Anotações de Ty McGregor
- FELIZ NATAAALLLL!
Acordei com meus primos Brian e Brianna entrando no quarto gritando, e jogando em cima de nós os presentes que estavam aos pés das camas. Logo entraram nossas primas acompanhadas de Riven e ficamos abrindo os presentes recebidos e comendo alguns muffins que Mary trouxe da cozinha.
Depois de algum tempo, minha mãe entrou no quarto e trazia embrulhos nas mãos, que foi distribuindo a todos. Emily estava com ela e dava risada da farra que fazíamos.
- Ty, este é pra você. Entrega especial. - minha irmã me deu um pacote.
Reconheci a letra da Rory e pulei logo da cama.
- Ele recebeu presente da namoradinha, uiuiui. – zombou Riven e minha mãe atirou um embrulho todo rosa para ele dizendo:
- Desireé manda lembranças, bizuzzu. - deixando o vermelho.
Desireé havia dito a mamãe o apelido carinhoso que ela usava ao se referir a Riven e lógico que mamãe não iria deixar barato.
- Namoradas beijam na boca. Eca que nojo. - zombou Brian e começamos a rir.
Minha mãe deixou os embrulhos e se despediu, ia para o Ministério trabalhar e voltaria somente à noite. Emily ficou conosco e não teve dificuldades em se integrar à família. Todos faziam questão de tratá-la bem. E isto deixou meu pai muito contente.
Passamos o dia comendo, bebendo, fazendo guerras de bolas de neve; na parte da tarde depois de um lanche reforçado com chocolate quente, cada um de nós ficou quieto em seu canto. Fui até o sótão, e sentei-me na janela para ficar vendo o castelo Urquhart de longe. O lago exibia uma camada grossa de gelo e sua superfície ia ficando azulada refletindo a luz da Lua, à medida que a noite caía. Não ouvi meu pai se aproximar e sentar ao meu lado.
- Bonito não?- comentei.
- Sim, por mais que eu goste da nossa casa em Paris aqui eu me sinto em paz. - ele respondeu.
- Mamãe já voltou? O dia de Natal não foi o mesmo sem ela e o meu padrinho. - reclamei
- Ainda não voltou, mas ela está bem. Amanhã ela ficará aqui e eu vou para o trabalho, você sabe que infelizmente teremos que nos revezar durante as festas. Sergei deverá voltar amanhã também, se não virou sushi. Ele estava bem nervoso em encarar os samurais.
Começamos a rir. Meu padrinho foi passar as festas com a família de tia Yulli para fazer o pedido de casamento aos parentes mais velhos. Eu achava isso o fim, afinal eles já eram coroas, mas como ele estava entrando na família dela, deveria aceitar as tradições.
Suspirei.
- Está com saudades dela? – ele perguntou.
- Demais. - só então me dei conta de que meu pai não havia se referido a alguém específico. Olhei para ele e ele disse:
- Sem querer, eu vi vocês se despedindo antes de vir para casa. Ela é muito bonita. Qual o nome dela?
- Rory. – olhei mais uma vez para o lago e aquele brilho azul nas lascas de gelo, me lembravam os olhos dela quando ficava irritada. Falei sem pensar:
- Como a gente sabe que tá apaixonado por alguém? Quer dizer como você soube que amava a mamãe?
Meu pai me olhou por um tempo e disse:
- Acho que amo sua mãe desde quando éramos crianças. Não me lembro de ter um só dia em minha vida que eu não fizesse tudo para vê-la sorrir. Mas só fui ter certeza de que era sério quando ela fez 15 anos e dançamos juntos na festa dela. Ela era a garota mais bonita que eu já tinha visto, e de repente eu me vi pensando em como seria bom estar com ela, poder beijá-la, fazer... Desculpe, acho que você não quer saber este tipo de coisa.
- Sem problemas. Parei de me incomodar com isso há algum tempo, até porque se eu fosse ligar, teria que me esconder a cada vez que vocês se olham. - ele riu e continuou:
- Bem, então criei coragem para dizer a ela, só que ela já tinha um namorado na escola.
- O queêê? Concorrência paizão?
