Esfinge!
Wednesday, August 23, 2006
Sobre livros, novatos e pomos
Do diário de Miyako Kinoshita
SB: Obrigado Miyako! Mas saibam vocês que vamos treinar duro esse ano para sermos bi hein?
Gabriel não poderia estar mais satisfeito com o seu distintivo de monitor, e andava indo “patrulhar os corredores” todo feliz. Ty também não estava reclamando. Os pais dele estavam meio que separados, mas ele tinha ganhado o título de capitão do time da Sapientai, e andava lustrando isso a cada cinco minutos. Eu? Nenhum distintivo, nem novidade bombástica a contar. Ah, sim, já contei que minha mãe aceitou se casar com o padrinho do Ty? Foi enquanto eu estava pra Itália, mas o romance tinha atingido o quintal da nossa casa e ela também andava suspirando pelos cantos.
Sabe aquele negócio de sala de metas no começo do ano? Então, logo na primeira noite, como sempre, fomos levados pra lá. É um tipo de meditação da sua vida... Pensei na minha vida, e não encontrei nada com que pudesse tomar de exemplo pra correr atrás nesse ano, então, prometi me dedicar mais aos estudos e ao quadribol, é claro! Você achou bizarro? Nem eu estou me reconhecendo e você achou bizarro? Não estou querendo competir nível de intelectualidade com o Gabriel, mas precisava tomar um rumo na minha vida né, uma hora eu tinha que me conscientizar das minhas notas baixas! Putz, já até mudei meu jeito de relatar minha vida com meu próprio diário! Estou ficando realmente maluca!
Aliás, agora estou lembrando que tenho até duas novidades interessantes pra te contar. A primeira é um breve momento de choque e surpresa que tive assim que cheguei ao castelo...
SD: Fui transferido! Pedi pra sair de Durmstrang, e fiz um curso de francês nas férias, além de ter me livrado daquele pato inflável coberto de gesso. – disse sorrindo.
Passei o dia todo em aulas ou na sala comunal adiantando uns deveres com a Denise e o Sávio. Quando estava na hora de irmos pro campo, me encontrei com Ty e Gabriel e fomos juntos. Mal tínhamos entrado, e ouvi alguém gritando uma exclamação e apertamos o passo.
A maioria dos jogadores dos quatro times da escola já estava amontoada no meio do campo, mas ao centro, como nosso professor, ninguém menos que...
IM: É o time da França?
BL: Sim. É o time do Ian... Fato que faz com que o quarto dele seja todo rosa!
MK: É! Parece que sim!
Friday, August 18, 2006
Be Cool
Estávamos de volta a Beauxbatons e a rotina de todos nós havia mudado de alguma maneira. Miyako estava mais dedicada aos estudos, Ty agora era o capitão do time da Sapientai e eu me tornara monitor. Todos os dias eu tinha que fazer uma ronda pelo castelo junto com os outros monitores, a qualquer hora. Ate que não era ruim isso, tinha suas vantagens, mas suas desvantagens também. Um exemplo eram os professores que parecem pegar mais no seu pé, lembrando constantemente que temos que dar o exemplo.
As vantagens do cargo eram as novas amizades que acabam surgindo. Quem pensa que só são escolhidos os nerds que não saem da biblioteca pra monitor, se engana! Os monitores do 7° ano são os piores, tem aquela pose séria na frente dos professores enquanto eles passam instruções, mas quando eles saem nos mandam fazer tudo ao contrario. O menos zombador ali era o Bernard Lestel, amigo do Ian, mas não deixava de fazer das suas.
- Patrulhem os corredores do 4° ao 8° andar essa noite, não deixem que nenhum aluno saia de suas casas, pois Gerard estará fazendo a limpeza até o 3° andar essa noite! Boa noite! – a professora Morghana falou antes de sair da sala dos monitores.
- Quem vai ficar com que corredor? Vocês dividem em grupos ou o que? – perguntei incerto e a nova monitora da Fidei me apoiou.
- Corredor? Grupos? Está louco, Storm? Que insanidade é essa? – falou Vieira, o monitor do 7° ano da Nox
- Gabriel, não esquenta a cabeça com a ronda de hoje, temos outros planos – Bernard falou rindo.
- Ok novatos, andando! Todos juntos, por favor, e vão prestando atenção no método de persuasão!
- Alguém viu a Madeline? Ah deixa pra lá, ela nunca vem mesmo... Vamos andando novatos!
A monitora da Fidei que se chamava Manuela Boumsong saiu da sala acompanhada dos outros monitores mais velhos e eles fizeram sinal para que nós os seguíssemos. A professora de poções ainda estava na porta e todos eles a cumprimentaram ao passar, sorrindo animados. Não estava entendendo nada, pois pelo que pude compreender, eles não iam patrulhar corredor algum como ela mandou! E minha linha de raciocínio estava correta. Quando chegamos ao corredor do 4º andar, alguns alunos ainda circulavam por lá e em um instante tudo ficou deserto.
- Ok pessoal, todo mundo pra dentro agora, sem passeio noturno hoje! – Bernard falou
- Isso mesmo, melhor seguir a ordem do Lestel que é calmo, não façam eu me meter na historia! - Anda menino, não ouviu? CAMA! C-A-M-A! – Manuela gritou com um menino do 3º ano e ele saiu correndo assustado.
- Pronto! 4º andar limpo! Depressa novatos, ainda faltam quatro!
Olhei espantado para Fabien e ele deu de ombros, rindo. Aquele time de monitores de Beauxbatons era louco! Mas se antes eu não estava lá muito empolgado com o novo cargo, agora começava a repensar. Percorremos os outros andares varrendo os alunos do corredor usando ameaças de detenção e juro ter ouvido os garotos prometendo uma surra nos que não obedecessem. Quando o castelo estava quase deserto, eles nos chamaram e nos reunimos em frente a uma estátua de um cavaleiro.
