- O que é aquilo? – Eu falei com asco, enquanto encarava um ser putrefato e imenso que urrava para a noite. Ele parecia feito de vários corpos, com três braços, um rosto desfigurado e cheio de dentes, olhos costurados e malignos. Seu corpo era imenso e de cor cinza, cheio de costuras e pedaços de corpos diferentes. Em certos trechos não havia carne cobrindo seu corpo, e os ossos e tripas ficavam à mostra, assim como alguns órgãos internos, de forma que eu era capaz de ver parte de seu intestino grosso. Eu não conseguia entender como ele andava e mantinha-se inteiro. Apesar da distância que estávamos, eu podia sentir o cheiro que saia de seu corpo, e era extremamente nojento, misturando cheiro de podridão com carne estragada. Aquilo era uma abominação.
- É um Legion. Legions são criaturas formados por pura magia negra. Ele é uma mistura de dezenas, pelo tamanho talvez centenas, de Inferi. – Mamãe falou, enquanto mantinha a varinha com força em sua mão. A criatura ainda não havia nos notado, pois escolhemos um lugar onde o vento estava a nosso favor, para que nosso cheiro não chegasse até ele. Estávamos em pé no muro do cemitério, olhando-o de longe. Havíamos chegado até ali seguindo os relatórios do Ministro Alemão. Ao chegar perto da divisa com a Áustria, ouvimos notícias de arrombamento de túmulos, com o posterior sumiço dos corpos, além de rumores de uma criatura maligna e estranha que matara pelo menos dois camponeses.
- Quem teria coragem de fazer algo assim com pessoas mortas? – Eu falei chocado, enquanto pensava que os corpos de centenas de pessoas formaram aquele monstro. Fiquei enjoado quando a criatura abriu um tumulo com um único golpe de mão e pegou um corpo, começando a mastiga-lo. Era uma cena asquerosa, pois seus dentes comiam a carne morta com rapidez, espalhando pedaços de carne e órgãos pelo chão, enquanto ele emitia um horrível som de osso esmagado.
- Bruxos das trevas, da pior espécie, Necromancers. Devemos tomar cuidado filho, um Legion é muito mais forte e inteligente que um Inferi comum. E o mais importante, deve haver algum Necromancer nessa região, é raro um Legion se formar sozinho. Precisaremos investigar melhor o lugar. – Mamãe falou, me fazendo ter certeza de que algum bruxo maligno estava na região.
- Concordo, precisamos achar o responsável por isso e saber porque criou um monstro como este. – Falei enquanto mantinha a varinha segura. Nesse momento senti o vento mudar e imediatamente fiquei mais alerta. - Ele ainda sente medo de fogo? – Perguntei, enquanto apontava a varinha para o monstro, que sentiu o nosso cheiro de carne fresca com a mudança da direção do vento, olhando em nossa direção com o corpo ainda entre os dentes, rosnando com ferocidade.
- Sim, mas seus instintos também são mais fortes. Ele pulará no fogo para comer nossa carne, então não conte somente com o fogo. Vamos acabar com ele juntos.
A criatura urrou para nós e correu na nossa direção. Para meu espanto ele era mais rápido do que eu imaginava e destruía lápides enquanto corria. Eu e mamãe saltamos de lado em direções opostos e começamos a lançar feitiços. Um de seus braços parecia feito de algum material diferente de apenas carne humana, pois ele o usava como escudo e os feitiços não faziam efeito. Porém, mamãe conseguiu atingir um poderoso feitiço de chamas na lateral da sua cabeça, arrancando um urro de dor do monstro, que cambaleou e apoiou-se em um dos túmulos. Eu aproveitei para lançar feitiços em suas costas, causando explosões vermelhas, fazendo-o urrar também. Ele gritou para mim e agarrou uma das lápides, jogando-a contra mim. Eu apontei minha varinha para ela e a destruí no ar, notando que aquilo fora apenas uma distração e ele já estava muito próximo de mim, socando o ar com seu braço poderoso. O soco me atingiu, seu punho acertando toda a área da minha barriga e do meu peito, jogando-me com violência contra um jazido, me fazendo cuspir sangue e levantar com dificuldade, atraindo ainda mais o monstro.
Mamãe conseguiu faze-lo afastar-se de mim ao conjurar uma gigantesca bola de fogo e lançando-a contra ele, me dando tempo de escapar de seu alcance, enquanto ele se debatia. Eu e mamãe, os olhos agora brilhando em prateado, lançamos poderosas e longas labaredas contra o monstro, queimando-o com raiva. Ele urrou de dor e debatia-se, atingindo os túmulos, tentando em vão apagar o fogo. Ele, porém, realmente era inteligente, e usando seus três braços jogou uma enorme quantidade de terra para o alto e sobre seu corpo, criando uma espessa nuvem escura.
Eu e mamãe tossíamos, e tínhamos dificuldade de enxergar, por isso guiávamo-nos pela audição e pelo olfato, porém nada sentíamos. A nuvem baixou rapidamente e pudemos olhar em volta e para o nosso espanto, não havia sinal dele.
