- Dani, sinto muito por nenhum de nós estar aqui quando tudo isso aconteceu – Olivia falou me abraçando, depois que terminei de contar toda a história.
- Henri estava aqui comigo, podia ter sido pior. O que importa é que vocês estão aqui agora.
- E acabei de falar com o Phil – Marcel apareceu outra vez na sala, com um espelho de duas vias na mão – Ele pediu desculpas por não ter chegado ainda, mas não tinha como aparatar da África até aqui. Já entrei em contato com o Ministro africano, Phil está indo até o Ministério agora mesmo pegar a chave de portal que pedi para ele autorizar e deve chegar aqui daqui a pouco.
- O que vai fazer com seus irmãos, Dani? – Kwon perguntou o que eu mais temia.
- Ainda não sei, mas não posso deixar que mandem eles pra um orfanato, ou pior, que mandem eles pra outra família e acabem separados.
- Isso não vai acontecer, não vamos deixar – Andreas falou firme e todos concordaram com a cabeça – Seus irmãos vão ficar aqui, vocês são uma família e não vão ser separados.
- Faremos o que estiver ao nosso alcance para ajudar, não se preocupe – Anabela me abraçou também.
- Obrigada, pessoal – sorri agradecida para eles – Vocês são os melhores amigos que alguém podia ter.
- Somos uma família e ajudamos uns aos outros, para isso temos os pingentes – Bianca apertou o pingente em forma de cruz na mão e sorriu – Estamos ligados para sempre.
ººººº
Depois que Philipe conseguiu voltar através da chave de portal que Marcel arranjou e ir direto para a minha casa, eles começaram a me ajudar com os preparativos para o enterro. Eram tantas pessoas tentando ser o mais prestativas possíveis que acabaram não me deixando fazer quase nada. Tudo foi resolvido com muita agilidade e na manhã do dia seguinte, eu e meus irmãos pudemos dar o último adeus ao nosso avô.
Embora nossa família agora estivesse reduzida, o movimento na casa havia aumentado. Meus amigos, assim como Henri, não me deixavam sozinha um minuto sequer, a sala estava sempre cheia com as conversas animadas para tentar me distrair de todas as maneiras. Era bom, eu não podia reclamar de nada. Ter toda aquela bagunça ao meu redor mantinha minha mente ocupada, mas ainda assim eu precisava me concentrar nos problemas que agora me acompanhavam, como a lista de materiais minha e dos meus irmãos que haviam acabado de chegar. Elas vieram junto de uma carta de condolências da professora LeFreve e uma notificação de que, assim como eu, Frederic e Tomás poderiam estudar em Beauxbatons por meio de uma bolsa de estudos. Isso resolvia parte dos meus problemas, mas não todos eles. Ainda precisava comprar os livros, e em dobro.
Faltava uma semana para a volta às aulas e a casa estava menos povoada, apenas Henri e Marcel me faziam companhia. Marcel havia levado Remy para brincar com meus irmãos e mantê-los um pouco distraídos, o que era ótimo, pois sempre os pegava olhando fotos do vovô pela casa com expressões tristes. Começar a estudar em Beauxbatons faria bem a eles. Enquanto eles brincavam no quarto, eu estudava a lista de materiais na cozinha, alheia a conversa amistosa entre Marcel e Henri.
- Vocês ganharam o campeonato em Junho, mas não conte com isso pra próxima temporada – Marcel falava convencido – Esse ano teremos Bianca Latour no time.
- Quem disse? – Henri debochou – O diretor não autorizou garotas a jogar, vocês vão perder outra vez.
- Isso mesmo, Renoir, continue se iludindo. Vai ser mais divertido quando verem Bianca entrando em campo com o uniforme da Lux.
- Bianca vai jogar, Henri – desviei a atenção das listas por um instante – Ainda não foi aprovado, mas será.
- Como estão as contas? – Henri resolveu mudar de assunto quando Marcel riu com gosto, atirando amendoins na boca como uma foca pegando peixes.
