Das lembranças de Ian Lucas Renoir Lafayette
- Você precisa crescer, Lucas!
- Mas pra que vovô? O mundo já é por demais amargo e se todas as pessoas se tornarem sérias, tudo vira uma chatice!
- Você precisa crescer, para que incidentes como o do feriado de páscoa não se repitam!
- Aquilo foi uma burrice, lhe garanto que não tornara a se repetir.
- Já passou da hora de você encarar as coisas com um pouco mais de seriedade. Estou velho, não tenho muito tempo de vida e o que vai ser dos meus negócios se meu neto insiste em agir como se tivesse 13 anos?
- Que historia é essa de ter pouco tempo de vida?
- ACORDA LUKE! ESTÁ ME OUVINDO? – meu avô me agarrou e começou a me sacudir com força
- Não vovô, me larga! Para, me solta! O que você quis dizer com isso?
- LUKE! Está louco? Sou eu, Bernard!
Saltei da cama assustado e suando frio. Meu amigo me olhava assustado de pé ao meu lado, tentando me manter deitado.
- Onde está o meu avô? Pra onde ele foi?
- Seu avô? Ele não esteve aqui, Luke...
- Onde eu estou? O que aconteceu?
- Estamos na enfermaria da escola, você desmaiou depois de levar uma cabeçada do Antoine, que por sinal saiu daqui a pouco tempo com um corte da testa.
- Mas eu estava com o meu avô, ele disse que ia morrer e...
- Você estava sonhando, estava agitado. Seu avô nunca esteve aqui.
- Mas... Parecia tão real...
- Ah, monsieur Lafayette! Sente-se bem? Já está liberado, pode ir, mas nada de jogos brutos por um tempo! – madame Magali falou, enquanto me tirava da cama e sacudia o lençol.
- Vamos, estão todos preocupados lá fora.
- Eu me lembro de estar correndo e você gritar, ai vi o Antoine voar e não lembro de mais nada.
- Ele foi estúpido... Mais que você, quando o derrubou. O jogo terminou ali, deu a maior confusão... Dominique, Samuel e Michel partiram pra cima dele, se o Olivier, Rubens e eu não tivéssemos segurado os três, algo pior poderia ter acontecido.
- Depois eu me acerto com aquele bolha d’água...
Sai com Bernard da enfermaria e encontrei meus amigos sentados do lado de fora ansiosos. Eles falavam depressa, contando o que aconteceu depois que fui carregado pra enfermaria desacordado e de como Antoine agora teria que andar atento pelos corredores. Eu ouvia a tudo, mas não absorvia muita coisa. Estava confuso. Bernard disse que eu havia sonhado, nada mais, mas a sensação que eu tinha não era essa. O sonho tinha sido real demais, era como se meu avô estivesse mesmo falando comigo, do meu lado. Mas tinha que ser só impressão minha, não havia outra explicação. Espantei o sonho dos meus pensamentos e voltei minha atenção aos meus amigos, planejando um jeito de pegar o bolha d’água na peça do ano...
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Quatro dias depois...
A professora de etiqueta, mademoiselle Defossez, caminha distraída no corredor, absorta na leitura de uma dos seus livros de tortura em sala de aula. Um pouco mais a frente dela, escondido atrás de uma estatua, estava Vincent, irmão de Bernard. Ele se preparava para posicionar o pé na frente dela, que distraída, não havia percebido a presença daquele menino pentelho. Foi inevitável. No momento em que mademoiselle Defossez passou pela estátua, Vincent pôs o pé na frente e ela deu um rasante no corredor, atirando seus livros pra todos os lados e caindo por cima da varinha, que se partiu na mesma hora. O som da risada debochada de Vincent ecoava no corredor, atraindo a atenção de alunos curiosos que passavam perto.
- Luke? Luke? LUKE!
- Ahn? O que? Que foi? – falei assustado levantando a cabeça da mesa, o pergaminho pregado no meu rosto.
- Você dormiu na aula de novo! Desse jeito vai ser reprovado nos NIEMs...
- Deixa de ser chato Bernard! Transfiguração é mole, depois recupero.
Arranquei o pergaminho amassado do meu rosto e joguei na mochila de qualquer jeito, levantando e indo me juntar aos outros na porta. Conversávamos animados quando a professora de etiqueta passou e me chamou a atenção. Ela usava a mesma roupa do sonho e abria um livro para ler, andando pelo corredor distraída. Precisava ter certeza de que não estava louco, então a segui. Ela ia na direção que eu imaginava e logo entrou no corredor certo. Procurei por Vincent e o avistei posicionado atrás da estatua, rindo. Quando mademoiselle Defossez ia passar por ele, dei um grito chamando sua atenção, frustrando os planos do endiabrado.
- Ah, não era nada professora, desculpe... Pensei ter perdido o exercício da semana passada, mas já encontrei.
- Tudo bem monsieur Lafayette, só não grite outra vez. Você é um garoto educado e garotos educados não gritam, usam o tom de voz adequado.
- Desculpe, não vou mais gritar... – e ela continuou andando
- Por que você gritou seu idiota?? – Vincent veio ate mim indignado
- Olha o respeito pigmeu! Você ia derrubar a professora, eu sei!
- Como você sabia que...
Mas Vincent não terminou a frase, pois um grito nos interrompeu. Olhamos depressa para o final do corredor e a professora estava caída no chão, os livros espalhados por todos os lados. Sua varinha partida ao meio jazia ao seu lado, enquanto ela se recompunha e juntava as coisas. Vincent apontou para ela e começou a gargalhar, aquela risada irritantemente alta e debochada. Algumas pessoas começavam a chegar para ver e algumas meninas foram ajudar a professora a se levantar, que alegava ter tropeçado na escada. Meus amigos pararam ao meu lado para ver o que estava acontecendo, mas seguraram os risos quando viram que eu estava sério.
- O que aconteceu? Quem derrubou a Defossez? – Dominique perguntou fazendo força para não rir
- Vincent ia derruba-la, mas eu não deixei...
- Então o que houve? – Marie falou seria, preocupada com a professora.
- Eu posso saber o que vai acontecer, mas não posso impedir que aconteça...
- O que Luke? Que papo doido é esse? – Samuel falou rindo
- Eu vi, eu sabia que ela ia cair! Vincent seria o culpado, mas eu impedi, só que ela caiu do mesmo jeito, o que quer que seja encontrou uma outra maneira de fazer com que ela caísse...
- Ok, acho que a pancada do Antoine foi mais forte do que pensei... – Bernard falou
- Não estou maluco, eu sonhei com isso! Não sei como, mas eu a vi caindo antes de acontecer!!
- Luke, melhor irmos para a enfermaria, você não esta bem...
- Eu estou ótimo Michel! Por que não acreditam em mim?
- Porque o que você esta dizendo não faz sentido. Simples assim. – Samuel falou e os outros apoiaram
- Saiam da frente, me soltem, não vou ver pra enfermaria coisa nenhuma! Vou escrever ao meu avô...
- Luke, espera! O que está acontecendo?
Mas não parei para responder a pergunta de Bernard, pois simplesmente não sabia o que dizer. Será que era efeito colateral do feitiço da caixa? Lembro que antes de desmaiar, comecei a sentir fortes dores de cabeça, a ponto de ficar tonto e me desequilibrar, e quando acordei, estava com essas sensações esquisitas. Precisava falar com meu avô, de verdade, não em sonhos malucos. E se agora eu adquiri a habilidade de prever o futuro? O que vou fazer se isso for verdade e não uma alucinação minha??
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