Sunday, February 25, 2007

Nem tudo é o que parece ser

Das memórias de Gabriel Graham Storm

Depois que saímos do barco, cada um foi para o seu lado. Ty saiu para conversar com Rory e davam sinais de que finalmente iam se entender, Miyako seguiu com os gêmeos para um café e eu desci com Mad para andarmos a toa. Nós passamos a manha inteira caminhando por Paris sem entrar em qualquer tipo de loja, até que resolvemos parar para almoçar em um dos diversos restaurantes da Champs Elysée.

- Vocês viram o Olivier por ai? – Manu chegou de repente com uma cara de poucos amigos
- Não... – respondi inocentemente – Na verdade, não o vi nem no barco
- É! Aquele safado! Mas ele vai me pagar...
- O que houve Manu?? – Mad perguntou preocupada
- Ele e mais aqueles 6 patetas dos amigos dele foram ao jogo! Foram assistir a final da Taça Européia de Quadribol e ele está fugindo de mim, porque sabe que se eu o encontrar, não deixo ele ir!
- É hoje?? – falei espantado e me arrependi em seguida – Desculpe.
- Se virem ele por ai me avisem imediatamente! A Nox vai perder um aluno, porque vou assassiná-lo!

Manu saiu marchando avenida abaixo e não consegui segurar o riso. E nem a Mad. Os 7 loucos que decidiram ignorar as namoradas e ir à final estavam condenados a morte por elas, sem sombra de dúvida.

- Bem que desconfiei que os meninos fossem... Luke e Dominique não falavam de outra coisa a semana toda! Não conseguia dizer o que os deixava mais animado: se era o jogo ou o 1º show dos Duendeiros depois da saída do vocalista principal...
- Ei, você quer ir ao jogo? – falei de repente, tendo uma idéia
- Até gostaria, mas não acho que vamos encontrar ingressos hoje...
- Tenho alguns contatos, posso conseguir entradas. Quer ir ou não?
- Quem você conhece?? – ela estava curiosa
- O ex-vocalista dos Duendeiros... Acabei de me lembrar que ele vai ao jogo, e pode nos deixar entrar
- Você só pode estar de brincadeira! Você conhece Ben O’Shea?? Como?
- Ele é, hmm, meu tio. Mais ou menos – não sabia ao certo como explicar, então optei por parar por ai - Você quer ou não? Preciso falar com ele logo.
- Quero sim, claro! Não acredito ainda que ele seja seu tio! Eu o adoro, foi horrível quando ele saiu da banda. Sabia que teve ate comoção dos fãs para impedir isso?
- Ele teve seus motivos...
- Aposto que agora a mulherada não o deixa em paz, o cercando 24hs por dia
- Não se preocupa com isso, ele é gay

Sabe quando você fala alguma coisa, e imediatamente se arrepende? Pois é, esse foi um desses momentos. Mad levantou os olhos me encarando como se tivesse acabado de contar a ela que o mundo ia acabar em algumas horas e iríamos todos morrer. Tapei a boca com as mãos, mas não havia como voltar atrás e torcer para que ela não tivesse ouvido.

- O QUE?? DIZ QUE É BRINCADEIRA!
- É brincadeira, falei por maldade – menti, mas não colou
- Merlin, é verdade! Ele é gay! – podia jurar que ela tinha lágrimas nos olhos – Como você tem certeza disso?
- Bom, ele é namorado do meu padrinho, por isso é meu tio... – agora não tinha mais jeito, só me restava contar logo – Desculpa, não era pra ter dito nada
- Não, isso não pode ser verdade... – Mad levantou da mesa e começou a andar de um lado para o outro. Estava começando a chamar a atenção das pessoas – Ele é tão lindo e... Não, isso não é justo! Preciso contar pra Manu!
- Não Mad! Não era pra você saber disso, acho que ninguém nunca soube e eu sou um fofoqueiro que fala demais. Não vai espalhar isso!
- Quieto! Você acaba de fazer meu mundo desabar, não fala mais nada!

Saímos do restaurante e não pude fazer nada a não ser ouvi-la contando para a amiga a descoberta. Manu reagiu de forma mais dramática ainda, chegando de fato a chorar. Aproveitei o momento de drama das duas e fui procurar um telefone publico para ligar para ele e pedir os ingressos. Quando voltei, ela já tinha guardado o espelho de duas vias e estava sentada desolada em um dos bancos da rua.

