Friday, February 05, 2010

- Todos prontos? – Andreas pegou o apito da mão de Philipe e ficamos em posição de corrida – 1, 2, 3... JÁ!

Assim que ele assoprou o apito com força, disparamos para dentro do lago. Philipe abraçava uma goles a protegendo e Kwon e Bianca corriam colados com ele. Alphonse e eu tínhamos um bastão leve e uma bola de meia cada um, Leví já estava posicionado entre as bóias no meio do lago e Alexis corria junto dos artilheiros. Correndo do outro lado, o time da Fidei vinha ao nosso encontro. Era nossa versão aquática para o quadribol. Philipe e o capitão da Fidei, Royer, decidiram que deveríamos treinar dessa forma, porque além de ser divertido, era muito mais difícil correr na água do que voar, então se conseguíssemos fazer aquilo, não teríamos dificuldade no campeonato. Os times concordaram em trabalhar juntos nesse treino.

A partida realmente foi divertida. As funções de cada um continuaram as mesmas, e enquanto Bianca, Kwon e Philipe corriam pela água tentando proteger a goles dos artilheiros da Fidei e marcar gol contra eles, Alphonse e eu rebatíamos as bolas de meia contra para todos os lados, sem conseguir distinguir muito bem quem era quem com toda aquela água. A rivalidade dos times ainda estava lá, mas com muito menos intensidade, e nos permitíamos rir dos tombos e jogadas erradas. Segundos antes de Andreas apitar o fim do treino, Kwon estava com a goles na mão pronto para arremessá-la, mas foi interrompido por uma massa de gente que voou por cima dele. Os dois batedores da Fidei pularam pra cima do japa e Alphonse e eu nos atiramos também para impedir, e ele acabou afundou na água, deixando a goles livre. Bianca a recuperou antes do time adversário, mas Andreas apitou o fim da partida.

- Samurai, está bem? – puxei Kwon pela camisa de dentro da água e ele só ergueu o polegar pra cima – Ele está vivo!

Kwon saiu da água meio desnorteado, mas caminhando sozinho, e Philipe e Royer declararam o fim do treino aquático, prometendo marcar outro antes do fim da temporada. Quadribol estava ficando mais complexo a cada dia.

-----

O treino de quadribol aquático da noite anterior havia sido divertido e o assunto do dia durante as aulas, mas fomos obrigados a afastar a imagem de Kwon se afogando por um instante, pois tínhamos preocupações maiores naquele momento. No próximo sábado era aniversário de Olivia e Andreas e toda a Lux estava empenhada em ajudar nos preparativos da comemoração. Mesmo com Olivia protestando que não queria nada exagerado, Andreas pregava por uma festa histórica e como eles eram obrigados a dividir a data, optamos por dar ouvidos apenas a Andreas.

Já eram quase 20h e agora que estávamos proibidos de apresentar a novela até que Millie se acalmasse, Kwon estava inventando programas para a rádio e achei melhor ir ajudá-lo. Talvez fosse minha única oportunidade de conversar com ele sem mais ninguém por perto e aproveitei que todos estavam ocupados demais decidindo quem seria barrado para sair sem ser notado. Como previ, ele estava sozinho na sala quando entrei.

- Precisa de ajuda? – bati na porta e ele virou para ver quem era. Estava todo agasalhado, como se dentro da sala estivesse nevando – Vai esquiar?
- Estou doente – respondeu com a voz esquisita e percebi que não era o áudio da radio que estava ruim – Lago no inverno não é uma boa idéia.
- Porque não falou nada? Podia ter vindo pra rádio mais cedo.
- E deixar você sozinho aqui? Estou doente, mas não perdi minha sanidade ainda.
- Deixe disso, não vou falar nenhuma bobagem! – empurrei Kwon para o lado e ele ainda protestou, mas seu nariz vermelho e cara abatida acabaram cedendo.

Assumi o controle da rádio e depois de falar algumas gracinhas no ar que fizeram Kwon tossir engasgado, programei uma seqüência de 10 musicas para tocar sem intervalo. Isso me daria tempo de sobra para conseguir fazer Kwon falar o que eu queria ouvir. E antes mesmo que eu pudesse pensar em como chegar ao assunto, a porta da rádio abriu e Nani entrou trazendo um chá quente para ele, a mando da enfermeira. Ela não ficou nem cinco minutos lá dentro, mas foi tempo suficiente.

