Wednesday, January 16, 2008

Lembranças de Isa McCallister


- Cinco... Quatro... Três... Dois... Um... FELIZ ANO NOVO!

A Times Square se encheu de gritos, palmas, fogos de artifício e confetes coloridos, cada um com uma mensagem. A bola de cristal que no último minuto vinha deslizando gradualmente do topo do edifício Times Tower, cessou. Ao meu lado, centenas de pessoas comemoravam o novo ano com abraços, beijos, promessas e sorrisos estampados. Dora e Sávio já estavam colados novamente, e eu me senti absolutamente sozinha. Henrique prometera nos encontrar, mas por qualquer lado que eu olhasse, não havia sinal algum dele...

°°°
[4 dias antes do Reveillon – Casamento Rubens & Nicole/ Paris]

- Tem alguma coisa para fazer hoje à noite?

Henrique e eu estávamos caminhando de mãos dadas pelo Central Park, e eu diria que a julgar pela velocidade com que as coisas andavam acontecendo conosco, estava me sentindo dentro de uma das histórias que papai sempre me contava quando era pequena, sobre como ele tinha conhecido minha mãe e se apaixonado instantaneamente.

- Não. Alguma sugestão?
- Na verdade, tenho um convite... Um amigo meu está se casando hoje, e não queria ir sozinha. A noiva dele não vai muito com a minha cara, se é que me entende.

Ele continuou caminhando normalmente, mas se virou para mim, um sorriso brincando no rosto.

- Entendo. Você já teve um caso com esse seu amigo?
- Não. Nunca chegou a acontecer nada. Eu gostava dele, admito. Mas nunca tivemos nada... E agora, estou descobrindo que não gostava dele, coisa nenhuma. Sentia um afeto, admiração, seja lá o que for! Muito diferente do que estou sentindo por você.
- E o que exatamente você está sentindo por mim, Isabel Damulakis McCallister? – ele perguntou parando e me puxando com força, enquanto envolvia seus braços na minha cintura. Nossos rostos estavam a poucos centímetros de distância. Sorri.
- Não sei. Quer me ajudar a descobrir?

Ele me beijou intensamente, e quando me soltou ficou me olhando alguns segundos.

- O que foi?
- Nada. Estava te olhando, só isso. – sacudiu os ombros sorrindo e recomeçamos a caminhar – Então... Que horas é o casamento?

[...]
Na hora marcada, Henrique chegou para me buscar. Ele estava, no mínimo, L-I-N-D-O! *Controle-se, Isabel*.

- O casamento não é às 21:00? – ele perguntou consultando o relógio enquanto eu organizava alguns objetos dentro da minúscula bolsa.
- É. – disse, finalmente conseguindo colocar o batom, o espelho e o perfume encaixados no pente e lápis de olho. – Que horas são?
- 20:50! Temos dez minutos. Vamos chegar atrasados, por que o trânsito está horrível hoje! Falando nisso... Onde é o casamento, afinal?
- Paris. – Respondi com simplicidade apanhando os convites. – Temos tempo suficiente. Vamos?

Perguntei. Ele me olhava sorrindo com incredulidade.

- Está falando sério?
- O que?
- O casamento é em Paris?
- Claro que sim! Olhe só o convite... – estendi e ele leu, arregalando os olhos.
- Pode me dizer como pretende ir até Paris em menos de dez minutos?
- Aparatando, é claro!

Ele continuou me encarando confuso e estendi minha mão. Ele segurou.

- É simples, ok? Se preferir fechar os olhos, feche. Pode confiar! Fui uma das únicas que passou no teste de primeira! – disse orgulhosa de mim mesma.
- E como funciona?
- Assim.

Com um estalinho, me senti sendo sugada por um imenso ralo. As mãos de Henrique grudando nas minhas. Então, tudo parou. Batemos no chão de pedras, silenciosamente. A catedral à nossa frente já estava cheia de pessoas. Paris continuava linda!

[...]
A cerimônia foi bonita. Henrique e meus amigos pareciam estar se dando bem. Até mesmo Bel desfez a careta quando ele disse que mesmo não sendo bruxo, se interessava muito por runas. Quando fomos cumprimentar, Nicole exibiu sua aliança dourada com um sorriso de satisfação, mas não me atingiu em nada e ela percebeu isso, pois rapidamente disfarçou e agradeceu nossa presença junto com Rubens, que parecia muito feliz também. E a festa estava muito animada. Dançamos, bebemos, conversamos, rimos e matamos um pouco da saudade. Já era madrugada quando resolvemos ir embora. Me aproximei de Dora, que estava sentada na mesa da sua família, mas não tirava os olhos da nossa mesa. De Sávio. Era hora do teatro...

