As férias deste ano estavam sendo fora do comum. Depois do funeral do pai e da irmã do AJ, Virna queria que eu ficasse em casa e limitasse minhas saidas ao maximo possivel. Entendo que ela se preocupe comigo, mas ela estava exagerando, afinal eu estava de férias, tinha uma vida social fora da escola e o mais importante, tinha um namorado que eu gostaria de encontrar. Quando AJ escreveu me convidando para ficar em sua casa para a semana de treinamento em DCAT, e Kyle seria um dos responsáveis não teve jeito dela me segurar, pois ele disse que eu iria com ele, sem discussões.
Mesmo que eles briguem às vezes, ela é doida por ele e não consegue dizer não. Ele é um bom homem e muito competente no trabalho e não liga para o fato de Tristan não ser de uma familia rica, diz que o mais importante para ele é o caráter de uma pessoa e que confia em meu julgamento. Claro que ele discretamente me relembrou das minhas notas em DCAT e que eu deveria aproveitar a oportunidade de marcar alguns pontos com a professora Rosseau. :P
Após o treinamento, cada um de nós foi aproveitar o que restava de seus dias de folga, e como AJ iria viajar, Tristan voltou para o orfanato e eu após ficar alguns dias na Escócia com Virna visitando alguns parentes dos McGregors, recebi uma carta de Alice, namorada do AJ me convidando para ficar com ela e sua familia em Paris, até o começo das aulas. Minha irmã me olhou desconfiada, mas como eu a lembrei que já tinha 17 anos e se quisesse poderia ir embora de vez, ela parou de resmungar.
Fui até até casa de Alice através da rede de Flú, e os Oceanborn me receberam muito bem, colocamos nossas conversas em dia, saimos para fazer compras para a volta à escola e logo ficamos livres, como eu queria fazer uma surpresa ao Tristan, me despedi dela e fui até o Orfanato aonde ele morava e quando cheguei lá, me informaram que ele havia ido embora. Como havia passado pouco do horario de almoço, lembrei o nome do restaurante trouxa onde ele estava trabalhando e fui até lá. Respirei aliviada ao ver que ele estava bem. Quando ele me viu, abriu um sorriso enorme e falou com alguém do restaurante que parecia ser o gerente até onde eu estava, me deu a mão e me levou para fora. Assim que saimos para fora, ele me deu um beijo nos lábios e disse:
- Oi! Você não tem idéia de como senti sua falta.
- Também senti a sua. Fui te procurar no orfanato. O que aconteceu?
- Já tenho 17 anos, sou maior e segundo o diretor, ele já me aturou demais.Então sai de lá.
- Onde você está morando?
- Numa pensão aqui perto, não se preocupe... Vamos tomar um sorvete...- desviou das perguntas e me levou até um carrinhos de sorvete, onde comprou duas casquinhas de chocolate e nos sentamos no banco enquanto olhávamos as pessoas aproveitando o resto do dia de sol no parque. - Quero ver aonde você esta morando Tristan...- insisti porque Tristan, não gostava de dividir problemas, ele sorria, ele brincava, mas seus olhos o entregavam quando estava preocupado.
- Está querendo ficar sozinha comigo Millicent? Posso achar que é uma proposta indecente...- disse me olhando de um jeito maroto, enquanto eu sentia meu rosto esquentar, e ele riu. Dei-lhe um tapa no braço e rimos.
Continuamos a tomar sorvete e ele acabou me contando o que tinha acontecido no orfanato, e como eu insisti, ele me levou até o local aonde estava morando provisoriamente até a nossa volta para a escola, e era um lugar tão deteriorado, que fiquei abismada em saber que alguém cobrava por aquilo.
- Meu quarto não é tão ruim assim. Sabe que sou bom em arrumar as coisas. - ele se desculpou, e eu me segurava para não tremer enquanto subiamos a escada e via baratas de todos os tamanhos, fugirem pelos vãos dos degraus. O quarto estava realmente limpo, ele havia cuidado disso, apesar da pintura descascada e do mofo em alguns lugares, o teto tinha rachaduras e marcas de umidade. Não havia muita coisa. Havia uma cama de armar, que estava num canto, coberta por um cobertor fino; uma jarro d’agua em cima de uma bacia, uma das janelas estava quebrada. Imaginei que no calor a brisa que entrava era até refrescante, mas e no inverno? Notei que ao lado da porta havia uma cadeira, e dava para notar que ela tinha as marcas da maçaneta como se ela fosse usada para reforçar a segurança. O banheiro ficava no corredor e eu nem quis ver o estado que estava. Virei-me para ele e perguntei:
- Você tem amigos, porque não pediu nossa ajuda? Porque não pediu a minha ajuda? Estamos juntos Tristan, você poderia ter ido para minha casa...