- Patrulha do dia encerrada, nenhum aluno vai sair das casas hoje, podem ter certeza! – Thiery falou animado. Ele era o monitor do 6º ano da Lux.
- Bom, agora vamos à reunião particular dos monitores! – falou a monitora do 6º ano da Lux
- Apoiado Stephy! Vamos novatos, por aqui... Hoje vocês vão conhecer uma parte nova do castelo na nossa festinha de boas vindas... – Vieira falou batendo com a varinha no cavaleiro
A armadura começou a tremer e se moveu bruscamente para o lado, revelando um túnel. Era uma passagem secreta, tinha certeza disso! Na mesma hora me lembrei do mapa, então me concentrei em memorizar o caminho enquanto caminhávamos no escuro atrás dos monitores. Senti Fabien tropeçar em mim quando a fila parou de andar e reparei numa porta com entalhes dos brasões das casas. Bernard deu três batidas ritmadas e ela abriu. Eu realmente não estava preparado pro que veria ali...
- Onde estamos?? Saímos do castelo?? – falei espantado olhando ao meu redor
- Que lugar é esse?? – Bridget me acompanhou boquiaberta
- Bem vindos à sala de reunião dos fundadores de Beauxbatons!
A tal sala era na verdade quase que uma imitação da área do lago, só que compactada. Tinham umas cinco arvores espalhadas, gramado no chão, uma mesa de pedra com quatro cadeiras bem no centro de tudo e um laguinho no fundo. O teto era encantado para parecer que estávamos ao ar livre e apesar de estar de noite, ele estava azul e cheio de nuvens limpas.
- Não se preocupem com professores, eles não sabem da existência desse lugar, já verificamos! É todo nossa, um campo de refugio dos monitores. – Vieira falou sentando na grama e puxando uma cesta para perto
- Fiquem à vontade! Vocês irão desfrutar dessa sala por três anos! – Anne falou sentando ao lado dele
- Ah, pensei mesmo ter ouvido vozes!
- Madeline! Por onde andou? Você nunca aparece pras rondas, mesmo as relâmpago! – Bernard falou animado e foi abraçar a garota que havia acabado de chegar
- Maxime devia estar carente quando me nomeou monitora da Nox, já falei... Ah carne nova? Bem vindos à vida mais mansa do mundo mágico!
A menina se soltou do abraço de Bernard e pude ver seu rosto. Meu estomago na mesma hora afundou. Era ela, a menina mais linda de Beauxbatons, a mesma que fez meu tio Scott pegar no meu pé o verão inteiro. Então ela era a Madeline que eles estavam procurando? Como que ela pode ser monitora, se mal assiste às aulas? Ela sorriu e acenou ao me reconhecer e retribui o sorriso sem graça, indo me sentar do outro lado com Fabien e Raymond. Passamos algumas horas ali, as horas que deveríamos estar patrulhando os corredores, comendo, conversando, ouvindo musica e bebendo. Já eram mais de 21hs quando Bernard nos lembrou que precisávamos ir e nos encaminhamos em fila novamente para fora da sala. Parece que a vida de monitor de Beauxbatons é mais fácil do que eu pensava e se tem as melhores companhias que se possa imaginar... Só espero não passar o ano inteiro agindo como um retardado na frente de Madeline toda vez que nos encontrarmos...
Thursday, August 17, 2006
mais que o acaso...
Minha mãe escreveu dizendo que havia saído de casa e que não era para eu me preocupar, que tudo ficaria bem. Ela pensa que ainda sou um bebê, para me proteger assim. Humpf.
Gabriel e Miyako estavam me dando a maior força com o problema dos meus pais. Mi era daquele tipo de amiga que não importa se você quer ou não: ela te abraça, beija, te enche de carinho. Para alguém que não nos conheça, pode ate achar que eu e ela namorávamos. Se não nos gostássemos como irmãos, até poderia dar certo.
Depois de rever Desireé e Jean nas férias, eles ficaram mais próximos, e algumas vezes eu fazia as refeições com eles para conversar, pois Gabriel andava ocupado com os deveres de monitor e Miyako andava enrolada com as matérias.
Meu pai me mandou uma carta que eu nem abri. Devolvi fechada. Meu padrinho quis interceder por ele, e eu respondi que só leria as cartas de minha mãe. Eles pareceram respeitar minha decisão.
- Ei, Ty, vem aqui. - era a Desireé me chamando.
Desireé, era do sexto ano, e tinha umas amigas bem bonitas ao lado dela na mesa. Alguns garotos mais velhos ficaram me olhando com cara de poucos amigos, mas eu podia fazer o que, se ela resolveu me dar beijo e abraço, sempre que me via. Vou ignorar? Num destes papos olhei rápido para a mesa da Nox e Rory me encarava séria, ouvindo Savannah falar com ela. Abri a boca para dizer oi, mas ela saiu da mesa, não a vi mais.
Ainda não tínhamos professor de Mitologia e a vaga de professor de vôo também estava aberta. Tínhamos receio de que com estes atrasos, o campeonato de quadribol atrasasse ou fosse cancelado.
....
- Ty, Madame Máxime quer falar com você.- disse Gabriel, chegando da sua ronda.
- Agora? Mas eu não fiz nada. Fiz?- disse forçando a memória pra lembrar de alguma coisa errada.
- Que eu saiba não. Vai logo! Ela tá te esperando na sala dela. - fiz o que era mandado.
.......
- Senhor McGregor, entre.
