‘Isa! Vamos logo! Ele já está nos esperando há 3 minutos!’ Brenda consultou aflita o relógio e bateu o pé impaciente. Esborrifei mais um pouco de perfume, dei uma última olhada no espelho, peguei minha bolsa e saímos apressadas da República em direção ao Castelo de Durmstrang.
‘Tem certeza de que pegou tudo? Gravador, pena de repetição rápida, pergaminhos, tinteiros?’ Fui listando enquanto caminhávamos depressa. Senti um formigamento incômodo no estômago à medida que o castelo se aproximava. Brenda conferiu todos os itens e concordou. Paramos de andar ao alcançarmos a escadaria. ‘Ok, a hora é essa. Meu batom está legal?’
‘Está Isa. Mas se demorarmos mais um pouco, ele vai desistir...’
‘É, você tem razão. Escute Brenda, essa provavelmente é a entrevista mais importante de toda a minha vida. Então, vamos arrancar dele tudo o que conseguirmos, está bem?’ Respirei fundo e entramos. Haviam preparado uma sala de aula vazia para a entrevista e quando chegamos à porta, a mãe de Ty que tinha se anunciado namorada de Ben a plenos pulmões, e mais duas mulheres aparentando a mesma idade nos barraram.
‘Ben está sozinho na sala, mas não vamos sair da porta. Então façam o que têm que fazer, mas comportem-se!’ a ruiva disse em tom de alerta e concordamos com a cabeça. Elas três se entreolharam e nos deram passagem. Sentindo o coração despencar, abrimos a porta e entramos na sala.
Lá estava ele, sentado em uma poltrona passando distraidamente as páginas de uma revista. Ao ouvir o barulho na porta, se virou e sorriu ao nos ver. Senti minhas pernas perderem o equilíbrio quando ele se levantou e veio em nossa direção. Brenda se adiantou. Ele deu dois beijos no rosto dela cumprimentando, e se virou para mim...
‘Ok, Isabel, está tudo certo. Aja naturalmente. Cumprimente ele, sua tola! Droga, ele está vindo. Droga! Droga! Faz alguma coisa! Meu Merlin!!! QUE PERFUME É ESSE? QUE BRAÇOS SÃO ESSES? ELE ME BEIJOU!!! NUNCA MAIS LAVO O MEU ROSTO!’
‘É um imenso prazer fazer essa entrevista com você, Ben’ ouvi Brenda dizer enquanto agarrava meu braço e me arrastava até a poltrona mais próxima. Eu me mantinha ereta, perplexa, sem reação. O sorriso dele estava me embriagando.
‘Também estou achando ótimo. Não sabia que seria tão bem recebido por aqui... Mas então, vocês são da Rádio de Beauxbatons, é? Gabriel me contou.’
Brenda confirmou e contou um pouco sobre o castelo, a rádio, os programas e outras coisas que não estava prestando atenção. O perfume dele tinha se fixado em cada milímetro do meu corpo. Quando Brenda me estendeu um pergaminho, um tinteiro e a pena de repetição rápida, me dando um beliscão dolorido, desviei um pouco os olhos dele e arrumei as coisas em cima da mesa. Ben sorriu.
‘Você é a Isabel?’ perguntou e senti o tinteiro escorregar dos meus dedos e se espatifar no chão. Brenda se abaixou resmungando para arrumar.
‘É, sou. Isabel McCallister.’ Abaixei rapidamente para ajudar Brenda com a desculpa de mudar o rumo da conversa. Mas senti os olhos dele fixos em mim. Brenda me olhou com severidade, se levantou sorrindo e agarrou o gravador.
‘Podemos começar então?’ perguntou entusiasmada. Ben concordou rindo, provavelmente da minha cara de sonsa.
‘Ótimo. Pronta, Isa?’ me olhou enquanto eu estava dando uma chupadinha na ponta da pena verde ácida. Ela estremeceu, mergulhou no tinteiro e se posicionou a alguns centímetros do pergaminho branco. ‘1, 2, 3, valendo!’
Ela ligou o gravador e depois de uma rápida introdução, puxou uma lista de perguntas que eu rabisquei rapidamente.
- Qual o seu nome completo? Ben O’Shea é só nome artístico?
