Wednesday, May 28, 2008

Entre tapas e beijos

Do diário de Anabel Damulakis


O penúltimo sábado de maio marcava para os estudantes a última visita para Paris antes do fim do ano letivo. Acordei cedo e já estava descendo para tomar café da manhã quando reparei que alguma coisa estava muito estranha no Salão Comunal da Sapientai. Vários alunos e alunas se agrupavam em torno do mural e comentavam, animados, um pôster que havia sido pregado lá. Não me animei a enfrentar a multidão, mas nem foi preciso. Brenda saiu cortando um grupo de garotas e sorria.

- Por que não me contou que tinha se inscrito? – começamos a caminhar para fora da bagunça.
- Inscrito... onde?
- No concurso de Rei e Rainha do Baile de Formatura!!!
- Não te contei por que não me inscrevi. Suficiente?

Continuei caminhando, mas Brenda parou. Virei para encará-la e ela parecia confusa.

- Se você não se inscreveu, pode me dizer por que você e Bernard estão na lista de concorrentes que pregaram no mural?
- Do que você está falando?
- Estou falando daquele pôster pregado no mural!!! Saiu a lista definitiva de todos os casais que vão disputar esse concurso, e não são muitos. No máximo, dez. Você e Bernard são um deles. A não ser que tenha outra Anabel Damulakis McCallister que irá concorrer com outro Bernard Lestel...

Olhei para Brenda esperando o momento que ela ia rir e falar algo do tipo “peguei você”, mas não aconteceu. Ela permaneceu parada exatamente no mesmo lugar, me encarando séria e curiosa. Em passos firmes, voltei para o Salão Comunal. A algazarra continuava em frente ao mural, mas sem nenhuma delicadeza consegui atravessar o bolo de pessoas até finalmente ter uma boa visão do pôster. E era verdade. Não sabia como tinha acontecido, mas eu e Bernard estávamos inscritos para o concurso “Rei e Rainha” do baile de formatura.

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- ISABEL DAMULAKIS MCCALLISTER!!!

Muitos estudantes já estavam terminando de tomar café da manhã e se preparavam para ir a Paris. Isa era uma delas. Entrei no Salão Principal aos berros e caminhava em sua direção com o dedo apontado para o peito dela. Ela, no entanto, fez uma cara de falsa surpresa e sorriu afetada, olhando ao redor.

- Bom dia, Bel! Como você está nessa linda manhã de sol?
- FOI VOCÊ?
- Ah, eu estou muito bem também, obrigada. – ela continuava sorrindo e senti meu sangue ferver. Agarrei seu braço.
- EU NÃO SEI O QUE VOCÊ VAI FAZER, ISSO NÃO É PROBLEMA MEU, MAS SE NÃO TIRAR MEU NOME E O DE BERNARD DAQUELA LISTA DE CONCORRENTES PARA ESSE CONCURSO IDIOTA, EU MATO VOCÊ. ENTENDEU???

Soltei seu braço e sai andando na direção contrária. Uma pequena aglomeração de alunos já se formava ao nosso redor e pareciam esperar um ringue de boxe. Isa veio atrás de mim falando coisas como “está tudo bem”, “somos irmãs”, “desentendimento de família”. Me alcançou quando já estava no jardim.

- Fui eu sim. Eu que inscrevi você e Bernard.
- Ótimo. Desfaça.
- Não posso. A lista de concorrentes já está com Máxime. Já estão preparando tudo!!!
- Já disse que não me interessa COMO você vai fazer, apenas tire meu nome daquela lista o mais rápido possível.
- Bernard achou uma boa idéia... – ela começou e eu parei de supetão.
- Você falou com Bernard sobre isso?
- Claro que sim. Ele também não gostou inicialmente da idéia, mas... depois que eu disse que o prêmio era uma viagem para a Itália, uma semana, só vocês dois... – ela foi deixando a voz morrer propositalmente.
- Você falou com Bernard sobre isso??? – perguntei de novo, assustada. – Ele CONCORDOU?
- Sim! – sorriu animada. – Bel, eu não teria inscrito vocês se não achasse que vocês dois têm GRANDES chances de vencer! Você e Bernard estão precisando de um tempo sozinhos...
- Do que eu e Bernard estamos precisando, não é da sua conta, Isabel. Se ele gostou da idéia, que participe SOZINHO desse concurso. Eu não vou e é minha palavra final. Quero meu nome fora daquela lista até amanhã!

Encarei-a ameaçadoramente e ela sacudiu os ombros, ainda sorrindo. Continuei sozinha o caminho até o barco. Precisava conversar com Bernard.

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Cheguei ao restaurante onde tinha marcado com Bernard alguns minutos antes, mas ao contrário do que pensava, não precisei esperá-lo. Bernard estava sentado em uma mesa e conversava baixo com uma menina que nunca tinha visto antes. Cabelos longos e escuros, em boa forma, e do tipo que orgulharia a Isabel se fosse sua aluna... Os dois riam. Caminhei estressada até lá, mas nenhum deles percebeu minha chegada.

- Atrapalho alguma coisa?
- Bel!!! – Bernard pulou da cadeira parecendo assustado. – Chegou mais cedo?
- Pelo visto, não fui a única... – comentei azeda e lancei um olhar ácido para a garota na mesa, que mantinha um sorrisinho extremamente simpático em minha direção. Não retribui.
- Bê, acho que ela está esperando que você nos apresente. – ela se levantou e Bernard sorriu concordando.
- Bel, essa é Clarisse. Nossa amiga de infância... Minha e de Ian, quero dizer. Clarie, essa é Anabel, minha namorada e futura esposa. – Bernard nos apresentou parecendo empolgado e a menina estendeu a mão, que apertei com um pouco mais de força do que necessário.
- Bom, então acho que agora que sua companhia já chegou, vou indo, Bê. Foi um prazer te conhecer, Anabel. Bernard estava agora mesmo me falando de você...
- Que simpática! O prazer foi todo meu, Clarie. – respondi irônica e Bernard tossiu sem graça. A menina porém não mudou sua expressão.
- Nos vemos por aí, então. – Bernard falou e ela concordou. A acompanhamos sair do restaurante, em silêncio, e assim que a porta bateu virei nervosa para Bernard.
- Tendo bons tempos, Bê? Relembrando a infância? – perguntei em um tom de voz alto e Bernard olhou para as mesas ao redor.
- Vamos sair daqui... – ele disse me puxando pela mão para fora do restaurante também.
- Por quê? Vamos voltar lá pra dentro! Ou está com vergonha de expor sua “futura esposa” barraqueira? Aposto que sua amiguinha Clarie é elegante o suficiente para se portar bem em restaurantes assim, não é? – eu quase gritava enquanto Bernard continuava me arrastando pela mão pelas ruas de Paris.