- Droga, ele escapou! – Falei, enquanto apontava em todas as direções.
- Vamos continuar procurando-o. - Mamãe falou, fazendo sua varinha brilhar intensamente, criando um forte clarão.
- Não, ele ainda está por aqui, posso sentir. – Eu falei, aguçando ainda mais meus sentidos. Eu sentia algo se movimentando, mas não sabia onde.
- Cuidado! – Mamãe gritou.
Então notei com terror. Dois dos braços do Legion surgiram da terra, agarrando-me e puxando-me para baixo com força. Eu fiquei preso por seus braços e semi-enterrado pela terra fofa do cemitério, enquanto seu terceiro braço apertava minha garganta, tentando me matar. Um grito de dor ficou sufocado em minha garganta, enquanto a falta de oxigênio dificultava meu raciocínio e meus reflexos. Mamãe correu em me ajudar e com um forte floreio da varinha fez a terra sob mim desaparecer, revelando o monstro semi-enterrado. Ele grunhiu para mamãe e eu consegui reunir um pouco de força, chutando seu rosto desfigurado. Mamãe pulou no ombro do monstro, enquanto eu mantinha seus braços ocupados, e apontou a varinha entre os olhos do monstro, disparando um feitiço vermelho a queima-roupa.
O Legion sequer soltou algum tipo de grito de dor e no instante seguinte seus braços penderam sem forças, enquanto ele morria. Eu consegui me desvencilhar e massageava o pescoço, onde havia um hematoma em forma de mãos grotescas. Mamãe me ajudou a me levantar, apontando a varinha para meu pescoço e curando meu machucado. Nós respiramos com dificuldade, enquanto saíamos do buraco onde o Legion estava enterrado. Nos viramos para apontar a varinha para ele e queima-lo de vez, quando para nossa surpresa e horror, ele pulou urrando de raiva contra nós, ainda vivo. Ele acertou um forte soco em mamãe, jogando-a longe e virava-se para me morder, porém fui mais rápido que ele.
Meus olhos brilhavam em um forte tom de prata e enfiei minha varinha no meio de seu intestino, causando uma explosão dentro dele. A explosão foi tamanha que senti todo o seu corpo tremer. Em seguida eu lancei um feitiço incendiário no mesmo lugar e ouvi o monstro gritando de dor. Ele começou a debater-se e em seu desespero me acertou com um dos braços, jogando-me longe. Mamãe já estava de volta e me aparou no ar com a varinha. Nós dois apontamos nossas varinhas para ele, e, ela com os olhos em prateado também, lançamos uma imensa chama vermelha apontando no intestino do monstro. Ele queimou de dentro para fora, pedaços de seu corpo soltando-se enquanto a energia que os mantinham unidos era destruída, exalando um cheiro ainda mais forte de podridão, enquanto o Legion caia ao chão completamente destruído, uma imensa chama negra subindo para o ar, enquanto um odioso som de carne fritando era ouvido.
Nós respirávamos com dificuldade, e mamãe me ajudava a me manter em pé, enquanto curava nossos ferimentos. O Legion ainda queimava em uma chama negra, e podíamos ouvir o som asqueroso que fazia. Definitivamente haveria um Necromancer na região e precisávamos acha-lo.
Na noite seguinte, eu e mamãe seguimos novas pistas. Aldeões nos falaram que viram um homem suspeito andando na noite anterior perto de outro cemitério e na mesma noite, podiam jurar que viram corpos saindo de dentro do cemitério. Só poderia ser um Necromancer, conseguindo novos servos. Porém, não conseguimos maiores informações, principalmente sobre Procyon, mas decidimos investigar.
Nós não falávamos uma palavra e devido a nosso treinamento, emitíamos pouquíssimos sons ao andarmos pelo campo. Usamos a Linguagem de Batalha dos Chronos, que consistia em assovios rápidos e gestos de mãos. Essa precaução era porque havíamos encontrado um grupo de Inferi, além de uns seres estranhos que lembravam fantasmas, mas eram mais nítidos.
- São Banshees, almas retiradas de humanos vivos. Eles devem estar funcionando como vigias, e aqueles Inferi devem estar patrulhando a área. Devemos estar perto do local onde o Necromancer está. – Mamãe falou em minha mente, usando a Leglimência. Com dificuldade eu respondi, pois era pouco hábil nesse tipo de conversa.
- Vamos com cuidado então, elas podem alertar o Necromancer. Eu sinto algo mais no ar.
- Eu também. Há mais seres malignos aqui. Sente os Dementadores?
- Sinto, eles estão perto. E eu estou sentindo uma presença estranha, não sei definir se está morta ou viva.
- Grave bem essa sensação filho, é um vampiro. São as criaturas mais perigosas e letais que você irá enfrentar.
- Isso é um vampiro? – Falei assustado, sentindo a aura maligna e sedenta de sangue.
- Sim. A sede de sangue deles é quase palpável. Vamos com cuidado a partir de agora.