Entrei na sala da diretora. Acima dela as fadas das casas conversavam entre si, parecendo alheias a minha presença. Havia uma caixinha de areia para gatos num canto e alguns brinquedos espalhados. Ela viu para onde eu olhava e avisou:
- Meu gato, é jovem e saudável senhor McGregor, não precisa ser embalsamado.
Dei um sorriso sem graça, mas respondi:
- Fico feliz em saber que ele não vai precisar de minha ajuda para entrar no paraíso dos felinos, tão cedo. - as fadas deram risadinhas e a própria diretora, parecia fazer esforço para não rir.
- Senhor McGregor, como sabe o senhor DeVille, se formou e deixou o cargo de capitão do time da Sapientai vago. Gostaria de saber se o senhor, quer a vaga.
- Capitão? Eu?
- Não vejo outro senhor McGregor na sala. - respondeu.
- Mas eu nem joguei a final, fui suspenso... - disse ficando envergonhado.
- O fato de não ter jogado a final, não o desqualifica para ser capitão. Você colaborou com a equipe o ano letivo inteiro. E merece a vaga.
Não pensei muito para responder:
- Eu quero voltar pro time, e quero ser o capitão da Sapientai.
Saí dali meio que em transe. Logo uma sensação de euforia tomou conta de mim e comecei a correr de volta para o salão comunal, tinha que contar ao Gabriel. Dobrei o corredor e dei uma trombada com um grupo que vinha da direção oposta:
-Não olha por onde anda?
- Desculpa. - disse e olhei pra o grupo na minha frente.
Era Rory e seus irmãos. Ela estava diferente.
- Desculpa, não achei que houvesse alguém a esta hora pelos corredores.
- Não vai encrencar por isso, Rory. Foi um acidente. - disse a garota menor, que era a irmã dela.
- É mana, o Ty não faria isso de propósito. Nós estávamos na biblioteca, estudando. - disse o garoto que as acompanhava.
Sorri para ele. E voltei a olhar para ela, observando as mudanças que as férias haviam provocado. Havia cortado os cabelos, e estava bronzeada, parecia um pouco mais alta. Ela não gostou muito da minha inspeção, ficou empertigada e disse mal humorada:
- Desculpas aceitas. Vamos embora, Lucien e Angelique. - mas o irmão dela não queria sair dali e puxou papo:
- Foi uma pena você não jogar a final, McGregor, embora tenha sido a nossa sorte.
- É, foi mesmo, mas este ano vai ser diferente. Sou o capitão da Sapientai. Acabei de ser nomeado. - disse e não consegui esconder como me sentia orgulhoso.
Ele e a garota me cumprimentaram e Rory sorriu dizendo:
- Parabéns, eles terão um ótimo capitão. (ficou vermelha quando disse isso). Vamos dormir se Gerard nos pega, pode dar detenção. Tchau, Ty.
- Tchau Rory. Er.. Tchau Lucien e Angelique.- respondi.
Voltei ao salão da Sapientai e quando contei para o Gabriel, ele rapidamente espalhou para o resto da casa. Tivemos que buscar comida na cozinha para a nossa festa relâmpago.
........
- Corre, Ty. Não posso perder a hora, sou monitor.
- É difícil correr de estômago vazio. - reclamei com Gabriel.
- Você comeu pra caramba antes de dormir, impossível estar com fome a esta hora da manhã.
- Já avisei que minha digestão é rápida.
Corríamos pelos corredores até a sala de Mitologia. Batemos na porta e pedimos licença para entrar. Havia uma mulher na lousa que disse:
- Pode entrar1 A aula começou agora.
Entramos e sentamos rapidamente no lugar que a Mi havia guardado para nós, e começamos a prestar atenção na nova professora. Ela era bem jovem, tinha os cabelos louros presos e olhos cinzentos. Alguns garotos olhavam embasbacados para ela. Começou a chamada e olhou para onde eu estava, chamou meu nome e antes que eu respondesse presente sorriu, como se me conhecesse. Somente naquela hora eu a "vi" realmente e fiquei estático. Sabia quem ela era.
Passei a aula toda mudo embora ela pedisse que eu respondesse algumas perguntas e eu o fizesse de má vontade. Gabriel e Miyako ao sair da aula me perguntaram:
- O que foi Ty? Você não costuma errar coisas que você já sabe. – disse Miyako.
- Você estava nervoso. Ah, é... Você sempre gostou de moças bonitas e mais velhas. - zoou Gabriel.
- Eu não gostei dela. Na verdade eu a odeio. - respondi irritado e eles me olharam espantados.
- Mas ela chegou hoje na escola, como você já pode odiá-la?- respondeu Miyako.
- Eu a odeio, porque ela é a amante do meu pai. – e sai dali o mais rápido possível, para chegar à sala de Sir Shaft.
Hoje nada me agradaria mais que estuporar alguém.
Thursday, August 10, 2006
De volta à Selva
Grande Salão, 4 de Setembro de 1997, hora do almoço
Please allow me to introduce myself
I'm a man of wealth and taste
I've been around for a long, long years
Stole many a man's soul and faith
- Luke, me passa a geléia, por favor? Luke? LUKE!
- Hã? O que?
- A geléia...
- Ah desculpa, pode pegar...
Estava sentado na mesa da Sapientai com Bernard, mas estava completamente distraído. Minha cabeça estava longe, lá em Saint-Tropez... Os meninos já haviam me interrogado, arrancando todos os detalhes do que aconteceu nas férias quase que a força, e Samuel também voltara cheio de novidades para a escola, incluindo uma aliança no dedo. Senti três vultos passarem por mim e em seguida fui imprensado por dois deles. Marie e Dominique chegaram junto com Michel e se acomodaram na nossa mesa. Já era o 3º dia de aula e ate o momento tínhamos mais dever do que nunca, então íamos todos os dias para a biblioteca estudar alguma coisa.