Ele não respondeu nada. Só soltou meu braço e paramos de andar quando estávamos no final de uma viela. Me encarou.

- Pronto. Pode gritar, bater, fazer o que quiser. Não vou dizer que não tenha motivos suficientes para isso, então, pode começar agora que eu vou somente escutar tudo o que tem a me dizer... – ficou me olhando em silêncio e eu perdi tudo o que tinha pra dizer. Mas um segundo depois, recuperei.
- Então... Clarisse...?
- O que você quer saber sobre ela? – ele perguntou paciente se sentando na calçada.
- Tudo. Quem é? De onde veio? Por que veio? Quando vai embora? E o que já aconteceu entre vocês dois?

Ele permaneceu sério até a última pergunta, quando soltou uma risada alta que me deixou com mais raiva ainda.

- Clarisse Beltoise, como disse quando as apresentei, é uma amiga de infância. Ela estava morando em Madrid, mas agora voltou a Paris e por acaso, nos encontramos naquele restaurante. Estava me fazendo companhia enquanto você não chegava, e aproveitamos para colocar as conversas em dia. Ponto. Foi somente isso que aconteceu entre nós dois.
- Sério? Não pareceu. Pareciam tão íntimos... Cheios de risadinhas, apelidinhos carinhosos...
- Apelidinhos carinhosos? – outra risada alta. – Ela só me chamou de “Bê” e não é um apelido carinhoso. Todos me chamam de Bê! Você, Dominique, Ian, Merlin... É só meu apelido!
- Para quem brotou do chão depois de tantos anos sem te ver, já achar que tem intimidade suficiente para resgatar seu apelido, estamos indo bem! Bem rápido!
- Ela não “brotou do chão”. Já te contei tudo que aconteceu, exatamente do jeito que aconteceu. Clarisse é como se fosse minha irmã! Ian pode afirmar isso. – ele respondeu rindo. – Você acha que se eu quisesse alguma coisa com ela, marcaria horário com você no mesmo restaurante? Você está ficando paranóica!!!

Ele falou se divertindo mas pareceu assustado quando percebeu minha careta de fúria. Calou-se.

- Paranóica? Eu? Você está todo soltinho, ultimamente, não? Me chamando de paranóica, de conversinhas com uma amiga de infância fantasma, fazendo acordos estúpidos com minha irmã gêmea, aceitando participar de um concurso ridículo de popularidade.
- Ah, então é isso que está te incomodando mais, não é? Quando Isa me avisou que havia nos inscrito, eu achei uma péssima idéia, mas ela disse que tínhamos chances, que não era nada demais e nem precisávamos dançar maxixe... Mas se você realmente não quer participar desse concurso comigo, tudo bem. A formatura é sua, Bel. Sou só seu acompanhante, eu acho...
- Como assim, você “acha”?
- Bom. Você não parece muito satisfeita comigo nesses últimos tempos.
- Você está delirando? – perguntei assustada e ele se levantou, ficando da minha altura e me olhando bem nos olhos.
- Não. Você não pode negar o fato de estar bem diferente comigo desde o dia que disse que te amava e você não conseguiu responder nada.
- Ok, você sim está ficando paranóico. – Desviei meu olhar do dele, constrangida, mas ele segurou meu braço, me impedindo de afastar.
- Se quer terminar comigo, faça isso logo. Não fique inventando crises de ciúmes por amigas de infância e nem ataques de raiva por causa de um concurso que como você mesma definiu, é ridículo.
- Terminar? Quem falou em terminar? – perguntei assustada.
- Se não quer isso, afinal, o que quer com todo esse stress pra cima de mim?

Os olhos azuis dele penetravam os meus de uma maneira fria. Várias imagens passaram na minha memória e senti um amargo no estômago, mas não podia esconder mais.

- Ulisses Bonaccorsso me beijou. Foi durante a viagem de formatura. Ele quem roubou o Grimoire, mas enquanto nos beijávamos, eu descobri, e a Isa impediu que ele alterasse minha memória. Aí ele devolveu o livro depois que fizemos um acordo de que não íamos denunciá-lo, e colocamos fogo.

Bernard parecia não estar prestando atenção no restante da história que eu contava aos atropelos. Andava de um lado para o outro, com raiva.

- Bê... – tentei chamar, mas ele só parou e fez um sinal com a mão pedindo que eu esperasse. Não interrompi mais por vários outros minutos.
- E só agora você me conta?
- Eu não sabia como...
- Passei todas essas semanas falando muito pouco com você. Achando que eu tinha errado em alguma coisa!
- Desculpa.
- Nesse momento não sei se consigo te desculpar. Estou me sentindo um completo estranho na sua vida. Você estava me evitando. Nem nos vimos na Páscoa! Estava até fazendo planos de finalmente te levar pra conhecer minha família, mas você cortou dizendo que tinha de fazer algo urgente na sua casa e nem disse o quê.
- Fomos queimar o Grimoire!
- Eu teria entendido se você tivesse me falado logo! Por que ficou escondendo esse tempo todo?
- Já disse. Não sabia como te contar...
- E eu achando graça de você com ciúmes da Clarisse! – ele falou alto rindo debochado. – Acho melhor conversarmos outra hora.

Olhou decidido pra mim e eu não sabia o que dizer. Quando começou a se afastar, corri atrás.

- Não. Bernard. Vamos conversar tudo agora!
- O que mais quer me contar? – ele parou perguntando baixo e eu segurei sua mão.
- Olha pra mim! Não vou deixar você ir embora sem antes dizer que esse beijo do Ulisses foi a pior coisa que já me aconteceu. Pior até mesmo que descobrir que Isabel era minha irmã. Eu bati nele depois...
- Agora estou me sentindo muito melhor!
- Sem ironias, por favor?! Elas não são do seu feitio e sim do meu.
- Vinganças também são do seu feitio, como deu pra perceber.
- Vinganças?
- Beijou Ulisses na sua viagem de formatura só por que beijei Samantha na minha. Estamos quites.
- Que parte do “foi a pior coisa que me aconteceu” você não entendeu direito?
- Vou repetir uma frase que você mesma me disse quando te contei sobre Samantha: “quando um não quer, dois não beijam”. Nem brigam. Não quero brigar mais com você por hoje, Bel. Vamos conversar outro dia.

