Tuesday, October 16, 2007

1, 2, 3... Remando!

Beauxbatons estava levando realmente a sério as Olimpíadas Interescolares. Não somente os alunos haviam planejado horários de treinos em meio a seus horários de aulas e deveres, como a escola havia montado uma arena gigantesca especial para treinamento de todas as modalidades, e contratado especialistas de cada uma delas para instruírem os alunos em seus treinos.

Eu também logo descobri um espírito competitivo há muito tempo sufocado por livros e pergaminhos. Até por que, por mais sedentária que eu pareça ser, nunca perderia a oportunidade de conhecer Durmstrang, retornar à Hogwarts e rever muitos dos meus amigos, que fariam parte da equipe dos voluntários. Bernard seria responsável pelo Xadrez de Bruxo (mais um dos motivos de eu ter me inscrito em xadrez e estar treinando bastante para ganhar uma medalha). Sendo sincera comigo mesma, e isso inclui deixar a humildade um pouco de lado, eu sempre fui bastante boa em xadrez. Só estava precisando rever minhas jogadas preferidas, o que eu estou fazendo todos os dias. Estou bastante confiante!!!

Além de xadrez, eu tinha me inscrito em Canoagem. A princípio eu e Brenda competiríamos em um Caiaque K2, mas logo Anne e Isa se animaram com essa idéia e acabamos nos inscrevendo em Caiaque K4. O único problema disso tudo era que nenhuma das quatro sabia exatamente o que era um remo ainda... Por isso, havíamos montado um horário diário de treinos no lago do castelo, e a cada dia, a formiguinha competitiva dentro de mim se evolui para um animalzinho maior. Ok, acho que estou ficando obcecada com a idéia de ganhar medalhas para Beauxbatons, mas fazer o quê se estamos ficando realmente boas???

Acordei bem cedo no sábado e tratei de acordar Brenda e Anne. Elas resmungaram um pouco, afinal, o céu ainda estava escuro, mas eu havia dormido inquieta tendo sonhos contínuos com caiaques virando e uma equipe com maiôs vermelhos em cima do podium. Depois de insistir que precisávamos treinar, elas perceberam que não ia deixá-las dormir novamente e acabaram cedendo, se levantando e trocando de roupa. A parte mais difícil foi acordar Isabel...

- Anda logo Isabel, levanta dessa cama! – a sacudia freneticamente e em sussurros para não acordar Dora que dormia ao lado. Ela se mexeu um pouco, tentando se livrar das minhas mãos, mas continuou dormindo. Perdi a paciência. – Isabel, acorda!!! Vou colocar fogo no seu guarda-roupa...

Ela abriu os olhos assombrada e se sentou rapidamente. Anne e Brenda riram, e eu tive que me segurar e manter a cara séria.

- Bel? Anne? Brenda? O quê? Meu guarda-roupa... – ela lançou um olhar aflito para o closet, e de volta para nós três, que ríamos. – O que vocês estão fazendo aqui afinal??? Por que estão com maiôs?
- Viemos te acordar, óbvio. Levanta dessa cama, veste seu uniforme de canoagem e vamos treinar! – ela ficou me encarando com o queixo caído e depois olhou nervosa para Anne e Brenda. – Anda Isabel!
- Bel... Hum... Você tem certeza de que está consciente do que está falando? Estamos em um sábado, e ainda nem são 6 horas da manhã!!! Olha lá para os jardins! Ainda está escuro!
- Eu estou bem consciente das horas e da claridade do céu, Isabel. Obrigada. Mas até você levantar, trocar de roupa, tomarmos café e começarmos a treinar, o sol já está se pondo... Agora será que dá para se apressar?

Ela continuou nos encarando atônita um minuto, e percebendo a minha expressão decidida e Anne e Brenda sacudindo os ombros em rendição, se levantou da cama e foi trocar de roupa. Meia hora depois terminamos de tomar café com mais três ou quatro alunos madrugadores e descemos para o lago.
Apanhamos um dos caiaques dispostos em fileira perto do lago e subimos quando ele estava na borda. A água estava assustadoramente fria!

- Certo. Todas de remos? Vamos primeiro dar uma volta completa em velocidade mediana. Depois treinamos para valer... 1, 2, 3... Agora!!!

Começamos a remar em ritmo tranqüilo e demos uma volta completa no lago. O céu estava começando a ficar cinzento. Paramos novamente na borda. Brenda soltou sem remo massageando o braço.

- O que foi Brenda? – Isa perguntou soltando seu remo também.
- Nada demais. Só não me acostumei ainda com essas coisas. São muito pesados. E também, nunca tínhamos dado uma volta completa no lago, não é?
- Estou com frio, isso sim. Essa água escura e gelada está me dando náuseas. – Anne comentou enojada e Isa e Brenda concordaram. Soltei meu remo e virei para trás.
- É assim que pretendem ganhar das outras equipes? Tenho certeza absoluta que enquanto as ‘mimadinhas’ reclamam da água, do céu, do braço, do vento e dos remos, outros estão treinando bastante!

