Do diário de Isabel Damulakis McCallister
Certa vez, em algum lugar li um ditado, ou um verso, que só passei a considerá-lo agora: Você só dá o verdadeiro valor às coisas, quando surge a ameaça de perdê-las, ou quando já é tarde demais. Com a sensação amarga na boca, e sentindo como se algo estivesse entalado na garganta, desembarquei na Itália com papai. Os jornais trouxas anunciavam o lugar da sepultura de Giovanna e Luighi, e pra lá nós fomos. Apesar de o enterro ter acontecido no mesmo dia, estava lotado de gente. Pessoas chocadas, tristes, e imparciais.
A família de Giovanna, que há poucos dias atrás eu vi, alegres e cantantes, fazendo uma pollenta, agora encaravam os dois corpos como se eles fossem algo extremamente anormal, como se aquilo não passasse de um pesadelo, uma mentira. Ai, como queria ter uma palavra de consolo pra dizer a eles... Nona, vô da Gi, Lancelot, Francesco e principalmente Marino, mas se tivesse uma palavra de consolo, primeiro diria pra mim mesmo ela. Papai me abraçava forte, e me dizia: eu estou aqui...
Come stop your crying
It'll be alright
Just take my hand
Hold it tightI will protect you
From all around you
I will be here
Don't you cry
Nunca pensei que uma situação como essa, aconteceria comigo. Enquanto velavam os corpos, parei pra pensar na minha vida, nos meus erros, nos meus acertos, em tudo! Nossa, pensei em muita coisa mesmo, e observei os meus comportamentos. Quantas pessoas eu poderia ter magoado até hoje, mesmo sem querer? E quantas pessoas eu magoei querendo? Quantas vezes eu disse: eu te amo, para as pessoas que realmente se importam comigo? Do que adiantou todas aquelas roupas que Gi tinha comprado alguns dias atrás, se agora, ali, ela não estava com nenhuma delas, se aquilo não importaria nada mais.
For one so small
You seem so strong
My arms will hold you
Keep you safe and warm
This bond between us
Can't be broken
I will be here don't you cry
É, se lembra do verso que escrevi no começo desse relato? Pois é... Acho que nunca tinha dito pra Giovanna o quanto a amava, o quanto ela era importante pra mim, e só me toquei agora, que as oportunidades se foram, era tarde demais. A última visão que me lembro, foi de todos indo embora, os dois já estavam enterrados. Misty tinha ido embora pra casa, Morgan, nem sei se tinha vindo, nem sei como ela deve estar se sentindo, mas vi Bel ali, ainda paralisada, sozinha. Senti algo inexplicável acontecer, e fui até ela, sem me controlar. Quando cheguei bem perto, nossos olhos se encontraram, e eu a abracei forte, e a disse que apesar de tudo eu a amava. Sabe, se fosse em outras circunstâncias, acho que me arrependeria disso, mas nunca me senti tão aliviada. Papai a encarou muito, era a primeira vez que via ela, sua outra filha, em carne e osso.
Why can't they understandthe way we feel
They just don't trust
What they can't explain
I know we're different
But deep inside us
We're not that different at all
Acho que o mesmo sentimento a tocou, e por impulso eles se abraçaram como pai e filha mesmo. Conversamos muito, sobre tudo, ela me contou como tudo tinha acontecido tão rápido. Disse que voltaria para a Grécia, a mãe estava viajando, mas ela arrumaria um jeito de voltar. Papai então, a convidou para passar os últimos dois dias de férias com a gente, em nossa casa, e de lá, pegaríamos o trem de Hogwarts. Quando ouvi novamente, a palavra Hogwarts me pesou muito, uma sensação de desespero tomou meu coração e na mesma hora, eu e Anabel falamos em som bem claro: Eu não volto pra Hogwarts!
Don't listen to them
Cause what do they know?
We need each other
To have, to hold
They'll see in timeI know
Papai nos encarou assustado, e então, mais uma vez eu desatei a chorar. Não suportaria voltar ao castelo. Entrar no trem com a sensação de que não a veria mais, sorrindo pra mim. Ir ao Salão Principal e não encontrá-la lá para lhe desejar boas aulas. Voltar à Hogwarts seria algo totalmente inconsiderável, pelo menos por enquanto, pois a veria em todos os lugares. Anabel disse que tinha conversado com nossa mãe, e que ela seria transferida para Beauxbatons, pois Quim levaria Adhara para lá também. Uma onda de indecisão se apossou de mim, eu não sabia o que fazer, mas por impulso, eu falei: Pai, eu quero ir pra lá também! Papai sem saber o que dizer, apenas acenou afirmativamente com a cabeça e me abraçou forte.
When destiny calls you
You must be strong
I may not be with you
But you've got to hold on
They'll see in time
I know
We'll show them together
É, e foi assim que decidi como será minha vida de agora em diante. Voltamos para casa, Anabel com a gente. Papai mandou uma carta para Dumbledore pedindo a minha transferência para Beauxbatons e no mesmo dia recebi uma carta de Madame Máxime informando que seria bem vinda no castelo francês. As aulas começariam uma semana após o início de Hogwarts, o que nos deu tempo de comprar tudo o que precisávamos no Beco Diagonal e ajeitar tudo para a nova vida que começaríamos. Os dias passaram sem novidades. Eu e Anabel estávamos convivendo pacificamente. Estava na hora de rever meus princípios, hora de recomeçar!
Cause you'll be in my heart
Yes, you'll be in my heart
From this day on
Now and forever more
You'll be in my heart
No matter what they say
You'll be here in my heart
Always
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Os versos são da música You’ll be in my heart – Phill Collins é o tema da versão animada de Tarzan, da Disney. Para os novos leitores desse caríssimo blog (olha a linguagem da menina) que não entenderam patavinas da história da Isabel, não se preocupem, ela realmente começará uma nova história a partir de agora, esse foi o texto que ficou pendente. Pra quem quiser saber da história velha: www.acciocerebro.com.br
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