Novamente ele recomeçou a andar, e me sentindo muito pior, corri atrás dele e o impedi de continuar. Ele pareceu cansado.

- Não vai embora!
- Me dá um motivo para ficar aqui e continuarmos essa discussão.
- Eu te amo, seu idiota! Não deu pra perceber isso?

A expressão dele mudou da água para vinho. Naquele exato momento eu soube que tinha conseguido desarmá-lo, finalmente. E estranhamente, também estava me sentindo muito mais leve. Ele não conseguiu prender um sorriso. Sorri também.

- Repete isso?
- Não me irrita, Bernard.
- Você ensaiou tudo isso, não foi? Sabia que eu ia esquecer toda essa história de gregos e Grimoire se você finalmente me respondesse.
- Não foi ensaiado. Mas até que veio a calhar...
- Ok, então façamos o seguinte: eu apago toda a história da Samantha, você apaga toda a história do Ulisses, eu te amo, você me ama, não há nada entre nós pro resto de nossas vidas.
- Clarisse. – falei depressa, ele riu.
- Não vamos voltar nesse assunto?! – implorou.
- Ok. Por hoje já foi o suficiente. Já tivemos nossa primeira grande e última D.R..
- Depois eu que estou muito “soltinho” né? – ele perguntou me abraçando. Ri.
- Sobre o concurso... – comecei, ele tapou minha boca.
- Esquece isso. Não participamos e pronto.
- Não. Para falar a verdade... Se não tivermos que dançar maxixe, não me parece tão má idéia assim. Quero dizer, é minha formatura. Eu saio do castelo em um mês. Ninguém vai se lembrar disso ano que vem, certo?
- Eu estou entendendo direito? Nós vamos participar desse concurso?
- Se você ainda aceitar...
- Eu posso fazer um esforço.
- Certo. – ri e ele me puxou para um beijo longo.

No fim do dia, Bernard me acompanhou até o barco de Beauxbatons e estávamos nos despedindo quando um grupo de alunos mais novos passou vestindo camisetas com uma foto nossa. Aquilo foi chocante, até mesmo para Bê. Ficamos observando o grupo entrar no barco, animado, e nos encaramos.

- Éramos nós?
- Sim. E com uma frase do tipo: Eu voto em Bel e Bê para casal “Rei e Rainha”. – Bernard disse, assombrado.
- Eu...mato...a...Isabel.
- Faça isso. Mas eu tenho a impressão de que não foi uma idéia dela. – ele disse rindo assustado e ri também.
- Ian. – falamos juntos e ele concordou.

Em outras circunstâncias, estaria mesmo correndo atrás da Isa com uma varinha, mas estava me sentindo tão feliz como nunca tinha me sentido antes, e não queria que nada mais estragasse meu humor. Nem mesmo as camisetas.

Monday, May 19, 2008

And the graduation's awards goes to...

Pensamentos de Isabel McCallister

- Senhores, silêncio, por favor? – Defossez já pedia descrente, enquanto a algazarra só aumentava. – Senhores um pouco de educação não faz mal a ninguém! – repetiu cansada e com traços de irritação, mas mantendo a voz baixa e o tom fino de sempre.

Olhei ao redor da sala em silêncio. Os alunos que Emily e Françoise tinham escolhido para nossa comissão de formatura conversavam tão empolgados que nem reparavam as incansáveis tentativas da professora de etiqueta de colocar um pouco de ordem na pauta. Não intrometi. Alguns minutos se passaram até Emily finalmente chegar. Ela parou assustada na porta e observou a bagunça que estava acontecendo ali dentro. Puxou a varinha e lançou um feitiço para o teto, que fez uma enorme explosão de barulho. Todos se assustaram e se calaram, olhando para a porta. Ela sorriu.

- Muito boas noites. – disse entrando na sala e se sentando ao lado de Françoise, que a olhava de cima a baixo, reprovadora. – Desculpem o susto, mas não iria gastar minha garganta para avisar a vocês que precisamos de ordem, não é? Se todas as reuniões começarem assim, não vão ter uma festa de formatura nem pra junho nem pra dezembro!

Todos se entreolharam e logo começaram a se sentar, em silêncio. Quando finalmente se acomodaram, Emily ainda sorrindo, abriu um caderno à sua frente.

- Bem melhor assim, não acham? – perguntou simpática, sorrindo e folheando as páginas. Parou em uma. – Então, vamos começar do começo: tema. Um de cada vez, quero que me falem os temas que pensaram para a festa.

Um novo falatório recomeçou, mas Emily logo conseguiu abafar lançando faíscas coloridas no ar. Então, em ordem, os temas foram sendo expostos para todos, e apareceram vários. Festa à fantasia, baile de gala, baile de máscaras, e até monocromática. Nenhuma parecia ter interessado a grande maioria.

- Muito bem, a mais cotada por enquanto é a de máscaras. Alguém pensou em outra coisa? – Emily perguntou fazendo anotações no caderno. Levantei a mão. – McCallister?
- Pensei em um tema que alguns podem até achar clichê, mas não acho que o seja mais que um baile de máscaras... – comecei e todos me olhavam apreensivos. – Anos 60.

Alguns fizeram caretas imediatas, outros, continuaram calados. Poucos se entusiasmaram de fato. Esperei o falatório cessar e continuei.

