Sunday, May 01, 2011

Fevereiro de 1960

- Oi – Marcel apareceu se surpresa no jornal e me beijou – O que vai fazer sábado?
- Terminar esses artigos atrasados? – e mostrei a pilha de papel na mesa.
- O que acha de carros em alta velocidade correndo há duas semanas e finalmente cruzar a linha de chegada?
- Rally de Monte Carlo?
- Sim. Papai está em uma viagem de negócios, então tenho que estar presente pra entregar o troféu ao campeão, queria que me acompanhasse. Sei que você odeia esses eventos, mas podemos aproveitar pra jantar em algum lugar legal antes de voltar. E não vai ter ninguém preocupado com a minha vida social pra perguntar sobre casamento...
- Ok, já me convenceu. Que horas partimos?
- Esteja pronta às 8h, a chave de portal vai nos levar direto até o Palácio. Um carro vai nos buscar lá.

Assenti e ele me beijou outra vez, saindo da redação. Ele tinha razão, não gostava muito daqueles eventos que ele era obrigado a comparecer, mas se eu era sua namorada era melhor começar a me acostumar a eles.

ºººººº

Às 8h em ponto Marcel estava me esperando no salão comunal e, acompanhados de dois
de seus seguranças, usamos a chave de portal para chegarmos ao Palácio. Um minuto depois Charlotte e Remy apareceram com seus seguranças do nosso lado e entramos nos três carros que já estavam à nossa espera.

Os carros nos levaram direto ao local onde os pilotos cruzariam a linha de chegada e antes mesmo de abrirmos as portas eles já estavam cercados por muitos seguranças, que foram nos escoltando até a área do pódio. Já podíamos ouvir o barulho dos carros a toda velocidade pela cidade, mas ainda restavam algumas voltas para que terminassem. Marcel e Remy logo se empolgaram e não demorou nada para que dessem um jeito de darem a bandeirada final, deixando Charlotte e eu apenas olhando de longe com nossos protetores de ouvido.

A corrida terminou por volta das 10h e na hora da premiação, Remy entregou o troféu a dupla que ficou em terceiro lugar, Charlotte premiou os segundos colocados e Marcel deu o troféu à dupla campeã. A quantidade de flashes que disparavam contra os três era capaz de cegar até mesmo na luz do dia. Na hora que as duplas iam estourar as garrafas de champanhe os três se afastaram e Marcel se postou ao meu lado, não saindo mais durante o resto do evento. Estava ciente de que também estavam me fotografando junto dele, mas àquela altura do campeonato já não me importava mais. Não podia querer namorar o príncipe herdeiro e ficar anônima.

Charlotte e Remy voltaram para Beauxbatons logo depois do almoço no Palácio, mas Marcel e eu ficamos para aproveitar o resto da tarde e começo da noite. Mônaco era o único lugar onde ele podia andar um pouco mais a vontade nas ruas. Claro que sempre teria ao menos um segurança por perto, mas nenhum caminhando colado com ele. Passamos à tarde nas docas, que com o clima ainda um pouco frio, estava vazia. Marcel tinha um barco a vela que havia construído sozinho com Remy e todo ano eles participavam da regata de abertura do solstício de verão. Já haviam vencido três vezes, sendo a última no verão passado. Marcel quase foi decapitado fazendo uma manobra abusada para ultrapassar uma das velas perto da linha de chegada, enquanto o irmão controlava o mastro sozinho. E Remy ficou tão feliz com a vitória que a Rainha não conseguiu reprimir a irresponsabilidade de Marcel.

Precisávamos estar de volta à escola às 22h e como ainda tínhamos duas horas até lá, Marcel me levou para jantar em um restaurante italiano na parte alta de Monte Carlo. Sua família já tinha uma mesa especifica em uma área mais reservada e fomos direto para ela, onde a janela panorâmica nos dava toda a vista da beira-mar. Estávamos conversando sobre as comemorações do aniversário do avô dele, que seria em maio, quando o relógio de Marcel disparou. Ele o desligou, mas daí em diante não parecia mais concentrado em nada e o consultada a todo o instante.

- Algum problema? Está atrasado pra alguma coisa e esqueceu de avisar?
- Desculpe, é que está na hora dos remédios do Remy e ele sempre esquece, tenho que lembrá-lo. Charlie ficou encarregada disso hoje, mas e se ela esquecer?
- Charlotte é responsável, Marcel – segurei sua mão, que não parava de batucar na mesa – Ela não vai esquecer do Remy.
- Sempre que saio sem ele, fico pensando se quando voltar ele ainda vai estar no mesmo lugar.
- Remy está bem, ele vai estar do mesmo jeito que saiu daqui quando chegarmos a Beauxbatons.
- Eu sei que é exagero, mas é que sempre que ele piora é tão de repente que não podemos evitar. Em um minuto ele está rindo e brincando e no instante seguinte está quase desmaiando e tendo convulsões. Sou muito idiota de ficar pensando que meu irmão pode morrer de repente e eu não estar lá?
- Não, você é o melhor irmão do mundo. Remy o admira tanto, acho que você nem percebe o quanto. Só de estar sempre do lado dele já o ajuda muito, às vezes mais que todos os remédios que precisa tomar.
- E você faz o mesmo por mim – ele acariciou minha mão e sorriu – Queria lhe dar uma coisa, mas não precisa se apavorar, ok? É só um presente, eu juro.
- Marcel... – ele colocou a mão no bolso e tirou uma caixinha azul, com um anel lindo dentro.
- Quando minha avó estava doente e sabia que ia morrer, ela reuniu todos os netos e pediu que cada um escolhesse algo de sua coleção particular para guardar como recordação dela, mas a mim ela não deixou escolher. Como seu neto mais velho, ela pediu que eu ficasse com esse anel e um dia o desse a alguém especial. Você é esse alguém especial.
- Mas Marcel, não posso aceitar o anel da sua avó. Isso é valioso demais e ainda sou só sua namorada!
- Exatamente, ainda. Só temos 18 anos, ainda nem nos formamos, não temos que apressar nada, mas eu amo você, Olivia. E se você também me ama, e me agüentar por mais alguns anos, vou transformar esse anel em um anel de noivado. Mas até lá, quero que fique com ele. Não precisa usar se não quiser, apenas guarde com você.
- Se você tem certeza disso, não me importo em usar – sorri para ele e tirei o anel da caixa.
- Posso? – ele o pegou da minha mão e estendi a mão a ele.

Ele segurou minha mão direita, colocou o anel em meu dedo e o beijou. Acho que se estivesse de pé teria desabado naquele momento. Sabia do peso que aquilo trazia, mesmo não tendo havido um pedido de casamento, mas também sabia que amava Marcel e que, com o tempo, o que tivesse que acontecer, ia acontecer. E eu não ia fugir do que estivesse reservado para o meu futuro.

Naquela noite, quando já estava em minha cama no dormitório da Lux Angeli, foi a primeira vez desde que comecei a namorar Marcel que sonhei com um conto de fadas de príncipes e princesas.

Sunday, January 09, 2011

Dezembro de 1959

Dois meses já haviam se passado desde que Marcel e eu começamos a namorar. Se alguém tivesse me dito ano passado que isso ia acontecer, eu jamais teria acreditado. Marcel e eu éramos muito diferentes um do outro, sempre o vi como o mais imaturo do nosso grupo, o mulherengo e irresponsável, mas no tempo que passamos juntos fingindo que namorávamos comecei a ver outro lado dele, e não tive como negar que não estava ao menos um pouco balançada quando ele me pediu em namoro.

Decidi que precisava dar a nós dois aquela chance, e a cada dia que passava ele me surpreendia mais. O Marcel meu amigo era completamente diferente do Marcel meu namorado. Ele era carinhoso, romântico e muito atencioso. Não o via mais agindo como um idiota pelo castelo nem se metendo em confusão, era uma outra pessoa. Nossos amigos diziam que eu estava fazendo bem a ele, mas ele também me fazia bem. Com Marcel, eu conseguia me soltar um pouco mais. Ainda não da forma que eu gostaria, mas estava fazendo progresso aos poucos.

