Diário de Griffon F. C. Chronos
Natal. Residência do Clã Chronos. Londres O Natal fora uma comemoração estranha. Eu e o Seth fingíamos estar bem, falando-nos educadamente e até algumas brincadeiras, mas a tensão e o descontentamento eram tangíveis no ar. Papai e mamãe com certeza sentiram que estávamos apenas fingindo, mas preferiram não falar nada e deixar que nós nos resolvêssemos.
Mas Ártemis não se calou. Assim que nos viu quando chegamos, ela correu para nós, já que já havia dado os primeiros passos. Porém ela parou há alguns passos de nós, e seus olhinhos verdes se fixaram em nós, como uma força semelhante à de mamãe.Seus olhos pareciam enxergar além do espaço entre nós, que antigamente poderia ter sido substituído por um abraço de irmãos. Ela ficou lá parada apenas nos olhando, enquanto esperávamos agachados pelo abraço dela. No fundo eu e Seth disputávamos para ver para quem ela correria primeiro, mas ela nos surpreendeu e antes que notássemos, ela abraçava nós dois juntos, aproximando-nos enquanto ria em nossos ouvidos. Por um momento eu pude jurar que ouvi uma voz baixa, mas bela e forte nos dizendo “Quero vocês dois juntos!”, uma voz de criança. No resto do período do feriado que ficamos em casa, ela parecia se recusar a ficar apenas com um de nós e a todo momento queria nos unir, abraçando os dois juntos...Talvez ela seja mais inteligente do que nós dois juntos, mas eu não daria o braço a torcer, muito menos meu irmão calado e cabeça dura...
Por terem uma família pequena, a Di-Lua e o Sr. Lovegood, o Di-Luo Mor, passaram o Natal conosco, trazendo diversas frutinhas pequenas, de cor verde brilhante e diversos ramos do que para mim parecia uma espécie menor de visgo, mas eles diziam ser azevinho. Ao longo do feriado, recebemos visitas também de Tia Alex, o Sr. Logan, um garoto que eles adotaram Ethan, e Ty, que queria rever a afilhada. Ártemis correu feliz pra ele, e quando ele a pegou no colo, ela parecia contar alguma coisa em seu ouvido, e o olhar que Ty nos lançou me fez ter essa impressão ainda maior. Tia Alex parecia que queria ao mesmo tempo fazer as coisas parecerem normais, e também nos censurar pela briga, mas nos tratou normalmente. Ty sabia que era pior forçar a barra e conversou conosco contando as várias coisas que aconteceram em Durmstrang e nós o atualizando sobre Beuaxbatons. Eles almoçaram conosco e foi uma refeição divertida e alegre, com a mesa cheia, pois Tia Celas e Gaia apareceram também para participar da comemoração. Não pude deixar de fazer algumas brincadeiras e usar algumas das Gemilidades, e arranquei gargalhadas de todos, até mesmo de Ethan, excessivamente sério, menos de Seth, que virava o rosto e olhava para o outro lado. Mas eu sabia que ele só fazia isso para que eu não o visse rindo.
Emily não apareceu, e foi melhor. Depois da discussão com o Seth eu não conseguia parar de pensar que ele estava parcialmente certo, e que era errado eu fazer as coisas que eu fazia. Mas não queria fazer ele achar que estava certo. Eu também achei melhor retornar a distância comum entre aluno e professor... Eu realmente gosto dela, mas é algo muito estranho, nem tanto pela diferença de idade, mas pelo fato de eu ainda ser aluno dela... Quem sabe mais pra frente?
O casamento de tia Alex com o senhor Logan foi muito animado, e Seth mesmo a contragosto acabou subindo ao palco para cantar no karaokê, claro que foi só depois de ver papai cantando uma música romântica para mamãe e Di-Lua suspirar como se estivesse mal do coração, meu irmão não deixaria por menos. E eu fiz minha parte junto com Mi, Ty e Gabriel, e em poucas palavras: apesar do sucesso, nunca arranjaríamos emprego na Brodway, somos bagunceiros demais rsrsrs.
