A reunião de última hora convocada pelo diretor Diperma havia terminado e Shannon e eu fechamos a porta da diretoria sem dizer nada. Sean, Evan e Stuart estavam sentados no bando do corredor olhando apreensivos e trocamos um olhar desanimado, passando por eles ainda sem falar. Os três nos seguiram até o dormitório também em silencio, sem duvida com receio de perguntar o que tinha acontecido. Quando chegamos ao dormitório, puxei meu malão de debaixo da cama e o abri, começando a atirar os livros dentro.
- O que está fazendo, Gabriel? – Sean perguntou preocupado
- Quer ajuda, Biel? – Shannon sentou do meu lado e começou a dobrar as roupas que estavam na minha gaveta
- Sim, obrigado. Depois ajudo você com as suas... – falei desanimado, encarando o malão aberto
- Gente, o que está acontecendo? – Stuart soou desesperado – Por que estão arrumando as malas?
- Parem com isso! – Evan tomou o casaco que dobrava e o jogou de volta na gaveta – Falem alguma coisa!
- Não há o que falar – disse categórico – Estou voltando pra Beauxbatons amanhã cedo.
- E eu estou indo para Durmstrang, ficar com o Micah – Shannon completou
Houve um momento de silêncio, em que os três se entreolharam confusos, e em seguida o quarto se encheu de protestos. Os três falavam ao mesmo tempo atropelando as palavras, e Shannon e eu permanecemos em silêncio esperando que se acalmassem. Foi Evan que se calou primeiro e pediu que os outros dois ficassem quietos.
- Será que podem explicar melhor essa história? – disse calmo – Como assim você vai voltar pra Beauxbatons e você vai pra Durmstrang?
- E o nosso time?? – Sean interrompeu – E a nossa amizade? Vão nos abandonar como Micah fez??
- Não tivemos escolha! – falei me defendendo – Nós não estamos indo porque deu vontade, estamos indo porque não temos outra opção!
- Vamos poder explicar, ou alguém vai interromper outra vez? – Shannon disse irritada e os três sentaram – Melhor assim...
- O diretor nos chamou para conversar agora de manhã, porque recebeu uma denúncia anônima acusando Shannon e eu de sermos os autores do seqüestro do corvo – comecei a explicar – E a denúncia vinha com provas que nos incriminavam
- Diperma não tinha alternativa, o diretor do Kansas cobrou uma atitude dele, não podia deixar que isso passasse sem punição, afinal, não só seqüestramos o corvo como também o perdemos no jogo.
- Mas e quanto a nós três? – Stuart interrompeu – Também estávamos lá, também ajudamos! Vocês não fizeram tudo sozinhos.
- Quem quer que tenha visto o seqüestro, não viu vocês. Ele nos mostrou as fotos, e só eu e Shannon aparecemos.
- Enfim, como existem provas incontestáveis de que estávamos na “cena do crime”, ele nos deu duas opções, que na verdade virou uma só: ou éramos expulsos da escola, ou aceitávamos uma transferência imediata. Se optássemos pela transferência, ele entraria em um acordo com o diretor do Kansas para que isso não ficasse na nossa ficha escolar.
- Claro que optamos pela transferência. Sequer cogitei deixar que fosse expulso, minha mãe ia morrer! – falei rindo enquanto continuava guardando as roupas – Ela nem precisa saber o real motivo da transferência. Diperma garantiu que não contaria.
- MAS ISSO É UM ABSURDO! – Evan ficou de pé berrando – Como que o Diperma propõe algo assim a dois alunos? Cadê a ética?
- Ética? – Shannon soltou uma gargalhada – Desculpe, mas quero mais que a ética vá pro inferno nesse caso! Não quero ser expulsa, e em Durmstrang não vou ficar sozinha, tenho o Micah e outras pessoas!
- Isso não está certo! – Stuart ficou de pé também e começou a andar de um lado pro outro – Vocês não podem pagar o pato sozinhos! Por que não contaram que também ajudamos?
- Nunca ia entregar meus amigos – falei indignado por ele sugerir isso – Duas expulsões já foram ruins demais, não precisamos de cinco!
- Mas é errado, não podemos deixar que levem toda a culpa sozinhos! – Stuart insistiu e cutucou Sean – Vamos contar a verdade a ele, certo?
- Claro, isso não vai ficar assim – Sean o apoiou, mas meio incerto – Vocês vão embora e ficamos pra trás com a consciência pesada. Não dá!
- Ninguém vai contar nada a ninguém, ouviram? – Shannon falou em um tom ameaçador – Fiquem calados, não piorem as coisas!
- Desculpa Shan, mas dessa vez não vai me obrigar a ficar na minha...
Stuart abriu a porta depressa e disparou pelo corredor, decidido a entregar os demais seqüestradores ao diretor. Fiquei de pé em um salto e olhei para Shannon assustado, ele não podia fazer isso! Os outros dois correram atrás dele para ajudar e Shannon e eu saímos atrás dos três, tentando impedir. Descobrimos na pior situação possível que Stuart era um excelente velocista. Por mais que corrêssemos depressa, ele estava sempre com uma boa dianteira. Shannon ainda cogitou a hipótese de estuporá-lo, mas ficou com medo de machucá-lo e desistiu. Vimos quando ele praticamente arrombou a sala do diretor e a invadiu, Sean e Evan na sua cola. Paramos atrás deles derrapando, mas Stuart já estava abrindo o bocão.
- Mas o que é isso? – o diretor levantou assustado com a invasão
- Diretor Diperma, o senhor não pode fazer isso! Não pode punir apenas Gabriel e Shannon, porque eu, Evan e Sean também estávamos lá no Kansas no dia do seqüestro do corvo! E eu fui o responsável por soltá-lo, mas foi sem querer!
- Que história é essa, Sr. Carpizian?
- Cala a boca, Stuart, ou juro que te bato! – Shannon ameaçou entre os dentes
- Desculpe diretor, isso é tudo brincadeira – interrompi o empurrando para trás - Stuart achou que seria divertido pregar uma peça no senhor, mas eu avisei que não teria graça.
- Não é brincadeira não, é verdade! Por que eu brincaria com isso?
- Não sei Sr. Carpizian, talvez porque hoje é 1º de Abril e achou que não me lembraria... – Diperma falou impaciente e Stuart pareceu cair em si. Sean e Evan também – Não é o primeiro que tenta me pegar hoje, mas aconselho que no ano que vem escolha uma mentira que cause menos polemica. Já estou engasgado com o sumiço desse corvo e não preciso de mais acusações falsas. Agora voltem para seus dormitórios, por favor.
Deixamos a sala dele devagar, e enquanto Sean, Evan e Stuart caminhavam calados, Shannon e eu explodíamos em gargalhadas. Os três passarem pela gente com caras furiosas e sumiram pelo corredor sem dizer nada. Mas mesmo que eles estivessem chateados, não conseguia parar de rir. Era a primeira vez que pegava alguém em uma peça de 1º de Abril bolada em menos de cinco minutos, enquanto ouvíamos a uma tediosa reunião sobre as funções de um presidente de grêmio estudantil...
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