- Estava mesmo esperando uma reação como essa. Se tiverem um pouco de paciência, posso esquematizar mais ou menos o que pensei. – Eles continuaram calados, me esperando falar. – Ok. Pensei em uma festa típica da década, claro. Os trajes, as músicas, a comida... Andei estudando um pouco sobre o tema, e acho que seria muito divertido!
- Quem gosta de remoer passado é cemitério. Não queremos velharias na nossa formatura! – uma menina da Nox falou com tom arrogante, e dois ou três amigos concordaram com ela. A encarei sarcástica.
- E querem outra festa à fantasia? Já participamos de uma nas Olimpíadas, e agora outra? Quanta originalidade! – comentei. Dora soltou um guincho de início de gargalhada, mas conseguiu sufocá-lo a tempo por uma crise de tosse.
- Isabel tem razão. Eu achei a idéia dos anos 60 maravilhosa! Poderíamos ensaiar coreografias de rock com a turma de dança da escola. Lambretas, globos luminosos, ponche. As meninas com vestidos rodados de bolinhas e os meninos com muito gel no cabelo e jaquetas de couro... – Emily interrompeu o início de discussão e logo estava falando sonhadora. As idéias dela fizeram muitos se animarem.
- Pensei também em convidarmos a “vanguarda” da escola. Pessoas que estudaram em Beauxbatons naqueles anos... Poderíamos homenageá-los. Tudo bem se não quiserem “remoer velharias”, mas imagino que muitos avôs de vocês se sentiriam honrados se fossem convidados para a festa de formatura de seus netos e ainda recebessem homenagens, não é? Seria, no mínimo, muito diferente de tudo o que já aconteceu nesse castelo! Além da nossa formatura, uma reunião dos antigos alunos?
- ÓTIMA IDÉIA, ISABEL! – Françoise quebrou o silêncio com um grito de entusiasmo tão surreal que fez com que todos se exaltassem. – Ótima idéia! Ah, isso seria de fato muito original e... – ela não disse mais nada, mas abriu um largo sorriso. Emily balançou a cabeça afirmativamente.
- Senhoras e senhores, acho que eu e Françoise já chegamos a um consenso sobre o melhor tema, e creio que a maioria de vocês o aprovou não é? – a maioria concordou, ainda rindo um pouco assustados com a inesperada exaltação de Defossez. – Ótimo. Tema definido. Agora temos que começar a conversar sobre datas, decoração, convites...

Sorri satisfeita por minha idéia ter sido escolhida. Iria fazer de tudo para que essa festa fosse inesquecível para todos nós.

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- É isso mesmo que vocês ouviram, formandos! Escolham seus pares para a festa de formatura e se inscrevam para o concurso de afinidade e “rei e rainha do baile” até o final desta semana! Os interessados devem preencher a ficha que está disponível com a professora Emily e depositá-la na urna em frente à rádio. Para participar, é preciso que pelo menos um dos dois seja formando da turma de 1999. A mesa de jurados será composta por alguns professores e alguns convidados para a festa, e o casal vencedor ganhará uma viagem de uma semana para a Itália. Não percam! Vou ficando por aqui. Chegou a hora da “Noite de Terror”, com Violet Jabouille. Boa noite e até amanhã no “Bate-papo com Isabel”.

Tirei o fone e passei-o para Violet, que logo começou a contar sobre a história de três lobisomens caçadores. Já não prestava atenção. Puxei de dentro da mochila uma ficha de inscrição e a preenchi, sorrindo. Terminei e já me preparava para depositá-la na urna quando Anne passou por ali e parou.

- Está se inscrevendo, Isa? Já conversou com o Henrique?
- Não, não vou me inscrever. – Sorri despreocupada. – Faço questão que outro casal ganhe este concurso... – Annia pareceu não entender por uns segundos, mas depois arregalou os olhos, também rindo.
- Você não está inscrevendo a... NÃO!
- SIM! – disse entusiasmada finalmente empurrando a ficha na urna. – Sinto muito, Bella, mas você e Bernard estão precisando de um tempo juntos e sozinhos!

Anne concordou entusiasticamente com a cabeça e saímos dali. Bel nos mataria quando descobrisse, mas era por uma boa causa. E eles tinham tudo para vencer!

Friday, May 09, 2008

Heranças de família, final

Trechos do diário de Phoebe Damulakis:

18 de março de 1823

Estou com umas idéias um pouco ousadas, devo confessar. Há algum tempo ando lendo e estudando os diários e anotações soltas de meus antepassados da família e pensei: “por que não unir todos esses relatos (alguns muito interessantes e até mesmo perigosos) em um único livro?”. É, como um dos Grimoires que os antigos e poderosos magos guardavam com seus feitiços.
Penso que terei muito trabalho até finalizar tudo, então pedi ajuda à Leda. Minha única pessoa de confiança. Enquanto ela não responde, melhor começar a juntar todo o material...


25 de março de 1823

“Querida Phoebe,

Fiquei muito feliz ao receber seu convite, ainda mais se tratando se um projeto tão importante para você e toda a sua família (a qual, tenho bastante estima).
É claro que eu aceito te ajudar no que for preciso para que finalize logo este livro. Já terminei meus trabalhos aqui na Áustria e dentro de três dias, estarei retornando à Grécia. Não comece sem mim!

Ansiosamente,

Leda M. Bonaccorsso”

°°°

Páscoa, 1999 – Mansão dos Damulakis, Grécia.

O Grimoire estava em cima da mesa de centro da sala de visitas. Eu e Anabel paramos de falar e Rebecca olhava o livro, tensa.

- Então Ulisses Bonaccorsso simplesmente devolveu o livro para vocês após ler a carta de Leda?
- É. Ele percebeu finalmente que o livro é mesmo da nossa família, afinal, tem a assinatura de Leda na carta não é? Além do mais, fizemos um trato: não o denunciaríamos pelo roubo se ele nos devolvesse o livro.
- Tivemos muita sorte também. Ele estava só esperando alterar nossas memórias para mandá-lo para a avó dele. – Bel terminou exausta e novamente a sala caiu em silêncio. Vários minutos se passaram.
- Vocês estão certas de que querem fazer isso? – Rebecca perguntou nos encarando longamente. Eu e Bel nos entreolhamos decididas.
- Estamos.
- É o melhor a se fazer. – respondemos depressa e ela balançou os ombros.
- Bom, então não há mais nada a dizer. Desde o dia que vocês nasceram que o livro não é meu mais. É de vocês. Façam dele o que preferirem.

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- Prontos?
- Prontos.
- ‘Incendio’

Três vozes diferentes gritaram ao mesmo tempo e instantaneamente três feixes de fogo foram disparados em direção ao centro do triângulo que eles formavam. As chamas alcançaram, antes, vários pergaminhos e diários. Depois atingiram a capa negra do Grimoire, que começou a ser consumida pelo fogo. Folha por folha, maldição por maldição se tornaram cinzas. Quando o fogo cessou naturalmente, Isabel e Anabel Damulakis e Ulisses Bonaccorsso sorriam.