Meu medo maior ainda era a família dele. Mesmo já estando mais do que acostumada aos seus pais, era diferente quando tinha que estar ao lado dele em algum evento oficial. Eu agora era a namorada do Príncipe, e era inevitável que algumas pessoas nos perguntassem sobre casamento. No começo eu tinha crises de pânico, mas vinha ensaiando há semanas para o que prometia ser o dia em que mais me perguntariam isso: o jantar de Natal no Palácio.

Não era simplesmente um jantar com a família Real, que já seria intimidador o suficiente. Era um jantar com toda a alta sociedade francesa presente. Nossa família foi convidada a participar e dessa vez Andreas não pode recusar o convite e nos acompanhou. Danielle também estava lá, o que me tranqüilizou mais um pouco. Depois da morte de seu avô, ela e os irmãos haviam sido praticamente adotados pela mãe de Marcel, então eles faziam questão da presença dos três. E para a alegria dela, Henri, seu namorado, também estava presente. Como donos do St. Napoleon, a família dele era sempre convidada para esses eventos oficiais.

Já havíamos passado pelo jantar, onde tive que agüentar Estelle sentada bem na minha frente e lançando olhares furtivos na direção de Marcel. Sempre que pegava ela nos encarando, acariciava a mão dele, o que sempre o fazia me beijar ou falar alguma coisa no meu ouvido. Isso a deixava enlouquecida, e vê-la surtando me ajudava a relaxar. Mas depois que o jantar acabou, começou meu desespero. Marcel era requisitado a todo o momento em alguma conversa e eu estava sempre ao lado dele. Ele me apresentava às pessoas como sua namorada e 70% delas emendava com “Quando vai se tornar sua noiva?”. Depois de ouvir isso pela quinta vez, comecei a me sentir mal.

- Com licença, Sr. Dekker – Marcel estendeu a mão ao homem, que a apertou – Olivia não está se sentindo muito bem, depois conversamos melhor.
- Desculpa Marcel, mas as pessoas estão me assustando! – falei enquanto ele me puxava para longe das pessoas – Só estamos namorando há dois meses!
- Eu sei disso, não se preocupe – ele riu. Parecia estar se divertindo – Só tente entender o lado deles. Tenho 18 anos e você é a primeira namorada que apresento às pessoas, as cobranças são inevitáveis. Mas não se preocupe com isso, sei que é cedo demais. Quando perguntarem disso outra vez, só balance a cabeça e sorria.
- Onde estavam? – Andreas abriu a porta da biblioteca e entramos. Ele estava lá com Henri e Danielle, fugindo das conversas formais – Vocês estavam bem atrás da Dani.
- Fui pego pelo Ministro antes de conseguir alcançar a porta. Liv não está se sentindo muito bem, cuidem dela que eu já volto – ele me beijou e saiu apressado.
- Está passando mal? – Dani perguntou já me colocando sentada no sofá.
- Não, só estou sufocada com essas pessoas perguntando quando vamos nos casar – minha voz estava esganiçada – Casar! Estamos namorando há dois meses!
- Mas você queria o que? – os três riam – Marcel nunca foi uma promessa de formar família e assumir o trono, e de repente aparece com uma namorada que está colocando ele na linha. É lógico que as pessoas que sempre tiveram muitas de expectativas para ele vão pressionar.
- Você está muito tensa, mana – Andreas sentou do meu lado e puxou um frasco de remédio do bolso, com uns comprimidos verdes – Tome isso, vai ajudar você a se acalmar e relaxar.
- O que é isso? – peguei o comprimido da mão dele incerta.
- Só um calmante, trouxe caso você precisasse.

Confiei em Andreas e engoli o comprimido sem pensar duas vezes. Até hoje digo que aquele foi o maior erro da minha vida. Nos primeiros minutos estava tudo normal, mas aos poucos fui começando a sentir um calor absurdo, uma inquietação fora do comum. Depois comecei a ver pontinhos brilhantes e ai minha mente sofreu um blackout. Em um minuto estava na biblioteca suando em bicas e minha próxima lembrança é estar deitada na cama do Marcel, com uma dor de cabeça desesperadora e sem saber o que havia acontecido.

ºººººººº

Olívia estava começando a se sentir apavorada com toda aquela pressão em cima do nosso namoro de apenas dois meses e eu sabia que precisava deixá-la tranqüila em relação a isso, dizer que não precisava se preocupar com nada, mas a verdade era que, se dependesse de mim, a pediria em casamento naquela noite mesmo. Sempre fui desencanado em relação a isso, ignorava a pressão da minha família em encontrar alguém para me casar, não me importava. Mas quando percebi que estava apaixonado por ela, sabia que havia encontrado a pessoa certa, o único problema é que levaria um tempo até que eu pudesse dizer isso a ela.

Depois de perguntarem pela quinta vez quando anunciaríamos o noivado na mesma noite, achei melhor deixá-la com Andreas e Dani na biblioteca e ir terminar sozinho de cumprir minhas obrigações. Não demorei muito do momento em que sai da biblioteca sem ela para conversar com chefe dos Aurores até ter conseguido me livrar dos apertos de mão e voltado para ficar com eles, mas quando entrei na biblioteca outra vez, parecia estar em um mundo paralelo. Olívia estava em cima da mesa de leitura, Andreas estava rindo jogado em uma poltrona e Danielle e Henri tentavam tirá-la de lá. Olívia pulava e ria de um jeito um pouco assustador, nunca a vi daquele jeito.

- Marcel! – ela me viu e saltou da mesa até onde eu estava. Vi Danielle congelar, achando que ela ia dar com a cara no chão – Por que demorou tanto? – e me beijou cheia de vontade.
- Desculpa – olhei pra Dani sem entender nada e a segurei pela cintura, pois já estava caindo – O que aconteceu aqui?
- Andreas deu a ela um “calmante” – Henri falou sério, e Andreas ria ainda mais.
- Que porcaria você deu pra sua irmã, seu retardado? – perguntei preocupado. Olívia estava completamente alucinada.
- Nada demais, só uma coisinha pra ela se soltar mais. Não vai fazer mal, e ela dificilmente vai se lembrar.
- Estamos desde então impedindo que ela saísse, ela estava querendo ir atrás de vocês – Dani disse também séria. Só Andreas estava achando graça.
- Vamos meu amor, quero dar uma volta pelo jardim do Palácio! – Olívia se soltou do meu abraço e agarrou minha mão com uma força que não conhecia.
- Liv, tem certeza? Talvez seja melhor ficarmos aqui, você está um pouco... – tentei encontrar uma palavra delicada, mas não consegui.
- Eu estou ótima, nunca me senti melhor! Vamos logo!
- Viu? Ela está feliz.

Consegui lançar um último olhar furioso para Andreas antes de ser arrastado para fora da biblioteca por ela. Antes que chegássemos ao meio do salão cheio de convidados consegui assumir o controle da situação e passei a mão por trás da sua cintura de modo que ela estivesse bem presa e não pudesse sair, e ia guiando-a pela sala. As pessoas nos viam e acenavam, chamando para conversar, mas eu apenas sinalizava que voltaríamos depois e apertava o passo. Uma conversa com Olívia naquele estado poderia terminar em catástrofe. Os pais dela não podiam vê-la daquele jeito, e muito menos os meus. Papai ia começar a me interrogar para saber o que ela tinha tomado e o que aquilo significava.

Conseguimos chegar aos jardins com muito custo. Uma neve fraca caia e tinham muitas pessoas circulando lá fora também, mas era melhor que dentro do Palácio. Olívia se soltou de mim e correu até uma fonte que tínhamos no pátio principal. Ela subiu na beirada e não queria arriscar ver se ela ia pular ou não, corri atrás dela e a agarrei pela cintura, colocando-a no chão outra vez. Tentava fazer parecer que estávamos brincando, porque algumas pessoas já estavam olhando estranho. Ela jogou os braços em volta do meu pescoço e deixou o peso do corpo cair sobre mim e cai sentado na beirada da fonte, com ela escorrendo no meu colo.

- Sente um pouco aqui, Liv – coloquei-a sentada ao meu lado e ela obedeceu.
- A noite está tão linda... – ela comentou vaga, olhando pro céu. Apesar do frio e da neve, estava estrelado. Prendi o riso quando ela pegou um floco de neve com a língua.
- É, está muito bonita mesmo. É a perfeita noite de natal.
- Estou muito feliz com você – ela deitou a cabeça no meu ombro – Eu te amo, sabia?

