Havíamos voltado para Beauxbatons há quase um mês. Com a expectativa de se formar no fim do ano letivo e o fantasma dos N.I.E.M.s assombrando todos os alunos do 7º ano, os professores não estavam dando folga com os exercícios. Se todo o dia não tirasse algumas horas no fim das aulas para fazer os trabalhos, no final da semana ia sumir atrás da pilha de dever. Tanto meu irmão Eugene quanto Remy, Tomás e Frederic haviam sido selecionados para a Lux Angeli e mantínhamos os quatro sob vigilância constante, especialmente meu irmão Frederic. Na primeira semana de aula os dois conseguiram uma detenção por capturar a fada da casa que nos custou menos 10 pontos no placar. Se quisermos a Taça de Quadribol daquele ano, era bom mantê-los longe de confusão.
A volta a Beauxbatons também vinha cheia de novidades. Além de nossos irmãos na nossa casa, Olívia e Marcel agora estavam namorando. Ninguém tinha entendido direito como isso foi acontecer, já que Marcel nunca pareceu demonstrar interesse em Olívia e muito menos ela por ele. Mas apesar de tudo, todo mundo concordava que mesmo sendo o casal mais improvável de Beauxbatons, não deixavam de ser um casal perfeito. Olívia conseguia manter Marcel na linha e Marcel deixava Olívia mais solta. Sem querer, foram feitos um pro outro.
Mas o novo ano letivo não se resumia apenas a novidades chocantes, cargas horárias exageradas e deveres intermináveis. Final de Setembro significava testes para os times de Quadribol, já que a temporada nova começaria no final de Outubro. Minha ambição de fazer parte do time estava cada dia maior, e com a ajuda de meu irmão, havia bolado uma maneira de chamar a atenção de todo o mundo bruxo para o nosso problema. Iria precisar da ajuda de todas as meninas da escola e havia gastado uma semana inteira conversando com todos os grupinhos delas, marcando uma reunião na sala de Literatura Mágica.
- Tem certeza que isso vai funcionar? – Olívia me perguntava enquanto tentava acompanhar meu passo – Algumas meninas daqui são tão frescas.
- Sim, mas elas também vão querer poder encher a boca para falar que fizeram parte da maior rebelião da história de Beauxbatons – ri – Aposto que a sala está cheia.
- Por que demoraram tanto? - Anabela já estava dando bronca, nos esperando na porta da sala - Todas que se comprometeram a aparecer já estão aqui esperando!
- Desculpe, foi minha culpa - Olívia falou um pouco sem graça - Marcel me segurou no salão comunal - começamos a rir e ela ficou vermelha - Por causa do Remy, parem com isso.
- Ai, ai, esses pombinhos... - alisei a cabeça dela de brincadeira - Vamos entrar.
Abrimos a porta da sala e a barulheira que estava lá dentro se espalhou pelo corredor. Quase toda a ala feminina de Beauxbatons, incluindo as professoras Cecile e Rousseau, que tentavam conter o falatório. Danielle também lá na frente, sentada em cima da mesa conversando animada com Nani. Não tinha nenhum garoto na sala, embora os nossos amigos soubessem do que se tratava aquela reunião. Caminhei para a frente de todo mundo e subi numa cadeira, para que todas vissem que eu já estava ali e queria falar. As conversas paralelas cessaram quase que instantaneamente.
- Boa noite, meninas - comecei a falar e tinha a atenção de todas - Como já expliquei rapidamente quando as abordei durante a semana, chamei todas aqui para falar sobre a proibição de times mistos na escola. Sei que a grande maioria aqui está pouco se importando para o Quadribol, mas também sei que muitas meninas gostariam de poder ao menos tentar uma vaga nos times das casas, mesmo que não passem. Nosso diretor prometeu pensar no assunto, mas não parece ter pressa e as seleções para a temporada nova começarão nas próximas semanas, então digo que está na hora de fazermos um pouco de pressão.
- E como exatamente faremos isso? - uma menina do 5º ano perguntou do fundo da sala - Render o diretor e só soltá-lo quando aceitar nossas condições? - e algumas riram, eu entre elas.
- Se isso não levasse a expulsão, adoraria trancá-lo em um armário de vassouras, mas tenho algo menos arriscado a propor. Acho que todo mundo sabe que meu irmão que morreu era o Johnny Latour, assim como também sabem que meu irmão do meio, Pierre Latour, é o locutor de quadribol mais famoso da França. No próximo sábado acontece a final da Copa Mundial de Quadribol, entre Alemanha e Inglaterra. O mundo bruxo inteiro estará ouvindo a transmissão do jogo e antes dele começar, Pierre irá narrar um outro jogo de Quadribol. O jogo que estará acontecendo aqui em Beauxbatons, entre dois times só de garotas.
- Está sugerindo que a gente burle as regras da escola, roube os equipamentos de Quadribol e invada o campo? - Penny perguntou e confirmei com a cabeça - Eu topo, jogo de apanhadora!
- Seu irmão vai mesmo narrar o nosso jogo, pro mundo bruxo inteiro ouvir? - Flora falou interessada - Vai dizer nossos nomes e tudo? - confirmei com a cabeça outra vez - Eu topo também, mas sou melhor artilheira.
- Ótimo! Precisamos de dois times e como Anabela e eu vamos jogar, já somos quatro. Ainda precisamos de quatro artilheiras, uma apanhadora, três batedores e duas goleiras. Quem não for participar do jogo ficará nas arquibancadas, torcendo. Vamos lotar o nosso campo de Quadribol, fazer barulho de verdade. A professora Rousseau será a nossa juíza e a professora Cecile sua assistente. A rádio de Beauxbatons também transmitirá o jogo, Danielle será a locutora e Nani e nosso amigo Kwon cuidarão para que ninguém a tire do ar. Alguém mais se candidata?
- Conte comigo - Charlotte, a irmã de Marcel, levantou a mão sorrindo - Sou uma ótima goleira, meus irmãos me fazem jogar todas as férias.
- Obrigada, Charlie - sorri agradecida para ela - Mais alguém?
Como era de se esperar, depois que a Princesa de Mônaco aceitou jogar, as mãos foram levantando uma a uma, e logo já tínhamos mais que o necessário para montar os dois times. Millie se comprometeu a jogar como apanhadora e ajudou a montar meu time junto com Anabela. Jude se juntou a Penny e Flora e rapidamente completaram o time adversário. Os dois times eram formados de meninas de todos os anos, todas bastante animadas em participar. As que ficaram de fora logo se uniram para criar cartazes e faixas para pendurar por todo o estádio, Olívia entre elas.
- Meninas, podem ter certeza que vocês estão fazendo parte de algo grande - a professora Cecile falou tão animada quanto às demais - Esse dia vai ficar marcado na história de Beauxbatons e todas vocês poderão dizer que estavam lá. Não tenho a menor dúvida de que vamos conseguir isso.
- Amém, professora. Amém! - Anabela falou empolgada e todo mundo riu, retomando o falatório.
Ela tinha razão. Estávamos prestes a fazer história em Beauxbatons.
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