- Você está bem? – não sabia se me preocupava ou ria. Decidi não rir – Enquanto você estava espalhando a noticia, liguei pro tio Ben. Miyako vai conosco, ele já está nos esperando
- Ok, vamos então. Onde está sua amiga?
- Estou aqui, já cheguei! Não vou perder esse jogo, vamos embora!
- Você sabia que ele era gay? – Mad perguntou a Miyako ainda desolada
- Sabia... Triste, não? – Mi parecia dividir o que quer que ela estivesse sentindo e tive que rir – É porque você não conheceu o namorado...
- Parem vocês duas, por favor...

Elas riram e não tocaram mais no assunto durante todo o caminho até o estádio. Levamos apenas alguns minutos até lá e como combinado, tio Ben nos esperava do lado de fora, pela entrada dos fundos por onde passavam os mais importantes que não queriam ser incomodados. Mad quase esmagou minha mão quando o viu. Imagino o que teria feito se não soubesse que ele é gay...

- Por que demoraram tanto?
- Oi pra você também, tio Ben! – respondi brincando e ele riu, vindo abraçar a mim e a Miyako
- Cheguei a pensar que não iam me ligar para vir ao jogo. Onde está o Ty?
- Saiu com a ex-namorada. Ou namorada outra vez, não sabemos ainda... – Miyako falou confusa
- Pela demora, é namorada outra vez. Tio Ben, essa é a Madeline – e parei para pensar antes de continuar – minha amiga
- Muito prazer, sou a namorada dele – Mad esticou a mão para cumprimentá-lo – Ele tem medo de dizer, não se acostumou ainda...
- O que?? Mas foi você quem... eu não... – mas ela e Miyako riram e não consegui terminar a frase, tamanha era minha indignação
- Vamos entrar, Scott está esperando vocês

Tio Ben ainda estava rindo com elas da minha cara quando chegamos ao que parecia ser uma espécie de sala vip. Tio Scott estava no telefone e ouvi Mad cochichar algo no ouvido de Miyako que me pareceu como ‘é esse o namorado dele?’ com uma voz chorosa. Não consegui evitar revirar os olhos.

- Não Louise, isso vai ao forno. Microondas não resolve, sem contar que ele vai explodir – ele sorriu pra nós e fez sinal para não sairmos dali – No forno, e com papel alumínio, ou isso vai ser pro almoço de amanha – ele desligou o telefone com a minha mãe e veio até nós – Enfim chegaram!
- Não íamos perder um jogo desses nunca! – respondi animado o abraçando – E não, Ty não veio porque não o encontramos
- Não ia perguntar... Oi gata. – tio Scott puxou Miyako para um abraço sorrindo – E quem é essa? – ele perguntou, mas já sabia a resposta
- Essa é a Madeline – e mais uma vez olhei para ela, mas dessa vez senti que podia falar – minha namorada. Mad, esse é o Scott, meu padrinho.
- Muito prazer – ela esticou a mão outra vez – Já ouvi falar muito de você.
- Bem, acho que posso dizer o mesmo – ele apertou a mão dela sorrindo e o telefone tocou outra vez – Diga Louise! – ele fez uma careta e rimos – Como não acha o papel alumínio? Ok faz o seguinte... Corta essa abóbora em pedaços pequenos e esquece o camarão na moranga, faz um ensopado mesmo! – ela andava de um lado para o outro enquanto falava no telefone e o acompanhávamos com o olhar, rindo – Ora, você não encontra nada e não quero ninguém explodindo minha cozinha! Melhor, pede uma pizza e espera eu voltar que eu faço um jantar pra você, mais seguro – pude ouvir minha mãe xingando ele no telefone antes dele desligar – Vocês podem ir entrando, procurem os lugares, nós já vamos. Nicholas está sentado já, sentem perto dele

Assentimos com a cabeça e deixamos a sala em direção à tribuna de honra onde logo avistamos Nicholas. Havíamos conhecido ele no casamento dos meus pais e da mãe da Mi e o adoramos de imediato, ele era uma figura. Nick acenou assim que nos viu e sentamos ao lado dele. Senti a mão de Mad procurar pela minha e olhei para ela sorrindo.

- Ele é gay, tem um filho de 6 anos... Algo mais que deveria saber?
- Bom, se quiser, tenho uma lista de famosos gays... – ela arregalou os olhos e ri – estou brincando, não sei de nada!
- Vamos fazer um trato: mesmo que você saiba, não me conte mais, ok?
- Trato feito – ainda pensei em deixar pra lá, mas não consegui – então... Agora você e eu somos namorados?
- Bom... No nosso primeiro encontro oficial fora da escola você me apresenta seu padrinho, tio e primo. Se no segundo apresentar os pais e os avôs, acho que podemos até casar logo! – ela sorriu e enlaçou os dedos nos meus – sim, acho que sou sua namorada...

Sorrimos ao mesmo tempo e não dissemos mais nada. Finalmente havíamos chegado a um entendimento...

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