Por um breve segundo eu congelei. Olívia tinha acabado de dizer que me amava? De verdade? Ela estava sob o efeito de drogas, mas ainda assim, só estava se sentindo mais a vontade para fazer coisas que não tinha coragem. Olhei para ela sorrindo e ela sorriu de volta, piscou duas vezes e apagou, caindo por cima de mim. Segurei-a depressa antes que caísse no chão e a coloquei deitada com a cabeça no meu colo, pensando em como ia tirá-la dali sem alarde.

- É, eu também te amo – e beijei sua testa. Era mesmo a noite de natal perfeita.

Monday, February 08, 2010

Por Millie Von Griffin

- BAM!
- O que é isso?- peguntei olhando o bolo de cartas que Andreas jogava em cima de minha mesa no jornal.
- Isso Millicent Von Griffin É uma intervenção! Sabe que como seus amigos, temos o direito de intervir em uma situação sempre que acharmos que isso esta te prejudicando, e este é o caso.
- Vocês estão se intrometendo em minha vida pessoal....- comecei a dizer mas ele me cortou:
- Veja só: Isso são cartas dos ouvintes da rádio querendo saber como vai ficar a novela, já que eles querem saber se Louis vai enfrentar a familia para fazer valer o seu amor pela pobre camponesa Marienne.- e ante o meu olhar espantado ele disse:
- Sim, a novela fez um tremendo sucesso. Não sei se notou mas muitas garotas andam circulando pelo castelo, cantarolando a musica da serenata do mocinho, eu até tenho sonhado que canto Suspicious Minds, sabia?? E então? Ele vai tomar uma atitude ou vamos ter que dizer no ar, que a novela não vai mais ser exibida, porque a autora está zangada demais por ser uma ótima escritora? Vai deixar seus amigos na mão?- perguntou sério Andreas, e atrás dele estavam os outros membros da rádio apreensivos. Olhei-o séria mas meus olhos se voltaram para o monte de cartas dos fãs.
- Gostaram mesmo?
- Sim, e até a professora Cordelia veio me perguntar se o diretor não permitiria aumentar os dias de funcionamento da radio, só por causa da novela...- disse Kwon e não pude deixar de me espantar.
- Está bem, vocês venceram. A novela pode ser exibida, e se quiser ajudo na montagem dos capitulos para ir ao ar e se o diretor permitir...
- Vou falar com ele agora...- disse Kwon saindo da sala apressado e rimos. Jude se aproximou e perguntou curiosa:
- Mas então, Louis vai mesmo enfrentar a familia para ficar com Marienne??
- Aguarde os próximos capitulos.- disse com uma voz de locutor de rádio, e começamos a rir, mas um olhar para a pilha de papeis em nossas mesas nos fez voltar ao trabalho.

Durante a festa de aniversário de Andreas e Olivia, no salão da Lux

Depois de resolver com o pessoal da rádio sobre a novela, e deixar com eles, os proximos capitulos para serem estudados, eu comecei a ajudar na organização da festa de Andreas e Olivia. Meus amigos, vinham falar comigo sobre as boas intenções de Tristan, mas quando eu mostrava meu mau humor e começava a enumerar todas as coisas que estava fazendo, e o quanto estava ocupada demais pra pensar nisso, eles ficavam quietos. AJ ficava inconformado, mas Alice o acalmava dizendo que eu precisava de tempo, e eu a olhava agradecida.
Havia tanta coisa a ser feita, tanto a estudar pelos NIEMS, o jornal, o anuário, que a minha briga com Tristan havia sido deixada de lado. Ele havia tentado se aproximar durante a semana, mas eu o ignorava e ele desistia.
Hoje durante a festa, ele estava quieto num canto e vez ou outra nosso olhares se encontravam. Nos olhávamos, mas eu logo virava o rosto, não queria ceder, mas pelo canto do olho, eu o via segurar segurar sua cerveja amanteigada e recusar dançar com algumas garotas mais atiradas.
- Você deveria dar uma chance ao Tristan, Millie. Ele está se sentindo péssimo, e quer se desculpar com você...- disse Yanic, enquanto dançavamos uma música dos Beatles.
- Você advogando pelo Tristan? Nossa! Devo ser uma péssima companhia, já que você me quer longe.- disse fazendo biquinho e ele me girou dizendo, enquanto me abraçava de forma galante:
- Sabe que se eu percebesse que teria alguma chance, te convidaria para sair, mas o fato de você fingir que flerta comigo enquanto dançamos e disfarçadamente verificar se Tristan, está vendo o quanto você ‘se diverte’ me coloca em meu devido lugar: um amigo, e eu quero ver vocês dois bem.
- Estou sendo patética e intransigente não é?
- Não diria tanto,você teve suas razões para ficar zangada, afinal sua privacidade foi invadida. Qualquer um perderia as estribeiras. Ele te ama, e só pensou no melhor para você. Não acha que ele já sofreu o bastante? Não acha que em nome dos velhos tempos, você deveria dar a ele a chance de se explicar?
- Você tem razão...Droga! Porque eu não me apaixonei por você??
- Porque Thorn chegou primeiro, e o mundo feminino não deve ser privado de alguém como eu tão cedo.- rimos e depois de dançarmos fomos nos sentar.
Não demorou e Tristan se aproximou, Yanic me olhou e após ver um leve aceno meu, saiu dando a desculpa de que iria buscar uma bebida. Tristan me olhava cauteloso e como estava começando uma musica lenta, ele me convidou para dançar me estendendo a mão. Demorei alguns segundos a mais em aceitar, fazendo-o suar, mas acabei pegando em sua mão. E quando ele colocou a mão em minha cintura e me puxou para ele, eu já estava com as pernas bambas, e porque não confessar, já havia esquecido porque estava zangada, eu só pensava em como eu pude ficar longe dele, por tanto tempo.
- Sei que fui um idiota, mas eu so queria fazer algo bom pra você. Você tem razão em ter ficada magoada comigo, e eu sinceramente espero que você me perdoe.
- Tristan, eu realmente fiquei muito zangada com você, afinal você mais do que ninguem, sabe o que é não ter sua privacidade respeitada, mas eu sei que você nunca quis me fazer mal, sei o quanto se preocupa comigo.
- Senti sua falta, mesmo que fosse para brigarmos.- ele sorriu e me puxou mais para perto, mas eu o empurrei levemente e disse o encarando:
- Eu desculpo o que você fez, Tristan, mas eu gostaria de saber, porque o fez, mesmo correndo o risco de me ver zangada. – e ele me segurou firme dizendo:
- Porque eu amo você. Quero faze-la feliz, e sei que se você me der uma chance posso...- o puxei-o para mim e o beijei. Quando nos separamos eu disse:
-Eu também amo você Tristan, há muito tempo. Só não quero mais que você tome atitudes que tenham a ver conosco, sem me consultar, promete?
- Prometo.
Continuamos a dançar e depois resolvemos escapar para algum lugar onde houvesse mais privacidade. Estava na hora de recuperar o tempo perdido.

I will follow you
And bring you back where you belong
'cause I could't really stand it,
I admit that I was wrong,
I wouldn't let you leave me
'cause it's true,
'cause you like me too much and I like you.


Música: Trecho da música: You Like me too much, The Beatles

Friday, February 05, 2010

- Todos prontos? – Andreas pegou o apito da mão de Philipe e ficamos em posição de corrida – 1, 2, 3... JÁ!

Assim que ele assoprou o apito com força, disparamos para dentro do lago. Philipe abraçava uma goles a protegendo e Kwon e Bianca corriam colados com ele. Alphonse e eu tínhamos um bastão leve e uma bola de meia cada um, Leví já estava posicionado entre as bóias no meio do lago e Alexis corria junto dos artilheiros. Correndo do outro lado, o time da Fidei vinha ao nosso encontro. Era nossa versão aquática para o quadribol. Philipe e o capitão da Fidei, Royer, decidiram que deveríamos treinar dessa forma, porque além de ser divertido, era muito mais difícil correr na água do que voar, então se conseguíssemos fazer aquilo, não teríamos dificuldade no campeonato. Os times concordaram em trabalhar juntos nesse treino.