- Pois é... O jeito foi mostrar que eu era a sua melhor opção. – piscou e eu ri da sua cara convencida.
- E vocês estão junto este tempo todo? – perguntei.
- Não. Namoramos alguns meses e depois nos separamos por alguns anos.
- Ah... A tal separação segredo, que ninguém fala porque aconteceu.
- Houve um mal entendido e... Quer saber? Vou te contar tudo o que aconteceu naquela época, estamos com tempo mesmo.
Fiquei ali ouvindo meu pai contar tudo que havia vivido com minha mãe, desde antes de se casarem. Soube que a encrenca havia começado, porque se acreditava que meu avô Kyle era o pai da minha mãe, e com isso minha avó Virna tratou mal a minha mãe por muitos anos. Alguns anos depois o mal entendido havia sido explicado e sem perda de tempo eles se casaram. Fiquei sabendo que ela havia perdido um bebê antes de eu nascer, numa luta com comensais e que havia ficado muito machucada. Meus pais e minha avó só voltaram a conversar quando eu resolvi nascer antes da hora e minha avó, fez o meu parto. Ela diz até hoje que meu avô apareceu num sonho para ela dizendo que eles precisavam de ajuda e a guiou até a cabana de caça nas Highlands.
Papai falou também sobre as namoradas que teve e o temperamento de cada uma. Ele dizia que as mulheres eram diferentes fisicamente, mas com um ponto em comum: Eram complicadas demais, e que a gente nunca sabia o que elas estavam pensando: especialmente em algumas fases da Lua.
Rimos muito porque lembramos de algumas atitudes irracionais da minha mãe como brigar conosco porque havíamos apertado o tubo de pasta de dentes pelo meio ou porque ela começava a chorar quando perguntava se estava gorda e meu pai dizia que ela era linda.
Contei a ele como Rory e eu começamos a namorar. Falei sobre minhas dúvidas e que eu achava esquisito sentir-me satisfeito só de saber que a Rory estava no mesmo ambiente que eu, durante as aulas. Ele me ouviu quieto, não zombou das besteiras que eu falei e comentou que a coisa era mais séria do que pensava, e que se eu estava feliz, ele também ficava.
Após algum tempo meu pai perguntou:
- Ty, eu queria saber se você aceitou bem a Emily.
- Ela é legal, gosto de tê-la na família.
- É sobre isso que queria falar. Eu conversei com sua mãe e ambos achamos que ela deveria ter nosso sobrenome também. Mas eu queria saber antes a sua opinião. Afinal, ela vai ter direito a parte de sua herança e...
- Ela é uma de nós, pai. Não me importo com dinheiro. O mais importante é ela saber que pode contar conosco e vice-versa. Desculpa pelos meus ataques infantis.
- Não tem problema, isso é passado. Sua mãe tem razão quando diz que você cresceu filho. Saiba que eu vou te amar sempre. – e me abraçou.
Uma parte de mim ficou um pouco constrangida, mas a outra e mais forte, adorou a demonstração de carinho do meu velho. Quando nos separamos vi que seus olhos brilhavam com algumas lágrimas e desviei os meus para ele se recompor. Quer dizer, eu também fiquei emocionado, mas não ia começar a chorar ali. Não quando ele diz que eu cresci né?
Mamãe nos encontrou lendo o catálogo de vassouras novas e discutindo táticas de jogo. Após uma troca de olhares entre eles, mamãe sorriu satisfeita. Abraçou-me e disse baixinho:
- Você fez seu pai muito feliz. Obrigada. - senti um nó na garganta.
Descemos para encontrar a família reunida. Minha prima Ariel havia acabado de chegar com seu noivo e anunciava que eles iriam se casar. Vovó chamou os elfos para servirem a comida, enquanto tia Patrícia chorava emocionada abraçada ao tio Dylan, as primas de minha mãe já se alvoroçavam em fazer as listas com os preparativos para o casamento. E tio Ian distribuía taças de champanhe para o brinde.
Uma nova festa estava começando, sem hora para acabar, queria que a Rory e meus amigos estivessem aqui, então tudo ficaria perfeito, mesmo com alguns loucos soltos lá fora querendo acabar com o nosso mundo.
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