- Está bem, eu vou na frente.
Mamãe concordou com a cabeça, pois ela sabia que ela era melhor para proteger nossa retaguarda. Nós andávamos lentamente, misturando-se a noite, mas com todo cuidado, pois sabíamos que aqueles seres tinham sentidos mais aguçados que os nossos.
O local onde estávamos era muito afastado de qualquer cidade ou vila, e os aldeões não iam ali com freqüência, pois temiam haver algo de maligno ali, e comprovávamos esse medo. Era perto de uma montanha e podíamos ver que ela possuía uma entrada para uma caverna e os Inferi e Banshees se concentravam ali. Eram em torno de vinte banshees e pelo menos 20 Inferi, sendo que mais próximo da entrada da caverna, podíamos ver ao menos 15 dementadores. Aquele local era o covil do Necromancer com toda certeza, pois de que outra forma haveriam tantos servos no local?
Estávamos a algumas centenas de metros, quando todos os seres pararam e abriram caminho, e ouvimos vozes exaltadas vindo de dentro da caverna. Nós paramos imediatamente, escondendo-nos nas sombras. Eu podia ouvir três vozes distintas, duas delas masculinas e uma feminina, sendo a feminina extremamente fria. E eu reconhecia uma das vozes.
- Melegrant, O Lord das Trevas está irritado! Você está demorando demais para construir o exército que ele ordenou! – Alguém falou, friamente, mas com força na voz, e eu tive que me segurar enquanto cerrava os punhos. Meus olhos ficaram prateados no mesmo instante, mas mamãe segurou minha mão, fazendo que não com a cabeça. “Não use Leglimência, um vampiro irá lê-la de uma distância tão curta”, eu ouvi o eco de sua voz, lembrando-me do que ela falara mais cedo. Porém, seus olhos também estavam prateados, pulsando de raiva daquele traidor. Era Procyon.
Continua....
Wednesday, September 30, 2009
Sunday, September 27, 2009
Prelúdios de um sonho - Parte I - Fortalezas
- Vamos AJ, deixa de ser bobo e vem tirar a foto!
- Eu não estou sendo bobo, só que viu como estou sujo?
- Olha, parece uma garota falando!
- Não enche!
- Reúnam-se todos, vou tirar uma foto só de vocês então. – Kyle falou, segurando a câmera e gesticulando para que eu e meus amigos nos reuníssemos todos juntos. Quando todos conseguiram parar de empurrar para aparecer mais na foto, a luz da câmera brilhou, cegando-nos momentaneamente. Eu e Alice tiramos a foto abraçados, pois havíamos oficializado nosso namoro, enquanto Tristan e Millie também estavam abraçados.
- Eles precisam de uma foto com os professores! – Mamãe falou, tirando a câmera das mãos de Kyle, empurrando-o para junto de nós, assim como Connor e Sarah, que se juntaram a nós. Ela bateu novas fotos, em que nos abraçávamos, assim como nossos professores.
- A senhora também, Sra. Chronos.
- Vem, mãe, você pode encantar a câmera! – Eu falei, enquanto puxava minha mãe.
Mamãe riu fazendo a câmera levitar acima do chão e ficando junto de todos. Ela começou a tirar dezenas de fotos seguidas, e em algumas eu abraçava mamãe, em outras Tristan, em outra ganhava um beijo de Alice e Millie. Em outra, Marcel, Kwon, Andréas, eu e Tristan nos jogávamos uns sobre os outros, empurrando-nos com gargalhadas, enquanto as meninas olhavam chocadas.
Eu estava feliz... Os primeiro dias após aquela Traição foram como tortura para mim... Eu desejei por muito tempo ter ido no lugar dela, ter empurrado-a de lado e recebido a maldição da morte. Mas depois que achei seu diário, eu tive certeza que nada poderia fazer... O Diário de Gomeisa me deu novo ânimo e energia, e comecei a enxergar alguma esperança. Meu ânimo aumentou ainda mais com a chegada dos meus amigos, no segundo dia após a conversa com mamãe sobre o futuro do clã.
Alice, Millie, Tristan, Andréas, Penélope, Kwon, Marcel, Anabela e Bianca foram para minha casa me visitar e apoiar e passaram um dia inteiro apenas me fazendo rir e me divertir, querendo que eu esquecesse que tudo havia acontecido. Por mais incrível que parecesse, eles conseguiram, e sei que se não fosse por eles, eu não teria conseguido... Depois começamos a ter as aulas de defesa avançada com os Mcgregrose com a Senhorita McInners, e eventualmente mamãe. Mamãe organizava nossa viagem ao redor do mundo, que ocorreria na semana seguinte. Ela pretendia me mostrar o máximo do mundo possível, além de me apresentar a seus aliados e políticos poderosos, como Ministros de vários países. Eu não via a hora da viagem, para poder estar próximo de mamãe, além de começar a concretizar o sonho de todos nós...