A partida realmente foi divertida. As funções de cada um continuaram as mesmas, e enquanto Bianca, Kwon e Philipe corriam pela água tentando proteger a goles dos artilheiros da Fidei e marcar gol contra eles, Alphonse e eu rebatíamos as bolas de meia contra para todos os lados, sem conseguir distinguir muito bem quem era quem com toda aquela água. A rivalidade dos times ainda estava lá, mas com muito menos intensidade, e nos permitíamos rir dos tombos e jogadas erradas. Segundos antes de Andreas apitar o fim do treino, Kwon estava com a goles na mão pronto para arremessá-la, mas foi interrompido por uma massa de gente que voou por cima dele. Os dois batedores da Fidei pularam pra cima do japa e Alphonse e eu nos atiramos também para impedir, e ele acabou afundou na água, deixando a goles livre. Bianca a recuperou antes do time adversário, mas Andreas apitou o fim da partida.

- Samurai, está bem? – puxei Kwon pela camisa de dentro da água e ele só ergueu o polegar pra cima – Ele está vivo!

Kwon saiu da água meio desnorteado, mas caminhando sozinho, e Philipe e Royer declararam o fim do treino aquático, prometendo marcar outro antes do fim da temporada. Quadribol estava ficando mais complexo a cada dia.

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O treino de quadribol aquático da noite anterior havia sido divertido e o assunto do dia durante as aulas, mas fomos obrigados a afastar a imagem de Kwon se afogando por um instante, pois tínhamos preocupações maiores naquele momento. No próximo sábado era aniversário de Olivia e Andreas e toda a Lux estava empenhada em ajudar nos preparativos da comemoração. Mesmo com Olivia protestando que não queria nada exagerado, Andreas pregava por uma festa histórica e como eles eram obrigados a dividir a data, optamos por dar ouvidos apenas a Andreas.

Já eram quase 20h e agora que estávamos proibidos de apresentar a novela até que Millie se acalmasse, Kwon estava inventando programas para a rádio e achei melhor ir ajudá-lo. Talvez fosse minha única oportunidade de conversar com ele sem mais ninguém por perto e aproveitei que todos estavam ocupados demais decidindo quem seria barrado para sair sem ser notado. Como previ, ele estava sozinho na sala quando entrei.

- Precisa de ajuda? – bati na porta e ele virou para ver quem era. Estava todo agasalhado, como se dentro da sala estivesse nevando – Vai esquiar?
- Estou doente – respondeu com a voz esquisita e percebi que não era o áudio da radio que estava ruim – Lago no inverno não é uma boa idéia.
- Porque não falou nada? Podia ter vindo pra rádio mais cedo.
- E deixar você sozinho aqui? Estou doente, mas não perdi minha sanidade ainda.
- Deixe disso, não vou falar nenhuma bobagem! – empurrei Kwon para o lado e ele ainda protestou, mas seu nariz vermelho e cara abatida acabaram cedendo.

Assumi o controle da rádio e depois de falar algumas gracinhas no ar que fizeram Kwon tossir engasgado, programei uma seqüência de 10 musicas para tocar sem intervalo. Isso me daria tempo de sobra para conseguir fazer Kwon falar o que eu queria ouvir. E antes mesmo que eu pudesse pensar em como chegar ao assunto, a porta da rádio abriu e Nani entrou trazendo um chá quente para ele, a mando da enfermeira. Ela não ficou nem cinco minutos lá dentro, mas foi tempo suficiente.

- Há quanto tempo estão namorando em segredo? – perguntei quando ela saiu da sala e Kwon me olhou espantado.
- Não estamos namorando, seu doente. Ela é minha irmã.
- Ah qual é, Samurai? Pra cima de mim? – debochei e ele fechou a cara – Se não estão namorando, estão em um joguinho de flerte bem avançado.
- Você está louco, Nani e eu somos amigos e irmãos, mais nada.
- Olha no meu olho, Kwon, e nega que você goste dela. Mas olha pra mim pra negar isso, quero ver você sua cara de pau pra mentir na minha cara.
- Eu gosto dela – Kwon admitiu depois de retorcer a cara por quase um minuto.
- E ela gosta de você também, está esperando que você tome uma atitude.
- Isso nunca vai acontecer, ela é minha irmã. Meu pai me mataria e Kalani ia me odiar.
- E se eu te disser que posso ajudar com isso?
- Como?
- Apenas confie em mim e faça o que eu disser. Até sábado vocês estarão juntos.
- Não sei...
- Relaxe, Kwon – bati nas costas dele de leve - Ninguém pode te odiar ou julgar por gostar de uma garota que passou a ser sua irmã aos 14 anos.

Kwon ainda estava receoso, mas acabou aceitando minha ajuda e apertamos as mãos para selar o acordo. São dois elfos com um feitiço só: ajudava um amigo a desencalhar e deixava o caminho livre pra mim. Tão fácil como tirar doce de criança.

ººººººººº

A festa de aniversário que meus amigos organizaram para Andreas e eu lotava o salão comunal da Lux. Sem darem ouvidos as minhas exigências e levando em conta apenas o que Andreas queria, o que eu queria que fosse uma comemoração menos chamativa havia se transformado em uma festa com quase toda a população de Beauxbatons espremida dentro da nossa casa. Tinha um aluno da Nox comandava a Jukebox e as portas e janelas haviam sido equipadas com abafadores de som, dessa forma nenhum barulho sairia dali e chamaria a atenção dos professores. O transporte dos alunos de outras casas até a Lux foi organizado por Kalani e Anabela, que cuidaram para que viessem em pequenos grupos de 5 para não tumultuar os corredores. A comida ficou toda nas mãos de Danielle e Bianca, que encomendaram tantos doces e comidas salgadas em um restaurante bruxo de Paris que eu começava a ficar feliz por ter toda aquela gente, ou nunca daríamos conta de comer aquilo tudo.

- Está gostando da festa? – Danielle se atirou no pufe ao meu lado com uma caneca de cerveja amanteigada na mão e derrabou quase tudo – Ops! Desculpa!
- Acho que já chega de cerveja pra você, não acha?
- Hoje é dia de celebrar, você e Andreas estão fazendo 18 anos! Os mais velhos da turma! Por que está com essa cara feia?
- Não estou de cara feia, estou gostando da festa. Não posso sentar por cinco minutos?
- Não, não pode – Marcel surgiu na minha frente e pegou minha mão, me puxando pra cima dele – Vamos dançar!

Marcel me puxou para o meio da pista improvisada no salão comunal, onde a maioria dos alunos se espremia para dançar twist, a nova febre das festas. As músicas eram um de grupo novo chamado The Beatles, que só Marcel parecia conhecer, mas fizeram muito sucesso na festa. O som era bom e me deixei levar pela música animada, mas empaquei de repente no meio da pista quando meus olhos viram Kwon dançando com Nani, e para o meu total choque, eles estavam se beijando.

- O que foi? – Marcel parou de dançar quando viu a minha cara.
- Eles não são irmãos? – perguntei sem reação e ele entendeu o que estava olhando.
- Vem pra cá – e saiu me rebocando da pista até um canto da sala.
- Como isso aconteceu? Quando isso aconteceu? – perguntei ainda tonta.
- Foi essa semana. Ontem, pra ser mais preciso. Kwon me disse que eles estavam apaixonados, já tinham conversado com Kalani e não precisavam mais esconder.
- E você não me contou nada? – bati em seu braço, mas não sabia se por raiva ou impulso.
- Sinto muito, Olivia, mas Kwon nunca olhou pra você do jeito que olha pra Nani – Marcel foi cruel em dizer aquilo e o olhei chocada – Ele a vê como vocês são, apenas amigos. Nunca passou disso e nunca ia passar.
- Porque está falando assim comigo?
- Porque quero que você pare de correr atrás de quem não quer nada com você e preste atenção em quem quer.
- Ninguém quer nada comigo, Marcel. Essa idéia idiota toda deveria gerar alguma reação nele, mas não aconteceu nada.
- É, acho que no fundo, vocês são almas gêmeas mesmo – Marcel soltou uma risada nervosa e debochada – Kwon nunca percebeu que você gostava dele e você também não percebe o obvio!
- Do que você está falando? Que óbvio eu não percebo?
- Que sou eu que gosto de você!
- O que? – falei depois do que pareceu uma eternidade em silêncio.
- Eu sei que não era pra ser assim, mas passar todo esse tempo com você só me fez bem, eu nunca fui tão feliz contando uma mentira. Foi inevitável não me apaixonar por você.
- Apaixonar? Marcel, o quanto você bebeu hoje?
- O bastante pra ter coragem de ser sincero com você, mas não o suficiente para não saber o que estou dizendo ou me arrepender. É a dosagem perfeita – como eu não disse nada, ele continuou – Sei que vai dizer que gosta do Kwon, mas ele agora tem namorada. Se antes não aconteceu nada, não vai ser agora que vai acontecer. Ele não está disponível pra você, mas eu estou. Eu sei que você me acha imaturo e bobalhão, mas acho que nesses 7 meses provei que posso ser um cara legal.
- Eu nunca disse que você era imaturo e bobalhão.
- Mas não anula o fato de que pensava. Me dê uma chance de provar que posso fazer você feliz.