Beauxbatons. Primeira semana de aulas de 1999. Fim do feriado de final de ano e de Natal. O que quer dizer que agora posso avaliar minhas últimas vendas. Vários alunos levaram para casa Gemialidades para darem de presente ou apenas para alegrar o dia de Natal e iluminar a noite do ano novo com os Magníficos Fogos Weasley. E agora eu fazia minha pesquisa de mercado, procurando saber o que mais agradou a todos, inclusive membros das famílias dos meus clientes. Também aproveitei para o balanço do ano, e fiquei muito feliz ao ver que conseguira um lucro bruto alto para a loja, e ainda mais feliz ao ver que o estoque que eu guardara para a primeira semana já estava evaporando! Vai ser um grande presente de Natal e ano novo para o George e o Ron!
Miyako desculpou a mim e ao Seth pelo que fizemos ela passar, mas não conseguia nos fazer conversar direito, pois ainda não nos falávamos. Ela se irritou quando tentamos usa-la de garota de recados, e quase nos bateu, dizendo que não iria se dividir em duas para nós. Eu ri da reação dela, mas ela estava certa. Quanto ao Seth, eu detesto admitir, mas estou sentindo falta de conversar com ele o tempo todo, de implicar com ele, de brigar e rir juntos...
Nesse momento estou perto do campo de quadribol, acabei de sair do treino, mas não tenho vontade de voltar para o castelo. O treino foi muito cansativo, mas animador, e tenho certeza que esse ano a taça é nossa!! Sentei-me no gramado próximo ao campo e fiquei olhando o pôr-do-sol e não podia evitar de pensar na Emily, na briga com o Seth e com tudo que tem acontecido...Dei graças a Merlin que depois que eu parei de jogar charme em cada vestido que passasse na minha frente, as garotas pararam de ir atrás de mim, e eu estava sozinho agora...
Pelo menos era o que parecia.
Senti um movimento muito leve próximo ao bosque. Levantei-me em prontidão e me concentrei em sentir ao meu redor. Parecia não haver nada fora do normal, mas tenho certeza que havia alguma coisa. Quando apanhei a varinha para investigar, uma mão bateu em meu ombro e alguém falou comigo, me dando um susto e me pondo em guarda com a varinha em punho.
- Griffon, quero dizer, Sr. Chronos, ainda aqui fora? Ei calma ai! – Emily falou surpresa e meio assustada quando eu apontei a varinha para ela, chegando a se afastar e indo com as mãos sutilmente para o bolso da roupa.
- Emily... Desculpa, Professora Mcgregor. Perdão, é que eu me assustei. – Pedi desculpas enquanto guardava a varinha novamente, meio vermelho e sem graça.
- Tudo bem, Sr. Chronos. Mas por que estava em posição de alerta?
- Eu senti algo diferente, mas deve ter sido a senhora chegando.- e ela suspirou exasperada:
- Não adianta, me acostumei a te chamar de Griffon e de ser chamada de Emily por você... Por favor, vamos continuar como antes?
- Desculpe, quero dizer, tudo bem, Emily...Também me acostumei...A quanto tempo está aqui?
- Para falar a verdade... Eu assisti seu treino....Quero dizer, o treino do time, queria avaliar suas chances! – Ela apressou a acrescentar, enquanto olhava na direção do bosque.
- Verdade? Que bom que veio ver... E o que achou?
- Estava ótimo... – Ela falou sorrindo para mim, mas depois desviou o olhar novamente para o bosque, e vi um misto de choque com perplexidade em seus olhos. Com algo em minha mente me alertando, olhei na mesma direção que ela...
Foi a minha vez de ficar espantado. Na direção de onde olhávamos, havia um vulto envolto em sombras. Aos poucos a luz do sol poente revelou suas feições, e eu me sobressaltei, enquanto Emily tapava a boca e segurava um pequeno grito. Ele estava ali diante de nós. Como da ultima vez que o vimos, cheio de vida, alegre, relaxado e calmo, sorrindo para nós, como se nos convidasse a nos aproximar. Tio Kyle.