As aulas avançadas eram puxadas, pois deveríamos aprender em uma semana, o que aurores na Academia levavam ao menos um semestre. A maioria das garotas esforçava-se para acompanhar o ritmo dos demais, mas os garotos encaravam como diversão e adoravam a parte prática das aulas, duelando entre si com alegria e energia. Muitas vezes Connor ou Sarah tiveram que intervir, pois começávamos a brincar demais. As garotas também se esforçavam, empolgadas com as aulas, mas elas tinham dificuldade nas partes práticas, preferindo a teoria.
Aprendemos feitiços de defesa avançada, aprendemos a conjurar barreiras e escudos, a identificar seres das trevas e como combate-los, todos muito interessados e empenhados. Ao final da primeira semana, todos haviam feito progressos incríveis, e era uma felicidade para todos ver o quanto tinham avançado e aprendido em tão pouco tempo. Daríamos uma pausa nas aulas particulares até a volta à Beauxbatons, pois viajaria sozinho com mamãe. Durante as aulas, nossa turma de Defesa Avançada continuaria, sendo ministrada principalmente por mamãe e no próprio castelo, para que não perdêssemos nosso preparo e aprendizado. Philipe, Noah e Derik participariam de tais aulas, pois tiveram compromissos e não puderem comparecer às aulas das férias.
Na noite antes da data marcada para o começo da viagem, meus amigos realizaram uma festa de despedida surpresa para mim, e comemoramos o aprendizado e principalmente, nossa amizade, que estava cada vez mais intensa. Marcel e Andréas me mantiveram ocupado no quarto, conversando sobre as últimas partidas de Quadribo, enquanto os demais preparavam a surpresa. Por volta das 7 da noite, Tristan e Kwon foram nos procurar e falaram que o jantar estava servido, e descemos juntos.
Assim que cheguei perto do salão de jantar, achei estranho ele estar com as luzes apagas e entrei com a varinha em punho. Nesse momento, Connor me desarmou, enquanto os outros explodiam fagulhas com a varinha, dando-me um enorme susto. Todos caíram na gargalhada e os garotos, para terminar, me pegaram no colo e me jogaram numa bacia cheia de cerveja-amanteigada, me deixando ensopado.
- Nos ganhamos! Vocês nos devem 1 Galeão, cada um! – Tristan e Andreas falaram para Marcel e Kwon.
- O que é isso?! – Perguntei, tentando sair da bacia.
- Seu castigo. Se você entrasse com varinha em punho, seria jogado ai. – Penélope falou, rindo.
- E se entrasse sem varinha, também seria jogado aí. – Anabela falou, rindo também.
- Ah, que ótimo e como eu não seria jogado?
- De jeito algum, oras? – Bianca falou, enquanto tirava fotos de mim, junto de Alice e Millie.
- Ah ta, era só pra me molhar mesmo? – Falei rindo, quando Kyle me ajudou a levantar.
- Exatamente. – Connor falou, e logo em seguida me derrubou novamente. Eu levantei rindo e comecei a jogar cerveja-amanteigada em todos, fazendo as garotas gritarem e os garotos entrarem na festa.
Depois que fizemos uma guerra de cerveja-amanteigada, nos limpamos com a varinha e continuamos a nos divertir e comer, passando a noite toda inteira assim. Só por volta da meia noite que eles começaram a ir para suas casas, em chaves de portais conjuradas pelos aurores ou por mamãe. Millie e Kyle foram os últimos a sair, desejando-me sorte na viagem. Ela despediu-se com um beijo em Trisnta, pois ele passaria a noite conosco, assim como Alice. Eu, Alice, mamãe e Tristan terminamos de arrumar a bagunça, e depois elas foram dormir, deixando eu e Tristan conversando mais um pouco.
- Queria que você fosse conosco, Tristan, seria divertido ter você com a gente nessa viagem.
- Eu também gostaria de ir, AJ, mas sei que é uma viagem em família.
- Aqui que está, Tristan, eu te considero como minha família. Você é um irmão pra mim.
- Obrigado, AJ, te considero como um irmão que nunca tive, e você e Millie são minha única família.
- Você sempre será meu melhor amigo, TnT, e te considero muito mais meu irmão do que...Aquele maldito traidor. – Eu falei, e não pude conter a raiva, socando a parede. Tristan, riu, mas me falou para me acalmar.
- Você precisa se acalmar. Tenho certeza que ele vai pagar por tudo que fez. E vou te ajudar no que for preciso
- Muito obrigado, a sua ajuda será muito importante pra mim. – Eu falei, sorrindo. Ficamos olhando as estrelas mais algum tempo em silêncio.
- Bom, vamos dormir, amanha você acorda cedo. E sei que a Alice quer se despedir também. – Ele falou, com um sorriso malicioso no rosto. Eu fiquei vermelho e dei um soco nele e fomos dormir. Eu ainda fiquei um bom tempo acordado, e quando notei que ele dormia, não que fosse necessário, pois o TnT sabia do que fazíamos, sai de meu quarto.