- Acabou. – Bel sorriu largo, abaixando finalmente a varinha.
- Acabou... – Ulisses repetiu lentamente.
- O que você vai fazer agora? Sua avó o expulsou de casa, não é?
- Sim. Mas não me importo com isso. Ela acha que os trai, mas quem sabe um dia não volta atrás? Vou terminar meus estudos aqui na Grécia, com meus amigos. E depois, vou fazer o que sempre quis: trabalhar no Gringotes e viajar o mundo. Tenho como sobreviver. Meus pais me deixaram uma boa herança... – ele abriu um sorriso discreto. As irmãs retribuíram. – De qualquer maneira, foi um prazer conhecer vocês! Espero que desculpem tudo o que fiz.
- O que foi mesmo que você fez? – Isa perguntou divertindo-se. Ele riu.
- Minha avó se enganava quando me disse que não teria trabalho com você. E eu fui um tolo de acreditar nela. Mas... águas passadas. E quanto a você, Anabel, se um dia perceber que não gosta mais do seu namorado, me procure. Estarei à disposição. – ele disse galanteador e Bel fechou a cara.
- Já aprendeu a falar meu nome. Ponto positivo. Mas não se preocupe, isso não vai acontecer. Eu amo o Bernard, só preciso falar isso pra ele... – ela disse a última frase mais como um pensamento alto.
- Ele precisa saber a sorte que tem.
- Ele sabe! – Isabel falou sorrindo vitoriosa. - Adeus, Ulisses.
- Adeus.

Com um último aceno e sorriso, ele desapareceu em fumaça. Bel balançou a cabeça e com um aceno, fez as cinzas desaparecerem de uma vez.

O que importa se as mulheres têm sempre que estar certas? Pelo menos em um assunto elas ainda têm muito que aprender com os homens: como ser idiotas...

Voltei para casa para passar o feriado de páscoa com meus pais e meus tios com a única e exclusiva intenção de me divertir. Mas isso foi exatamente o que não aconteceu. Mamãe já estava com uma barriga de 5 meses e os nervos a flor da pele. O bebê, que agora sabíamos ser uma menina, estava começando a chutar e mamãe começava a se sentir desconfortável, reclamando de dor nas costas e que seus pés pareciam inchados. Isso sem falar na mudança de humor. Ela estava mais emotiva do que nunca, variando do feliz ao triste em questão de segundos. Toda vez que ela começava a dar indícios de que ia chorar, tio Scott me olhava e ria, fazendo uma dança idiota que significava: agora é com seu pai, estou livre. Não conseguia evitar a risada, era preciso aproveitar esses poucos momentos engraçados do feriado.

Já estava bem tarde e era meu penúltimo dia em casa. O telefone tocou e atendi depressa. Era Mad. De cara abri um sorriso, mas ele logo se desfez ao lembrar que havíamos brigado da última vez que nos falamos, pouco antes do tio Ben me buscar na escola. Ela queria que eu fosse para sua casa no feriado, pois não nos víamos há mais de dois meses, mas eu não quis. A família dela não fazia a menor questão de ser simpática comigo, com exceção de sua mãe, e sugeri que ela viesse para cá. Mas claro que ela não topou, dizendo que já passou o natal conosco. Depois me acusou de não nos vermos direito por estudar longe demais. E a ligação, que deveria ser para apaziguar as coisas, acabou tomando o mesmo rumo da última conversa. Logo já estávamos discutindo outra vez, algo muito comum nos últimos dias, e me irritei. Ela sempre tinha que estar certa, e não me conformava com isso. Se ela estava sendo irracional, porque eu deveria entender?

- Ok Mad, você está certa outra vez, só pra variar um pouco. Boa noite!

Desliguei o telefone irritado e me joguei no sofá, empurrando as almofadas pro chão. Estava com tanta raiva que não percebi que meu pai estava deitado no outro sofá, enrolado em um lençol.

- Está tudo bem? – fiz que sim com a cabeça e ele se sentou – Era a Madeline?
- Eu não tenho culpa por ela não poder ir todo fim de semana na Califórnia! – respondi indignado com a cara enfiada na almofada do sofá – Não é minha culpa ela estar cheia de trabalhos da faculdade e ter pouco tempo livre!
- Ah, então estavam brigando por causa da distância – falou com uma voz de quem estava se familiarizando com a situação – Entendo...
- Quando eu aceitei ir para a Califórnia, estava fazendo o que achava ser melhor o pra mim – sentei direito e o encarei – No começo foi tudo legal, faltavam poucos meses para ela se formar e estava tão atolada com os N.I.E.M.s que não teríamos tempo para sair mesmo que eu estivesse lá. Mas agora é diferente, ela tem mais tempo livre mesmo com o trabalho e a faculdade, mas não é sempre que consegue uma chave de portal para ir até lá. E eu não posso conseguir uma, ainda sou menor de idade!
- Quando sua mãe e eu ainda namorávamos e eu me formei, também não foi fácil. Mal tinha tempo de respirar com o trabalho e seu avô Henry fazia marcação serrada quando Louise estava em casa. Foi difícil, sentíamos falta um do outro por estarmos acostumados a nos ver todos os dias, mas no fim tudo deu certo.
- Queria ter essa certeza de que vai dar certo – joguei a cabeça para trás cansado, tirando os óculos – Não agüento mais brigar com a Mad. Se ainda estivesse em Beauxbatons seria mais simples, ela poderia ir até lá quando quisesse...
- Manter um relacionamento a distancia não é fácil, filho. Mas se vocês se gostam de verdade, vão dar um jeito...

Dei um meio sorriso para ele ainda de olhos fechados e com a cabeça já a mil, quando ouvimos um barulho na cozinha e viramos assustados. Já passava de meia noite e mamãe estava dormindo, não tinha mais ninguém na casa.

- Quem está ai? – papai perguntou
- Ah, desculpe, não sabia que tinha gente acordada – a voz de Nicholas saiu de dentro da geladeira
- Nicholas? O que faz acordado há essa hora? E por que não está na sua casa? – perguntei surpreso e ele apareceu na sala com um pote de sorvete na mão
- Estou triste, precisava de doce. Papai e tio Scott saíram, vou dormir aqui hoje.
- Está triste por quê?
- Minha melhor amiga não quer mais falar comigo – disse desanimado
- Mas o que aconteceu?
- Eu a chamei de gorda
- E por que você fez isso, Nicholas? – papai se espantou
- Não foi a minha intenção! Eu só disse que... Bem, eu queria que ela... Quer dizer, não era para ofender, eu também sou gordinho! – ele deu um suspiro longo e cansado – Ah, tanto faz, ela entendeu errado de qualquer forma...