- Você mora com a sua irmã, e ela não morre de amores por mim.
- Está bem você tem razão, mas mesmo minha irmã, não negaria um lugar para você ficar. Ela pode ser esnobe, arrogante, mas não é um monstro. Ou você poderia ter procurado um dos rapazes...
- Claro, eu só teria que bater na porta deles e dizer: ‘Marcel, seu palácio é grande, posso ficar na ala leste, alteza?? Ou então: ‘AJ, sua casa esta vazia, e você precisa de alguém para usufruir deste conforto, deixe que me encarrego disso’. O fato de serem meus amigos, não significa que posso abusar desta amizade. – ele disse teimoso.
- Eu poderia ter emprestado dinheiro a você para ficar num lugar um pouco melhor.
- Pode não ser um local que você está acostumada, mas o meu dinheiro só consegue pagar isso, aceite a realidade. – disse empinando o queixo.
- Orgulho não resolve nada...- disse e não consegui impedir que meus olhos se enchenssem de lágrimas e ele se aproximou me abraçando.
- Orgulho não resolve nada, você tem razão, mas no momento é a única coisa que ninguém pode tirar de mim, então vou mantê-lo...Eu estou bem, é sério, não é tão ruim quanto parece. Estou recebendo boas gorjetas e logo voltaremos para a escola. Será por pouco tempo, Millie. Eu vou ficar bem, é sério. – e se sentou ao meu lado na cama e tive que levantar os pés assustada quando um rato, passou correndo por cima deles.
- Vem comigo...- disse enxugando as lágrimas, quando uma idéia surgiu na minha mente.
- Aonde?
- Pegue suas coisas e venha. Se você vai ter que morar numa pensão, que seja num lugar onde não terá que disputar o jantar com os ratos.
- Millie...Sei que você tem dinheiro, mas eu não vou usa-lo e...
- Por favor, venha comigo, eu não vou suportar ir embora e te deixar aqui. Prometo que você vai pagar pela sua hospedagem. Vem comigo?- estendi minha mão e ele a pegou se rendendo.
Tristan juntou suas coisas e saimos dali, caminhamos até um local onde poderiamos aparatar e eu segurei a mão dele, o elvando aonde deviamos ir. Chegamos num bairro próximo do centro de Paris, era um bairro muito bonito, entramos num predio residencial, e chegamos a um apartamento todo mobiliado, e com uma bonita vista de Paris, dava até para ver uma parte da Torre Eiffel.
- Onde estamos? Quem mora aqui?- ele quis saber
- É o apartamento da prima Sarah.
- E porque você tem a chave da casa dela?
- Ela me ofereceu quando estavamos na casa do AJ. Eu disse que queria vir para cá uns dias antes do começo das aulas, e ela me ofereceu o apartamento, dizendo que eu poderia usa-lo á vontade, pois estava vazio Você vai ficar aqui Tristan?
- E a Sarah? Não vai ser muito agradavel voltar para casa e encontrar um estranho morando aqui, não é? – ele perguntou preocupado.
- Você não é um estranho, é o meu namorado e ela gostou muito de você. Vou escrever a ela, pedindo para você ficar aqui. Por favor, Tristan, por mim. – e ele após pensar um pouco, disse:
- Está bem eu fico, mas vou pagar a ela, como se estivesse numa pensão. – sabia que não adiantaria discutir sobre isso e o ajudei a se instalar.
Quando terminamos tudo, saimos para comer alguma coisa, e depois ele me levou para a casa da Alice. Passamos a nos ver quase todos os dias, e apesar de tudo, eu nunca tive um verão tão feliz em toda a minha vida.
When I see your smile
Tears run down my face I can't replace
And now that I'm stronger I've figured out
How this world turns cold and breaks through my soul
And I know I'll find deep inside me I can be the one
I will never let you fall
I'll stand up with you forever
I'll be there for you through it all
Even if saving you sends me to heaven
N. Autora: Your guardian angel, The Red Jumpsuit Apparatus
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