Das memórias de Gabriel Graham Storm
Era nossa penúltima semana de aula antes das férias de natal e os monitores estavam reunidos na sala dos fundadores, já tarde da noite, tentando sortear o amigo oculto. Inimigo oculto, na verdade. Idéia das meninas, que insistiram tanto que acabaram fazendo com que todos se animassem com a idéia. Eu não estava tão animado quanto elas, mas até que seria divertido. O problema é que dependendo de quem eu tirasse, precisaria ficar na cola da pessoa para descobrir seu ponto fraco e poder fazer a brincadeira.
- Muito bem, muito bem, acho que já podemos começar com esse sorteio, já erramos demais as contas! – Viera falou sacudindo o boné para embaralhar os papéis
- E, por favor, vamos parar de tirar nós mesmos! – Bernard brincou tirando um papel do boné – Há! Ótimo, adorei!
- Bê, amassa logo esse papel porque estou quase vendo quem você tirou! – Mad falou enfiando a mão no boné – Oba! Adorei meu amigo! Inimigo, amigo, sei lá, tanto faz.
Viera passou o boné pelo circulo todo e um por um fomos tirando os papéis. Puxei o meu e vi que tinha tirado a Manuela. Gostei. Não éramos amigos íntimos nem nada, mas depois de ficar mais de duas horas explicando um livro pra ela, passamos a conversar todos os dias e acho que posso bolar algo engraçado como presente. Aos poucos fomos levantando e voltando ao castelo. Eu ainda demorei por ter ficado conversando sobre o campeonato de quadribol com Viera, Bernard e Raymond e quando passamos pela passagem secreta Manu e Mad estavam nos esperando. Fomos caminhando devagar ainda falando sobre os jogos, discutindo qual time da liga era melhor que o outro, e quando percebi estava nos jardins do castelo, totalmente longe do salão comunal da Sapientai.
- Ah droga, é melhor eu ir embora, já está tarde! – falei olhando o relógio
- Relaxa Gabriel, ainda podemos ficar aqui fora mais um pouco, somos monitores – Manu falou sentando no muro
- Mas vocês são do 7º ano, nós do 5º. – Raymond falou querendo se despedir
- Eles têm razão... – Bernard falou pensativo
- Nós já vamos indo então. Boa noite – falei levantando e Raymond me seguiu
- Eu acho que também vou indo, aproveitar a companhia até a Nox
- Ah que isso Mad, ta cedo!
Mas apesar dos protestos, Madeline se despediu dos amigos e veio caminhando conosco de volta ao castelo. Raymond e eu vínhamos conversando sobre as férias de natal quando ela resolveu participar do papo também.
- De onde mesmo você falou que era?
- Eu não disse de onde era
- Ta bom, ta bom, não disse, mas estou curiosa e quero saber...
- Brasil. Rio de Janeiro, pra ser mais preciso.
- As pessoas não morrem de calor lá não?
- Não é o deserto do Saara, é só um país onde não tem neve
- E onde tem também futebol! – Raymond falou animado
- É, é, tanto faz... – ela falou impaciente – Você nasceu lá mesmo ou se mudou? Por que você não é tão moreno assim e pelo que vejo na tv, as pessoas lá são bem queimadas de sol.
- Meus pais são Londrinos, não tinha como eu nascer com cara de brasileiro. Mas sim, nasci lá, nunca morei em outro lugar.
- Também nunca me mudei... Quer dizer, nunca saí da França, mas já morei em várias casas. Estamos morando agora em uma casa em Paris mesmo, por isso não gosto muito dos passeios da escola. Não tenho mais nada de novo pra conhecer!
- Sei como é a sensação... Já não tem um único lugar no Rio que eu não conheça. Ao menos os que valem à pena. Mas ainda não consegui ver tudo em Paris, mesmo depois de quase 3 anos aqui.
- Como 3 anos? Você não está no 5º?
- Sim, mas vim pra cá no 3º ano só, estudava em Hogwarts antes.
- E como é lá em Hogwarts? Sempre tive curiosidade, mas na época do Torneio Tribruxo eu ainda estava no 4º ano, nem pude cogitar a possibilidade de ir.
- Ah é legal, nada tão diferente daqui. Só que aqui não tem tanta briga entre as casas, lá é mais competitivo. Nem no torneio as casas se uniram por completo, foi a maior confusão!
- Eu soube da roubalheira, vocês tiveram dois campeões!
