- Vamos jogar quadribol – Andreas girava a pomo entre os dedos, entediado
- Quadribol? – Olívia soltou uma risada sarcástica – Não sou a Bia, Andy. Sabe que mal me equilibro em uma vassoura.
- Então vamos jogar xadrez de bruxo – Ela o olhou surpresa a e ele deu de ombros – Que foi? Estou tentando algo que lhe agrade.
- Adoraria jogar, mas não posso. Estou concentrada escrevendo e você está tirando minha atenção com esse pomo.
- Qual é a historia dessa vez?
- Era Medieval – Respondeu entusiasmada – Acho que é o melhor que já fiz até hoje.
- Você devia publicar esses contos, Ollie. São excelentes!
- Quem me dera ter coragem. Mas quem sabe um dia uma editora não se interesse...
- Ninguém vai se interessar por esse bando de baboseiras que você rabisca nos pergaminhos – Giuseppe, seu pai, entrou no quarto irritado – Já disse que está perdendo tempo com isso, mulheres não nasceram para serem escritoras.
- Agatha Christie é mulher e a maior escritora do mundo – Respondeu com raiva
- Ela é uma mulher divorciada e casada com um homem mais jovem, é esse o seu exemplo? Deveria se espelhar em sua mãe, aprender coisas úteis para ser uma boa esposa no futuro!
- Quanta hipocrisia, papai! Quer que eu seja uma mulher submissa? Sem chances! Não que eu queira, mas um dia alguém pode querer publicá-los sim!
- Quero vê-los publicar histórias em pedaços – Ele tomou os pergaminhos da mão dela e os rasgou em um movimento rápido – Limpe essa bagunça e desçam, vamos sair para tomar chá com o Ministro.
Olívia encarava os pedaços picotados do pergaminho espalhados pelo quarto, incrédula, e sem conseguir se controlar começou a chorar. Andreas, que assistia a tudo petrificado, se ajoelhou ao seu lado.
- Chá com o Ministro... Eu não vou. Acho muito mais interessante conseguir montar essa história novamente.
- Não precisa me ajudar, pode ir. Ele não faz questão da minha presença, só da sua.
- Se um gêmeo não vai, o outro também não. Pare de chorar, vai molhar os pedaços de pergaminho e não vamos conseguir ler os trechos, está dificultando o trabalho.
Olívia secou as lagrimas rindo e começou a ajudar o irmão a unir o quebra-cabeça. Sempre podia contar com Andreas e sabia que isso nunca mudaria.
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- Meus pêsames, Sr. Haili. – Catherine Perrineau abraçou forte o senhor de idade
- Tito era jovem demais, eu deveria ter sido levado primeiro – Disse o homem de aparência abatida e cansada
- Não diga bobagens! – Brigou com ele – Não deixe que as crianças ouçam você dizer isso. E por falar nelas, onde estão?
O senhor apontou para o outro lado do cemitério onde um garoto e uma garota estavam sentados sozinhos, cabisbaixos e fitando o lugar onde até minutos antes se encontrava o caixão de seu tio. Catherine caminhou até eles e se sentou na cadeira vazia ao lado da menina, alisando seus cabelos queimados de sol.
- Sei que esse não é o melhor momento, mas preciso conversar com vocês. Meu nome é Catherine Perrineau e era muito amiga dos seus pais...
- Sabemos sobre você, tio Tito falou quando adoeceu – O garoto moreno falou com a voz rouca, ainda sem encarar Catherine
- Ótimo. Então sabem por que estou aqui? – Ele confirmou com a cabeça, mas sua irmã não se moveu – E o que acham sobre isso?
- Bruxos existem mesmo? – Perguntou a encarando pela primeira vez. Seus olhos eram verdes e estavam fundos, era evidente que não dormia há horas
- Sim, eles existem. Eu sou uma, e vocês também. Sua mãe era uma bruxa excepcional e não há qualquer duvida de que vocês tenham herdado isso dela.
- E o nosso pai?
- Ele era trouxa – Ele reagiu ao nome e ela riu – Trouxa é como os bruxos chamam pessoas que não possuem magia. Vocês estão muito atrasados na educação mágica, mas acho que em Beauxbatons terão o suporte necessário, logo alcançaram os outros alunos.
- Beauxbatons? O que é isso? – perguntou curioso
- Beauxbatons é a escola de magia da França. Foi onde conheci sua mãe.
- Bruxos têm uma escola? – ele riu pela primeira vez – Desculpe, mas é que é esquisito.
- Tudo bem, sei que tudo é novidade pra vocês. Mas garanto que se vierem morar comigo, logo se acostumam a fazer parte desse outro mundo. Meu marido e meus filhos também são bruxos, e os meninos têm a sua idade.
- São gêmeos?
- Não, ambos são adotados. Philipe é africano e Kwon coreano, olhe uma foto deles... – E puxou a carteira da bolsa
- Parecem legais... Teríamos que nos mudar do Havaí, não é? É que aqui é a nossa casa.
- Eu não vou me mudar – A menina se manifestou pela primeira vez, o rosto molhado de lágrimas – Quero ficar com o vovô.
- Nani, o vovô é muito velho, não pode cuidar de nós dois.
- Podemos cuidar de nós mesmos, tio Tito nos ensinou a fazer tudo sozinhos.
- Sei que é difícil uma mudança dessas, e tão repentina, mas acredite, será o melhor para vocês – Catherine falou com a voz carinhosa – Era o que seus pais gostariam, foi o que eles instruíram Tito a fazer. Ele apenas demorou alguns anos para cumprir o que Ailana e Kaiko pediram.
- Nós vamos sim, era o que eles queriam, então vamos obedecer. Já conversamos sobre isso – O garoto falou pelos dois e estendeu a mão a ela – Me chamo Kalani.
- Muito prazer, Kalani – Catherine sorriu – Vocês vão adorar Mônaco. Mas agora é melhor irmos, ou vai ficar tarde. Vou ajudá-los com as malas.
Os três seguiram até a casa simples onde os irmãos viviam com o tio e no fim da tarde todas as suas coisas estavam embaladas em caixas e malas. Nani arrumava suas coisas em silêncio, enquanto Kalani demonstrava curiosidade sobre o mundo do qual agora faziam parte, perguntando diversas coisas a Catherine. O avô chegou para se despedir dos netos prometendo visitá-los nas férias e eles partiram para a praia. Kalani se despediu de seu melhor amigo, Kai, e parou ao lado do avião que estava na beira do cais.
- É um monomotor, vai nos levar até São Francisco e de lá pegaremos um vôo até Paris – Catherine explicou – Vamos?
Kalani assentiu com a cabeça e entrou, se acomodando em uma das poltronas. Sua irmã deu um último abraço no avô e embarcou. Enquanto o avião decolava, ela teve uma última visão da casa onde cresceu. E não pode evitar que uma lágrima triste caísse enquanto a via se distanciar cada vez mais. Não tinha mais volta, estavam deixando o Havaí para começar uma nova vida na França.
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