As três me encararam ao mesmo tempo surpresas e nervosas. Eu de repente me dei conta do que havia acabado de dizer e me assustei comigo mesma.

- Desculpem.
- Bel, não sabia que você era tão competitiva! – Anne comentou com os olhos arregalados.
- Nem eu sabia. Podemos treinar ou querem voltar para o castelo?
- Já nos acordou e nos lançou um monte de desaforos mesmo. Vamos treinar! – Isa disse levantando o remo, com tom desafiador. Balancei a cabeça.
- Certo. 1, 2, 3... VAI!

Remávamos tão depressa que em alguns segundos alcançamos o meio do lago, onde o instrutor de canoagem havia instalado cones de sinalização para o fim da prova. Quando atravessamos a faixa, paramos cansadas.

- Acho que batemos nosso recorde! – Brenda disse massageando o braço novamente, mas sorrindo.
- Foi bom, mas acho que podemos fazer muito melhor que isso... – comentei distraída. – Isabel, você está remando muito devagar. Se não consegue remar mais rápido do que isso, deveria ficar na ponta do caiaque, não no meio dele!

Isa me encarou a azeda. Brenda e Anne se entreolharam ansiosas.

- Anabel, você está paranóica. Eu estou remando na velocidade que o instrutor me aconselhou, nem um pouco mais rápido, nem um pouco mais lento. Batemos nosso tempo hoje! Essa sua mania de querer dar ordens está me irritando.
- Você se irrita facilmente! Eu só quero ganhar a medalha, ok? – me sentei mais reta a encarando firme. Ela levantou as sobrancelhas.
- Não é só você que quer ganhar a medalha, sabia? Mas essa obsessão está me irritando. Primeiro esses treinos diários, cansativos. Depois você nos acordar de madrugada com essa sua cara maníaca. E agora essas indiretas de que devemos ou não fazer. Por que você não repara nos seus próprios erros também?
- Por que eu não tenho erros para consertar! – já estava de pé e gritando com Isa. Brenda e Anne se encolheram no fundo do caiaque nos encarando sem ação.
- AH, é claro que você não tem erros. Sra. Anabel Perfeitinha! – Isa também se levantou gritando.
- Cala a boca, Isabel!
- Não. Cala a boca você!

E sem eu nem me preparar para isso, Isabel me empurrou e eu desequilibrei do caiaque caindo na água gelada. Foi como se mil facas estivessem atravessando cada pedacinho do meu corpo. Senti um arrepio e uma dor na costela imediatamente. Uma falta de ar. Fiquei tremendo na água, batendo o queixo. Anne e Brenda remaram com o Caiaque até onde eu estava e Brenda me estendeu o braço. Com dificuldade, consegui subir novamente... Isa estava sentada do outro lado do caiaque, as mãos na boca, em choque. Olhei com ódio para ela, tremendo de frio. Brenda e Anne perceberam o ar de tensão e remaram sozinhas de volta para a margem do lago.
Quando desembarcamos, Brenda me rebocou de volta para a Sapientai onde me enfiei embaixo de casacos. Alguns minutos depois eu já estava bem melhor. Ela me encarava preocupada.

- Você está bem?
- Ótima. A minha irmã gêmea acaba de gritar comigo, dizer que sou uma maníaca competitiva, me jogar em um lago a – 50°C... Mas tirando isso, está tudo ótimo!

Brenda prendeu um riso e eu bufei irritada.

- Pode rir, eu sei que você quer! – disse impaciente e ela riu.
- Desculpa Bel. Também não achei certo a Isa te jogar no lago, mas... Você estava bem maluca hoje. Poderia ter esperado ao menos o sol sair para nos acordar. Ninguém fica de bom humor quando é arrancado tão cedo da cama em um sábado! – ela disse displicente. Encarei o chão sem graça.
- É, vocês têm razão. Eu também teria lançado Isa no lago se ela tivesse me levantado cedo para ir ao shopping ou outra coisa assim. Mas, ahhh, é maior que eu! Eu sou extremamente competitiva!
- Deu para perceber!
- Certo. Precisamos nos entender... Prometo criar horários justos de treinos, e mais leves. E não brigar nem mandar em ninguém! Somos uma equipe, não somos?
- Acho que sim.
- Somos!!! E vamos ganhar essa medalha, pode escrever!

Brenda sorriu concordando. Por mais que eu me sentisse nervosa com a proximidade da competição, iria me controlar e tentar me entender com minha irmã e Anne. Venceremos unidas e honestamente, custe o que custar!

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