Antes que eu pudesse reagir, fui puxada para o meio do salão por vários pares de mão enquanto um carrinho com o bolo era empurrado até meu irmão e eu. O parabéns acabou quem ainda não tinha nos cumprimentado veio nos abraçar, mas quando me vi livre da multidão, já não encontrei mais Marcel. Danielle percebeu minha expressão frustrada e perguntou o que tinha acontecido. Decidi ser sincera e contei toda a historia, desde o começo em Julho até 5 minutos atrás, quando Marcel confessou estar gostando de mim.

- O que eu faço? – perguntei completamente perdida.
- COMO ASSIM O QUE VOCÊ FAZ? – Danielle gritou e algumas pessoas olharam – Quer saber o que você faz? Vai até lá e se atira nos braços dele, ora!
- Assim sem mais nem menos?
- Eu não te entendo, Liv, sério. Você tem o estereótipo da garota que sonha com o dia que o príncipe encantado vai aparecer e viver com ele feliz para sempre, e quando tem um príncipe de verdade se dizendo apaixonado por você, você recua! Tudo bem que ele não é encantado e ta mais pra vir numa vassoura do que num cavalo, mas é o garoto mais disputado da escola, aos seus pés. Quase todas as meninas daqui queriam estar no seu lugar E VOCÊ ESNOBA!
- Eu não estou esnobando, só nunca imaginei ouvir isso dele e fiquem sem reação!
- Fale a verdade pra mim. Nesses 7 meses que vocês fingiram namorar, você não se pegou nem ao menos uma vez imaginando como seria se fosse verdade? Não pensou nem por um segundo que talvez pudesse enxergar Marcel de uma forma diferente? – não respondi nada e ela riu – Bom, dizem que quem cala consente, não é? Você não tem nada a perder, amiga.
- Tenho sim, a amizade dele se isso não der certo. Gosto do Marcel e não quero me afastar dele se as coisas não saírem como ele fantasiou.
- Mas e se ele for o “escolhido” – ela brincou com o jeito de falar e ri um pouco – E se Marcel for a pessoa com quem você vai passar o resto da sua vida, casar e ser feliz? Somos todos amigos desde que ainda usávamos fraldas, ele não vai se afastar de você caso não dê certo. Não acha que vale a pena pagar pra ver?
- Acho que ele ficou chateado, nem o vi por perto quando estavam cantando parabéns.
- Sua chance de se redimir é agora, olha ele ali.

Danielle apontou pro outro lado do salão comunal, onde Marcel estava sentado sozinho vendo as pessoas dançando, e ria sem muita empolgação de alguma que Philipe e Kalani diziam. Deixem Danielle sozinha no sofá e fui até o outro lado, parando na frente dele e estendendo a mão. Ele me olhou surpreso, mas segurou minha mão se levantando e no mesmo instante o beijei. Quando me afastei, ele tinha um sorriso tão verdadeiro no rosto que era impossível não sorrir também. Danielle tinha razão: não sabia se ia dar certo, mas valia à pena tentar.


Well she looked at me, and I, I could see
That before too long I'd fall in love with her.

Whoah, we danced through the night,
And we held each other tight,
And before too long I fell in love with her.

I Saw Her Standing There – The Beatles

Tuesday, January 19, 2010

Janeiro de 1960

Após umas férias de final de ano agitadas, era hora de voltar para a escola e continuar com a nossa rotina de estudos para os NIEM’s. AJ demorou a voltar e todos estávamos preocupados com ele, claro Alice estava mais, mas Tristan estava tenso, com a demora de nosso amigo, eu era a única dos três a tentar manter a calma, mas estava ficando dificil. Não poderia dizer a eles que eu mantinha a calma, porque meu cunhado Kyle, de uma forma que ele não havia me explicado, tentava monitorar a segurança dos Chronos, e ele apenas me dizia que AJ e a mãe estavam bem, que logo eles estariam em casa. E com o estado delicado de Alice, eu não queria assusta-la, não quando nem eu conseguia entender direito, que tipo de auror era o meu cunhado.

Cada um de nós, tinha seus próprios problemas para resolver e eu não era uma exceção, já que eu também era a editora do jornal da escola e tinha muitas coisas para decidir e fazer, antes de nos formarmos.

- Ok, já temos a matéria de capa, e preciso colocar um aviso para os alunos do sétimo ano, que na próxima semana faremos as fotos para o anuário...- eu disse enquanto riscava mais um item da agenda e engolia um pouco de suco de abóbora do jantar.
- De novo? Mas já nos fotografaram a semana passada. – remungou Andreas e eu respondi:
- Agora serão as fotos individuais, onde cada um de nossos amigos poderá assinar e deixar uma dedicatória, algo mais descontraído... Nada parecido com um selo comemorativo.- provoquei:
- E ela era tão quietinha quando chegou aqui...É...más companhias fazem isso.- ele respondeu e
ele e Tristan bateram as mãos no ar, trocando cumprimentos.
- Sabe poderíamos fazer uma edição especial, com a foto de todos os colunistas no final do ano letivo o que acham?- sugeriu Olivia.
- É, ai poderemos conhecer a tão famosa ‘Shirley’, até agora não entendo como somente a Millie e a professora Molineux sabem quem ela é? Aposto que é uma gatinha. - disse Yanic e eu disse rindo:
- Bom, eu acho que uma matéria com os colunistas ficaria ótima, e espero que a Shirley aceite fazer a foto, aposto que será memorável. Talvez ela seja uma das poucas, que ainda não sucumbiu ao seu charme Yanic...
- Quer apostar que eu a conquisto??- e os meninos começaram a se mexer para formar um bolão de apostas, dando seus palpites.
- Mesmo que ela seja um trasgo? Tenha pernas cabeludas?- e Yanic respondeu rindo:
- Não existe mulher feia, você apenas bebeu pouco.- e rimos com ele.

Nos despedimos de Kwon, Andreas, Anabela e Jude, pois iriam colocar a rádio no ar e ficamos conversando e rindo e de repente ouvimos o bater de asas, tão conhecido indicando o correio coruja.