Agora, Alice passava a maior parte do tempo em nossa casa. Os Oceanborn eram amigos de minha mãe há muitos anos, e desde que oficializamos nosso namoro, eles permitiam que sua filha mais velha passasse os dias conosco. Na verdade, já havia inclusive preparativos para um casamento, pois desejávamos realmente passar nossas vidas juntos, e as tragédias dos últimos meses nos mostraram como a vida é frágil.
- Não é que estamos desesperados, e tomando decisões às pressas, é que apenas agora nos demos conta do quão frágil tudo é. – Alice falou, a cabeça deitada em meu peito, enquanto eu a abraçava. Nós realmente havíamos intensificado nossa relação, e agora, passávamos praticamente todas as noites juntos... Eu só não sabia se mamãe tinha conhecimento, pois tentávamos esconder dela, mas era uma tarefa quase impossível esconder algo de Rigel Chronos.
- É tão mais fácil destruir, do que criar e proteger... – Eu falei, suspirando, enquanto brincava com uma mexa de seus cabelos. – O que se leva anos para criar, pode ser destruído em questão de segundos... – Eu falei, suspirando novamente. Ela enrolou-se nos lençóis e apoiou-se para me olhar nos olhos.
- Não comece a ficar triste, AJ, eu não permito! Vai ficar triste, com alguém como eu aqui do seu lado? – Ela falou, sorrindo sedutora para mim, enquanto beijava meus lábios lentamente e eu a puxava para junto de mim.
- Obviamente que não, acha que dá para ficar triste com uma garota como você? Sou alguém sortudo!
- Você é estranho, então. – Ela falou rindo, aninhando-se em meus braços.
- E você também. Quem imaginaria a filha mais velha dos Oceanborn fugindo durante a noite?
- Sou dona do meu nariz, e faço isto por e com o homem que amo, algo contra?
- Nada! Eu fico feliz na verdade... Eu falo de coração, você foi minha salvação...Ou uma delas...Quando estou com você, consigo quase esquecer aquela tragédia e que perdi Isa... – Eu falei, começando a sentir lágrimas em meus olhos. Alice me abraçou, apertando-me contra seu peito, acariciando meus cabelos.
- Você parece uma fortaleza, AJ, na verdade, você se faz uma fortaleza para enfrentar a tudo e todos. Mas no fundo você é frágil... Eu quero proteger esse seu lado, estar sempre com você. Por isso que eu aceitei me casar.
- Eu amo você, Alice. Não há palavras para descrever o quanto te amo e o quanto você me é importante. – Eu falei, abraçando-a com força e puxando-a para mim. Ela sorriu em meio aos beijos, enquanto nos entregávamos uma vez mais. A saudade já nos perseguia, pois no dia seguinte eu viajaria para fora do país e nossa noite foi intensa, longa e curta ao mesmo tempo.
- Ah, este é seu filho, o herdeiro dos Chronos. – O Ministro alemão falou em inglês, com um forte sotaque, apertando minha mão com energia. Ele era um homem austero e forte, e transmitia conhecer muito bem a sua profissão.
Ele indicou as cadeiras diante de sua escrivaninha e ofereceu uma taça de vinho para minha mãe e para mim, que aceitamos agradecidos. Brindamos pelo futuro bruxo antes de beber a taça inteira de um único gole.
- Fiquei muito feliz ao saber que continuaria na luta, Rigel, mesmo após tantos infortúnios.
- Seria uma afronta à memória de minha família caso eu recuasse.
- E você, Alderan, sente a mesma coisa?
- Sinto, senhor. Decidi continuar lutando por todos os que pereceram.
- Excelente resposta... Seu filho é um garoto de fibra, tornar-se-á um homem magnífico.
- Obrigada, Craus. É uma honra para nós que nos tenha recebido tão prontamente.
- As portas de meu gabinete e de meu Ministério estão sempre abertas para os Chronos. Devo muito a você, Rigel, assim como a seu marido.
- Não fizemos mais do que amigos deveriam, Craus.
- Fizeram muito mais. E sinto que farão ainda mais. Bom, vamos direto ao assunto? Imagino que você esteja apresentando seu filho a todos os seus aliados.
- Exatamente. Ele é meu sucessor, herdeiro dos Chronos e de nossos ideais. Dentro em breve, anunciarei oficialmente que ele é meu sucessor, e até lá espero que todos meus aliados o conheçam e respeitem. Estarei participando ativamente de sua educação até o final das férias.
- Faz muito bem. Não duvido que Beauxbatons o tenha educado bem, assim como sua família, mas para ser o líder dos Chronos ele ainda tem muito para ver e aprender. Há coisas que nenhuma escola no mundo ensina. Apenas a vida.
- E ele aprende rápido. Em poucos meses, poderá me substituir em todas as negociações. – Mamãe falou, sorrindo de leve. Um dos principais ensinamentos que ela me dera no início da viagem fora: um líder deve observar mais do que falar. E enquanto eu não ganhasse a confiança daqueles poderosos bruxos, eu deveria ouvi-los com total atenção.
