Friday, May 09, 2008

O que importa se as mulheres têm sempre que estar certas? Pelo menos em um assunto elas ainda têm muito que aprender com os homens: como ser idiotas...

Voltei para casa para passar o feriado de páscoa com meus pais e meus tios com a única e exclusiva intenção de me divertir. Mas isso foi exatamente o que não aconteceu. Mamãe já estava com uma barriga de 5 meses e os nervos a flor da pele. O bebê, que agora sabíamos ser uma menina, estava começando a chutar e mamãe começava a se sentir desconfortável, reclamando de dor nas costas e que seus pés pareciam inchados. Isso sem falar na mudança de humor. Ela estava mais emotiva do que nunca, variando do feliz ao triste em questão de segundos. Toda vez que ela começava a dar indícios de que ia chorar, tio Scott me olhava e ria, fazendo uma dança idiota que significava: agora é com seu pai, estou livre. Não conseguia evitar a risada, era preciso aproveitar esses poucos momentos engraçados do feriado.

Já estava bem tarde e era meu penúltimo dia em casa. O telefone tocou e atendi depressa. Era Mad. De cara abri um sorriso, mas ele logo se desfez ao lembrar que havíamos brigado da última vez que nos falamos, pouco antes do tio Ben me buscar na escola. Ela queria que eu fosse para sua casa no feriado, pois não nos víamos há mais de dois meses, mas eu não quis. A família dela não fazia a menor questão de ser simpática comigo, com exceção de sua mãe, e sugeri que ela viesse para cá. Mas claro que ela não topou, dizendo que já passou o natal conosco. Depois me acusou de não nos vermos direito por estudar longe demais. E a ligação, que deveria ser para apaziguar as coisas, acabou tomando o mesmo rumo da última conversa. Logo já estávamos discutindo outra vez, algo muito comum nos últimos dias, e me irritei. Ela sempre tinha que estar certa, e não me conformava com isso. Se ela estava sendo irracional, porque eu deveria entender?

- Ok Mad, você está certa outra vez, só pra variar um pouco. Boa noite!

Desliguei o telefone irritado e me joguei no sofá, empurrando as almofadas pro chão. Estava com tanta raiva que não percebi que meu pai estava deitado no outro sofá, enrolado em um lençol.

- Está tudo bem? – fiz que sim com a cabeça e ele se sentou – Era a Madeline?
- Eu não tenho culpa por ela não poder ir todo fim de semana na Califórnia! – respondi indignado com a cara enfiada na almofada do sofá – Não é minha culpa ela estar cheia de trabalhos da faculdade e ter pouco tempo livre!
- Ah, então estavam brigando por causa da distância – falou com uma voz de quem estava se familiarizando com a situação – Entendo...
- Quando eu aceitei ir para a Califórnia, estava fazendo o que achava ser melhor o pra mim – sentei direito e o encarei – No começo foi tudo legal, faltavam poucos meses para ela se formar e estava tão atolada com os N.I.E.M.s que não teríamos tempo para sair mesmo que eu estivesse lá. Mas agora é diferente, ela tem mais tempo livre mesmo com o trabalho e a faculdade, mas não é sempre que consegue uma chave de portal para ir até lá. E eu não posso conseguir uma, ainda sou menor de idade!
- Quando sua mãe e eu ainda namorávamos e eu me formei, também não foi fácil. Mal tinha tempo de respirar com o trabalho e seu avô Henry fazia marcação serrada quando Louise estava em casa. Foi difícil, sentíamos falta um do outro por estarmos acostumados a nos ver todos os dias, mas no fim tudo deu certo.
- Queria ter essa certeza de que vai dar certo – joguei a cabeça para trás cansado, tirando os óculos – Não agüento mais brigar com a Mad. Se ainda estivesse em Beauxbatons seria mais simples, ela poderia ir até lá quando quisesse...
- Manter um relacionamento a distancia não é fácil, filho. Mas se vocês se gostam de verdade, vão dar um jeito...

Dei um meio sorriso para ele ainda de olhos fechados e com a cabeça já a mil, quando ouvimos um barulho na cozinha e viramos assustados. Já passava de meia noite e mamãe estava dormindo, não tinha mais ninguém na casa.

- Quem está ai? – papai perguntou
- Ah, desculpe, não sabia que tinha gente acordada – a voz de Nicholas saiu de dentro da geladeira
- Nicholas? O que faz acordado há essa hora? E por que não está na sua casa? – perguntei surpreso e ele apareceu na sala com um pote de sorvete na mão
- Estou triste, precisava de doce. Papai e tio Scott saíram, vou dormir aqui hoje.
- Está triste por quê?
- Minha melhor amiga não quer mais falar comigo – disse desanimado
- Mas o que aconteceu?
- Eu a chamei de gorda
- E por que você fez isso, Nicholas? – papai se espantou
- Não foi a minha intenção! Eu só disse que... Bem, eu queria que ela... Quer dizer, não era para ofender, eu também sou gordinho! – ele deu um suspiro longo e cansado – Ah, tanto faz, ela entendeu errado de qualquer forma...

Deixei uma risada desanimada escapar e bati no lugar vago do sofá para ele se sentar. Virei para meu pai, que estava jogado no outro sofá com uma cara de culpa.

- Pai... Porque está dormindo no sofá?- Mulheres... Sabe o que eu quero dizer.- É, sei... Mulheres.
- É... Mulheres... – Nicholas completou enfiando uma colher cheia de sorvete na boca

Ficamos os três calados por uns instantes, encarando um ponto fixo na parede, e acho que foi uma das conversas mais profundas que já tive. Papai conjurou duas colheres e ajudamos Nicholas a acabar com o pote de sorvete. Não sei que horas acabamos de comer e nem que horas pegamos no sono, mas ninguém abandonou o sofá da sala.

No dia seguinte meus pais se entenderam e conversavam rindo no quarto; Nicholas estava no playground do prédio brincando outra vez com sua amiga, pelo visto haviam se entendido. E quanto a mim, sabia o que deveria fazer. Quando as aulas recomeçassem em Setembro, voltaria para casa. Quando começasse meu 7º ano, estaria de volta à Beauxbatons. Talvez essa não fosse a solução para os nossos problemas, mas era um começo...

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