And I was 'round when Jesus Christ
Had his moment of doubt and pain
Made damn sure that Pilate
Washed his hands and sealed his fate
- O que vamos revisar hoje? Estou com duvidas em Botânica... – Michel falou se servindo de um bolinho
- Pode ser Botânica, também estou boiando na matéria da Milenna! – Dominique concordou
- Ok, então nos encontramos lá daqui a meia hora, preciso fazer a ronda do 4º andar agora.
Bernard saiu da mesa carregando a mochila e Dominique e Michel foram buscar os livros de Botânica, ficando somente Marie e eu. Continuei almoçando normalmente, ate que reparei que ela me encarava.
Pleased to meet you
Hope you guess my name
But what's puzzling you
Is the nature of my game
- O que foi?
- O que?
- O que você quer? Quando fica me olhando desse jeito, é porque quer perguntar alguma coisa.
- Não, é impressão sua... – falou sem convicção – Ah ok, vou falar: Luke, você esta diferente!
- Como assim?
- Você voltou estranho das férias... Não sei o que é, mas não é o mesmo amigo que saiu daqui em Junho!
- É impressão sua Marie, ainda sou a mesma pessoa, quer ver?
Peguei a colher cheia de purê de batata e acertei a nuca de um menino do 6º ano, que saltou assustado procurando de onde tinha vindo o tiro. A mesa inteira ria e ele saiu revoltado, se limpando. Ela me olhou rindo.
I stuck around St. Petersburg
When I saw it was a time for a change
Killed the czar and his ministers
Anastasia screamed in vain
- Ok, você continua travesso... Mas ainda acho que tem algo a mais!
- Já falei que...
- SENTA AÍ! E NÃO SE MEXE! – Bernard chegou atirando o irmão no banco ao meu lado.
- Ei, o que houve??? – perguntei assustado
- Sabe o que ele fez?? Sabe? Ateou fogo na fada da Lux! Fogo!
- Como é?? – Marie engasgou com o suco e eu comecei a rir
- Ora aquela fada idiota não me deixou entrar, só porque eu esqueci a senha!
- Vincent, não é? Olha, aqui nós convivemos em paz com as fadas e duendes... – Marie falou com uma voz compreensiva
- Quem é essa garota, Bernard?
Agora eu já não conseguia disfarçar o riso e comecei a gargalhar da cara de ofendida que Marie fazia. Ela sentou de novo ao meu lado e continuou tomando o suco, ignorando o garoto. Vincent era uma peste, pior que todos nós juntos, e agora que era um aluno de Beauxbatons, o castelo poderia desabar a qualquer instante. Bernard brigava com ele ao meu lado e uma coruja pousou no meu ombro, deixando cair uma carta. Deixei que ela beliscasse meu bolinho enquanto a abria e de imediato reconheci a caligrafia de Terri. Vincent esticou o pescoço para ler também e tentei esconder, mas ele foi rápido.
I rode a tank
Held a general's rank
When the blitzkrieg raged
And the bodies stank
- Ah, é da sua namorada... Como é mesmo o nome dela? Taylor?
- Terri... E não se mete no que não é da sua conta!
- Namorada? Você esta namorando?? – Marie falou espantada
- Não diria namorando, somos mais amigos...
- Luke a conheceu em Saint-Tropez e pode ter certeza, eles não são só amigos! Ate...
- Bernard! – falei alto e algumas pessoas olharam
- Por que não me contou antes, Luke? Ela é da nossa idade?
- Não, tem 19 anos... E não contei por não achar importante.
Senti que Marie ia falar alguma coisa, mas o que quer que fosse acabou sendo interrompido por Dominique e Michel que voltaram carregando os pesados livros de Botânica. Bernard saiu novamente dizendo que só ia deixar o irmão no salão comunal e voltava para que pudéssemos estudar e assim que ele saiu, seu lugar foi tomado por uma menina quase da metade do meu tamanho, longos cabelos castanhos e olhos azuis brilhantes. Amélia, irmã de Bernard que estava no 2º ano da Lux.
Pleased to meet you
Hope you guess my name, oh yeah
Ah, what's puzzling you
Is the nature of my game, oh yeah
- Oi Lucas... – ela falou sorridente. Só ela e meu avô me chamavam de Lucas.
- Oi Amélia, como vai? E as aulas? – respondi com um sorriso amarelo
- Ah estão indo bem, mas estou com dificuldade em algumas coisas... Quem sabe você possa me explicar depois, já que está no ultimo ano! – falou esperançosa
- Ah er, claro, claro que explico... Agora eu vou indo fazer alguns deveres, mas procuro você depois!
Levantei depressa e ela levantou de um salto também, acenando animada e indo se sentar-se à mesa da Lux. Tinha certeza que meus amigos me olhavam com sorrisos idiotas estampados nos rostos, então segui para fora do salão sem encará-los. Senti Dominique saltar nas minhas costas quando já estávamos no hall de entrada, bagunçando meu cabelo.
I watched with glee
While your kings and queens
Fought for ten decades
For the gods they made
- Grande Lucas! – falou debochado – Uma namorada fora da escola e uma amostra grátis aqui!
- Cala a boca, Dominique!
- Ah Lucas, ela é bonita... E esta apaixonada por você! – Michel falou alto e rindo
- Ela tem 12 anos! Estão loucos?
- Quando a gente tem essa idade sempre se apaixona por um menino mais velho... Cuidado para não magoa-la, Luke... – Marie falou tentando não rir
- Ah, mas se o Lucas magoar a menininha, é só dar uns beijinhos nela que a dor passa.