- Boa noite, Sr. e Sra. Gaster. Sou Isabel McCallister. Divido dormitório com a Dora. – disse educadamente. Dora sorriu me incentivando, e seus pais me avaliaram, mas logo sorriam também.
- Muito prazer. Megan. – A mãe dela foi a primeira a me cumprimentar. – Meu marido, Philipe. Dora fala muito de você.
- E eu falo muito dela lá em casa. Tanto que meu pai a convidou para passar o Reveillon em Nova York conosco... Ele não gosta de me acompanhar até aquela multidão na Times Square, se é que me entendem. E pediu para que eu convidasse algum amigo. Será que a Dora poderia ir passar o restante das férias comigo?

O sorriso no rosto deles de repente sumiu. Se entreolharam. Troquei olhares tensos com Dora, mas ela se movimentou.

- Por favor, papai?! Você sabe que sempre quis ir conhecer Nova York?!
- E o que me garante que você não vai se encontrar com aquele moleque?
- Sem querer me intrometer, mas... de que moleque estão falando? – eles me olharam e o pai dela apontou para Sávio, que rapidamente desviou o olhar para o outro lado. Segurei o riso.
- Dulovóski? Hum... Posso te garantir que não tem a mínima chance de Dora se encontrar com aquele garoto, Sr. Gaster. Também não gosto dele. Arrogante, presunçoso e...
- Pai! – Dora falou de repente interrompendo minha pequena coleção de palavrões destinada a Sávio. Agradeci mentalmente. – Eu não quero mais nada com aquele garoto. Escolhi vocês, se esqueceu? Me deixa ir para Nova York!

Ele ainda me olhou desconfiada, mas pelo visto eu o convencera. Balançou a cabeça afirmativamente e Dora o abraçou soltando uma exclamação. Me afastei da mesa com o pretexto de me despedir de todos antes de irmos.
Voltei à mesa, Henrique se levantou com lágrimas nos olhos. Samuel e Ian também gargalhavam ali perto, e soube que nada de bom havia saído daquela conversa...

- Vamos? – ele perguntou sorrindo. Confirmei.
- Só um minuto...

Fui até Samuel e o abracei despedindo, mas na verdade coloquei um bilhete na sua mão e cochichei.

- É o meu endereço. Entregue para Sávio. Dora irá aparatar comigo e Henrique. Esperaremos ele lá em casa, daqui uns minutos.
- Ele vai adorar essa notícia.
- Ei, será que dá para parar de agarrar meu namorado, Isa? – Anne falou irritada, mas logo sorriu. Pisquei para ela, e Dora nos alcançou sorrindo de orelha a orelha. – Já entendi. Bom... Feliz Ano Novo, meninas. – Anne piscou de volta.
- Teremos. – eu e Dora respondemos juntas.
- Bel... Mande um abraço para a Rebecca, por mim? – disse me despedindo dela, Bernard, e cia. Ela sorriu discreta, pois Henrique ainda nos encarava abismado.
- Mando. Faça o mesmo para o Richard.
- Ok.

Minutos depois, eu, Henrique e Dora já estávamos de volta à Nova York. Ela andava de um lado para outro, aflita.

- Tem certeza de que deu o endereço certo?
- Se acalma. Ele não pode desaparecer logo depois de você! Seus pais iriam desconfiar! Logo ele está aqui.
- É. Você tem razão.

Nos sentamos na calçada e esperamos. Cerca de 30 minutos depois um estalo, e Sávio apareceu do outro lado da rua, onde estava tudo escuro. Dora saltou e correu até ele, pulando em seus braços. Suspirei aliviada, encostando a cabeça no ombro de Henrique. Os dois vieram até nós, minutos depois.

- Isa... Nunca vou poder agradecer o suficiente! – Sávio começou e Dora concordava ao seu lado, eufórica. – Você não sabe a saudade que senti dela. E ver ela distante de mim por apenas algumas mesas, foi tortura.
- Não precisa me agradecer. O amor é lindo, afinal de contas! – sorri.
- As coisas estão começando a melhorar... Samuel conseguiu um emprego pra mim no Ministério, em Paris.
- Fico muito feliz, de verdade! – disse sendo sincera. Ele e Dora se entreolharam.
- Eu fiz reserva de um apartamento, em um hotel não muito longe daqui... Para mim e Dora. Você se incomoda se...? – ele começou.
- De maneira nenhuma. Tudo isso é para vocês ficarem juntos, não é? Aproveitem.

