Por Gabriel Storm Lupin
O prazo de dois dias pedido por Shannon para elaborar um plano de invasão havia chegado ao fim. Pontualmente às 17hrs ela apareceu no laboratório de poções como tinha marcado conosco. Chegou com as mãos carregadas de rolos de pergaminho e um sorriso assustador no rosto. Sean e Stuart mal conseguiam conter a empolgação e olhava Evan receoso. Ainda não estava 100% convencido de que isso era uma boa idéia, embora não cogitasse a hipótese de ficar de fora do plano. Ela abriu os pergaminhos e notei que havia dividido a planta da escola do Kansas em várias áreas, traçando linhas pontilhadas para todos os lados e destacando alguns pontos com círculos grossos. Levou apenas alguns minutos para que ela nos explicasse como faríamos para raptar o corvo e voltar em segurança e marcamos a 1 da manhã na porta da sala do diretor, ainda aquela noite. E pela primeira vez acreditei que aquilo daria certo.
ººº
Chegamos na hora marcada na sala do diretor e Shannon já nos esperava. Carregava uma mochila nas costas e quando perguntamos o que era, disse que explicava depois. Alguma parte do plano foi deixada de lado nas explicações dela, e algo me dizia que estava dentro daquela mochila. Ela puxou um canivete camuflado do bolso e ficou de joelhos, na altura da fechadura.
- O que está fazendo? – Evan segurou a mão dela alarmado – E se tiver alarme?
- Acha que já não testei? – puxou o braço rindo e voltou a cutucar o buraco com o canivete – Precisamos entrar, ou não poderemos usar a lareira. Agora prestem atenção: quando entrarmos, um por um passamos por ela, mas não precisa gritar o nome da escola. Falem baixo, mas claramente, e quando saírem lá, espere no canto. Ninguém sai da sala sozinho!
Assentimos em silencio e a porta abriu. Um por um pegamos um pouco de pó de flu e cinco minutos depois estávamos na sala escura do diretor da escola do Kansas. Shannon murmurou ‘Lumus’ e iluminou a planta daquele corredor que ela tinha refeito, apontando o círculo maior.
- O corvo está aqui, para chegarmos até ele precisamos atravessar todo o 4º andar. Vamos pelos cantos, e engatinhando. Os quadros conhecem os alunos, podem nos ver e dedurar ao diretor. E não preciso dizer para não fazemos barulho, não é?
Rimos e quando íamos ficar de pé para ela arrombar a porta outra vez, ouvimos barulho no corredor. Shannon me puxou para trás e vi os outros três se esconderem pela sala. A porta abriu segundos depois que ela nos cobriu com a capa da invisibilidade e o diretor entrou. Senti meu sangue gelar e tentei me acalmar para ele não ouvir nossa respiração alta. Ela me cutucou indicando a porta aberta com a cabeça e caminhamos lentamente até chegar ao corredor. Tirou a capa depressa e me entregou um deles, um canivete e o pergaminho e ela.
- Esconda-se com ela e espere pelos outros, sigam o plano que combinamos
- Aonde você vai? – segurei o braço dela quando ia sair
- Preciso fazer uma coisa, vou ficar bem, sei andar sem ser vista mesmo estando visível. Peguem o corvo e me encontre no corredor do 2º andar, ala leste.
- O que você vai fazer??
- Confie em mim, e não esqueçam o corvo! Ele é o motivo de estarmos aqui!
Antes mesmo que pudesse contestar ela já havia desaparecido pelo corredor. Cobri-me outra vez com a capa e entrei na sala tentando ao máximo não fazer barulho. O diretor estava sentado em sua mesa lendo alguns papéis e via os pés de Sean debaixo dela, mas ele não parecia notar. Recolheu algumas coisas nas gavetas e saiu, trancando a porta. Esperei alguns segundos e sai de debaixo da capa, chamando os três. Eles saíram mais pálidos que um fantasma dos esconderijos. Evan suava frio, fiquei com medo de que desmaiasse. Expliquei o que Shannon havia dito e com o canivete que ela deixou comigo consegui abrir a porta.