I shouted out,
"Who killed the Kennedys?"
When after all
It was you and me
Dominique soltou meu pescoço e começou a beijar a palma da minha mão, fazendo barulho de estalos muito altos. Empurrei-o rindo e ele me empurrou de volta, também rindo. Fomos brincando assim ate a porta da biblioteca, parando para esperar por Bernard. Eles ainda debochavam da minha cara e precisava desviar as atenções um pouco, fazer com que ríssemos de outra pessoa. Por sorte Antoine vinha saindo bem na hora, carregado de livros e lendo distraído um deles. Discretamente pus o pé no caminho e ele tropeçou, espalhando o material por todo o corredor. As gargalhadas ecoaram por toda a extensão dele e o bolha d’agua saiu catando os livros revoltado, mas sem se atrever a revidar. É... A galera estava finalmente de volta a vida normal...
Pleased to meet you
Hope you guessed my name, oh yeah
But what's puzzling you
Is the nature of my game, oh yeah, get down, baby
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N.A.: ‘Sympathy for the Devil’, Rolling Stones
Wednesday, August 09, 2006
Nem tudo é perfeito.
Minha mãe acabou descobrindo nossa aventura numa boate trouxa, e como previsto ficou brava. Por algum milagre ela não nos pôs de castigo, mas mandou meu pai ter uma daquelas conversas de "homem para homem" comigo e meu primo. Meu pai disse à ela que já havia tido esta conversa comigo, há um bom tempo, não seria necessário, mas ela insistiu que ou ele reforçava a conversa ou ela o faria.E lá fomos nós três conversar sobre "os fatos da vida". Confesso que só não dormi, porque a expressão do Riven ao fazer algumas perguntas óbvias, era muito engraçada.
A irmã do Riven, Ariel, conseguiu vir nos visitar. Ela havia aproveitado uma passagem dos Duendeiros por Londres para um show e veio jantar em casa, junto com o namorado, que era vocalista da banda. Ela trabalhava para a banda como assessora de imprensa, e por conta disso, viajava o mundo inteiro com eles. Meu pai resolveu bancar o tio ciumento e encheu o rapaz de perguntas, olhava de cara amarrada para o coitado e fazia ameaças. Riven e eu fazíamos cara feia para apoiá-lo.
- " se você fizer algum mal para nossa Ariel, o mundo vai ser pequeno demais para você se esconder de nós..." OU "Acho que métodos como cortar fora uma mão boba, ou outra coisa acalma namorados afoitos..."
-TIO! – gritou Ariel envergonhada e minha mãe começou a rir. Papai que já havia feito o Kevin engasgar apreensivo, riu e pediu desculpas pelas coisas ditas. O resto da noite foi muito animado, eu até consegui autógrafos para mandar para a Luna junto com uma camiseta da banda. E Kevin adorou meus pais, especialmente depois que o velho contou que viu o último show dos Beatles.
Riven e Desireé havia se entendido antes dele voltar para a Escócia, e por conta disso, eu havia começado a sair sozinho pros lugares, sem meus pais saberem, não ia ficar de vela não é?
Um dia voltei para casa, e para não ser percebido entrei pelos fundos. Ouvi o som ligado e fui até a sala ver quem ouvia aquela música melosa. Pelo que eu sabia meu pai estava no Ministério trouxa e minha mãe devia estar dormindo, pois havia passado a noite trabalhando para a Ordem, mas eram pais na sala. Não costumava ficar observando-os quando estavam sozinhos, mas desta vez fiquei parado onde estava. Acho que mamãe estava com uma das crises de insônia, notava-se o cansaço no rosto dela. Vi quando meu pai a pegou no colo e começou a dançar com ela, bem devagar, sussurrando palavras em seu ouvido. Dava pra sentir o quanto eles se amavam. Fui para meu quarto começar a arrumar minhas coisas, faltavam dois dias para voltar à escola, pois Gabriel e Miyako vieram a Londres e fomos juntos comprar o material no Beco Diagonal. Meu amigo agora era monitor, e eu havia ficado feliz por ele. Além de ele merecer, iria facilitar nossa busca pelas passagens secretas do castelo para a confecção do mapa. E claro que havia outras novidades: tia Louise havia se acertado com o pai do Gabriel, (o lobo-pai voltou á matilha.) Gabriel estava tão feliz que nem me cutucou quando uivei para zoar com ele. E meu padrinho Sergei após anos apaixonado, pediu tia Yulli em casamento. Miyako, dizia toda feliz que iria ganhar um pai lindo de morrer. Garotas...
Tudo estava nos eixos, e nada poderia estragar isso.
....
- Ty aonde você vai agora?
- Preciso ir até o centro rapidinho mãe.
- Mas seu pai logo vai chegar para te levarmos até a escola.
- Volto logo. Não se preocupe. - joguei um beijo e sai rápido para pegar o ônibus para ir ao centro da cidade. Havia encomendado uma cera especial para passar na minha vassoura e como o artigo era bom, fui comprar uns potes para o Gabriel e a Miyako. Na volta resolvi cortar caminho passei por um beco, perto de uma joalheria. Nunca fui muito ligado neste tipo de loja, mas um movimento chamou minha atenção. Olhei e vi meu pai. Enchi o pulmão de ar para chamá-lo quando vi uma garota com ele. Arregalei o olho quando ele colocou a mão sobre a dela. Ela era bem jovem, devia ter mais ou menos a idade da Ariel. A vendedora se aproximou trazendo algumas peças, vi quando meu pai colocou um colar em volta do pescoço da garota, e ela o abraçou. Fiquei tão nauseado com o que havia presenciado que passei mal. Voltei para casa e acabei contando tudo para mamãe. O que mais doeu em mim foi ver a dor estampada nos olhos dela. Quando meu pai chegou, óbvio que negou, disse que eu havia entendido errado, cheguei a ficar em dúvida se havia agido certo em contar, pois eu mesmo não acreditava no que tinha visto. Claro que eu via o quanto ela se esforçava para não chorar na minha frente e isso aumentava a raiva que eu sentia dele.