R: Benjamin Thomas McKanson O’Shea. Mas sempre me chamaram somente de Ben e adotei o O’Shea em seguida.
- De onde surgiu a idéia de formar a banda ‘Os Duendeiros’? E por que deram esse nome?
R: Na verdade, a banda surgiu de um momento ‘saco cheio’. Estava cursando o meu último ano em Hogwarts, e os NIEM’s estavam cada dia mais próximos. Por um acaso conheci Toquinho e trocamos algumas idéias... Ele me contou do sonho dele de formar uma banda, e já tinha até o nome, ‘Os Duendeiros’, algo que revolucionasse, que chocasse. Afinal, surgimos no final dos anos 70 não é? Começamos a tocar por brincadeira e sem mais nem menos, nos tornamos sensações...
Ele riu e eu soltei um suspiro enquanto acompanhava a pena correr pelo pergaminho em alta velocidade.
- Vocês tinham contato com ‘As Esquisitonas’? Elas surgiram nessa mesma década, não foi?
(Ben concordou ainda sorrindo saudosamente e abaixou a cabeça como se estivesse se lembrando).
R: Tínhamos tanto contado com ‘As Esquisitonas’ que quando começamos a estourar, Hogwarts se dividiu em dois grupos. Os ‘Esquisitões’ e os ‘Duendes’. Dois fãs clubes. Mas nós gostávamos muito do som deles e várias vezes tocamos juntos. Era o máximo...
- Quando Toquinho saiu da banda, vocês pensaram que seria o fim?
R: Como todos pensaram que seria o fim de Hogwarts quando Dumbledore morreu. Pensamos sim. Mas os fãs pediam por mais músicas, pediam para que continuássemos... E estávamos no auge do sucesso. Mesmo depois de quase 20 anos de carreira, nossos shows lotavam e nossas músicas eram conhecidas por muitas pessoas. Não podíamos simplesmente desistir.
‘E fizeram muito bem!!!’ Antes que pudesse me conter, disse em voz alta. Tanto Brenda, como Ben me olharam assustados e Ben sorriu agradecendo. Abaixei novamente meus olhos para o pergaminho sentindo o rosto queimar.
- Por que você decidiu abandonar a banda? Como a sua decisão foi vista por seus fãs, seus amigos?
R: Decidi abandonar quando percebi que minha vida estava sendo completamente tomada por meus compromissos profissionais. Não via meus amigos, não tinha tempo para outras coisas. Precisava aproveitar mais, de estar perto das pessoas que eu gosto. E não iria conseguir conciliar isso com agendas lotadas de shows. Então, quando anunciei, primeiramente foi um choque para todos. Mas eles souberam entender os meus motivos, e percebi que ainda hoje tenho o carinho de muitos fãs, o que eu pensei que já tivesse se esgotado.
- Difícil não lembrar de Ben O’Shea. Ainda mais para as mulheres, isso é impossível! Você é o homem mais incrível que conheci, sério! (Ben sorriu constrangido e ia abrindo a boca para responder quando a porta da sala se abriu. Alexandra McGregor espiou um momento, mas Ben acenou com a cabeça e ela tornou a desaparecer. Eu seu lugar, Miyako, Gabriel e Ty entraram na sala.)
‘E aí? Será que podemos ouvir a entrevista?’ Gabriel perguntou e concordamos. Afinal, não fossem eles não teríamos esse privilégio. Os três sorriram satisfeitos e se largaram em poltronas próximas. Brenda continuou as perguntas por mais uns minutos e então parou consultando a lista.
‘Acho que não tem nada de interessante aqui, Isa. Quer fazer as perguntas da outra lista que você preparou?’
Concordei e ela puxou para si o pergaminho com a pena e me entregou o gravador. Fechei os olhos uns segundos me acalmando e quando os abri, encarei Ben da melhor maneira natural que consegui transparecer.
‘Essa segunda parte se chama Vida Privada’ expliquei enquanto levantava a segunda lista de perguntas. Ele arregalou os olhos. ‘São perguntas que estamos fazendo como fãs. E outros fãs as mandaram para nós. Mas você está no seu direito de responder ou não, é claro...’