Deixei uma risada desanimada escapar e bati no lugar vago do sofá para ele se sentar. Virei para meu pai, que estava jogado no outro sofá com uma cara de culpa.

- Pai... Porque está dormindo no sofá?- Mulheres... Sabe o que eu quero dizer.- É, sei... Mulheres.
- É... Mulheres... – Nicholas completou enfiando uma colher cheia de sorvete na boca

Ficamos os três calados por uns instantes, encarando um ponto fixo na parede, e acho que foi uma das conversas mais profundas que já tive. Papai conjurou duas colheres e ajudamos Nicholas a acabar com o pote de sorvete. Não sei que horas acabamos de comer e nem que horas pegamos no sono, mas ninguém abandonou o sofá da sala.

No dia seguinte meus pais se entenderam e conversavam rindo no quarto; Nicholas estava no playground do prédio brincando outra vez com sua amiga, pelo visto haviam se entendido. E quanto a mim, sabia o que deveria fazer. Quando as aulas recomeçassem em Setembro, voltaria para casa. Quando começasse meu 7º ano, estaria de volta à Beauxbatons. Talvez essa não fosse a solução para os nossos problemas, mas era um começo...

Friday, May 02, 2008

Time to Break the Seal – Parte II - O Selo de Chronos

Tempos Atuais

Lembranças de Seth K. C. Chronos (Junto de lembranças de Alucard W. Chronos)

Acordei no meio da noite. Mais uma vez eu sonhei com o dia do nascimento de meus filhos, o dia em que selamos seus poderes para seu próprio bem. Em meu coração eu sabia que a hora do selo ser rompido estava chegando. Sorri ao pensar em como meus filhos estavam crescidos. Griffon deixara de ser egoísta e egocêntrico, tornando-se maduro e um ponto de apoio para todos ao seu redor. A luz em seu interior crescera rapidamente, fortalecendo-o cada vez mais. Para Seth não havia palavras de como ele estava crescido. Conhecia o verdadeiro significado de amor, de amizade, de felicidade e de sacrifício para um bem maior. Meu filho mais velho era ao mesmo tempo igual a mim,e totalmente diferente, muito mais maduro. E para completar nossa felicidade, minha pequena princesa já parecia possuir um olhar de sabedoria e força, igual a da mãe. Sorri novamente e olhei para o lado da cama.
A razão primordial da minha felicidade e salvação dormia do meu lado, serena como a noite e linda como a lua. Cada dia mais ela se tornava mais bela, cada novo dia dava um novo encanto. A mãe de três crianças maravilhosas e o pilar da minha vida e salvação. Me aproximei dela devagar e com carinho, e a beijei na testa, enquanto a pegava nos braços para um abraço. Ela se remexeu no sono, e pareceu sorrir enquanto dormia. Fiquei ali segundos, talvez dias, semanas, apenas agradecendo a tudo no mundo pela minha felicidade.
Quando senti uma presença estranha.

Algo totalmente diferente da sensação normal da casa. Fiquei alerta imediatamente e devagar depositei Mirian novamente na cama, não querendo acorda-la. Ativei meus instintos e os olhos brilharam em vermelho enquanto vasculhava a área da casa. Com uma mistura de surpresa, raiva e medo notei uma presença maligna no quarto de minha filha. Uma presença que eu conhecia muito bem...Com os olhos injetados de vermelho e com uma fúria assassina sai do quarto sem fazer barulho, desaparecendo no ar...

No Quarto de Ártemis

Ele gastara muita energia para fazer aquilo que tanto desejara e se sentia até mesmo orgulhoso, pois nunca uma pessoa sozinha conseguira invadir a tão protegida sede dos Chronos. Mas o sentimento mais forte era uma alegria como ele há anos não sentia. Seus olhos vermelhos faiscavam de prazer enquanto se aproximavam do berço, a última apunhalada de sua vingança.
Hellion se aproximou de onde a mais nova Chronos, a pequena Ártemis dormia. Ele queria saborear cada momento daquela que seria sua morte mais querida. Mas quando se debruçou sobre o berço para agarrar o pescoço daquele ser desprotegido, saltou para trás com o susto. A criança estava acordada, calada e encarando-o com um olhar tão poderoso quanto o de seus familiares. Ela não sorria, ela apenas o olhava no fundo de seus olhos e ele sentiu uma energia lutando contra a dele, e sentiu como se tivesse suas energias arrancadas. Ele guinchou de raiva e enfiou a mão no berço tentando agarrar o pescoço da criança. Porém mal sua mão tocou a pele da menina, seus dedos foram queimados e seus olhos arderam. Em sua mente ele ouviu uma voz.
- Eu sabia que você tentaria me atacar um dia. Mas você renegou o amor e a inocência há anos e se esqueceu dos poderes de uma criança. Somos protegidos por forças benignas demais para que alguém impuro como você nos ameace. E você não irá me ameaçar, me machucar, me tocar.
A voz era forte, porém ainda infantil. Quando a voz cessou, Hellion sentiu uma dor enorme em sua mente, como se estivessem perfurando-a com agulhas. Ele cambaleou para trás e reuniu forças para uma última tentativa, e com dor conseguiu segurar a criança nos braços encarando com felicidade os olhos da menina. Mas agora sentia ainda mais forte a ardência em seu corpo e uma energia o esmagava. Largou a criança no berço e foi jogado para trás. Não sabia se por causa da criança ou da outra pessoa que estava diante dele.
Alucard estava de pé ao lado do berço da filha com um brilho assassino no olhar e uma fúria que fez Hellion tremer. Porém o vampiro riu alto e os seus olhos brilharam ainda mais. Ele iria matar os dois então.
- Você ousou entrar e tentar matar a minha filha?! Isso foi longe demais Hellion, você não sobreviverá a essa noite!!
Alucard gritou e a casa inteira pareceu reagir ao seu comando. As janelas se fecharam sozinhas e uma energia começou a fluir da própria casa esmagando Hellion. Ele porém deu um salto a frente e golpeou o outro vampiro, empurrando para longe. Ártemis começou a chorar e Hellion correu para o berço, descendo com a mão contra o local onde a menina dormia, suas garras como navalhas e perfurou o colchão. Alucard esperou ouvir o som de carne sendo cortada e se preparou para vingar a filha. Mas nada acontecera e o choro de criança parara. Hellion riu alto achando que havia ganhado. Mas sua felicidade durou pouco, porque na porta, segurando a pequena criança que a abraçava, estava o ser humano que Hellion mais temia. Mirian brilhava em uma luz dourada e seus olhos tinham uma fúria tão grande quanto a do marido, porém mais intenso e sem o instinto assassino, Mesmo assim a simples visão daquele olhar fez Hellion ser jogado para trás e com medo saltar para fora da janela. Alucard olhou para a esposa e suspiro aliviado e correu para abraça-las, depois foi direto para a janela e teria pulado atrás do vampiro se Mirian não o chamasse.
- Lu, espere.
- Irei atrás dele, Mi, já fui bondoso demais com ele. Ele não verá mais uma lua.
- Se acalme meu querido. Ártemis precisa de você, eu preciso de você. Nós duas gastamos muita energia enfrentando esse ser maligno.
- Mas não posso deixá-lo impune depois do que tentou fazer!! Hoje será o fim dele!
- Meu querido, eu também não quero que ele fique impune, e é mais do que hora dele pagar pelos seus crimes. Mas não será pelas suas mãos que ele perecerá. Chegou a hora para que deixemos o passado ser derrotado pelo presente.
- Você acha que chegou a hora...?
- Sim. Vamos romper o selo. Vamos trazer os meninos aqui.
Os dois assentiram e a própria Ártemis parecia de acordo. Os dois pegaram então pingentes de dentro de suas vestes, pingentes que eles carregavam há 17 anos. Eram feitos da mesma pedra que deu origem ao pingente de seus filhos, a marca do selo. Cada um fez um talo em seu dedo e o colocou sobre o pingente, pronunciando palavras a tempos preparadas. Onde quer que estivessem, seus filhos receberiam o chamado e seriam levados para a sua presença.