- Ele não podia fazer isso com ela... Com a gente. Eu... Odeio meu pai. - disse alto demais e tio Logan ouviu.
- Não diga isso nem brincando Ty. Ele sempre vai ser o seu pai, e isso não vai mudar.
- Gostaria que mudasse... Ou que eu não tivesse contado a ela. Porque eu não o confrontei no lugar dela? Droga... Não deveria ter voltado para a escola... - disse frustrado, enquanto olhava para o ex-namorado dos tempos de escola da minha mãe.
- Numa crise como esta, eles precisam de espaço Ty. Nem sempre as palavras trocadas serão agradáveis de ouvir, e sua mãe queria te poupar deste tipo de coisa, isto é um assunto de casal e não de pais e filhos.
- Tenho medo que eles briguem e as coisas saiam de controle. Nunca houve uma coisa séria assim entre eles... – murmurei.
- Sua mãe sabe se defender, e seu pai, apesar do que houve, nunca a machucaria fisicamente. Siga sua vida e logo seus pais falarão com você sobre o que decidirem. Eles o amam muito, não se esqueça disso, e vão resolver esta situação da melhor maneira possível. (ele pensou um tempo e disse) - Procure não julgá-lo Ty, seu pai é um ser humano, e comete erros.
Conversamos por mais um tempo e depois disso ele foi embora, me deixando na escola, esperando por meus amigos. Agora entendo porque apesar dos ciúmes do tio Logan, meu pai nunca conseguiu expulsá-lo da nossa vida. Ele é um bom homem e a prioridade dele sempre vai ser a minha mãe, e por isto ele tem a minha amizade.
Sempre achei que meus pais fossem envelhecer juntos, que o amor deles seria pra sempre e eu achei que um dia eu teria isto também. Vejo que tudo isto é mentira, um conto de fadas que a gente ouve para dormir. Só que quando você acorda, descobre que na vida real nem sempre temos finais felizes.
Thursday, August 03, 2006
Acertando as contas com o papai
Era o penúltimo dia de férias e estávamos todos no Beco Diagonal comprando o material novo. Ty e Miyako voltaram a Londres para passar a ultima semana e andamos fazendo planos para o novo ano letivo. Junto com minha lista de livros veio um distintivo com um M no meio, eu agora era monitor da Sapientai, então meus amigos já pensavam nos benefícios que isso traria. Depois de abastecer os bolsos com porcarias para o ano todo na loja de logros dos gêmeos Weasley meu pai veio nos buscar, deixando cada um em sua casa. Como minha mãe estava de plantão no St. Mungus e tio Scott a serviço da ordem, acabei indo com ele e Gina para Godric’s Hollow.
- Prometo não demorar. Só preciso resolver algumas coisas com Quim e já vamos embora. – ele falou quando entramos
- Tudo bem. Não estou com pressa...
- Vem Biel, me ajuda a terminar de arrumar minha mala então. Amanha já é 1º de Setembro e minhas coisas ainda estão espalhadas! – Gina falou
Subi com ela e a ajudei a empacotar as coisas enquanto conversávamos. Já havíamos terminado e resolvemos esperar na cozinha. Quando estávamos descendo, passamos por um quarto que estava sempre lacrado, ninguém nunca entrava lá. Desde que minhas férias começaram, eu me coçava para saber o que tinha ali, mas nunca consegui perguntar. Sem pestanejar, girei a maçaneta e passei por baixo da fita que o isolava, entrando. Gina veio atrás de mim curiosa.
Era o quarto que eu havia visto no meu 1º dia aqui, quando ainda não estava fechado. Tinha um berço velho, já um pouco corroído, cortinas rasgadas e marcas de luta nas paredes. Até hoje não sabia quem morava ali, mas Gina parecia saber e começou a falar, a voz embargada.
- Foi aqui que você-sabe-quem matou a mãe do Harry e perdeu os poderes...
- O que? Está brincando!
- Não... Essa casa era dos pais dele e agora é dele. Estava fechada desde que os Potter foram assassinados.
- Huum, então é por isso que ele anda pelos cômodos com aquele ar autoritário?
- Acredito que sim... Tudo aqui pertence a ele.
- Não entendo o que você viu no Harry... Ele é tão idiota!
- Bom, nem eu, mas não tenho controle sobre isso. Anda, vamos sair daqui, esse quarto me dá arrepios! – e me puxou pela mão
- O que estão fazendo aí?
Uma voz conhecida ecoou no quarto e virei assustado para a porta. Ainda estava hipnotizado pensando na ultima vez que alguém dormiu aqui e não percebi que ele havia chegado. Harry estava parado na porta com uma cara séria, de braços cruzados, parecendo incomodado por estarmos dentro do quarto que foi dele quando bebê. Ou isso, ou ele estava incomodado do ver Gina de mãos dadas comigo. E ela parecendo pensar o mesmo que eu, não as soltou e continuou parada.
- Quem lhes deu permissão de entrar aqui? Não viram o lacre na porta?
- Nem reparei nele, onde está? – falei debochado
- Façam o favor de sair do meu quarto, não quero ninguém fuxicando aqui!
- Não estávamos fuxicando, só olhando! – Gina falou
- Sei muito bem o que estava fazendo, dada a sua fama...
- Olha como você fala dela, seu otário! – gritei
- Falo com ela do jeito que quiser!
- Não fala não, pensa que ela é o que?
- Gina, fala pro seu namoradinho ficar quieto...
- Deixe pra lá Gabriel, vamos embora.
- Não! Quem ele pensa que é pra falar com você assim?
- Olha aqui garoto, não pense que só porque você é filho do professor Lupin que eu não te azaro!
- E não pense você que só porque ele te protege, eu não lhe acerto um soco!
- HÁ! Essa eu quero ver! – falou rindo – Acho que ninguém lhe avisou que...
Mas não esperei ele terminar a frase. Juntei todas as minhas forças e acertei o pé em cheio na canela dele, fazendo Harry cair no chão gritando. Com os olhos lacrimejando ele sacou a varinha e berrou qualquer coisa na minha direção, mas me abaixei e o feitiço estourou o lustre no corredor. Gina começou a gritar por socorro e aproveitei que ele ainda estava caído para chutar a mão que segurava a varinha, arremessando ela pro outro lado do quarto. Ele agarrou minhas pernas e nos embolamos no chão, podia ver os dedos vermelhos que havia atingido com o chute. Mas antes que começássemos a desferir socos, senti uma mão me agarrando por trás e me segurando com força. Era meu pai, que aparentemente veio correndo com Quim atraídos pela gritaria de Gina. Eu me debatia tentando me soltar e via que Harry também lutava para se libertar de Quim, mas ele era imensamente mais forte que ele e mal fazia esforço para segura-lo.
- O que deu em vocês? Por que estão agindo feito bichos? – Quim falava
- Foi ele quem começou me chutando! – Harry me acusou
- Por que fez isso Gabriel? Você não é assim! – meu pai falou me segurando
- Você mal me conhece, como pode saber como sou? – berrei revoltado, me soltando dos braços dele.
- Conheço você sim! Ei, aonde você vai? Volta aqui!
- Você não manda em mim!
Sai do quarto apressado sem olhar para trás. Não sabia por que havia falado com ele daquele jeito estúpido, ele não tinha culpa, mas estava com raiva e acabei descontando na pessoa errada. Meu desafeto com Harry vem desde a época que ainda estudava em Hogwarts, nunca fui com a cara dele e ele também nunca foi com a minha, mas nunca sequer discutimos já que mal nos falávamos. Só que hoje acabei não me segurando e exagerei. Gina veio atrás de mim quando desci as escadas correndo e entrou no quarto onde eu estava, mas meu pai veio logo em seguida e pediu que ela saísse. Mesmo sabendo que ele não tinha culpa, continuei a descontar nele a raiva.
- Veio ouvir minha versão da historia ou só comunicar que já acreditou no que o pequeno príncipe contou?
- Do que você esta falando?
- Ah todo mundo sabe que o idiota do Harry é o seu protegido, que você acredita em tudo que ele diz!
- Eu não o protejo de nada e... Gabriel, você esta com ciúmes dele?
- Ciúmes? Claro que não, de onde tirou essa idéia ridícula? Por que teria ciúmes de você?
- Bom, talvez porque eu seja seu pai e você esta imaginando que se alguém tem que ser meu protegido agora, esse alguém é você...
- Não é nada disso...
A quem eu estava querendo enganar? Era exatamente isso! Por mais que eu negasse, estava com ciúmes da ligação entre ele e o Harry, queria que ele tivesse brigado com ele lá em cima me defendendo, por mais que eu estivesse errado. Mas sabia que ele não faria isso, ainda mais sem saber o que realmente aconteceu.
- Gabriel, a partir do momento em que soube que era seu pai, você passou a ser prioridade na minha vida. Não quero que você duvide disso nunca mais. E não me importo que você não goste do Harry, tudo bem, é um direito seu.
- Não vai perguntar por que eu bati nele?
- Não, não quero saber os motivos.
Ele me encarava sério e abaixei a cabeça, me sentindo um idiota. Mesmo depois de ter o ouvido dizer que sempre daria prioridade a mim, eu ainda não conseguia evitar sentir uma pontada de ciúmes. Ele levantou e foi até uma escrivaninha, puxando um pedaço de pergaminho e uma pena da gaveta e anotando alguma coisa. Quando terminou, sentou ao meu lado e me entregou.
- Caso você ainda tenha alguma duvida, que isso fique como prova...
- O que é? – falei ao ver alguns rabiscos no pergaminho
- São os feitiços que usamos para fazer o mapa do maroto. Não era isso que você tanto queria?
- Mas você disse que não ia me ensinar.
- Sim, disse. Mas quero mostrar que cofio em você e sei que não irá usar isso para fazer bobagens. Aí ensina o passo-a-passo, se segui-lo não tem erro. Só não deixe sua mãe saber disso, por favor. Ela não vai gostar nem um pouco.
- Não vou contar... Obrigada!
- Se tiver alguma duvida sobre os feitiços é só me escrever. – falou se levantando para sair
- Er... Pai? Desculpa por ter dito aquelas coisas...
Ele parou a meio caminho da porta e me encarou. Foi então que eu percebi que era a primeira vez que o chamava de pai. Mesmo tendo sempre dito para os outros, nunca havia falado na frente dele. E ele também percebeu, pois sorriu de leve e voltou para onde eu estava.
- Vamos pra casa, filho. Já terminei o que vim fazer aqui...
Saímos da sede da Ordem e voltamos para casa em Londres, foi a ultima vez que pisei Godric’s Hollow antes de voltar para Beauxbatons. Naquele tarde nós conversamos de verdade pela primeira vez. Eu falei da minha vida até ali e ele me falou da dele, falamos de escola e quadribol, ele me ensinou a executar os feitiços do mapa, me ajudou a arrumar o resto da mala, assistimos filmes comendo pipoca e deixamos a cozinha do tio Scott bagunçada, compartilhamos historias... E quer saber? Eu me senti o garoto mais feliz do mundo...