Estranhamos, pois normalmente elas apareciam de manhã e uma assim, à noite devia ser muito urgente. Todos no salão observaram a coruja vir diretamente até a nossa mesa e pousar na minha frente, e percebi uma carta trouxa amarrada em sua pata.
Peguei a carta e dei a ela um pedaço de maçã e ela levantou vôo. Meus amigos estavam tão apreensivos quanto eu, então abri logo a carta. Minha expressão devia estar mudando rapidamente à medida que eu ia lendo, que Alice perguntou preocupada:

- Aconteceu alguma coisa séria Millie?
- É uma carta de uma editora querendo publicar minhas estórias infantis e quer usar minhas ilustrações... - e fui levantando a vista e encarando cada um de meus amigos, que pareciam tão espantados quanto eu.
- Estórias Infantis? Mas você não escreve con...quer dizer, artigos para o jornal?- perguntou AJ, mas não respondi, voltei a olhar para a carta e ao final, a editora se dizia encantada pelo meu estilo de escrever e pelos desenhos cheios de vida das figuras...
- Ela diz que leu “O esquilo Trica-nozes”...- e nessa hora a rádio começou a a transmitir a nova novela, e todos fizeram silencio, enquanto eles começavam a falar, segurei a carta na mão e comecei a ouvir os anúncios e depois o nome da novela, “Os ricos também choram...”mas quando eles começaram a transmissão, levantei derrubando a cadeira:
- O que foi isso Millie?- quis saber Derek assustado, enquanto eu sacudia as mãos desesperada:
- Eles precisam parar de transmitir isso... Eu não autorizei... - e nesta hora caiu de dentro do envelope, um cartão de agradecimento. Peguei o cartão e depois de ler, me lembrei que meu namorado, era o único a não demonstrar espanto por causa da carta.
- Tristan... O que está acontecendo aqui?- eu perguntei tremendo e acho que minha voz devia estar um pouco esganiçada, porque as pessoas começaram a olhar:
- Ok, eu confesso: fui eu que enviei uma cópia do seu livro para esta editora, eu a conheci no restaurante onde eu trabalhei e pelo jeito eu tinha razão. Ela adorou suas estórias, e a novela da rádio, também fui eu, eles gostaram da sua novela romântica, então... Parabéns, agora você vai ser uma autora conhecida e publicada!- e sorriu, e nesta hora eu devo ter enlouquecido, porque saquei a varinha e apontei para ele e em minha mente eu gritei: estupefaça, e o joguei longe, e as pessoas gritaram assustadas.
- Hey, o salão não é lugar de duelos. O que está havendo aqui?- perguntou Philipe, enquanto Tristan levantava e me encarava pasmo, enquanto eu perguntava:
- Como você fez isso?? Ou melhor como você pode fazer isso comigo?
- Amorzinho, vamos conversar em algum lugar mais reservado...
- Por quê? Você não respeitou a minha privacidade, porque devo respeitar a sua?- perguntei tensa.
- Vocês aí circulando, ou vou descontar pontos de todos.- disse Philipe sério dispersando as pessoas que se juntavam ao nosso redor.- mas percebi que AJ, Alice, Derek, Dani e o próprio Philipe, continuavam perto de nós.
- Vocês sabiam?- olhei para eles rapidamente fizeram que não com as cabeças e voltei meu olhar para Tristan que começou a falar rápido:
- Millie você é uma escritora incrível, e quando vi o livros que você deu aos seus sobrinhos, os achei tão bons, que pensei que outras crianças também deveriam ter a oportunidade de ouvir estórias tão bonitas e de ver aquelas ilustrações... Eu sei que você, tímida do jeito que é, não procuraria alguém para publicar, então eu fiz cópias através da magia, e a mostrei para a senhora Markham.É uma editora pequena, mas muito responsável, e nunca a enganaria.Tanto que ela está te oferecendo um contrato não é?
- E a novela? Onde você a conseguiu?- perguntei friamente.
- Você me emprestou alguns livros e ela estava junto... Mostrei a Andreas, que achou a trama muito interessante e resolveu colocar no ar, ele queria falar com você sobre isso, mas eu não deixei. Eu disse a ele que seria uma ótima surpresa para você, não pensei que você fosse se chatear. - ele disse e tentou se aproximar de mim e eu novamente ergui a varinha, o mantendo afastado:
-Sabe, porque eu escrevo estes contos, as novelas, as estórias infantis...? Não é só porque eu amo escrever, mas foi a forma que encontrei de poder manter viva, a memória dos meus pais, e poder transmitir o amor que eles deram a mim e a minha irmã para os meus sobrinhos que nunca vão conhecer os avós, mas de alguma forma se sentiriam próximos por eles. Cada um dos livros que você viu, eram presentes pessoais.
- Descul...
- Ainda não acabei.- disse ríspida e ele se calou:
- Se eu não havia procurado uma editora, era porque eu não estava pensando em publicá-los, não agora. Qual é, eu sou a editora chefe do jornal da escola, não acha que eu poderia pedir para professora Cecile me ajudar? Ou então começar a publicar meus contos no jornal? Acha que eu não sou capaz de decidir por mim mesma, quando algo de minha autoria é bom? Você me acha tão estúpida assim? Não, não se incomode, eu respondo esta: Deve achar ou não teria tomado para si o poder de decidir expor algo que pertencia a mim.
- Millie, acalme-se... Deixe-explicar, por favor...- disse Tristan, e pensei sentir um pouco de apreensão em sua voz, mas ignorei:
- Mesmo que você passasse um ano se explicando, não adiantaria nada Tristan. Você traiu a minha confiança, e sinceramente eu não consigo mais olhar para você sem me perguntar como eu pude me enganar tanto com alguém. Agora sim, eu acabei... Ou melhor, acabamos.

Saí correndo do salão principal, deixando as pessoas chocadas para trás, e enquanto eu fazia o caminho para a Lux, ouvia nos auto falantes da escola, a minha primeira radio novela sendo transmitida e eu não estava me sentindo feliz.

If you knew just how I really feel
You might return and yet
There are so many times
That people have to love and then forget
Oh there might have been a way somehow
I have to force myself to say
It's over


Nota da autora:
A história infantil citada, é de autoria de Beatrix Potter, uma grande autora inglesa, que criou Peter Rabbit. E a novela citada "Os ricos também choram", foi uma novela exibida pelo SBT, que foi um sucesso mundial.Trecho da música, It’s Over, de Elvis Presley.

Monday, January 18, 2010

Janeiro de 1960

- Bati! – Danielle abriu as cartas na mesa e puxou toda minha pilha de fichas.
- Dê as cartas outra vez – respondi sério, devolvendo as minhas.

Já passava da meia noite e não havia uma alma viva acordada na Lux, exceto por Danielle e eu. Preocupado com Remy, que havia se sentido mal durante o dia e precisado passar um bom tempo na enfermaria, perdi o sono e ganhei a companhia de Danielle, que não conseguia dormir por estar com coisas demais na cabeça. Segundo ela, pensar muito às vezes atrapalhava.

- Tem certeza? Podemos pular toda a burocracia de ter que jogar e você podia me dar logo o dinheiro, já perdeu cinco partidas mesmo – ela zombou – O que há com você, afinal? Nunca te vi perder tantas partidas de Snap Poker seguidas.
- Estava um pouco distraído, só isso. Vamos, dê logo as cartas, não vou perder pela 6ª vez.
- E o que te distrai? Por acaso está pensando na namorada? – ela perguntou em tom de deboche, distribuindo as cartas mais uma vez.
- É, mas não do modo que está pensando – ela me olhou intrigada – Ela está tentando me tirar do sério.
- Sinto um desequilíbrio entre Fred Astaire e Ginger Rogers – ela zombou outra vez, mas continuei sério e ela parou – Ok, o que eu perdi?
- Ela não para de falar no Kwon! – explodi, atirando as cartas na mesa – O tempo todo, tudo é o Kwon! Que ele é isso e aquilo, e que não sabe como fazer para que ele a note, blá, blá, blá. Não sei se ela já notou que gosto dela e está fazendo isso para me irritar ou se não percebeu nada mesmo.
- A Olivia que conheço jamais faria isso sabendo que você gosta dela – Danielle a defendeu – Ela não deve ter percebido nada, ela nunca percebe as coisas.
- Que seja, mas está me tirando do sério de qualquer jeito. Preciso acabar com isso, antes que acabe comigo.
- E o que você pretende fazer? Quer que eu converse com ela e tente contornar isso?
- Não, obrigado, posso cuidar disso sozinho – recolhi as cartas da mesa e distribui entre nós dois – Vamos jogar outra vez, não vou deixá-la bater de novo.

Danielle ficou me encarando com ar de curiosidade e preocupação, mas não perguntou o que eu tinha em mente e continuamos a jogar Snap Poker. Não tinha um plano elaborado, mas sabia que precisava tirar Kwon do meu caminho, e a qualquer preço.