Dora sorriu e se agachou para me abraçar.

- Você é a melhor amiga que eu tenho. De verdade.
- Você faria o mesmo por mim...

Ela sorriu concordando e me entregou um espelho de duas vias.

- É o que uso para falar com Sávio, mas fica com você, pelo menos nesses dias que eu teoricamente estou na sua casa. Se acontecer qualquer coisa, você me chama e estarei aqui em um minuto, ok? Manteremos contato.
- Ok. – sorri. – Agora vai logo. Antes que eu encarne sua responsável e te prenda aqui.

Rimos e dando um último tchau os dois foram até o ponto de táxi, andando abraçados. Esperei sumirem na rua e olhei Henrique, que até então estava em silêncio.

- O que está pensando?
- Nas peças que a vida prega nas pessoas. Veja só o exemplo desses dois... Se conheciam há um tempo, mas nunca se encontraram. Quando se apaixonam, descobrem que as famílias são inimigas e têm que namorar escondidos, e esperarem até ela se formar para poderem largar tudo para o alto e começarem vida nova.
- A história deles é trágica, né? Mas é linda.
- E nós dois? – ele perguntou tirando os olhos do céu e me encarando.
- O que tem?
- Quem diria... Eu, mero estagiário do seu pai, um “trouxa” como vocês falam, vou perder completamente a cabeça me apaixonando pela filha do chefe, alguns anos mais nova do que eu. Linda. Inteligente.
- Shhh... – coloquei dois dedos nos lábios dele, fazendo-o calar. O beijei. – As coisas aconteceram sem previsão. Deixe que elas nos levem, naturalmente.

Ele concordou e se levantou, estendendo a mão para me ajudar. Fiquei de pé, e ele me abraçou, me beijando. A boca, o pescoço...

- Acho melhor ir embora! – disse se afastando um passo de mim, me olhando sério.
- Por quê? – perguntei assustada.
- Tenho medo de estar indo rápido demais. Não quero te pressionar. – disse decidido. Sorri.
- Eu pareço ser do tipo que aceita algum tipo de suborno? – perguntei. Ele me avaliou e sorriu, me puxando novamente.
- Não.
- Então?!
- Temos todo o tempo do mundo. Amanhã volto. – disse dando um beijo e andando em direção ao carro. Fiquei parada um tempo esperando ele entrar no carro, sem acreditar.
- Vai mesmo embora?
- Vou. Amanhã volto. – disse decidido. – Qualquer coisa, me liga. Sabe o número.
- Só pode estar brincando... – disse sorrindo. Ele riu.
- Já estou com saudades.

Ligou o carro e foi embora, me deixando metade surpresa, metade decepcionada.

°°°
Já estava desistindo e aceitando o fato de que Henrique não apareceria mais, quando senti um puxão na minha cintura, me fazendo virar. Um par de mãos me agarrou e Henrique me deu um beijo longo.

- Feliz ano novo, namorada.
- Do que você está falando? – perguntei sorrindo.
- Demorei por que seu pai chegou de viagem. Pedi sua mão em namoro, com as melhores intenções, e ele disse que se sentia muito feliz por nós... – falou em um atropelo, e então se virou para mim – Só falta você. Quer namorar comigo?

O olhava abismada e sem reação. Papai chegara de viagem. Pedido de mão. Pedido de namoro. Tudo muito confuso. Ele me encarava sério, esperando uma resposta.

- Você ainda me pergunta uma bobagem dessas?!

Ele me rodou no ar, enquanto uma chuva de papéis picados caía em nossas cabeças, e os fogos de artifício explodiam no ar. Seria um ano muito melhor!

Agora o que vamos fazer... Eu também não sei.
Afinal, será que amar é mesmo tudo?
Se isso não é amor... O que mais pode ser?
Estou aprendendo também.

N.A.: O que eu também não entendo – Jota Quest.

P.S.: Não era para ter feito esse texto. Mas não resisti. Acabou saindo e eu não recuso esses momentos de inspiração, certo? O VERDADEIRO texto, já está escrito também, e será postado amanhã. Desculpem a minha enrolação. Postar texto de Ano Novo, 20 dias depois? Só Amanda faz isso, rsrs.

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