- Há quanto tempo estão namorando em segredo? – perguntei quando ela saiu da sala e Kwon me olhou espantado.
- Não estamos namorando, seu doente. Ela é minha irmã.
- Ah qual é, Samurai? Pra cima de mim? – debochei e ele fechou a cara – Se não estão namorando, estão em um joguinho de flerte bem avançado.
- Você está louco, Nani e eu somos amigos e irmãos, mais nada.
- Olha no meu olho, Kwon, e nega que você goste dela. Mas olha pra mim pra negar isso, quero ver você sua cara de pau pra mentir na minha cara.
- Eu gosto dela – Kwon admitiu depois de retorcer a cara por quase um minuto.
- E ela gosta de você também, está esperando que você tome uma atitude.
- Isso nunca vai acontecer, ela é minha irmã. Meu pai me mataria e Kalani ia me odiar.
- E se eu te disser que posso ajudar com isso?
- Como?
- Apenas confie em mim e faça o que eu disser. Até sábado vocês estarão juntos.
- Não sei...
- Relaxe, Kwon – bati nas costas dele de leve - Ninguém pode te odiar ou julgar por gostar de uma garota que passou a ser sua irmã aos 14 anos.

Kwon ainda estava receoso, mas acabou aceitando minha ajuda e apertamos as mãos para selar o acordo. São dois elfos com um feitiço só: ajudava um amigo a desencalhar e deixava o caminho livre pra mim. Tão fácil como tirar doce de criança.

ººººººººº

A festa de aniversário que meus amigos organizaram para Andreas e eu lotava o salão comunal da Lux. Sem darem ouvidos as minhas exigências e levando em conta apenas o que Andreas queria, o que eu queria que fosse uma comemoração menos chamativa havia se transformado em uma festa com quase toda a população de Beauxbatons espremida dentro da nossa casa. Tinha um aluno da Nox comandava a Jukebox e as portas e janelas haviam sido equipadas com abafadores de som, dessa forma nenhum barulho sairia dali e chamaria a atenção dos professores. O transporte dos alunos de outras casas até a Lux foi organizado por Kalani e Anabela, que cuidaram para que viessem em pequenos grupos de 5 para não tumultuar os corredores. A comida ficou toda nas mãos de Danielle e Bianca, que encomendaram tantos doces e comidas salgadas em um restaurante bruxo de Paris que eu começava a ficar feliz por ter toda aquela gente, ou nunca daríamos conta de comer aquilo tudo.

- Está gostando da festa? – Danielle se atirou no pufe ao meu lado com uma caneca de cerveja amanteigada na mão e derrabou quase tudo – Ops! Desculpa!
- Acho que já chega de cerveja pra você, não acha?
- Hoje é dia de celebrar, você e Andreas estão fazendo 18 anos! Os mais velhos da turma! Por que está com essa cara feia?
- Não estou de cara feia, estou gostando da festa. Não posso sentar por cinco minutos?
- Não, não pode – Marcel surgiu na minha frente e pegou minha mão, me puxando pra cima dele – Vamos dançar!

Marcel me puxou para o meio da pista improvisada no salão comunal, onde a maioria dos alunos se espremia para dançar twist, a nova febre das festas. As músicas eram um de grupo novo chamado The Beatles, que só Marcel parecia conhecer, mas fizeram muito sucesso na festa. O som era bom e me deixei levar pela música animada, mas empaquei de repente no meio da pista quando meus olhos viram Kwon dançando com Nani, e para o meu total choque, eles estavam se beijando.