Eu não podia acreditar no que estava vendo!! E meu treinamento me dizia que era uma ilusão, fora o bom senso! A figura então se tornou apenas turva para mim, mas não para Emily.
- Pai? É você mesmo? – A figura fez que sim com a cabeça, e notei que a ilusão era para ela, ou meus poderes estavam me ajudando a me livrar dessa ilusão. Tio Kyle ou seja lá quem fosse, virou as costas e andando lentamente sumiu entre as árvores.
- Pai, espere por favor!! – Emily falou, enquanto começava a correr, eu corri atrás dela e a segurei pelo braço.
- Você está maluca Emily? Só pode ser uma ilusão! Tio Kyle está morto, ele não pode voltar a vida! É uma armadilha!
- Me deixe ir, Griffon!É meu pai, tenho certeza, ele me chamou! Eu preciso ir.
- Ele não chamou você. Ele não disse nada, e tenho certeza de que é uma armadilha! Muitas coisas podem imitar outras pessoas! Você é um auror, pense direito! – Ela pareceu raciocinar, e a felicidade do primeiro momento deu lugar a cautela.
- Você pode estar certo... Mas é meu pai, eu tenho que ir.
- Então eu vou com você.
Dizendo isso, nós dois corremos para o bosque na direção de onde aquela imagem sumira. A cada passo que dávamos eu sentia ainda mais a hostilidade e perigo no ar, mas não conseguia identificar direito. Eu corria ao lado de Emily o tempo todo, para evitar alguma possível armadilha. Mas de repente tudo ficou escuro, e alguma coisa confundiu meus sentidos. Eu estava envolto em trevas e não havia sinal algum da Emily. Comecei a chamar seu nome, enquanto corria na direção onde eu achava que era o caminho certo. Parei de repente e bati na minha testa, me xingando por ser idiota. Seja lá o que fosse aquilo, queria me tirar dali e usando um truque barato, porque não pensei antes?! Fechei os olhos e concentrei a luz em meu corpo, fazendo-o brilhar. Quando abri os olhos um raio de luz saiu de mim e indicou o caminho. Enquanto corria, a escuridão ao meu redor foi sumindo, dando lugar a luz cada vez mais fraca do pôr do sol. O feixe de luz seguia a frente, e eu o segui sem pensar duas vezes, chegando em uma pequena clareira, onde vi Emily parada, com lágrimas de felicidade nos olhos, que estavam fixos em um ponto a frente. Mas seus olhos estavam vidrados, e notei que era hipnose. Quando corri pra ela e minha luz se espalhou pela clareira, pude ver quem estava a frente dela, a chamando.
Hellion.
Ele soltou uma mistura de guincho com grito quando meus raios de luz acertaram seu rosto, fazendo-o recuar. O efeito de sua hipnose foi quebrado, e Emily olhou para ele meio assustada, sem entender por um instante. Mas seu rosto se iluminou de entendimento e de raiva quando ela conseguiu se livrar do torpor da hipnose.
- Emily, ele é Hellion, o vampiro que atacou meu pai, cuidado!
- Eu sei quem esse verme é, Griffon. Você é muito procurado, vampiro. E ousou sujar a imagem de meu pai?!
Hellion começou a gargalhar, mas com um grito de raiva, Emily disparou uma seqüência de feitiços tão rápidas que Hellion mal conseguiu desviar, sendo acertado em cheio por dois deles. Eu nunca a vira com tanta raiva, e Hellion foi obrigado a fugir de volta para as trevas. Emily caiu de joelhos, e lágrimas escorriam por seus olhos. Eu me aproximei e a abracei, mesmo sabendo que era errado.
- Eu queria tanto revê-lo... Queria tanto poder falar com ele de novo...E esse verme imundo ousa profanar a imagem de meu pai? O que ele queria comigo?
- Ele é um ser maldito, Emily. – Falei quando nos levantamos, afastando-nos um pouco. – E temo que ele queria a mim...Ele tem um ódio enorme pela minha família...Mas sabe que não conseguiria tocar um de nós, mas pensou que poderia nos atingir atacando aqueles que nos são importantes. Pelo menos é o que acho.