- Imaginei que não daria fim ao seu projeto. E tem meu total apoio, não só você, mas o jovem Alderan também. Se depender de mim, o Clã Chronos surgirá amanhã mesmo!
- Fico muito feliz com o entusiasmo e seu apoio, Craus. Eu trouxe Alderan também para treina-lo em defesa avançada pessoalmente, e quero que ele me ajude a escolher o local da sede.
- Então chegou no momento certo. Ainda hoje poderei acompanha-los em uma visita rápida pela região, para a escolha do terreno. Além das terras que possuem em seu nome, estou disposto a doar terras do Ministério. E tenho informações que lhe serão interessantes.
- Agradeço muito sua ajuda. Deixarei a escolha do local para meu filho. E que informações você possui?
- Recentemente, recebi relatórios da atividade de um Necromancer no interior do país, na divisa com a Áustria. Há relatos de monstros e seres malignos...E de outros bruxos também.
- Procyon... – Eu não consegui deixar de falar, pois algo me dizia que havia alguma ligação entre ele e os assuntos que o Ministro nos contava.
- Exatamente...Há suspeitas de que Procyon esteja na região. Alguns de meus aurores foram investigar, mas estão desaparecidos...Gostaria muito de contar com sua ajuda e seria uma ótima forma de treinar o jovem Alderan.
- Pode contar conosco, Craus. Eu mesma irei investigar, mas quero que sejamos apenas eu e Alderan, sem intromissões.
- O caso é todo seu. Vamos procurar o local da sede?
Logo em seguida, saímos do Ministério Alemão, saindo numa rua trouxa. O prédio do Ministério parecia para os olhos trouxas uma antiga e fechada sede dos correios e poucos sequer tentavam entrar nela. O Ministro, Craus Olbrich, levou-nos para um dos carros do Ministério e seu motorista nos guiou pelas ruas agitadas de Berlim. Ele e mamãe iam conversando sobre diversos assuntos, enquanto ele entregava notas e relatórios para ela, e eu olhava pela janela, observando as ruas e prédios.
Estávamos procurando as futuras sedes do clã, e decidimos que teríamos sedes em toda a Europa, mas definimos que nossos maiores aliados, os Ministérios Britânico, Alemão e Francês, teriam uma sede especial. Estas seriam realmente as sedes do Clã. A sede britânica fora escolhida como nossa casa, no coração de Londres, e a apelidei de Spearhead, uma vez que era um excelente lugar para treinamentos. A sede francesa fora mamãe que definira o local, e eu estive com ela quando andávamos pelo interior de Paris. Mamãe parecia guiada por alguma sensação interior e achou uma colina. A colina era ampla e possuía uma larga visão de todos os seus arredores e mamãe escolheu aquele lugar para a nova sede, porém ainda não havíamos dado-lhe um nome. Porém eu tinha planos para ela.
Eu decidira que o Clã precisaria de três centros poderosos: um centro de ataque e poder, um centro de defesa e um centro de espionagem. Spearhead seria nossa lança, com treinamento e armamento pesado, sendo a sede oficial do clã. Seguindo essa linha de raciocínio, a colina na França seria o lugar perfeito para uma fortaleza, e era isto que eu pretendia construir ali, uma fortaleza inexpugnável. Na Alemanha, estaria nossa sede de espionagem, onde treinaríamos nossos melhores aurores para obtenção de informações.
Enquanto pensava nisto, algo chamou minha atenção. Um homem alto estava parado no meio de um terreno amplo, mas pouco se podia ver dali, pois a luz do final da tarde deixava o campo cheio de sombras. Eu o reconhecia imediatamente, era o homem que seguia Isa e que nos ajudara, emprestando seu poder.
Eu saltei do carro ainda em movimento e corri em sua direção, mas a cada passo ele parecia menos nítido, desaparecendo por fim nas sombras. Mamãe, o Ministro e seus aurores correram atrás de mim alarmados, e ao me alcançarem, formaram um círculo de proteção, olhando em todas as direções.
- Como se fala, A Sombra em alemão? – Perguntei, deixando todos surpresos.
- Der Schatten. – O Ministro respondeu, ao mesmo tempo que mamãe.
- Este será o local da sede alemã, Der Schatten, A Sombra.
- Tem certeza? – Mamãe perguntou, andando ao redor. Ela parecia procurar sentir algo e como eu a conhecia muito bem, vi que ela percebera o mesmo que eu.
- Tenho. Absoluta.
- Muito bem. Craus, podemos ficar com esse terreno?
- Ele é seu, Rigel. Assinarei os papéis de posse imediatamente. Querem voltar para o Ministério? – Ele perguntou, indicando o carro. Nós voltamos para o Ministério, mas meus olhos ainda estavam fixos naquele terreno, que parecia pulsar com energia.
Continua...
- Eu não estou sendo bobo, só que viu como estou sujo?
- Olha, parece uma garota falando!
- Não enche!