- O que foi? – Marcel parou de dançar quando viu a minha cara.
- Eles não são irmãos? – perguntei sem reação e ele entendeu o que estava olhando.
- Vem pra cá – e saiu me rebocando da pista até um canto da sala.
- Como isso aconteceu? Quando isso aconteceu? – perguntei ainda tonta.
- Foi essa semana. Ontem, pra ser mais preciso. Kwon me disse que eles estavam apaixonados, já tinham conversado com Kalani e não precisavam mais esconder.
- E você não me contou nada? – bati em seu braço, mas não sabia se por raiva ou impulso.
- Sinto muito, Olivia, mas Kwon nunca olhou pra você do jeito que olha pra Nani – Marcel foi cruel em dizer aquilo e o olhei chocada – Ele a vê como vocês são, apenas amigos. Nunca passou disso e nunca ia passar.
- Porque está falando assim comigo?
- Porque quero que você pare de correr atrás de quem não quer nada com você e preste atenção em quem quer.
- Ninguém quer nada comigo, Marcel. Essa idéia idiota toda deveria gerar alguma reação nele, mas não aconteceu nada.
- É, acho que no fundo, vocês são almas gêmeas mesmo – Marcel soltou uma risada nervosa e debochada – Kwon nunca percebeu que você gostava dele e você também não percebe o obvio!
- Do que você está falando? Que óbvio eu não percebo?
- Que sou eu que gosto de você!
- O que? – falei depois do que pareceu uma eternidade em silêncio.
- Eu sei que não era pra ser assim, mas passar todo esse tempo com você só me fez bem, eu nunca fui tão feliz contando uma mentira. Foi inevitável não me apaixonar por você.
- Apaixonar? Marcel, o quanto você bebeu hoje?
- O bastante pra ter coragem de ser sincero com você, mas não o suficiente para não saber o que estou dizendo ou me arrepender. É a dosagem perfeita – como eu não disse nada, ele continuou – Sei que vai dizer que gosta do Kwon, mas ele agora tem namorada. Se antes não aconteceu nada, não vai ser agora que vai acontecer. Ele não está disponível pra você, mas eu estou. Eu sei que você me acha imaturo e bobalhão, mas acho que nesses 7 meses provei que posso ser um cara legal.
- Eu nunca disse que você era imaturo e bobalhão.
- Mas não anula o fato de que pensava. Me dê uma chance de provar que posso fazer você feliz.

Antes que eu pudesse reagir, fui puxada para o meio do salão por vários pares de mão enquanto um carrinho com o bolo era empurrado até meu irmão e eu. O parabéns acabou quem ainda não tinha nos cumprimentado veio nos abraçar, mas quando me vi livre da multidão, já não encontrei mais Marcel. Danielle percebeu minha expressão frustrada e perguntou o que tinha acontecido. Decidi ser sincera e contei toda a historia, desde o começo em Julho até 5 minutos atrás, quando Marcel confessou estar gostando de mim.

- O que eu faço? – perguntei completamente perdida.
- COMO ASSIM O QUE VOCÊ FAZ? – Danielle gritou e algumas pessoas olharam – Quer saber o que você faz? Vai até lá e se atira nos braços dele, ora!
- Assim sem mais nem menos?
- Eu não te entendo, Liv, sério. Você tem o estereótipo da garota que sonha com o dia que o príncipe encantado vai aparecer e viver com ele feliz para sempre, e quando tem um príncipe de verdade se dizendo apaixonado por você, você recua! Tudo bem que ele não é encantado e ta mais pra vir numa vassoura do que num cavalo, mas é o garoto mais disputado da escola, aos seus pés. Quase todas as meninas daqui queriam estar no seu lugar E VOCÊ ESNOBA!
- Eu não estou esnobando, só nunca imaginei ouvir isso dele e fiquem sem reação!
- Fale a verdade pra mim. Nesses 7 meses que vocês fingiram namorar, você não se pegou nem ao menos uma vez imaginando como seria se fosse verdade? Não pensou nem por um segundo que talvez pudesse enxergar Marcel de uma forma diferente? – não respondi nada e ela riu – Bom, dizem que quem cala consente, não é? Você não tem nada a perder, amiga.
- Tenho sim, a amizade dele se isso não der certo. Gosto do Marcel e não quero me afastar dele se as coisas não saírem como ele fantasiou.
- Mas e se ele for o “escolhido” – ela brincou com o jeito de falar e ri um pouco – E se Marcel for a pessoa com quem você vai passar o resto da sua vida, casar e ser feliz? Somos todos amigos desde que ainda usávamos fraldas, ele não vai se afastar de você caso não dê certo. Não acha que vale a pena pagar pra ver?
- Acho que ele ficou chateado, nem o vi por perto quando estavam cantando parabéns.
- Sua chance de se redimir é agora, olha ele ali.

Danielle apontou pro outro lado do salão comunal, onde Marcel estava sentado sozinho vendo as pessoas dançando, e ria sem muita empolgação de alguma que Philipe e Kalani diziam. Deixem Danielle sozinha no sofá e fui até o outro lado, parando na frente dele e estendendo a mão. Ele me olhou surpreso, mas segurou minha mão se levantando e no mesmo instante o beijei. Quando me afastei, ele tinha um sorriso tão verdadeiro no rosto que era impossível não sorrir também. Danielle tinha razão: não sabia se ia dar certo, mas valia à pena tentar.


Well she looked at me, and I, I could see
That before too long I'd fall in love with her.

Whoah, we danced through the night,
And we held each other tight,
And before too long I fell in love with her.

I Saw Her Standing There – The Beatles

No comments: