Pensamentos de Isabel McCallister
- Senhores, silêncio, por favor? – Defossez já pedia descrente, enquanto a algazarra só aumentava. – Senhores um pouco de educação não faz mal a ninguém! – repetiu cansada e com traços de irritação, mas mantendo a voz baixa e o tom fino de sempre.
Olhei ao redor da sala em silêncio. Os alunos que Emily e Françoise tinham escolhido para nossa comissão de formatura conversavam tão empolgados que nem reparavam as incansáveis tentativas da professora de etiqueta de colocar um pouco de ordem na pauta. Não intrometi. Alguns minutos se passaram até Emily finalmente chegar. Ela parou assustada na porta e observou a bagunça que estava acontecendo ali dentro. Puxou a varinha e lançou um feitiço para o teto, que fez uma enorme explosão de barulho. Todos se assustaram e se calaram, olhando para a porta. Ela sorriu.
- Muito boas noites. – disse entrando na sala e se sentando ao lado de Françoise, que a olhava de cima a baixo, reprovadora. – Desculpem o susto, mas não iria gastar minha garganta para avisar a vocês que precisamos de ordem, não é? Se todas as reuniões começarem assim, não vão ter uma festa de formatura nem pra junho nem pra dezembro!
Todos se entreolharam e logo começaram a se sentar, em silêncio. Quando finalmente se acomodaram, Emily ainda sorrindo, abriu um caderno à sua frente.
- Bem melhor assim, não acham? – perguntou simpática, sorrindo e folheando as páginas. Parou em uma. – Então, vamos começar do começo: tema. Um de cada vez, quero que me falem os temas que pensaram para a festa.
Um novo falatório recomeçou, mas Emily logo conseguiu abafar lançando faíscas coloridas no ar. Então, em ordem, os temas foram sendo expostos para todos, e apareceram vários. Festa à fantasia, baile de gala, baile de máscaras, e até monocromática. Nenhuma parecia ter interessado a grande maioria.
- Muito bem, a mais cotada por enquanto é a de máscaras. Alguém pensou em outra coisa? – Emily perguntou fazendo anotações no caderno. Levantei a mão. – McCallister?
- Pensei em um tema que alguns podem até achar clichê, mas não acho que o seja mais que um baile de máscaras... – comecei e todos me olhavam apreensivos. – Anos 60.
Alguns fizeram caretas imediatas, outros, continuaram calados. Poucos se entusiasmaram de fato. Esperei o falatório cessar e continuei.
- Estava mesmo esperando uma reação como essa. Se tiverem um pouco de paciência, posso esquematizar mais ou menos o que pensei. – Eles continuaram calados, me esperando falar. – Ok. Pensei em uma festa típica da década, claro. Os trajes, as músicas, a comida... Andei estudando um pouco sobre o tema, e acho que seria muito divertido!
- Quem gosta de remoer passado é cemitério. Não queremos velharias na nossa formatura! – uma menina da Nox falou com tom arrogante, e dois ou três amigos concordaram com ela. A encarei sarcástica.
- E querem outra festa à fantasia? Já participamos de uma nas Olimpíadas, e agora outra? Quanta originalidade! – comentei. Dora soltou um guincho de início de gargalhada, mas conseguiu sufocá-lo a tempo por uma crise de tosse.
- Isabel tem razão. Eu achei a idéia dos anos 60 maravilhosa! Poderíamos ensaiar coreografias de rock com a turma de dança da escola. Lambretas, globos luminosos, ponche. As meninas com vestidos rodados de bolinhas e os meninos com muito gel no cabelo e jaquetas de couro... – Emily interrompeu o início de discussão e logo estava falando sonhadora. As idéias dela fizeram muitos se animarem.
- Pensei também em convidarmos a “vanguarda” da escola. Pessoas que estudaram em Beauxbatons naqueles anos... Poderíamos homenageá-los. Tudo bem se não quiserem “remoer velharias”, mas imagino que muitos avôs de vocês se sentiriam honrados se fossem convidados para a festa de formatura de seus netos e ainda recebessem homenagens, não é? Seria, no mínimo, muito diferente de tudo o que já aconteceu nesse castelo! Além da nossa formatura, uma reunião dos antigos alunos?
- ÓTIMA IDÉIA, ISABEL! – Françoise quebrou o silêncio com um grito de entusiasmo tão surreal que fez com que todos se exaltassem. – Ótima idéia! Ah, isso seria de fato muito original e... – ela não disse mais nada, mas abriu um largo sorriso. Emily balançou a cabeça afirmativamente.
- Senhoras e senhores, acho que eu e Françoise já chegamos a um consenso sobre o melhor tema, e creio que a maioria de vocês o aprovou não é? – a maioria concordou, ainda rindo um pouco assustados com a inesperada exaltação de Defossez. – Ótimo. Tema definido. Agora temos que começar a conversar sobre datas, decoração, convites...
Sorri satisfeita por minha idéia ter sido escolhida. Iria fazer de tudo para que essa festa fosse inesquecível para todos nós.
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- É isso mesmo que vocês ouviram, formandos! Escolham seus pares para a festa de formatura e se inscrevam para o concurso de afinidade e “rei e rainha do baile” até o final desta semana! Os interessados devem preencher a ficha que está disponível com a professora Emily e depositá-la na urna em frente à rádio. Para participar, é preciso que pelo menos um dos dois seja formando da turma de 1999. A mesa de jurados será composta por alguns professores e alguns convidados para a festa, e o casal vencedor ganhará uma viagem de uma semana para a Itália. Não percam! Vou ficando por aqui. Chegou a hora da “Noite de Terror”, com Violet Jabouille. Boa noite e até amanhã no “Bate-papo com Isabel”.
Tirei o fone e passei-o para Violet, que logo começou a contar sobre a história de três lobisomens caçadores. Já não prestava atenção. Puxei de dentro da mochila uma ficha de inscrição e a preenchi, sorrindo. Terminei e já me preparava para depositá-la na urna quando Anne passou por ali e parou.
- Está se inscrevendo, Isa? Já conversou com o Henrique?
- Não, não vou me inscrever. – Sorri despreocupada. – Faço questão que outro casal ganhe este concurso... – Annia pareceu não entender por uns segundos, mas depois arregalou os olhos, também rindo.
- Você não está inscrevendo a... NÃO!
- SIM! – disse entusiasmada finalmente empurrando a ficha na urna. – Sinto muito, Bella, mas você e Bernard estão precisando de um tempo juntos e sozinhos!
Anne concordou entusiasticamente com a cabeça e saímos dali. Bel nos mataria quando descobrisse, mas era por uma boa causa. E eles tinham tudo para vencer!
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