- Ei eu não tenho nada com isso! Na verdade, eu estava no grupo torcendo contra o 2º campeão da escola.
- Ahn gente, já chegamos na Nox... Vocês vão entrar ou não? – Raymond falou devagar. Havia esquecido que ele estava do meu lado
- Eu não sou da casa de vocês, não vou entrar. Melhor voltar logo...
- Eu acompanho você até a Sapientai. Não estou com sono mesmo e ainda posso ficar fora do dormitório mais tempo que vocês...
Raymond sumiu pela passagem secreta e demos meia volta, subindo as escadas para a Sapientai. Mad vinha me fazendo dúzias de perguntas sobre Hogwarts e ficamos discutindo sobre o Torneio Tribruxo, ela querendo saber como foi assistir ao vivo. Demoramos mais que o necessário para fazer o caminho até a entrada da casa no 4º andar e continuamos do lado de fora de papo. Era fácil conversar com ela, agora percebia isso. Manu tinha razão quando dizia que eu não tinha motivos para ter receio de me aproximar. Comecei a pensar se seria arriscado demais tentar alguma coisa naquela hora, mas estava me divertindo tanto conversando com ela que não consegui reunir coragem, com receio de estragar tudo.
- Na verdade, tem um único lugar de Paris que eu não conheço direito, que é o Louvre.
- O que?? – falei chocado – como não conhece o Louvre? Que parisiense é você?
- Eu não falei que não conheço, só nunca o percorri inteiro... - disse como se estivesse falando com uma criança de 5 anos – é muito grande!
- Por isso ele é o museu mais fantástico do mundo! Tem tudo lá!
- Não sei se você já percebeu, mas não gosto muito de museus...
- É, já deu pra perceber que passeios culturais não são seu forte – disse brincando
- Também não precisa ofender! – ela falou fingindo estar ofendida – Conheço a ala do Egito Antigo... e o apartamento do Napoleão!
- Isso não chega a ser nem 2% do museu, Mad...
- OK então, se você é o expert no Louvre, me faça uma visita guiada no próximo passeio a Paris! Vou conhecer o Louvre sem informações inúteis dos guias padrões, assim espero
- Mas você falou que não gosta das visitas e nem de museu. Alias, não me lembro de ter visto você nos passeios da escola na cidade...
- Você quer minha companhia ou não em Paris? - disse impaciente
- Claro que quero! – percebi que tinha disso isso com mais empolgação que o normal e logo fiquei vermelho
- Ótimo, porque sei que vou gostar da sua companhia.
Ficamos calados um tempo, nos encarando. Mesmo sem ver, sabia que estava vermelho. E ela tinha uma expressão esquisita no rosto, como se estivesse achando estranho o que ela mesma tinha dito. Tinha a impressão que ela estava prestes a dizer alguma coisa, podia vê-la escolhendo as palavras, quando o quadro da fada da Sapientai abriu. Olhamos assustados para os lados e vi Manu e Bernard parados atrás da gente. Eles tinham dito a senha e eu não tinha escutado.
- Ainda do lado de fora, crianças? – Manu falou aparentemente achando graça
- O que está fazendo aqui, Mad? – Bernard falou não entendendo porque Manu ria – vocês não estavam indo pra Nox?
- Ah sim, mas estava muito barulho lá dentro, uma bagunça. Então resolvi dar mais uma volta – ela mentiu e não entendi o porquê – mas acho que já acalmaram, vou pro dormitório... Tchau Gabriel
- Tchau... – respondi enquanto Manuela me olhava com um sorriso de deboche
- Ok, não entendi nada que se passou aqui – Bernard falou confuso e não consegui evitar rir – desde quando a Mad corre de bagunça??
- Vamos entrar Bê, você ta cansado e não ta raciocinando bem... – Manu falou rindo e entramos pelo buraco do quadro.
Bernard parou na mesa para conversar com Bel, que ainda estudava, e eu apertei o passo para evitar que Manuela me cercasse como já estava dando indícios de que faria. Ty ainda não estava no dormitório, devia estar com a Rory, então troquei de roupa e me enfiei debaixo das cobertas. Não queria um interrogatório hoje, não antes que eu pudesse processar o que tinha acabado de acontecer. Se eu não estiver delirando, é claro. O fato é que Ty voltou ao quarto depois de muito tempo e eu ainda estava acordado, sem previsão se conseguir dormir antes de ver o sol sair...
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