Não foi difícil chegar até a sala do treinador do time, onde o corvo dormia inocente em sua gaiola. Com a planta simplificada que Shannon montou não nos perdemos e rapidamente já me via destravando a porta com o canivete. Stuart abraçou a gaiola do corvo quando o localizou na penumbra da sala e a cobrimos com a capa da invisibilidade. Era melhor voltar com ele escondido. Se fossemos vistos, não saberiam do seqüestro. Abri o segundo pergaminho que nos levaria ao corredor onde Shannon estava e vi marcado no alto da folha ‘Dormitório Masculino – Kansas Crows’. Então ela estava no corredor onde os garotos do time dormem... Boa coisa não estava fazendo, não restavam dúvidas. Demoramos mais de quinze minutos para chegar até lá, e quando pisamos no corredor, Shannon fechava delicadamente a porta de um dos quartos. Sorriu quando nos viu e abriu a mochila, despejando um punhado de cordas no chão.
- Não fiquem me olhando assim, me ajudem. Peguem as cordas e amarrem uma em cada maçaneta nas portas demarcadas com um X – disse feito um sargento e nos apressamos em pegar as cordas e ajudar – Onde está o corvo?
- Debaixo da capa – respondi amarrando uma das portas – O que você fez?
- Passei um pouco de melado na borda das camas deles – disse rindo – E soltei algumas formigas famintas lá dentro
- Posso saber o que motivou isso? – Sean prendeu a risada terminando de amarrar a corda na última porta
- Ex-namorado imbecil que joga no time daqui – Shannon pegou todas as cordas e deu um nó extremamente complicado na ponta delas, juntando todas. As 6 portas ficaram ligadas como uma teia de aranha e duvidava que alguém desfizesse aquele nó sem magia – Agora vamos sair daqui depressa. Pelo tempo, as formigas já estão alcançando a cabeça deles
- É, vamos embora então – Evan falou alarmado
Stuart abraçou a gaiola outra vez e ainda pegava a mochila no chão quando o primeiro urro surgiu. Um dos garotos tentou abrir a porta e a corda esticou, mas o nó nem se abalou. Como um efeito dominó, uma a uma as portas estremeciam e os garotos gritavam desesperados percebendo que não abriam. Não era mais preciso pedir silencio. Sean berrou para corrermos e disparamos pelos corredores até a sala do diretor. Shannon deixou a diplomacia de lado e arrombou a porta com o pé mesmo, escancarando-a na primeira pezada. Entramos deslizando pelos tapetes e nos atiramos na lareira embolados, derramando quase todo o pó de flu no chão.
Fui o primeiro a cair de volta na Califórnia, Sean logo atrás, seguido de Evan. Stuart foi cuspido da lareira logo depois, rolando pela sala abraçado na gaiola do corvo, que gritava assustado. Shannon foi a última a voltar e saiu ofegante.
- Por que demorou tanto?? – disse a ajudando a se levantar – Ele viu você?
- Não, mas foi por pouco! Fiquei limpando a bagunça que fizemos, ao menos o pó de flu espalhado e os tapetes.
- Então ninguém nos viu, ótimo – Sean pegou a gaiola do corvo do chão e olhou orgulhoso – Olá rapaz, bem vindo ao novo lar!
- Deixe para debochar do pássaro amanhã, agora realmente precisamos voltar aos dormitórios – Shannon destravou a porta do escritório e saímos
- Shannon tem razão – Evan passou por ultimo e fechou a porta novamente – O diretor do Kansas vai deduzir que isso foi obra de outra escola quando notarem que o corvo sumiu e vai entrar em contato com os outros diretores à procura de alunos fora da cama. É melhor estarmos deitados e dormindo inocentemente quando começarem a varredura aqui.
Concordamos de imediato e voltamos aos dormitórios. O corvo ficou no nosso quarto, coberto com a capa de Shannon. Amanhã decidiríamos o que fazer com ele, mas mesmo que saibam que fomos nós e isso nos coloque em uma encrenca, não teremos problemas maiores que os garotos com dezenas de picadas de formiga. E só isso já vale qualquer detenção...
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