Monday, September 11, 2006

Bater, correr... e apagar

Das lembranças de Ian Lucas Renoir Lafayette

A sala de poções avançada estava encoberta pela fumaça que saia dos mais de 20 caldeirões espalhados por ela. Eu, como de costume, estava sentado na primeira bancada com meus amigos e na bancada atrás da nossa estava Viera, Manuela e para o total espanto da turma, Madeline. Estava concentrado adicionando os últimos ingredientes naquela poção complicada quando levei um tapa na orelha que quase afundou minha cabeça no caldeirão. Já virei preparado para brigar, mas vi que era Viera e me desarmei.

- Ei Ian! Rugy no campo de quadribol hoje depois das aulas! Espalha pro pessoal ai na frente, ok?
- Mas já? Nosso jogo não é anual?
- Sim, mas esse é nosso ultimo ano, vai ser mensal!
- Ok então, às 16hs estaremos lá.

Virei para frente outra vez e passei a informação adiante. Dominique e Bernard logo se animaram e Michel que nunca tinha jogado ficou curioso. Viera era de família trouxa e conhece todos os jogos esquisitos deles, então quando ele entrou para Beauxbatons, nos ensinou a jogar alguns deles. Desde o 1° ano nós fazemos um jogo de confraternização da turma no fim do ano e todos participam, até as meninas. Claro, tem sempre uma ou outra que não quer, mas são poucas. Até Marie jogava e já havia dito que ia jogar hoje também.

Passamos o dia inteiro dispersos. Minha mãe mandou mais uma coruja durante o almoço querendo saber como eu estava. Agora era semanalmente, ela sempre queria noticias, saber se estava sentindo estranho e essas coisas, mas eu me sentia normal. Acho que papai me assustou a toa, pois nunca senti o tal efeito colateral que aquele feitiço assassino deveria ter causado. Quando as aulas do dia terminaram corremos para o campo de quadribol, já com vestes comuns e mais velhas. Saímos sempre imundos mesmo...

- AH! Até que enfim o quinteto chegou! Só faltavam vocês, vamos dividir os times e começar logo, antes que Gerard resolva aparecer e confiscar a bola.

Viera fez um sorteio maluco e separou os times. Marie, Bernard e Mad acabaram ficando no time oposto e Viera e Manu ficaram no nosso. Para minha felicidade, Antoine estava no time de Marie. O jogo começou bem violento, com a galera batendo pra valer e não perdoando nem as meninas. Dominique quase assassinou a Madeline quando foi tentar roubar a bola, perseguindo ela pelo campo e arrancando risadas do pessoal. Lógico que ela deu o troco e derrubou ele feio depois, deve ate ter deslocado algum osso do meu amigo rs

O jogo estava empatado e fizemos um intervalo para recuperar as energias. Os demais já haviam voltado a jogar e eu estava correndo para o outro lado do campo quando parei, apoiando as mãos no joelho e olhando fixamente pro lado contrario. Dominique e Michel pararam ao meu lado e quando viram quem eu olhava, começaram a rir.

- Calma garoto, calma! – Dominique falava de palhaçada, como se falasse com um cachorro com raiva.
- Calma, não precisa babar! – Michel ria, fingindo me segurar
- Me solta, eu vou lá...
Eu arrastava o pé na grama imitando um touro e eles fingiam fazer força para me deter, mas a verdade era que estavam me instigando a correr. Esperei até que alguém passasse a bola para ele e sai em disparada de cabeça baixa na direção de Antoine. Dei um salto e me joguei em cima dele com tanta força que caímos na grama rolando e ele seguiu assim por mais duas jardas. Com certeza havia o machucado, pois minha costela doía com a pancada que dei quando atingi o chão. Dominique, Michel e Bernard vieram correndo na minha direção, mas Bernard parou onde Antoine estava caído. Thiery chegou para socorre-lo e meu amigo veio até onde eu estava. Antoine levantou com dificuldade e fazendo careta, mas olhou na nossa direção e apontou pra mim, parecendo furioso. Não pude deixar de rir.

- Ficou louco? Podia ter quebrado uma perna ou um braço! Podiam ter batido com a cabeça no chão!
- Isso é rugby, não xadrez! Se ele não agüenta uma pancadinha, melhor ficar de líder de torcida.
- Isso ainda vai terminar mal... E vocês dois não deviam incentivar! – Bernard falou serio e Dominique e Michel pararam de rir
- Como é? Vocês quatro vão ficar de papo? Tem um jogo rolando!

Viera gritou do meio do campo e voltamos pro jogo. Ele atirou a bola pra mim e eu corria desviando dos que vinham tentar me derrubar quando comecei a me sentir zonzo. Passei a bola para Dominique e parei de correr, sentando na grama. Bernard parou do meu lado, preocupado.

- Viu? Se não tivesse se jogado em cima dele feito um gorila não estaria assim!
- Não é nada, só fiquei tonto. Já estou bem, vamos continuar o jogo!

Mas quando fui levantar, me desequilibrei. Bernard ainda tentou segurar meu braço, mas cai sentado na grama. Minha cabeça latejava, eu ouvia um barulho estridente dentro dela que estava quase me deixando surdo e começava a ver meu amigo fora de foco. Via que Bernard estava falando comigo, mas o barulho não me deixava entender nada. Ele me ajudou a levantar e fomos saindo do campo. Minha visão estava voltando ao foco normal quando vi uma silhueta vindo correndo na minha direção, muito rápido. Só deu tempo de ouvir Bernard gritar para eu me abaixar, mas não foi em tempo suficiente: a sombra de Antoine veio voando na minha reta, gritando, e sua cabeça chocou com a minha violentamente, antes que eu caísse no chão desacordado...

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