ººººº


A jogatina com Danielle no salão comunal da Lux durou toda a madrugada. Sem sono nenhum, viramos a noite jogando todos os tipos de jogos de carta que conhecíamos, tanto trouxas quanto bruxos, e colocamos a conversa em dia. A correria diária do 7º ano, os treinos de quadribol e a preocupação constante com Remy não me deixavam tempo para saber, por exemplo, que Danielle vinha sendo atormentada pela irmã gêmea de Henri, Estelle, e que tentava sobreviver à perseguição dela sem terminar o dia com uma passagem só de ida para Azkaban. Boa parte da madrugada insone foi dedicada a insultos a Estelle e demos boas risadas, o que acabou por tirar um pouco do peso de tudo que Danielle vinha enfrentando.

Mas se a noite foi de risadas e disposição, o dia seguinte foi exatamente o contrario. Graças à noite em claro, as aulas da terça-feira não renderam em nada. Danielle e eu passamos o dia inteiro nos escorando pelos cantos, cochilando enquanto os professores falavam e na hora do almoço, enquanto nossos amigos tagarelavam animados do nosso lado. Olivia até esqueceu sua obsessão por Kwon, curiosa para saber por que estávamos tão cansados. Havíamos optado pela tortura e não contamos a ele que havíamos passado a noite batendo papo, deixando todos com suas teorias furadas e a curiosidade em alta.

Danielle lutava para não dormir em sua aula favorita, Botânica, e eu já cochilava escondido atrás de algumas mudas de Bubotúberas quando Andreas me cutucou e acordei assustado, derrubando os vasos no chão e chamando a atenção de toda a turma.

- O que? – perguntei mal humorado e ele me ajudou a recolher os vasos.
- Sério, o que você e Dani andaram fazendo essa noite? Nunca vi você cochilar em DCAT e aposto que nem sabe sobre o que foi a aula de hoje.
- Me acordou só pra testar minha memória?
- Não, só pra lembrá-lo de que hoje temos radio novela às 20h. Jude quer revisar o texto já que a novela é nova, então temos que chegar lá às 18h.
- Estarei lá.

Terminamos de recolher as plantas e remendei os vasos quebrados, recolocando todos no lugar e voltando ao meu cochilo. Nunca um dia se arrastou tanto e quando o sinal anunciando o fim das aulas finalmente tocou, me arrastei sozinho até a rádio enquanto o resto do elenco ia jantar. Nani era a única pessoa na rádio, encarregada de colocar as primeiras músicas do dia no ar e já com um grosso caderno na mão, que reconheci de imediato como o script da novela.

- Largaram você sozinha aqui? Isso é trabalho escravo, você pode denunciar o Kwon – brinquei entrando na sala e ela riu.
- Jude pediu que viesse mais cedo porque ela precisava terminar um trabalho de Literatura Mágica pra amanhã antes de vir pra cá – sentei ao seu lado na mesa e ela me estendeu um pedaço solto do caderno – Sua parte, se quiser começar a estudar.
- Os ricos também choram – li o nome na capa do script – É a novela da Millie, não é?
- É sim, Kwon e Jude trabalharam a semana toda para transformar ela em radio novela, ficou muito legal.
- Bom, então vamos começar a trabalhar.

Espantei o sono e Nani começou a me ajudar a passar o texto do dia, mas logo Kwon chegou e nos fazer companhia. Vê-lo entrando na rádio me fez lembrar o tormento que Olivia estava me fazendo passar e não consegui mais me concentrar na passagem de texto. Enquanto ele e Nani liam o roteiro diversas vezes, ficava martelando na cabeça uma maneira de afastar da cabeça dela a idéia de que Kwon poderia notá-la. A única solução que voltava sempre a mente era que, se ele tivesse uma namorada, ela talvez desencanasse, mas Kwon era a pessoa mais introspectiva da face da Terra, quem ia namorá-lo?

A resposta me atingiu como uma estrela cadente, até pude sentir o brilho daquele plano. A única pessoa no mundo, além de Olivia, que parecia achar a nerdice de Kwon interessante estava sentada na cadeira ao meu lado, e parecia facilmente manipulável. Eu iria transformar Kwon e Nani no casal sensação de Beauxbatons, ou não me chamo Marcel!

Monday, December 07, 2009

Novo começo

Lembranças de Alderan J. Chronos e Alice Oceanborn

Última Semana de Férias

“ Millie, preciso conversar com você. Por favor, me avise quando puder ir à sua casa.
Alice.”

“ Alice, o que aconteceu? Fiquei preocupada! Pode vir aqui em casa amanhã, na parte da tarde. Estaremos só eu e minha irmã.
Millie.”

- Boa tarde, Sra. Mcgregor, combinei com a Millie de visitá-la. – Alice falou, sorrindo para Virna, que sorriu para ela também, porém percebeu como seus olhos estavam inchados e ela parecia pálida.
- Você sempre é bem vinda, Senhorita Oceanbourn. Ela está no quarto, conhece o caminho?
- Conheço, muito obrigada. – Alice falou, subindo as escadas com rapidez, enquanto conseguia manter as aparências. Assim que chegou no corredor que levava ao quarto de Millie, ela parou para respirar e recostou-se à parede, tentando manter-se calma. Virna era curandeira, ela notaria sua aparência apática e seus olhos vermelhos... Assim como Millie. Não havia como esconder de sua melhor amiga...Alice, tomando coragem, bateu à porta de Millie, e ouviu a voz conhecida de sua amiga do outro lado.
- Entre.
Alice abriu a porta a tempo de ver Millie virando-se na cadeira, deixando de lado um de suas histórias que ela tanto gostava de escrever, para olhar para a porta. Foi imediato, Alice não conseguia mais segurar, e entrou no quarto correndo, chorando, jogando-se nos braços de Millie, que a abraçava preocupada.
- Alice, o que aconteceu?
- Millie...Millie! – Alice parecia não conseguir falar, e Millie a sentou em sua cama, com ela abraçada em seu colo, chorando longamente. O coração de Millie ficou apertado, mil coisas passavam pela sua cabeça, e todas envolviam AJ machucado ou pior, ou então, Tristan.
- Calma, Alice, eu estou aqui com você. Acalme-se e conte-me o que aconteceu.
- AJ... Alderan... – Alice começou a balbuciar em meio aos soluços, deixando Millie ainda mais preocupada.
- O que aconteceu com o AJ? Ele está bem? Você teve algum pressentimento ruim? – Millie falou, enquanto acariciava lentamente os cabelos de Alice, tentando acalma-la.
- Eu estou grávida! – Alice disparou, mergulhando novamente nos braços de Millie. Ela ficou chocada, estática sem saber o que fazer, apenas encarando aquela garota que chorava desesperadamente em seu colo. Mas no momento seguinte, seus olhos brilharam e ela começou a chorar também, não de tristeza, mas de felicidade.
- Isso é maravilhoso, Alice! Meus parabéns!
- Maravilhoso?! – Alice falou, sem entender.
- O AJ vai adorar! – Millie falou, abraçando Alice com força, as duas choravam agora.
- Eu sei... Mas e nossas famílias? AJ não pode passar por mais nada agora, eu não me perdoaria...
- A Senhora Rigel vai adorar ter um netinho! Ele será uma benção para eles! E seus pais, sabem?
- Ainda não...Apenas você sabe...Eles ficarão um pouco irritados comigo, mas sei que vão gostar. Queria que o AJ estivesse logo aqui...Queria que ele fosse o primeiro a saber, mas não tem como contar isso por carta! – Alice falou, ainda chorando, mas um pouco mais calma.
- Tudo vai ficar bem. Mas por que esse desespero todo se sabe que o pai da criança irá amá-la e aceita-la?
- AJ é um amor de garoto, ele vai adorar...Mas e o restante das pessoas? Nesse momento tudo que o AJ e os Chronos não precisam é de outro escândalo.
- Pare de pensar no que os outros vão achar! O que importa é você e aqueles que você gosta! Você está feliz?
- Muito... – Alice falou, com um sorriso sincero, enquanto colocava a mão sobre a barriga.
- Então isso é o importante. AJ vai te apoiar, assim como seus pais, a Sra. Rigel e seus amigos. Estamos com você! – Milli falou, abraçando a amiga, que ficou um longo tempo apertada em seus braços.
- Obrigada, Millie, eu não agüentava mais manter isso apenas para mim, queria muito falar com você.
- Eu que agradeço por me contar, fiquei muito feliz. E quero ser madrinha da criança! Você quer que minha irmã te examine?
- Nós vamos querer você e Tristan como padrinhos. Eu gostaria. Não quero me consultar com nenhum outro médico por enquanto, e apesar de tudo, sei que posso confiar em sua irmã.
- Vou pedir para ela não comentar nem com o Kyle, até você contar para o AJ. Espero que ele volte logo. Só não mando uma carta assim, pois ele ficaria preocupado com você.
- Obrigada, Millie, muito obrigada...
Alice falou, deitando a cabeça no colo da amiga. Agora eram lágrimas de felicidade que escorriam de seus olhos, enquanto ela acariciava o ventre, que carregava o filho do homem que amava. Millie também sorria, acariciando os cabelos da amiga. Pouco tempo depois, as duas desceram e conversaram com Virna, que apesar de chocada, aceitou ajuda-las e não contar a ninguém.