Beauxbatons

Acordei no meio da noite, mas totalmente desperto e saltei da cama imediatamente e vi que Griffon também já estava de pé. Havíamos acordado ao mesmo tempo, e nos encarávamos sabendo que ambos tiveram o mesmo sonho, não a mesma visão. O mesmo chamado.
- Ele ousou atacar a Ártemis!? – Griffon falou se controlando, mas seus olhos também brilhavam com raiva.
- Ele foi longe demais. Papai devia tê-lo matado antes. Mas ele não passará dessa noite. – Eu respondi, os olhos injetados de vermelho, com ódio.
- Vamos logo então, Seth. Eles estão nos chamando.
- Devemos avisar a escola?
- Talvez sim. Já sei o que vou fazer. – Griffon abanou a varinha para o chão e um grifo azulado, seu patrono, estava diante dele. – Vá até a Diretora e a diga que nossos pais nos convocam urgentemente, qualquer assunto procura-los imediatamente. Vá depois a Miyako e Emily e as avise também. – Quando o grifo piou e desapareceu no ar, Griffon se virou para o irmão pronto para partir e viu que diante do irmão um coelho prateado também se formara.
- Procure a Luna e a avise por favor, tranqüilize-a e diga que assim que der irei vê-la. Avise também ao Ty e ao Biel para que tomem cuidado por via das dúvidas e não se preocupem conosco. Agora vá, rápido por favor. – O coelho abanou as orelhas e desapareceu também.

Os irmãos finalmente se viraram para a janela e saltaram juntos para fora dela, chegando ao chão com leveza. Correram para fora dos terrenos da escola e em um piscar de olhos haviam aparatado.

Sede dos Chronos – Londres.

Aparatamos perto das redondezas da casa e vimos que o clã já estava em movimento. Aurores vasculhavam a área à procura de pistas e outros partiam para avisar ao Ministério das ações que seriam tomadas a partir de então. Eles nos cumprimentaram enquanto passávamos correndo por eles, procurando o lugar onde nossos pais estavam, encontrando-os em um corredor do térreo que sempre achei que fosse inútil, totalmente vazio. Mamãe estava com Ártemis no colo e conversava com papai e Tia Celas, todos sérios mas com um brilho no olhar como o nosso. Eu e Griffon abraçamos todos e cada um abraçou aliviado e agradecido pelo bem da irmã, que voltara a dormir e se aconchegava nos muitos braços que queriam segura-la.
- Recebemos seus chamados, papai e mamãe. – Falei, olhando-os nos olhos.
- Eu sei, meu querido. É chegada a hora, é a geração de vocês que acabará com os males de nossa geração. – mamãe falou nos olhando com orgulhoso e força.
- Vocês foram treinados para protegerem as pessoas, e hoje farão isso novamente. – Tia Celas falou nos dando um sorriso e papai continuou.
- Mas hoje não será como das outras vezes. Vocês já são maduros o suficiente para o que acontecerá hoje. Sinto muito orgulho de vocês meu filhos. – Um brilho de felicidade estava nos olhos de papai e retribuímos o olhar, cada vez mais ansiosos. Tia Celas nos acenou mais uma vez e pegou Ártemis no colo levando-a dali, ficando apenas nós dois, papai e mamãe.
- Há 17 anos vocês nasceram, mas tinham um poder enorme. Pois eram a união de duas famílias antigas e poderosas. Seus poderes poderiam ter matado um ao outro, ou vocês mesmos, pois seus corpos frágeis não estavam preparados para tamanho fluxo de poder. Mas hoje vocês já são poderosos por si só e preparados para sobreviver e usar seus verdadeiros poderes.
- Hoje liberaremos o poder de vocês de verdade. É chegada a hora para que vocês finalmente conheçam o verdadeiro poder de vocês. O que vocês usavam antes era apenas uma fração do poder total. Amor, amizade, felicidade e o bem das pessoas, esses são seus motivos e suas forças.