- Obrigada por vi comigo... E por eu também ser importante para você... – Ela falou de maneira quase inaudível e eu ia responder quando ouvimos gritos nos chamando.
- Aqui, estamos aqui! – Emily falou enquanto lançava faíscas no ar com a varinha. Por precaução nos afastamos ainda mais, mantendo a distância de aluno e professor. Seth, Professor Zambene e Madame Maxine entraram correndo de varinhas em punho na clareira. Os olhos de Seth estavam vermelhos, varrendo cada milímetro e suas narinas se dilataram ao sentir o cheiro de Hellion.
- Professora McGregor, ficamos preocupados quando o Sr. Chronos entrou correndo em minha sala dizendo que havia um vampiro na escola. Não podíamos ignorar um aviso, ainda mais vindo dele. E nos assustamos quando disseram que vocês dois correram para cá. – Madame Maxine falou, abraçando os ombros de Emily, que tremia, não sei se de frio, de susto ou tristeza.
- Sim, Sra. Maxine. Era o vampiro Hellion. Ele tentou nos hipnotizar e trazer para o bosque para uma emboscada. Mas está tudo bem.
- Se está tudo bem, acho melhor voltarmos o quanto antes, vou organizar uma busca nos arredores. – Sir Zambene falou sério, enquanto também olhava ao redor.
- Eu irei com você, professor. Irei senti-lo muito antes dele nos sentir – Seth falou se pondo ao lado do professor.
- Eu também vou, posso ajudar. – Eu falei rapidamente.
- Vocês são alunos! Não posso arriscar a segurança de vocês! Mas acho que os senhores seriam capazes de se cuidar. Vamos nos separar, cada um para um lado, joguem faíscas vermelhas em caso de perigo. – O professor ordenou, organizando a busca. Ele rapidamente correu na direção a nossa frente, mas não sem antes ver se Emily estava bem. Olhei para Seth, e ele assentiu preparando-se para correr junto de mim.
- Sr. Chronos, obrigada pela ajuda... Mas tomem cuidado, por favor...- Emily falou, enquanto ela e Maxine se afastavam.
Eu e Seth corremos em silêncio, seguindo a presença de Hellion, mas ele já havia fugido, não havia como localiza-lo. Ficamos parados um pouco, recuperando o fôlego, olhando um nos olhos do outro.
- Desculpe. Você estava certo em eu ser intrometido.
- Desculpe. Você estava certo em eu ser um idiota.
Nós dois falamos juntos, atropelando as palavras e olhando para a moita mais próxima. Depois nos encaramos de novo e começamos a rir, correndo para nos abraçarmos.
- Você é mesmo um cabeça-dura sabia? – Seth falou enquanto bagunçava meu cabelo.
- E você é teimoso como uma porta, Sr. Di-Luo. – falei enquanto dava um soco de brincadeira no braço dele.
- Já disse para não falar isso! Eu senti falta de falar com você. Não devia ter dito aquelas coisas de você.
- Tudo bem, você estava parcialmente certo. E eu merecia algumas delas... Eu sei de tudo que passa por causa dessa maldição, não devia brincar com algo tão sério.
- Acho que agora fizemos as pazes finalmente... a Mi vai adorar, ela já cansou de ficar entre nós dois.
- Sim, nós a cansamos... Toma, um feijãozinho para zelar a amizade. – falei enquanto entregava a ele um pequeno feijão colorido.
- Obrigado, pega esse aqui também. – ele falou enquanto me dava um caramelo embrulhado em papel brilhante. Engoli o caramelo rindo, ao ver o rosto dele ao provar o doce.
- Feijãozinho de cocô?! Seu idiota!
- Hahahaha não devia aceitar nada meu!
- Ah é? Nem você.
Ele falou rindo, enquanto eu sentia um ligeiro formigar nas bochechas. Ele conjurou um espelho e levei um susto quando me olhei. Minhas bochechas estavam amarelas e com pintas rosas. Caímos na gargalhada e ele começou a correr de volta para o castelo, comigo em seu encalço... As coisas finalmente voltaram ao normal e por um momento esquecemos de Hellion...