Wednesday, September 20, 2006

Eu vi... uma... BARATA?!

Do diário de Isa McCallister

Estava tarde, realmente muito tarde, quando finalmente eu desisti dos deveres e me despedi de Brendan. Tínhamos ficado boa parte da noite e o começo da madrugada fazendo um relatório para a aula de Feitiços, e sem mais prerrogativas de fazer qualquer outra coisa naquele dia, subi para o dormitório. Mal tinha entrado, e sem cerimônias, joguei os livros e a bolsa no chão pulando na cama.
Tinha a perspectiva de dormir do jeito que eu estava: de uniforme e tudo! Aliás, eu tinha a perspectiva de dormir naquele momento...
Fechei os olhos e virei para o lado, quando ouvi um barulho de asas e aquele “ZzzZ” de pernilongos que incomodam. Deixei estar, afinal, quem nunca dormiu ao barulho de pernilongos? E também, um minuto depois, o barulho parou e tudo caiu em silêncio.
Novamente, fechei os olhos. Estava quase pegando no sono quando sinto algo áspero subindo no meu pé, e dele para a minha perna. Balancei a perna sonolenta e a coisa saiu. O barulho chato de asas começou...
Aquela sensação ruim de que o que tinha passeado no meu pé segundos antes não era simplesmente um pernilongo invadiu meu estômago, e totalmente espantada e receosa acendi a ponta da varinha. Apontei para o teto e nem sinal, para o chão, e nada, para o edredom e...

- AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH, BARATA! BARATA! BARATAAAA!

Pulei de um salto jogando o edredom no chão. O inseto preto que caminhava sobre ele impulsionou vôo novamente dando uma rasante na minha cabeça. Sentindo arrepios gelados passarem pelo meu corpo todos os segundos, corri e segurei minha sandália, apontando para a barata, agora tomando pouso na parede oposta, ameaçadoramente. Sem mirar muito, coloquei toda a força na sandália, que voou rápida até a parede e acertou um ponto com pelo menos 2 metros do animal. No mesmo instante, ela abriu novamente as asas dando outro rasante na minha cabeça e indo pousar ao lado do meu edredom, no chão.
Era difícil ter ação com tanto nojo. Sentia arrepios cada vez mais gelados e constantes à medida que via aquela coisa se movimentar lentamente. Tentei inutilmente lançar outra sandália, mas essa foi parar bem mais longe, e nem fez a barata entrar em outro vôo. Não tinha outra solução, o jeito era pedir resgate!
O dormitório dos meninos ficava no lado oposto do Salão Comunal. Tentei sufocar minha vontade de dar uns berros de SOS e o mais silenciosamente que pude, entrei no dormitório onde Brendan e Rubens já dormiam profundamente.

IM: Brendan... Brendan!!! Acorda! Brendan!

Sei que não fui nem um pouco delicada enquanto balançava ele, mas foi o método mais rápido de fazê-lo abrir os olhos e sentar na cama parecendo preocupado.

BL: ISA!
IM: Shhhh... Calma! Não precisa acordar a casa toda!
BL: O que aconteceu? Teve um pesadelo? – disse com a voz ainda alta como se não se importasse nem um pouco de acordar Rubens.
IM: Pesadelo sim... Pesadelo real! E estou tendo ainda! Vem comigo, preciso da sua ajuda ou vou ter que dormir na poltrona!
BL: Ham? Me explica...
IM: Levanta! Rápido!

Ele levantou parecendo assustado e fomos reto para o dormitório.

BL: Isa, será que dá pra você me dizer o que está acontecen...
IM: Um minuto e você vai entender!

Quando chegamos à porta do dormitório, eu parei e olhei pra ele.

IM: Tem um baratão imenso e voador aí dentro! Passou andando no meu pé, e faz um barulho horrível. A última vez que vi, antes de ter ido te acordar, ela estava perto do edredom. Mata pra mim, por favor! E traz o cadáver! Me recuso a dormir nesse lugar se não ver ela morta! Boa sorte!

Brendan ficou me encarando chocado enquanto absorvia todas as informações. Depois que pareceu entender, começou a rir.

BL: Você me tirou da cama essa hora da manhã pra matar uma... barata?
IM: Não é uma baratinha qualquer, e eu não mato uma coisa dessas de jeito nenhum! Como meu pai está a quilômetros daqui, bem... Por favor???
BL: O que você me pede chorando que eu não faço rindo? – ele disse sufocando um riso e pegando a pantufa na mão. – Eu volto com o cadáver!

Ele estufou o peito, como um daqueles soldados que se preparam para uma guerra longa, e abriu a porta. Estava tudo ótimo, tudo muito bem mesmo, se ele tivesse conseguido entrar! Quando tentou cruzar a barreira da porta, tomou um choque contra alguma estrutura invisível, e foi jogado a alguns centímetros pra trás como se tivesse levado um soco.

IM: O que aconteceu? Entra e fecha logo essa porta antes que aquela coisa saia voando!
BL: Não posso entrar! Agora estou me lembrando... Regra número 4 presa no mural da casa... –ele pigarreou e continuou a fala em tom de discurso- “O dormitório das meninas é exclusivamente para meninas! Meninos não entram!”
IM: @$#%#@#

Brendan arregalou os olhos para as minhas últimas palavras, mas eu já nem estava me importando com os maus modos ou com o que a professora Françoise falaria se visse a aluna exemplo delas falando daquela maneira...

IM: E agora?
BL: Devo desejar sorte para você? –rindo.
IM: Isso não tem a mínima graça!
BL: Desculpa... Isa, não tem jeito, você vai ter que matar ela, ou dormir no sofá até alguma que menina corajosa tope ir lá de manhã executar o trabalho pra você...

Por um momento não me restaram dúvidas de que eu dormiria na poltrona, mas então, a voz agourenta da Bel ressoou na minha cabeça...
“Isabel McCallister, você me envergonha! Deixou seu quarto, se rendeu indignamente, por causa de um inseto voador sem dentes e presas, muito menos glândulas venenosas??? Que espécie de ser humano é você? Uma verdadeira Barbie!”
Diante dessa pressão psicológica, minha mente tomou uma coragem sobrenatural, e tirando a pantufa do meu próprio pé, lancei um olhar decidido a Brendan e atravessei a porta.

BL: Isa, eu estou aqui com você! – Brendan disse sufocado do lado de fora da porta.

Caminhei um pouco relutante até o edredom, mas nem sinal dela. Olhei na cama, nas paredes, e nada. Então o barulho desconfortante recomeçou e ela descreveu um círculo a um palmo da minha cabeça antes de voar reto para outro extremo. Sem pensar duas vezes, joguei a pantufa e ela acertou a barata, que caiu com um baque surdo no chão.

IM: Acertei! Acertei! Consegui derrubar ela!
BL: Muito bom Isa! Agora dá uns pulos em cima dela só pra garantir...

Feliz com o meu feito, fui até onde ela se contorcia. Quando levantei o pé para dar a primeira pisada, ela conseguiu se recuperar e abriu a asa que tinha sobrado. Não conseguiu voar mais... O máximo foi uma espécie de pulo prolongando antes de cair novamente e sair rodando pelo chão tonta.
Veio andando na minha direção antes que eu pudesse alcançar algum sapato. Retrocedi uns passos e fui parar na ponta da penteadeira, onde inconsciente, apanhei a primeira coisa que minhas mãos alcançaram: Spray fixador de cabelos.
A barata agora estava a apenas alguns centímetros de mim...
Apertei o spray e um jato de líquido viscoso atingiu a casca da barata. Acho que o efeito imediato foi por tê-la deixado embriagada com o cheiro forte do produto. Ela deu uma cambaleada tonta e paralisou.
Sem sapatos para dar uma pisada boa nela, apelei para outro pote na penteadeira... Dessa vez era o do gel.
Não tinha idéia melhor a não ser prender ela lá dentro e entregar o pote para o Brendan dar um fim.
Com a tampa, peguei a barata imóvel e reboquei até o interior do pote, quase cheio de gel. O mais depressa que pude, girei a tampa com força...

BL: Isa... O que exatamente você jogou na barata para ela estar estática assim? – disse minutos depois enquanto analisava a barata presa em cima do gel.
IM: Spray fixador de cabelos. E a Bel ainda me diz que meus “artigos de futilidades” não servem para nada! Hunf...

Brendan jogou o gel na lareira e se despedindo de mim, novamente voltou para o seu dormitório. Deitei na cama, e adormeci uns minutos depois satisfeita comigo mesma. Papai ficaria orgulhoso se soubesse dessa história! Uma das poucas coisas que ele sempre tinha que fazer em casa era matar barata e outros tipos de insetos feios. A guerra: Isabel X Barata Voadora, tinha terminado com êxito e honra!

A partir de hoje devo lembrar de:
* Carregar sempre comigo um spray fixador de cabelos e um pote de gel.
* Não depender mais de homens para assassinatos domésticos.
* Lutar pela a abertura dos dormitórios femininos para os garotos, para o caso de emergências!

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