Semana Seguinte – Primeiro dia de aula.

- Ninguém tem notícias do AJ? – Marcel perguntou, enquanto almoçavam.
- Nada, a última vez que ele me mandou uma carta, foi quando esteve na Alemanha, dizendo que haviam escolhido a sede do clã. – Tristan falou, lembrando da carta do amigo.
- Ele me mandou uma carta da Alemanha também, dizendo que havia encontrado o irmão e um novo aliado. – Alice explicou sua voz cheia de ansiedade e preocupação, enquanto devorava o segundo prato, fazendo todos os garotos olharem para ela chocados. – Eu quero que ele volte logo...
- Com certeza seria bom se ele voltasse logo. Então que aulas vocês se inscreveram esse ano? – Millie perguntou, desviando do assunto de AJ e a atenção de Alice, pois sabia que Alice estava preocupada com a demora dele, e não queria que mais ninguém notasse seu estado. Já era difícil esconder os enjôos recentes de Alice, e as duas fingiam que ela estava um pouco doente. Alice entrava agora na 5ª semana de gestação e apenas três pessoas sabiam disto. Millie lembrou-se de brigar com o AJ por ele demorar tanto.
Um dia inteiro passou, e não tiveram nenhuma notícia de AJ, ou de sua mãe. Nem mesmo o diretor sabia o paradeiro dos Chronos, e até mesmo ele começava a ficar preocupado. Quanto Alice, ela estava cada vez mais ansiosa e preocupada, sem conseguir descansar direito. Millie tentava acalma-la, mas sem sucesso, conseguindo faze-la ficar mais calma apenas quando falou que poderia fazer mal à criança. As duas foram dormir tarde aquela noite, pois Alice tivera mais enjôos e a amiga a ajudou.

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- Vocês demoraram! Nós estávamos ficando preocupados com vocês! – O Diretor falou, enquanto dava as boas vindas a três visitantes no portão de entrada de Beauxbatons. Chovia muito e o diretor, junto de mais dois professores levavam guarda-chuvas para protege-los. Charleston ofereceu o braço para a Sra. Chronos, que aceitou, protegendo-se da chuva.
- Perdoe-nos, Hanlin, não conseguimos chegar a tempo, tivemos alguns problemas no caminho. – Rigel falou, enquanto caminhavam rapidamente para o castelo.
- Eu fiquei sabendo, vocês enfrentaram e acabaram com os planos de um necromancer.
- Sim, e ainda encontramos Procyon, há algo mais pro trás disso tudo. – Alderan falou, enquanto eles entravam no salão principal. – Diretor, gostaríamos de apresenta-lo Ragnar Ragnarson, ele aceitou unir-se a nós.
- Muito prazer, Ragnar, é com grande felicidade que vejo que os Chronos não estão sozinhos.
- Tenho certeza que eles nunca estarão, senhor. – Ragnar falou, apertando a mão do Diretor, enquanto todos secavam as roupas com a varinha.
- Sr. Chronos, seus amigos o procuraram durante o dia inteiro, devo recomendar que os procure rapidamente.
- Vou procura-los agora mesmo, obrigado senhores. – Alderan falou, enquanto se despedia.
Ele decidiu falar primeiro com Alice, pois sentia saudades dela, e algo dentre dele parecia chamá-la. Mas ele não sabia como ir até o dormitório feminino, então no segundo andar conjurou seu patrono, e pediu que sua águia prateada a procurasse, pedindo que ela o encontrasse próximo da varanda do terceiro andar. Sua águia piou rapidamente, antes de alçar vôo, indo na direção do dormitório das garotas. Alderan foi para a varanda, e ficou olhando a chuva bater na imensa porta de vidro, perdido em seus pensamentos. Havia tanto para contar para ela, tanto para falar das coisas que ele viu e fez. Enquanto pensava nela, ele ouviu passos apressados descendo as escadas e virou a tempo de ver Alice correndo, enrolada em uma camisola azul clara. Ele sorriu para ela, e foi em sua direção, começando a correr também quando viu que ela chorava. Ela se jogou em seus braços e ele a abraçou com força, acariciando seus cabelos, enquanto ela soluçava em seus braços.
- Alice, o que houve querida? Aconteceu alguma coisa? – Ele perguntou, abraçando-a com mais força, preocupado e com medo. Ela estava pálida, os olhos vermelhos e parecia meio fraca. Ela porém não respondeu nada, apenas abraçada a ele, enquanto lágrimas desciam dos seus olhos e ela o abraçava com todas as suas forças.
- Ainda bem que você voltou... – Ela conseguiu falar, mergulhando o rosto em seu peito, achando o carinho e o calor dele.
- Eu estou ficando preocupado, aconteceu alguma coisa? Você está bem? Alice... – Ela o beijou, enquanto ele falava, abraçando-o com força, e mantendo-o próximo de si. Depois de um longo tempo, eles pararam de se beijar e ela encostou a sua testa na dele, enquanto o encarava nos olhos, ainda com lágrimas.
- AJ...Não, tenho um jeito melhor. – Ela falou sorrindo, e pegando uma das mãos de Alderan, a colocou sobre sua barriga. Ela estava com apenas 5 semanas, ainda era pouco tempo para poder sentir algum chute ou movimento do bebê, mas ela sabia que ele sentiria. E ele sentiu. Ela viu enquanto seus olhos mudavam da dúvida para o susto e depois para a alegria. Os olhos verdes encheram-se de lágrimas, que começaram a escorrer ao mesmo tempo em que um largo sorriso abria-se em seus olhos. Ele a abraçou e rodopiou com ela, parando depois, assustado, com medo de machuca-la, enquanto ela ria alto.
- Você...Você está...
- Estou esperando um filho seu, Alderan. – Alice falou, mais lágrimas descendo de seus olhos, enquanto ele a beijava feliz. Eles desceram lentamente ao chão, misturados entre sorrisos e choro de felicidade, abraçados enquanto riam. Ele a abraçou com força, mantendo-a presa em seu corpo, protegendo-a contra qualquer ameaça invisível. E como ela se sentia segura perto dele.
- Eu estou tão feliz! – Ele falou, em meio as lágrimas enquanto beijava o ventre de Alice.
- Eu tive medo de você não aceitar...Não quero te causar mais problemas.
- Você nunca seria um problema, muito menos nosso filho!
- Tive medo do que os outros iriam pensar sobre nós e sobre você.
- Não importa o que os outros digam! Importa o quanto eu amo você e a criança que está esperando. Já contou para seus pais?
- Não...Apenas você, Millie e Virna sabem...
- Vem, minha mãe está aqui, vamos contar para ela. E tem alguém que quero apresentar a você, o Ragnar, ele é demais!
Ele a ajudou a se levantar, praticamente pegando-a no colo, e ela foi contagiada pela alegria e pela energia dele, deixando-se levar às pressas, mas sem correr muito, para o primeiro andar, onde os outros ainda conversavam, porém Rigel e Ragnar estavam preparando-se para sair. AJ os chamou, e Rigel olhou para os dois, vendo mais do que estava a mostra, e entendendo quase que instantaneamente. Alderan sempre dizia que nada poderia ser escondido de Rigel com facilidade. Rigel começou a chorar também, enquanto abraçava o filho e aquela garota que parecia tão frágil e pequena de medo, enquanto os demais não entendiam o que se passava. Mas nada mais importava.
O que importava era que havia felicidade ainda para os Chronos, que apesar da escuridão, ainda havia luz. E aquela criança era essa luz...