BL: A gente se vê logo, ok? – me abraçou apertado sorrindo e me dando um beijo em seguida.
AD: Ok. Se cuida. Juízo, hein?
BL: Esse é meu nome. – rimos. – Vou sentir saudades...
AD: Eu também. Mas chega de drama?! – disse dando um último beijo nele antes de me afastar.
Quando o barco começou a se distanciar e acenei uma última vez para Bernard que desaparatou logo em seguida, suspirei. As férias de verão tinham passado aos atropelos. Mal acreditei que estava embarcando para meu último ano de escola. Anne e Brenda começaram a contar as novidades...
BV: Quando conheci a família do Chris, foi um desastre! Quebrei a xícara de porcelana da avó dele, estava tremendo. Mas passado o trauma inicial, me apeguei muito a eles. – Brenda e Anne caíram na risada. Soltei um muxoxo e elas me olharam.
AR: Aconteceu alguma coisa, Bel? Você e o Bernard ainda estão juntos... não estão?
BV: Claro que estão! Estava abraçando ela que nem um polvo agorinha mesmo! – Brenda disse debochada.
AD: Bernard conheceu minha família nessas férias e foi quase uma tragédia!
AR: Homem é tudo igual! – Anne disse irritada. – Apesar de achar que você fez certo, eu admito que se isso acontece comigo... Nem sei o que sou capaz de fazer!
IM: Pois eu acho que a Bel fez muito bem. O Bernard é um fofo, com todo o respeito, irmãzinha!
AD: O que você quer aqui, Isabel? Não me lembro de ninguém ter te convidado para a conversa. – respondi seca. Ela fingiu não ter escutado.
IM: Já contei que estou apaixonada?
AD: Quem é o alvo dessa vez?
BL: Um homem bem mais velho que ela! – Brendan falou pela primeira vez, grosso. Isabel se virou para ele parecendo chateada, mas retrucou.
IM: Não é bem mais velho, Brendan! Quem ouve isso, até pensa que está com um pé na cova!
AR: Quantos anos afinal? – Anne perguntou interessada. Brenda concordou.
IM: 25 anos, moreno, olhos verdes, educado, inteligente, simpático, extrovertido, um deus!!! – ela disse aos atropelos, elétrica. Brenda assoviou.
BV: Onde você encontrou esse ‘deus’, Isa?
IM: Lá em casa, sentado no meu sofá!!! É um estagiário do meu pai... Foi amor à primeira vista!
AR: Mas... aconteceu alguma coisa?
IM: Não. – Isa abaixou ligeiramente a cabeça desanimada. – Nada além de muitas horas de conversas e um passeio por Nova York, um sorvete e algumas indiretas. Mas eu senti algo diferente, eu sei!
BL: Deu para sentir coisas agora?
BL: Me desculpa se não consigo me sentir empolgado pela sua ‘paixonite’ aguda, ok? Nos vemos mais tarde. Vou conversar com o Tony sobre o time de quadribol. – virando as costas e se afastando. Isa sacudiu os ombros sorrindo novamente e se sentando ao lado de Anne.
Quando descemos no porto do castelo, Isa se despediu indo ao encontro de Brendan, Dora e alguns outros alunos da Fidei. Anne, Brenda e eu saímos juntas arrastando as malas e gaiolas. Havíamos acabado de desembarcar e começávamos a seguir o fluxo de estudantes pelo caminho até os portões do castelo, quando senti algo muito pesado caindo na minha cabeça e tudo ficou escuro.
Abri os olhos e os fechei quase imediatamente. A claridade que vinha do quarto me fez lacrimejar. Ouvi vozes ansiosas ao meu redor. Abri os olhos novamente e a enfermaria do castelo tomou forma.
AD: Minha cabeça está em chamas! O que aconteceu?
AD: A coisa pesada que caiu na minha cabeça era um malão??? Quem foi o trasgo infeliz que lançou um malão do barco?
AR: Um novato. Ulisses. Disse que ele escorregou das mãos dele e caíram, bem em cima da sua cabeça. Estava aqui agorinha mesmo, mas tinha uma reunião com Máxime e avisou que volta depois para ver como você está.
AD: Quanta gentileza!!! – comentei irônica. - Depois querem ser bem recebidos? Mal chegam e já tentam assassinar os veteranos.
As aulas recomeçaram em ritmo frenético. Os professores pareciam convencidos em nos deixar cada vez mais preocupados com os NIEM’s, e em dois dias eu já acumulara uma montanha invejável de deveres e trabalhos atrasados. As duas aulas extras de Transfiguração haviam acabado há apenas alguns minutos. Já eram 22:00 e os alunos se arrastavam cansados da sala para seus salões comunais. Estava pensando em voltar para a Sapientai e adiantar alguns deveres quando Gerard me surpreendeu.
- Sim, por favor, entre minha querida. – ela disse cortês e obedeci fechando a porta ao passar. – Esse é Ulisses Bonaccorso. Um dos nossos novatos.
AD: Prazer. – estendi a mão. Ele sorriu, mas ao ver o machucado na minha testa, ficou sério.
UB: Te devo desculpas. Imagino que tenha conseguido esse curativo por minha causa. – Ele disse sincero. Me lembrei da história do novato com a mão frouxa e fiquei irritada. Máxime olhava de um para outro sem entender, então interrompeu.
- Bom, Anabel, te chamei para pedir uma ajuda. Ulisses ainda não sabe falar muito bem o francês e se confessou com dificuldades para acompanhar as matérias. – fiquei calada já esperando o que viria a seguir. – Então, eu pensei em chamar um aluno para ajudá-lo e devo dizer que não consigo pensar em ninguém mais indicado que você! Você se importaria de dar uma ajuda a Ulisses nas horas vagas? Só até ele conseguir acompanhar o ritmo por conta própria...
- Ótimo, ótimo. Obrigada! Bom, monsieur Bonaccorso, acho que agora você e a senhorita Damulakis poderiam combinar por conta própria, não é? Se não há nada mais, podem ir. Boa noite.
AD: O que você acha?
UB: Desculpa. A mala escapou das minhas mãos...
AD: Já sei, já sei. Bom, tudo bem. Podemos pegar a primeira aula amanhã? Das 20:00 em diante estou livre.
UB: Tudo bem. Obrigado, mais uma vez!
AD: Ok. Boa noite.
UB: ‘Boa noite’.
UB: Você sabe falar?
AD: É?
UB: Sou!!! Nasci em Atenas.
AD: Eu também!
UB: Ta brincando?
AD: Não. Sou grega também.
UB: Finalmente alguém!
AD: Não existe destino. Existe coincidência. – balancei a cabeça decidida retomando minha expressão centralizada. – Nos vemos amanhã então.
UB: Ok. Até amanhã, ‘Anabela’. Foi um prazer muito grande te conhecer...
No comments:
Post a Comment