Wednesday, June 07, 2006

Começando com o pé esquerdo...

Das lembranças de Ian Lucas Renoir Lafayette

“Est-ce que tu m’entends hey ho !
Est-ce que tu me sens hey ho !
Touche moi je suis là hey ho!”


- IAN! ABAIXA ESSE SOM E ABRA A PORTA AGORA!
- Ai droga, o que foi que eu fiz dessa vez??

Destranquei a porta do quarto e a mão do meu pai entrou nele, agarrando a gola da minha camisa e me arrastando escada abaixo. Há um minuto atrás estava deitado na minha cama ouvindo um disco da minha banda favorita e agora me encontrava tropeçando nos degraus e batendo a mão nos quadros da mamãe na parede, tentando não cair. Papai só parou quando chegamos ao escritório e logo localizei a caixa que havia ganhado do vovô em cima da mesa. Achava que sabia onde aquilo ia terminar, mas a verdade era que não fazia idéia do que estava por vir...

- O que foi que eu fiz??
- Sabe o que é isso? – falou apanhando a caixa
- Uma caixa...
- Muito bem, mas sabe o que ela faz?
- Mata comensais? – arrisquei.
- ONDE CONSEGUIU ISSO?
- Eu achei, não sabia o que era...
- Achou aonde? Uma coisa dessas não poderia estar simplesmente perdida no jardim de uma escola. Tem idéia do que é essa coisa???
- Já falei que não, porque o senhor está tão nervoso? Essa coisa salvou a minha vida!
- Quero que me diga agora aonde a conseguiu, e sem mentir...
- Eu não...
- Eu dei a ele Gerard!

Vovô abriu a porta do escritório e entrou. Não tinha a intenção de dizer que havia conseguido a caixa com ele, mas ele mesmo confessou. Papai se virou na mesma hora e se calou. O conhecia muito bem, quando ficava calado mesmo estando nervoso, era porque estava preparando o sermão. E ele não demorou a vir...

- Como pode dar uma coisa dessas na mão do meu filho??
- Fiz isso com o intuito de protegê-lo! E funcionou!
- Sabe muito bem que isso não é um objeto para se andar na mão de uma criança! Ainda mais uma como Ian, irresponsável!
- Ei! Eu estou bem aqui! E não sou criança...
- Cale a boca Ian! Isso é entre seu avô e eu.
- Não mande meu neto calar a boca!
- Falo com ele do jeito que quiser, ele é meu filho! Cansei de você se meter na educação que dou a ele, chegou ao limite! Você deu a ele um artefato das trevas!!
- O QUE? – falei assustado, olhando do vovô para meu pai.

Papai começou a berrar que o feitiço mantido dentro da caixa era magia antiga, mas magia negra. Explicou que uma caixa daquelas não era vista há anos, todas haviam sido destruídas e que restara apenas uma, cujo paradeiro era desconhecido até ontem, quando bruxos do ministério da magia identificaram o feitiço que matou aqueles cinco comensais. Eu olhava de um para o outro assustado.

- Então Henri? Como conseguiu isto? Sabe que o ministério vai se convencer de que é um comensal, até que prove o contrario, não é?
- Está fazendo tempestade em um copo d’água! Não sou um bruxo das trevas, sabe muito bem disso!
- Pois então se explique para a corte suprema quando vierem levá-lo! Os aurores já estão a caminho daqui!
- Não podem levar o vovô! Aquilo salvou a minha vida!
- Não seja tolo Ian! O feitiço que saiu daquela caixa atingiu você, teve sorte de sobreviver, mas isso lhe deixou doente.
- Não estou doente, madame Magali me deu alta!
- Conte a ele Henri! Conte ao seu neto querido a verdade!

Virei-me para vovô esperando o que ele iria dizer, estava cada vez mais confuso. Ele sentou na poltrona e me encarou sério, começando a falar.

- Quando o feitiço lhe atingiu, transferiu para você parte dele. Isso não é comum, a maioria das pessoas atingidas por ele morre na hora, mas os que sobrevivem adoecem. Entenda que não imaginava quer você ficaria vulnerável a ele, não imaginava que pudesse ser atingido quando abrisse a caixa!
- Eu... eu... eu vou morrer???
- NÃO! Não é assim, há uma cura.
- Vamos ser realistas Henri, nenhum bruxo atingido por esse feitiço sobreviveu aos testes, não há uma poção para reverter isso!
- Porque nenhum bruxo competente tentou! Não vou deixar meu neto morrer, eu mesmo encontrarei a cura, já esqueceu que sou medibruxo? Vou levá-lo imediatamente ao hospital para alguns testes.
- Não vai a lugar nenhum com meu filho, acho que já causou estragos demais por aqui!
- Deixe-o leva-lo Gerard... Que mal vai fazer?

Mamãe apareceu no escritório e pela primeira vez interrompeu uma discussão entre vovô e papai. Eu estava sentado numa das cadeiras da mesa de reuniões zonzo, tentando entender tudo que eles diziam. Estava entrando em pânico em silencio ouvindo papai afirmar que eu morreria e que minha única chance de sobreviver estava depositada nas mãos de vovô Henri. Mamãe me tirou do escritório e fechou a porta, deixando-os terminar de brigar. Eu caminhava ao lado dela me sentindo mole, com ânsia de vomito.

- Não se preocupe querido, seu avô vai conseguir. Eu confio nele...

Mamãe beijou minha cabeça e sentou ao meu lado no sofá. Embora sentisse firmeza em suas palavras, queria poder acreditar nela. Minhas férias acabaram de começar e já foram pro vinagre...

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