OM: Pode deixar que assumo tudo agora, Gérard, obrigada.
Olímpia Maxime estendeu o olhar a sobre cada uma das garotas à sua frente. O castelo de Beauxbatons era simplesmente magnífico. Enquanto Isa e Morgan tentavam ajeitar os cabelos, Bel parecia desesperada em procurar um buraco no chão onde pudesse se esconder. Adhara analisava friamente tudo ao seu redor, desde as paredes do castelo até os sapatos da diretora gigante.
OM: Entrem na fila. Dentro de alguns instantes vocês serão selecionadas para suas casas. Elas são quatro: Lux, Nox, Fidei e Sapeintai. É na casa que vocês passarão grande parte do seu tempo livre, lá farão amigos e serão também responsáveis pelo desempenho de suas casas. Seus acertos acarretarão pontos positivos; da mesma maneira, seus erros descontarão pontos de suas casas. Entenderam? Então, andando!
Madame Maxime conduziu as garotas por um imenso corredor de paredes de vidro, através do qual o Rio Sena e as belas embarcações de Beauxbatons eram visíveis. Havia um imenso portão de ouro no fim do corredor, por onde as novas alunas passaram após um movimento da varinha da diretora.
O queixo das garotas caiu. Os olhos de Isabel brilhavam alucinadamente diante de tamanha luxúria. Nem mesmo Adhara foi capaz de conter um sorriso. A sala em que se encontravam tinha as paredes douradas, com milhares de pedras preciosas encravadas. No centro, quatro fadas lindíssimas dançavam graciosamente em torno de uma bela mesa de cristal. Sobre a mesa, havia um espelho. Assim que a figura de Madame Maxime irrompeu sob os olhinhos das fadas, elas imediatamente pararam de dançar e se curvaram, como acontece sempre no fim de um espetáculo.
Sem pronunciar palavra alguma, Maxime tocou a fronte das quatro meninas com a varinha. As fadas as envolveram e começaram a trabalhar. Puxa daqui, estica dali, um toque de varinha, outro, um terceiro... Madame Maxime permanecia de pé, parada ao lado do estranho espelho. As fadas fizeram as garotas puxar as varinhas do meio das vestes e as puseram em transe. Somente Adhara resistiu. Quando a fada loirinha de olhos cor do céu tentou obriga-la a ceder, a garota lançou um jato verde azulado da varinha. E os longos cabelos da fada foram transformados em um magnífico gramado verdinho. A fada arregalou os olhos e se encolheu, tristonha. Não foi de propósito... Madame Maxime fitou a garota, severa, e em meio segundo Adhara consertou o estrago na cabeça da pobre fadinha.
Em um instante, as fadas voltaram a ser curvar e permaneceram eretas, imóveis. Madame Maxime então fez sinal para que as garotas, uma de cada vez, se aproximassem do espelho e o tomassem nas mãos. Primeiro Isa, depois Morgan, Bel, e por fim, Adhara.
Quando Adhara tomou o espelho nas mãos, uma figura um tanto estranha apareceu no lugar onde supunha que veria o próprio reflexo. Na realidade, era uma imagem distorcida da própria consciência. Uma versão inovada do "falar com seus próprios botões". Seu alter-ego espelhado fez algumas observações, muitas críticas, a garota e sua imagem discutiram um bocado. Por fim, o espelho simplesmente calou-se. E ele não havia dito para onde ela iria, o que faria, nada. Se a cerimônia de seleção foi só isso, posso voltar pra casa. Depois de azarar a fada e falar comigo mesma nesse espelho sem noção, tenho certeza que fui reprovada...
Madame Maxime continuou sem dizer uma única palavra, mesmo frente às argumentações de Morgan e Isabel, que tentavam em vão arrancar alguma explicação da professora.
A bruxa as conduziu novamente pelo corredor de paredes de vidro, até parar em frente a uma imensa porta de madeira antiga.
As portas se abriram e haviam enormes mesas postas uma ao lado da outra. Era o Salão Principal da Academia de Magia Beauxbatons. Centenas de estudantes estavam sentados e pareciam radiografar cada uma das garotas. No instante em que Madame Maxime surgiu, todos os alunos levantaram-se, suntuosos. Os alunos do primeiro ano aguardavam ansiosos no fundo do salão. Provavelmente eles ainda não haviam sido selecionados. Ainda bem.
À frente, havia outra mesa, esta de ouro puro, onde estavam os professores. Em frente à mesa dos professores, havia uma mesinha de cerimônias, sobre a qual encontrava-se o espelho. Sim, o mesmo espelho estranho que as garotas haviam deixado na sala das fadas.
No momento em que Olímpia Maxime parou ao lado do espelho, os murmúrios imediatamente cessaram.