- Muito bem, já consegui cortar tudo que não é realmente necessário e Tomás pode usar meus livros, faltam só os do Fred.
- Ele pode usar os meus, já falei milhões de vezes – Henri insistiu, um pouco impaciente – Não os uso mais e nem tenho irmãos mais novos, eles são seus se quiser.
- Já disse que não preciso dos seus livros, Henri – respondi também impaciente – Quantas vezes vamos voltar a esse assunto?
- Por que seus amigos podem ajudar em tudo e quando eu tento, você sempre veta? – ele se levantou da mesa, irritado – Só estou tentando ajudar e não diga que não precisa, porque você sabe que precisa.
- Por que você não vai pra casa? Não disse que ia visitar o St. Napoleon hoje com seu pai? Já está atrasado.
- Ótimo, agora está me expulsando.
- Ok, chega.
Levantei da mesa irritada e o puxei pela mão até o lado de fora da casa, deixando Marcel sozinho na cozinha.
- Por que você faz isso, Dani? – Henri se acalmou um pouco e me encarou parecendo chateado.
- É diferente quando você faz alguma coisa por mim e quando meus amigos fazem – segurei seu rosto com as mãos e ficamos mais próximos – Por favor, não fique chateado com isso.
- Você sabe que eu te amo e quero fazer tudo por você, não é?
- Sim, eu sei, mas você não pode fazer tudo, tem que me deixar me virar sozinha também – ele resmungou algo que não entendi e acabei rindo – Volta amanha pra me ver?
- Claro que eu volto – ele segurou meu rosto também e me encarou – Eu te amo.
- Eu também te amo.
Henri me puxou para junto dele e meu beijou, aparatando em seguida. Voltei para dentro de casa e Marcel estava com os pés em cima da mesa, ainda atirando amendoins para o alto antes de pega-los com a boca e me olhava com um sorriso esquisito. Caminhei de volta para o meu lugar o encarando de volta, mas sem perguntar nada.
- Então... – assim que eu sentei, ele começou – Por que não deixa seu namorado ajudar? Sabe que não sou fã do Zé Mané, mas tenho que admitir que ele gosta de você de verdade e só quer ajudar.
- Dia épico! Marcel Grimaldi tomando partido de Henri Renoir! – brinquei, antes de ficar séria outra vez – É complicado.
- Descomplique pra mim, então – ele se ajeitou na cadeira e tirou os pés da mesa – Estou com tempo, não tenho nada marcado pra essa tarde.
- É a família dele, eles não gostam muito de mim – falei desanimada – Na verdade, eles me odeiam. Não quero que Henri me dê nada, porque não quero dar motivo para eles falarem alguma coisa.
- Por que eles odeiam você?
- Porque acham que quero dar o golpe do baú no filho deles. Henri é rico, eu sou pobre, é matemática simples.
- Ora, mas isso é ridículo! – Marcel se irritou – Se eles a conhecessem ao menos um pouco, saberiam que é a teoria mais patética do mundo!
- Eu sei, mas eles não fazem questão de me conhecer, a irmã dele dá relatórios suficientes para isso. Henri não faz idéia, e prefiro que continue assim.
- Aquela garota é ridícula. Ela se acha melhor do que todo mundo, me dá nervoso conversar por mais que 30 segundos com ela.
- É, ela é uma pessoa muito agradável... – fiz uma careta e ele riu – Mas mudando de assunto... Que história é essa de você e a Olivia estarem namorando? Isso é sério?
- Quem te falou isso? – ele se espantou e sua reação chamou minha atenção.
- Tomás, ele disse que ela passou o fim de semana em La Roche com você e que os pais dela também foram, disse que ela estava sendo apresentada a sua família como sua quase noiva.
- Ah, é, sim – ele gaguejou um pouco – Estamos namorando.
- Mentiroso – Marcel reagiu outra vez, o que só provou que eu estava certa – Vocês não estão namorando coisa alguma, então pode falar a verdade. Contei sobre a família do Henri, sua vez.
- É uma história complicada.
- Descomplique pra mim, então – repeti seu gesto de apoiar os pés na mesa – Estou com tempo, não tenho nada marcado pra essa tarde. Bom, só comprar alguns materiais, mas ainda é cedo.
Marcel riu por tê-lo imitado e começou a me contar, com detalhes, toda a confusão em relação à história de que ele e Olivia estavam namorando. E principalmente, de como eles agora estavam tão enrolados na própria mentira que não tinham muitas opções para sair dela sem que ninguém fique mal.
- Bom, então a única solução que encontramos foi esperar passar uns dois meses depois de já estarmos de volta a Beauxbatons e então escrevemos aos nossos pais e contamos que decidimos continuar sendo apenas amigos. Eles não estão lá para nos ver todo dia, não precisam saber que nunca fomos namorados de verdade.
- E quanto aos seus seguranças? Acha que eles não vão notar?
- Eles são meus cúmplices, não dizem nada que não seja necessário. E Olivia e eu estamos sempre juntos de qualquer forma, só precisamos andar um pouco de mãos dadas e pronto, ninguém vai perceber.
- É, dá pra enganar mesmo, mas... Quando você pretende dizer a Olivia que está apaixonado por ela?
- Como? – Marcel soltou uma gargalhada que deveria ser descontraída, mas pra mim soou um pouco nervosa – Não estou apaixonado por ela, é tudo uma brincadeira que foi longe demais.
- Marcel, por favor, a mim você não engana. Essa história pode até colar com o resto da turma, e aposto que vai colar, mas está estampado na sua cara que você gosta de verdade da Olivia. Aposto o que eu tenho, e não é muito, que a idéia de prolongar o fim da mentira partiu de você. Olivia queria acabar com isso logo, mas você conseguiu convencê-la de que era melhor adiar.
- Você não vai contar a ela, não é? – ele se rendeu.
- Eu não vou contar nada, mas por que você não conta?
- Dani, qual é, olha bem pra mim – ele levantou da cadeira e estendeu os braços – Eu não sou o tipo da Olivia. Não sou o Kwon, não sirvo pra ela.
- Você não serve pra ela? – fui obrigada a rir – Marcel, está brincando, não é? Você é o garoto dos sonhos de qualquer garota daquela escola! Você é lindo, educado, charmoso, rico e como se isso não bastasse, é um Príncipe. De verdade!
- Isso não me faz ser qualificado pra ela, não temos nada em comum – ele sentou outra vez, derrotado. Era estranho ver Marcel assim – Ela me acha uma grande piada.
- Então talvez esteja na hora de mudar essa imagem que Olivia tem de você.
- Você vai me ajudar?
- Sim, vou. Se seguir as minhas dicas, Olivia vai ser sua namorada de verdade antes do fim do ano letivo.
- Por favor, não conte isso a mais ninguém. Vamos manter a versão original da história, ok?
- Sem problemas. Pode apostar que em dois meses, ninguém vai enviar nenhuma carta aos pais comunicando o fim do namoro – estendi a mão e Marcel a apertou, mais animado.
- É um trato, Darrieux – ele levantou outra vez e tomou a lista da minha mão – Agora pare com essas contas que está me deixando louco. Vou ficar devendo um grande favor a você e vou começar a pagá-lo eliminando essa lista, vamos para o Beco Diagonal.
- Marcel, não se atreva! – tentei tomar a lista de sua mão, mas ele a escondeu dentro do casaco.
- Não sou seu namorado e minha família lhe adora, não tem desculpas. Alias, será que você pode, pelo amor de Merlin, aceitar o convite da minha mãe e passar o resto das férias no Palácio? Ela está me enlouquecendo de preocupação com você aqui, sozinha com os gêmeos.
- Só se me deixar pagar ao menos uma parte dessa lista.
- Como quiser. Vamos?
Marcel estendeu o braço e o segurei, me dando por vencida. Chamamos os meninos no quarto e, acompanhados dos seguranças de Marcel e Remy, passamos o resto da tarde no Beco Diagonal fazendo as compras para a volta as aulas. Aos poucos, as coisas estavam voltando ao normal.
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