O ano em Beauxbatons havia começado com algumas novidades. Além dos nossos horários estarem muito mais carregados de aulas e obrigações, por causa do NIEM’s, teríamos as 1ªs Olimpíadas Interescolares no início de Outubro. Desde então, não se falava em outra coisa. Todos os estudantes estavam empolgados com a perspectiva de conhecerem outros colégios, competirem modalidades bem diferentes de quadribol e abandonarem Beauxbatons, ainda que por alguns dias.
Com isso, o castelo tinha montado uma arena especial para os treinos de todas as modalidades, e ela permanecia cheia o dia todo.
Além disso, eu agora tinha uma nova companheira de quarto... Dora. É, eu sei que parece um pouco estranho de acreditar, mas por incrível que pareça, ela estava muito diferente. E após me relatar todas as coisas que tinham acontecido com ela durante as férias, eu me lembrei o quanto gostava de ser cupido e conselheira amorosa das pessoas. Por isso, abri na rádio um novo quadro: AMAR É... Basicamente, eu falo de amor e relacionamentos. E estudo casos dos próprios alunos, que me mandam cada dia mais cartas pedindo opiniões. Os estudantes de Beauxbatons eram, em sua essência, CARENTES! Brenda e Violet também estavam me ajudando na Rádio. Brenda fazia relatórios diários sobre as novidades na Arena de Treinamento e sobre as Olimpíadas, além de novidades da escola. Violet, por sua vez, continuava contando algumas histórias de terror, relatando as novidades do quadribol, e outras notícias quaisquer. Tudo caminhava bem, e relativamente normal...
°°°
IM: OI!!! – cheguei animada e me sentei entre Brendan e Dora. Brendan não fez sequer um movimento. Ele andava um tanto estressado. Dora porém me deu um sorriso.
DG: Bom dia... Ah, Morgana acabou de deixar uma carta para você. Ela parecia ansiosa para tirar um cochilo. – ela estendeu um envelope e senti extasiada ao ver que era de papai. Rasguei o envelope no mesmo instante e li a carta, abrindo um sorriso logo em seguida.
IM: Excelente!
DG: O que é tão bom?
IM: Henrique conseguiu alugar um apartamento pertinho da nossa casa! Agora ele está morando em Nova York. Eu sabia! Sabia que ele era o homem da minha vida, desde a hora que olhei a primeira vez aqueles olhos... – suspirei e abracei a carta de papai. – Vamos nos ver sempre. Ele foi contratado, vai mesmo trabalhar com papai!!!
DG: AH Isa, que bom! Espero que dê certo...
IM: Vou fazer isso dar certo, pode ter certeza!
BL: Bfff... – como primeiro pronunciamento de que estava ali, Brendan soltou uma risadinha irônica e se levantou jogando a mochila no ombro.
IM: Aonde você vai hein?
BL: Sabe, caso você não tenha percebido ainda, estamos no mundo real e não no mundo lindo e colorido da sua imaginação... E nesse mundo real, Isabel, temos aula de Mitologia em 10 minutos. Não quero chegar atrasado. Até mais.
Ficamos observando ele sumir do Salão Principal. O que quer que estivesse acontecendo com Brendan, parecia ser algo bastante intrigante. Ele nunca me tratara daquela maneira. Dora comentou algo como ‘grosso’ e saímos para a aula juntas. Brendan havia se sentado no fundo da sala, sozinho. Nas aulas da Emily a maioria esmagadora dos estudantes se sentava na frente... Quando fiz menção de me sentar ao lado dele, ele já foi cortando.
BL: Esquece. Não quero conversar agora ok? Depois... Só me deixa sozinho um pouco.
IM: Ótimo. Como você preferir. Mas não vou aturar seu mau-humor muito tempo, e já estou avisando! Ou cospe esse limão, ou é melhor nem vir falar comigo! – revidei e fui para a frente da sala com os outros.
O restante do dia parecia demorar bastante para passar. Só então eu percebi a falta que Brendan me fazia com seus comentários alegres e bem dispostos. Mas eu estava convencida a não dar o braço a torcer. Afinal, tinha consciência plena de que não tinha dado nenhum motivo para ele se aborrecer comigo, então se ele tivesse algum motivo que viesse falar de uma vez! E ele não veio. Depois do almoço segui para a aula de Legilimência sozinha.
- Bom, boa tarde! – o professor Edmond começou a aula pedindo que nos aproximássemos. – Hoje vamos fazer um trabalho diferente... Vou dividir vocês em duplas e depois explico o que devemos fazer ok? Certo. Renault, você fica com a Anabel McCallister. Isabel com o senhor Lamarck. Vasseur...
IM: Professor, será que pode me colocar com outra pessoa?
- Não. Você fará com o Brendan, tudo bem? Sem problemas pessoais nas aulas.
Fiz uma careta e fiquei ao lado de Brendan. Quando todos já estavam em duplas, o professor começou a explicar o que deveríamos fazer.
- Nessa primeira aula, um de vocês vai ler a mente do outro o máximo que conseguir, e fazer um relatório para me entregar até o sinal bater. Na outra aula, quem vai fazer um relatório é o outro da dupla. Entenderam? Concentrem-se e podem começar.
Ainda com raiva, me sentei de frente para Brendan. Encarei-o decidida a fazer o trabalho o mais rapidamente possível.
IM: Eu começo ou você?
BL: Eu.