Ben sorriu balançando os ombros e tomando um gole de água.
‘Vamos lá. Mandem as perguntas!’ disse empolgado. Recomecei a gravação.
- Você é comprometido? Namoro, rolo, noivado, caso...
R: Sou. E muito bem comprometido. (ele respondeu sem rodeios e senti meu coração murchar. HAHA, como se ele fosse te dar moral, Isabel!).
Por um momento fiquei em devaneios pensando quem seria a mulher de extrema sorte que fisgou esse Deus, mas Brenda deu uma pisadinha no meu pé e eu voltei à lista. Gabriel, Ty e Miyako riram baixinho.
- Por que escolheu a carreira de auror?
R: Meu irmão, Kegan, é auror. E eu me espelhava muito nele. Achava legal, e gostava. Mas a maior parte da minha vida foi em cima de palcos... Agora que estou exercendo meu diploma da Academia, de fato.
- É verdade que você tem um filho? Ele mora com você?
R: É, é verdade. Nicholas. Ele é um dos maiores culpados pela minha desistência da banda. É um garoto super inteligente. (Os olhos dele brilharam um pouco e ele riu) Sim, mora comigo no Brasil.
- E por que o Brasil?
R: Por muitos motivos. É um país lindo, tenho vários amigos lá, enfim... Não sei. Mas adoro morar lá!
- Você já saiu com fãs?
R: Quando se é famoso é impossível não sair com fãs. Claro que já namorei fãs. Quando ainda era solteiro, é claro... - Ele completou sorrindo. (E mesmo sem querer, meu coração se encheu de esperanças novamente, mas murchou ao me lembrar que Ben fazia pose de fiel.)
- Qual foi a maior loucura que alguma fã fez para você? E qual a maior loucura que você já fez por amor?
R: Acho que esse ataque na festa de abertura foi a maior loucura. Nunca havia sido abordado tão inesperadamente por tantas pessoas! Me perdi no meio da aglomeração... (todos nós rimos ao nos lembrar do ataque da festa) A maior loucura que já fiz por amor? Nicholas, óbvio. Ser pai é uma verdadeira loucura, mas é apaixonante. (Ele completou e eu suspirei. Se existe um homem igual a ele no mundo, esqueceram de me apresentar!!!)
- Você acredita em destino?
R: Claro que sim. E vocês não??? Com certeza estávamos marcados de nos encontrar hoje!
‘Merlin, marca mais milhares de encontros meus com o Ben, por favor?! Eu venho sido uma menina muito boazinha!!!’
A porta tornou a se abrir. As três mulheres entraram na sala sorrindo.
‘Bom, receio que o tempo de vocês acabou, meninas. Ben precisa ir cuidar de suas funções como voluntário agora...’ Alex falou gentil se aproximando.
‘Será que ela é a namorada do Ben? Por que não nos dá mais alguns minutos???’
‘Ben, novamente MUITO OBRIGADA por essa entrevista, por sua paciência, por sua simpatia...’ Brenda sorria para ele.
‘Ok, saiam todos da sala. Eu ainda não terminei minhas perguntas! Quero fazer aquela que envolve o prêmio de celebridade mais sensual e que tipo de mulher ele gosta...’
‘Foi um prazer.’ Ele respondeu. Se levantou beijando a mão de Brenda. Tinha de agir rapidamente.
‘Ben, você se importa de tirar uma foto comigo e assinar alguns autógrafos???’ perguntei depressa. Ele riu concordando.
A perspectiva de tirar uma foto abraçada a ele me fez abrir um imenso sorriso. Brenda tirou várias, inclusive dele sozinho. Então depois de assinar autógrafos para nós duas, Anne, Bel e Dora, ele finalmente beijou minha mão e se afastou com as mulheres, Gabriel, Ty e Miyako, nos deixando sozinhas na sala. Assim que a porta se fechou, eu e Brenda nos encaramos caladas um segundo e então começamos a gritar empolgadas. Tínhamos em mãos a melhor entrevista dada até então pelo maior astro do rock dos últimos tempos, e somente nós saberíamos contar aos nossos filhos e netos como é a sensação de estar cara a cara com seu ídolo! Nunca mais me esqueceria desse dia...
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