OM: Antes de darmos inicio ao banquete, quero dar as boas vindas a todos os novos estudantes desta escola. Sintam-se em casa, afinal vocês passarão aqui os mais brilhantes anos das suas vidas. Senhoras e senhores, fantasmas, fadas, guardiões e professores, a cerimônia de indicação tem início neste exato momento.
Com um aceno da professora, os alunos sentaram-se. Depois de um movimento da varinha de Maxime, o espelho subiu no ar lentamente, e pôs-se de pé a cerca de quatro metros de altura. A imagem de Alegna Beauvoir, fundadora da escola, apareceu na face do espelho, e foi aplaudida entusiasticamente pelos alunos.
Então, uma voz suave e misteriosa dominou o salão. A história de Beauxbatons estava sendo narrada pela própria fundadora.
Fundada pela jovem idealista Alegna Beauvoir, única mulher de sua época a criar e comandar sozinha uma escola de Magia, Beauxbatons tem por tradição manter mulheres na direção.
O desafio de Alegna não foi maior q sua força de vontade. Em seis meses o castelo estava pronto, e no outono de 1.214 foi inaugurada. Contava na época com quatro professores e os alunos eram divididos por sexo para os dormitórios.
No ano seguinte a sua fundação, a Academia de Beauxbatons contava com nove professores e os alunos passaram a ser separados por casa de acordo com suas aptidões.
Nesse ponto o sonho de Alegna já estava estabelecido, e então o nome que escolheu para a Academia fazia mais sentido: a seleção dos alunos era feita através de um feitiço especial que apenas podia ser realizado pela varinha da diretora.
"Beauxbatons", o feitiço, até hoje só pode ser executado pelas sucessoras de Alegna ao cargo de diretora, e com a mesma varinha que Beauvoir usava. O feitiço,intimamente ligado ao espelho mágico de Beauvoir, intriga a muitos.
Beauxbatons é encantadoramente misteriosa.
Uma explosão de vivas e aplausos ecoou no Salão Principal, e mais uma vez a imponência do espelho fez todos se calarem. Formalmente, a mesma voz suave anunciou:
Depois de muito pensar, e do auxílio inigualável das Fadas dos Poderes, anuncio-vos que já tomei minha decisão. Senhorita Anabel McCallister, Sapientai Angeli.
Os alunos da extrema esquerda, acompanhados pela imponente figura de uma Esfinge, receberam a garota com palmas e assovios. A voz de Alegna continuou:
Senhorita Isabel McCallister, Fidei Angeli.
Dessa vez foram os alunos em volta de um cavalo alado de singular beleza que aplaudiram.
Senhorita Morgan O’Hara, Fidei Angeli.
Mais uma vez, os "Anjos da Fidelidade" irromperam em vivas. Era a vez de Adhara. O Salão silenciou. A voz de Alegna Beauvoir não se fez ouvir. Pela primeira vez, Adhara realmente sentiu o frio percorrer-lhe a espinha. Seria mesmo mandada de volta?
Senhorita Adhara McClaggan Black...
Silêncio. A imagem da fundadora da escola estava inexpressiva no espelho. Todos os olhares voltaram-se para a garota de cabelos negros e olhos azuis parada em frente à mesa dos professores.
Sapientai Angeli.
A garota respirou aliviada. Os colegas comemoraram, e Adhara sentou-se ao lado da amiga Anabel, eufórica. Encarou a esfinge por alguns instantes, que a olhava friamente. A figura mitológica guardiã de sua nova casa não moveu um músculo sequer. As duas se encararam por alguns instantes, e então a voz de Olímpia Maxime desviou a atenção de Adhara.
OM: Muito bem, é chegada a hora de indicarmos as casas aos iniciantes em Magia. Que comece a indicação.
A fila de alunos aproximou-se do espelho. Para eles, não haviam as Fadas. Madame Maxime apontava a varinha em suas cabeças e murmurava o feitiço. Lá no alto, Alegna Beauvoir anunciava a casa onde os alunos deveriam ficar. Meia hora mais tarde, depois de quarenta crianças selecionadas, a diretora da escola tomou a palavra mais uma vez:
OM: É com imensa satisfação e orgulho que anuncio o início das atividades da Academia de Magia Beauxbatons. Este será, tenho certeza, um ano impar em suas vidas. Não percam tempo, é chegada a hora. Inicie-se o banquete.
Murmúrios voltaram a ecoar pelo salão. Dezenas de travessas e jarras deram cor e vida às mesas dos alunos. Adhara não conseguia desviar a atenção da esfinge parada à sua frente, encarando-a. Talvez Maxime estivesse certa: seria mesmo um ano inigualável.
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