Wednesday, August 02, 2006
Acontece nas melhores famílias...
Do diário de Isa McCallister
AM: Acredite você ou não Isabel, eu tenho coisas mais interessantes pra fazer da minha vida do que pregar peças nas pessoas, ainda mais com uma coisa tão séria.
AM: Que a minha família, quer dizer, nossa família é uma droga! Olha, lê isso...
O Grimoire, como você bem sabe, é o livro da família Damulakis desde o surgimento. No tempo em que foi criado, muito pouco se conhecia da magia, dos feitiços. Nossos antepassados escreveram nele por décadas, séculos, milênios talvez... Foi passando de geração em geração, e então, chegou até mim, como uma carga a ser passada eternamente, e o peso dela é mais do que eu poderia suportar.
Sinto que envergonhei e degradei a tradição quando resolvi deixar de escrever nessas páginas amaldiçoadas, e mais ainda, quando resolvi escondê-lo, ignorá-lo, por medo de te passar algo tão horrível.
Diz a tradição que o livro deve ser passado aos herdeiros imediatos assim que se tornassem maiores de idade. O ganhei no dia do meu aniversário de 17 anos. Estava empolgada, me sentia grandiosa e satisfeita em fazer parte daquele mundo novo. Li essas páginas com tanta empolgação, que quando descobri o que estava por trás, levei o maior tombo que alguém poderia imaginar um dia.
Não conseguia acreditar, eu estava hipnotizada por um mundo mágico, e descobrir que tudo não passava de um beco imundo, me fez saltar da integridade para a solidão. Acho que você deve estar se sentindo assim...
Como você deve ter lido, relido e confirmado, a família Damulakis não é tão confiável assim como imaginávamos não é mesmo? Somos responsáveis pela criação e aprendizado de todas as piores maldições que os bruxos até hoje viram. Fomos aliados das trevas, e pelo jeito, está em nosso sangue continuar desse lado. As maldições imperdoáveis nada passam de uma brincadeira com varinhas que alguém à muito tempo atrás descobriu, achou graça e quis compartilhar.
As maldições imperdoáveis foram feitas no nosso passado, vivem no presente de todos, e acabam com o futuro de muitos.
Diante dessa terrível realidade, como eu poderia continuar? Como eu iria te contar que a família a qual você pertence é lendária? Eu não tive coragem. Acho que um dos principais motivos de ter me tornado auror foi constatar que precisava combater os fantasmas do meu passado pra ajudar a melhorar a realidade. Quis te isolar de tudo, te dar uma visão boa de uma família. Me casei com um trouxa, o melhor que já conheci. Compartilhei com ele todas as melhores e piores coisas que eu vivi, e ele me deu apoio em tudo que precisei. Então, fiquei sabendo que estava grávida de gêmeas. Seria maravilhoso ter gêmeas, em outras circunstâncias...
Quando sua avó soube que havia voltado formada na academia de aurores, casada com um trouxa, e grávida de gêmeas mestiças, fui expulsa de casa. Seu pai e eu agüentamos a barra juntos, e quando vocês nasceram, bem, estávamos tão felizes... Me sentia completa novamente.
Então, de repente, as coisas começaram a mudar. Por causa da sua avó e da minha carga, eu e seu pai tivemos alguns problemas, e eles foram aumentando. Eu sabia que era algum tipo de maldição desse livro, algo por eu não ter completado a tradição de ter filhos “puros” para repassar. Acabei me separando dele, mesmo o amando com toda a intensidade de antes. Tive medo de algo ruim acontecer e ele pagar por meus erros. Sua irmã foi morar com ele, e eu voltei, para a minha casa. Logo sua avó morreu, e você começou a crescer.
Bel, me desculpa te esconder tudo sobre o seu passado, e tudo sobre o passado de todos nós. Eu me sinto fraca, incompetente. A única coisa que consegui escrever nessas páginas, foi a minha história. A história de como finalizei uma tradição milenar por não conseguir ser cruel, por ter tido a capacidade de amar.
Só tenho uns pedidos a fazer... Antes de escolher o que ser da vida, escolha algo que vá te deixar feliz por completo! Você não faz mais parte desse livro, e não terá de escrever nada nele. Sua irmã e seu pai moram
AM: É...
IM: Bem, não vou mentir que estou perplexa de saber que até hoje os comensais da morte usam-se das maldições que um dos nossos antepassados criou, mas admito que agora me sinto mais tranqüila em saber que pelo menos meu pai não se engana quando me diz que nossa mãe é a melhor bruxa que ele um dia conheceu...
IM: Desculpas por quê?
AM: Por ter julgado você, por ter deixado claro que me achava superior só por ter sido criada dentro do mundo bruxo. Por ter julgado nosso pai, e negado o sobrenome. Me sinto perdida. Não estou com raiva da minha mãe, muito pelo contrário! Ao descobrir que ela não quis fazer parte desse passado sujo, eu a admirei ainda mais, mas fico triste em saber que poderíamos ter sido uma família feliz...
IM: Vai, eu converso com meu pai... Conto tudo que aconteceu.
AM: Ok então, vou de flú!
IM: Você acha que eles ainda se amam?
IM: Será que eles voltariam a ficar juntos?
AM: Como?
IM: Bem, agora que ela não tem que esconder mais nada pra proteger ninguém aqui... Não foi esse o motivo?
AM: Não sei... Você quer que façamos eles ficarem juntos de novo?
IM: Por enquanto eu só quero que tudo fique bem, mas se eles se amam e nada impede eles de ficarem juntos, não seria tão má idéia.