Dizendo isso papai deu as mãos à mamãe e juntos colocaram a mão na parede diante deles. Seus olhos brilharam em negro e dourado respectivamente, e na parede surgiu um ankh sobreposto a um pentagrama. Para nossa surpresa uma porta começou a se formar surgindo da parede, e depois de alguns segundo elas se abriram lateralmente revelando um amplo quarto iluminado por uma luz que vinha das paredes, do teto e do chão, formando um imenso pentagrama com vários outros símbolos espalhados pelas linhas do pentagrama. No centro do salão haviam quatro símbolos principais: um circulo negro coroado por um sol, outro círculo branco coroado pela lua, além de duas luas crescentes, uma acima e outra abaixo da linha dos círculos. Reconheci o desenho de uma magia de complexidade e poder que eu nunca havia visto. Também sentia uma concentração de poder nos círculos, e o círculo branco parecia me chamar, entrando em ressonância com minha mente e minha alma. Nunca em minha vida me senti tão leve e tão forte. Quando olhei para o lado vi que Griffon sentia a mesma coisa e sua pele começava a brilhar em dourado e com certa surpresa notei que minha pele brilhava em prata. Quando olhamos para nossos pais vimos uma glória antiga neles, como se fossem mais do que nossos pais. Mamãe brilhava em branco e papai em negro. Os dois nos indicaram os círculos e se encaminharam para as luas crescentes.

Quando meu pé tocou a borda do círculo designado a mim, sentia uma onda de poder que eu não via há muito tempo. O círculo praticamente me prendia ao chão, e uma corrente de poder passava por todo meu corpo, mas eu sabia que era apenas o início. Mamãe sacou uma adaga prateada da cintura e fez um corte na mão, deixando seu sangue pingar na lua crescente. Papai cortou a mão com suas unhas e deixou seu sangue pingar também. No mesmo momento em que a primeira gota tocou o chão, toda a sala brilhou mais intensamente. Uma onda de energia se espalhava ao nosso redor e depois parecia retornar lentamente até nós. Então ouvimos nossos pais falando, mas como se fossem uma só voz:
- Suas armas, seus verdadeiros poderes, suas almas de batalha, jazem nesse chão, adormecidas aguardando o tempo certo. É chegada a hora de vocês. Isis ressuscite a carne, Gaia forje as armas, Deusa abençoe-as. Anúbis traga de volta as armas caídas, Hades guie-as através das trevas, Seth empreste-os o seu poder. Thór que seu martelo as torne resistentes, Odin que seus corvos as encham de sabedoria, Zeus com seus raios aumente a força do ódio dessas armas. Chronos rompa as barreiras do tempo, devolvendo os poderes antes selados. Que o Selo de Chronos seja rompido.

I just know there’s no escape now
once it sets its eyes on you.
But I won’t run, have to stare it in the eye.

Stand my ground, I won’t give in.
No more denying, I’ve got to face it.
Won’t close my eyes and hide the truth inside.
If I don’t make it,
someone else will stand my ground.

Prenda um dragão. Mantenha-o preso em uma jaula pequena, porém alimentando-o bem e dando-lhe motivos para crescer. O dia que a jaula se romper, o dragão terá um poder superior a tudo que você possa agüentar. Tudo que você possa simplesmente imaginar. Foi isso que aconteceu conosco.
Ao som da frase “Que o Selo de Chronos seja rompido”, uma onda de energia que eu nunca imaginei agüentar passou pelo meu corpo. Senti como se meu corpo estivesse sendo queimado de dentro para fora, mas não havia dor. A magia fluía por cada veia de meu corpo, e eu sentia todo o poder da sala convergindo para dois pontos. Eu e Griffon. O poder selado ao ser libertado explodiu, invadindo nossos corpos, nos dando uma energia que eu nunca havia visto. Fiquei tonto, mas não movia um músculo, ligado ao fluxo de energia que convergia para mim. Então tudo ficou negro.
Diante de mim surgiu uma foice negra. Seu cabo e sua lâmina eram negros, porém era trabalhada em prata e branco. Senti como se o último pedaço de minha alma estivesse ligada aquela arma diante de mim. Uma voz me chamava...Uma voz que eu conhecia desde o meu primeiro dia de vida. Estiquei o braço e toquei o cabo da foice, meus dedos se fechando perfeitamente no entalhe prateado...Senti-me completo finalmente, minha alma entrando em ressonância com a alma da foice, crescendo e crescendo cada vez mais. Então notei que ao mesmo tempo que enxergava com meus olhos, também enxergava pelos olhos de Griffon, como se fossemos um. Diante dele estava uma lança longa e dourada, cuja lâmina era branca, assim como os entalhes ao redor do cabo.
Abrimos nossos olhos na sala do selo novamente. Mamãe e papai estavam de pé diante de nós, que havíamos caídos ajoelhados, mas não precisaram nos dar apoio, pois nos levantamos facilmente. Foi uma sensação estranha, mas maravilhosa. Nunca me senti tão completo, tão leve e tão bem. Meus poderes haviam realmente crescido, em um nível maior do que eu poderia imaginar. Meus instintos vampiricos foram aumentados pela força que antes dormia em mim. O mundo parecia novo, novas cores estavam diante de meus olhos, eu via coisas que antes não via. Sentia coisas que não sentia. A simples ação de respirar era uma nova experiência e eu podia sentir cada pedaço de ar entrando em meu peito e se espalhando pelo meu corpo. Ouvia os menores ruídos do lado de fora da casa e podia ouvir o próprio fluxo de magia que havia em cada pessoa.
- Agora vocês estão prontos. Vão. Usem as armas que antes estavam adormecidas, Kamui e Fuuma. – Nossos pais falaram juntos e eu e meu irmão concordamos juntos.

Sem que sequer nós mesmo notássemos, estávamos do lado de fora da sede, indo mais rápido que qualquer velocidade que antes havíamos alcançado. Mas o mundo se unia a nossas energias, sentíamos e entendíamos cada polegada do mundo ao nosso redor. Nossos corpos brilhavam e quem visse nós dois correndo, poderia jurar que vira um feixe de luz passando diante de seus olhos. A um chamado nosso, as sombras e as luzes da cidade se uniram a nós, tomando formas que nós desejássemos. E nós estávamos indo a caçada.

N.A.: Stand my Ground, Within Temptation.

N.A.: A Foice representa tanto a imagem de ceifador como a arma que segundo a mitologia, Chronos utilizava. A Lança representa uma das mais poderosas armas existentes e mais versátil também (a meu ver pelo menos). Não coloquei aqui, mas gostaria que ela representasse a própria Lognus (ou Longnus).