- Reúnam-se todos, vou tirar uma foto só de vocês então. – Kyle falou, segurando a câmera e gesticulando para que eu e meus amigos nos reuníssemos todos juntos. Quando todos conseguiram parar de empurrar para aparecer mais na foto, a luz da câmera brilhou, cegando-nos momentaneamente. Eu e Alice tiramos a foto abraçados, pois havíamos oficializado nosso namoro, enquanto Tristan e Millie também estavam abraçados.
- Eles precisam de uma foto com os professores! – Mamãe falou, tirando a câmera das mãos de Kyle, empurrando-o para junto de nós, assim como Connor e Sarah, que se juntaram a nós. Ela bateu novas fotos, em que nos abraçávamos, assim como nossos professores.
- A senhora também, Sra. Chronos.
- Vem, mãe, você pode encantar a câmera! – Eu falei, enquanto puxava minha mãe.
Mamãe riu fazendo a câmera levitar acima do chão e ficando junto de todos. Ela começou a tirar dezenas de fotos seguidas, e em algumas eu abraçava mamãe, em outras Tristan, em outra ganhava um beijo de Alice e Millie. Em outra, Marcel, Kwon, Andréas, eu e Tristan nos jogávamos uns sobre os outros, empurrando-nos com gargalhadas, enquanto as meninas olhavam chocadas.
Eu estava feliz... Os primeiro dias após aquela Traição foram como tortura para mim... Eu desejei por muito tempo ter ido no lugar dela, ter empurrado-a de lado e recebido a maldição da morte. Mas depois que achei seu diário, eu tive certeza que nada poderia fazer... O Diário de Gomeisa me deu novo ânimo e energia, e comecei a enxergar alguma esperança. Meu ânimo aumentou ainda mais com a chegada dos meus amigos, no segundo dia após a conversa com mamãe sobre o futuro do clã.
Alice, Millie, Tristan, Andréas, Penélope, Kwon, Marcel, Anabela e Bianca foram para minha casa me visitar e apoiar e passaram um dia inteiro apenas me fazendo rir e me divertir, querendo que eu esquecesse que tudo havia acontecido. Por mais incrível que parecesse, eles conseguiram, e sei que se não fosse por eles, eu não teria conseguido... Depois começamos a ter as aulas de defesa avançada com os Mcgregrose com a Senhorita McInners, e eventualmente mamãe. Mamãe organizava nossa viagem ao redor do mundo, que ocorreria na semana seguinte. Ela pretendia me mostrar o máximo do mundo possível, além de me apresentar a seus aliados e políticos poderosos, como Ministros de vários países. Eu não via a hora da viagem, para poder estar próximo de mamãe, além de começar a concretizar o sonho de todos nós...
As aulas avançadas eram puxadas, pois deveríamos aprender em uma semana, o que aurores na Academia levavam ao menos um semestre. A maioria das garotas esforçava-se para acompanhar o ritmo dos demais, mas os garotos encaravam como diversão e adoravam a parte prática das aulas, duelando entre si com alegria e energia. Muitas vezes Connor ou Sarah tiveram que intervir, pois começávamos a brincar demais. As garotas também se esforçavam, empolgadas com as aulas, mas elas tinham dificuldade nas partes práticas, preferindo a teoria.
Aprendemos feitiços de defesa avançada, aprendemos a conjurar barreiras e escudos, a identificar seres das trevas e como combate-los, todos muito interessados e empenhados. Ao final da primeira semana, todos haviam feito progressos incríveis, e era uma felicidade para todos ver o quanto tinham avançado e aprendido em tão pouco tempo. Daríamos uma pausa nas aulas particulares até a volta à Beauxbatons, pois viajaria sozinho com mamãe. Durante as aulas, nossa turma de Defesa Avançada continuaria, sendo ministrada principalmente por mamãe e no próprio castelo, para que não perdêssemos nosso preparo e aprendizado. Philipe, Noah e Derik participariam de tais aulas, pois tiveram compromissos e não puderem comparecer às aulas das férias.
Na noite antes da data marcada para o começo da viagem, meus amigos realizaram uma festa de despedida surpresa para mim, e comemoramos o aprendizado e principalmente, nossa amizade, que estava cada vez mais intensa. Marcel e Andréas me mantiveram ocupado no quarto, conversando sobre as últimas partidas de Quadribo, enquanto os demais preparavam a surpresa. Por volta das 7 da noite, Tristan e Kwon foram nos procurar e falaram que o jantar estava servido, e descemos juntos.
Assim que cheguei perto do salão de jantar, achei estranho ele estar com as luzes apagas e entrei com a varinha em punho. Nesse momento, Connor me desarmou, enquanto os outros explodiam fagulhas com a varinha, dando-me um enorme susto. Todos caíram na gargalhada e os garotos, para terminar, me pegaram no colo e me jogaram numa bacia cheia de cerveja-amanteigada, me deixando ensopado.
- Nos ganhamos! Vocês nos devem 1 Galeão, cada um! – Tristan e Andreas falaram para Marcel e Kwon.