IM: Ok, estou pronta. – respirei e me preparei. Ele apontou a varinha para mim e disse ‘Legilimens’ e um vídeo começou a ser passado de trás dos meus olhos. O dia que fiquei de frente com a Bel, quando Giovanna morreu, o dia que cheguei a Beauxbatons, partes de jogos de quadribol, cenas da viagem da Alemanha, conversas com Brendan, Rubens e finalmente... Henrique. Lá estávamos nós, naquela sorveteria no centro de Nova York, tomando grandes sundays e rindo como se nos conhecêssemos há anos, como se fosse tudo óbvio. Já estava me sentindo feliz novamente quando a sala de aula tomou forma.
Brendan me olhou seco, como se estivesse me analisando, e começou a escrever o relatório. Quando o sinal tocou, entregou ao professor e deixou a sala. Novamente segui sozinha para a aula de Etiqueta e aquilo estava começando a me irritar...
°°°
- Certo, segunda parte do trabalho. Agora o outro da dupla que faz o relatório certo? Podem começar.
Brendan estava olhando para baixo, então sem nem esperar ele se pronunciar, apontei a varinha.
‘Legilimens’.
E novamente imagens começaram a rodar, só que dessa vez eu não me lembrava da maioria delas... Uma família sorrindo, Brendan brincando com um cachorro, a chegada a Beauxbatons e o meu rosto. Tão grande e tão sorridente como jamais me lembrava ter visto. A partir daí, todas as imagens eu me lembrava. Conversas, cócegas, brincadeiras, conselhos, abraços. Eu e Brendan e somente nós dois em todas as memórias. Queria ir mais, ver mais coisas, mas Brendan fechou sua mente de repente e quando seu rosto tomou forma ele olhava com ódio para mim.
BL: Você não tinha o direito! Eu ainda não estava pronto! Acho que já conseguiu coisas demais para esse relatório idiota, não conseguiu? Aposto que sim.
Levantou-se e pediu ao professor Edmond liberá-lo para ir à enfermaria. Saiu da sala batendo a porta e eu continuava estática. Então era esse o problema. Isso que todos viam e eu nunca tinha percebido... Brendan gostava de mim! Tão lógico!!! Como eu nunca me dei conta? Escrevi um relatório rápido sobre as únicas memórias que não me envolviam e entreguei saindo da sala em seguida. Procurei Brendan por vários lugares, mas ele não estava no Salão Comunal, nem no Principal, nem nos jardins...
Fui para a rádio me sentindo péssima. Ainda faltava uma hora até que Violet e Brenda chegassem, mas eu não tinha aonde ir. Sentei, arrumei o microfone e coloquei o rádio no ar.
IM: O amor é estúpido! Eu sei que vocês devem estar pensando ‘o que raios ela está dizendo? Será que vai começar mais um conselho?’. Não. Aliás, hoje eu descobri que não posso aconselhar nem minha coruja!!! O amor é estúpido demais. Tão estúpido que deixa as pessoas burras. Esqueçam meus conselhos, não servem para nada. Aliás, não se apaixonem! E nem se enganem! Por que o MUNDO REAL é muito frio para o amor. O amor é só uma ilusão e ponto. Sinto muito dizer isso, mas é a verdade!!!
Desliguei o rádio e abaixei a cabeça chorando. Senti ódio de mim mesma de nunca ter notado Brendan. Logo ele, sempre do meu lado! Não sei quanto tempo fiquei ali dentro sozinha, talvez minutos ou horas... Por mim, ficaria ali para sempre se eu pudesse. Pelo menos não teria que encarar Brendan novamente, e isso me parecia a melhor opção. Mas então a voz dele atrás de mim me assustou tanto que quase saltei da cadeira...
BL: Gosto de você desde o dia que nos conhecemos. Gosto tanto de você que achei que poderia conviver com isso só para mim desde que você estivesse feliz. Mas não consigo me controlar mais... Quando você falava do Rubens, eu sabia que não daria em nada. Mas quando você fala do Henrique, com esse sorriso esperançoso e esse olhar brilhando, alguma coisa dentro de mim me desperta raiva, desprezo, e eu perco o controle sobre o que eu falo ou faço. Me desculpa.
IM: Você não tinha o direito de me esconder isso! Eu poderia...
BL: Me fazer entender que não gosta de mim como eu gosto de você? Não precisa. Já entendi. Olha Isa, não precisa se sentir culpada por não ter percebido antes. É natural que você não tenha notado... Esquece o que você viu, ok? Só preciso de um tempo para me acostumar com a idéia de que agora você sabe, e de que nada deve mudar. Alguns dias, só isso que eu te peço. Mas se quer saber o que eu acho... O amor é lindo. Você me fez ser uma pessoa melhor, mesmo sem saber de nada.
IM: Do que você está dizendo? Está tudo de cabeça pra baixo...
BL: Alguns dias, Isa. Depois eu te procuro. Tchau.
Ele me olhou significativamente e saiu da sala. Talvez ele estivesse certo. Uns dias longe seriam bons para eu colocar as coisas no lugar e entender o que de fato estava acontecendo...
The sun is breaking in your eyes
To start a new day
This broken heart can still survive
With a touch of your grace
Shatters fade into the light
I am by your side
Where love will find you…
What about now?
What about today?
What if you’re making me all that I was meant to be?
What if our love, it never went away?
What if it’s lost behind words we could never find?
Baby, before it’s too late
What about now?
What about now - Daughtry
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