- O que é isso?! – Perguntei, tentando sair da bacia.
- Seu castigo. Se você entrasse com varinha em punho, seria jogado ai. – Penélope falou, rindo.
- E se entrasse sem varinha, também seria jogado aí. – Anabela falou, rindo também.
- Ah, que ótimo e como eu não seria jogado?
- De jeito algum, oras? – Bianca falou, enquanto tirava fotos de mim, junto de Alice e Millie.
- Ah ta, era só pra me molhar mesmo? – Falei rindo, quando Kyle me ajudou a levantar.
- Exatamente. – Connor falou, e logo em seguida me derrubou novamente. Eu levantei rindo e comecei a jogar cerveja-amanteigada em todos, fazendo as garotas gritarem e os garotos entrarem na festa.
Depois que fizemos uma guerra de cerveja-amanteigada, nos limpamos com a varinha e continuamos a nos divertir e comer, passando a noite toda inteira assim. Só por volta da meia noite que eles começaram a ir para suas casas, em chaves de portais conjuradas pelos aurores ou por mamãe. Millie e Kyle foram os últimos a sair, desejando-me sorte na viagem. Ela despediu-se com um beijo em Trisnta, pois ele passaria a noite conosco, assim como Alice. Eu, Alice, mamãe e Tristan terminamos de arrumar a bagunça, e depois elas foram dormir, deixando eu e Tristan conversando mais um pouco.
- Queria que você fosse conosco, Tristan, seria divertido ter você com a gente nessa viagem.
- Eu também gostaria de ir, AJ, mas sei que é uma viagem em família.
- Aqui que está, Tristan, eu te considero como minha família. Você é um irmão pra mim.
- Obrigado, AJ, te considero como um irmão que nunca tive, e você e Millie são minha única família.
- Você sempre será meu melhor amigo, TnT, e te considero muito mais meu irmão do que...Aquele maldito traidor. – Eu falei, e não pude conter a raiva, socando a parede. Tristan, riu, mas me falou para me acalmar.
- Você precisa se acalmar. Tenho certeza que ele vai pagar por tudo que fez. E vou te ajudar no que for preciso
- Muito obrigado, a sua ajuda será muito importante pra mim. – Eu falei, sorrindo. Ficamos olhando as estrelas mais algum tempo em silêncio.
- Bom, vamos dormir, amanha você acorda cedo. E sei que a Alice quer se despedir também. – Ele falou, com um sorriso malicioso no rosto. Eu fiquei vermelho e dei um soco nele e fomos dormir. Eu ainda fiquei um bom tempo acordado, e quando notei que ele dormia, não que fosse necessário, pois o TnT sabia do que fazíamos, sai de meu quarto.
Agora, Alice passava a maior parte do tempo em nossa casa. Os Oceanborn eram amigos de minha mãe há muitos anos, e desde que oficializamos nosso namoro, eles permitiam que sua filha mais velha passasse os dias conosco. Na verdade, já havia inclusive preparativos para um casamento, pois desejávamos realmente passar nossas vidas juntos, e as tragédias dos últimos meses nos mostraram como a vida é frágil.
- Não é que estamos desesperados, e tomando decisões às pressas, é que apenas agora nos demos conta do quão frágil tudo é. – Alice falou, a cabeça deitada em meu peito, enquanto eu a abraçava. Nós realmente havíamos intensificado nossa relação, e agora, passávamos praticamente todas as noites juntos... Eu só não sabia se mamãe tinha conhecimento, pois tentávamos esconder dela, mas era uma tarefa quase impossível esconder algo de Rigel Chronos.
- É tão mais fácil destruir, do que criar e proteger... – Eu falei, suspirando, enquanto brincava com uma mexa de seus cabelos. – O que se leva anos para criar, pode ser destruído em questão de segundos... – Eu falei, suspirando novamente. Ela enrolou-se nos lençóis e apoiou-se para me olhar nos olhos.
- Não comece a ficar triste, AJ, eu não permito! Vai ficar triste, com alguém como eu aqui do seu lado? – Ela falou, sorrindo sedutora para mim, enquanto beijava meus lábios lentamente e eu a puxava para junto de mim.
- Obviamente que não, acha que dá para ficar triste com uma garota como você? Sou alguém sortudo!
- Você é estranho, então. – Ela falou rindo, aninhando-se em meus braços.
- E você também. Quem imaginaria a filha mais velha dos Oceanborn fugindo durante a noite?
- Sou dona do meu nariz, e faço isto por e com o homem que amo, algo contra?
- Nada! Eu fico feliz na verdade... Eu falo de coração, você foi minha salvação...Ou uma delas...Quando estou com você, consigo quase esquecer aquela tragédia e que perdi Isa... – Eu falei, começando a sentir lágrimas em meus olhos. Alice me abraçou, apertando-me contra seu peito, acariciando meus cabelos.
- Você parece uma fortaleza, AJ, na verdade, você se faz uma fortaleza para enfrentar a tudo e todos. Mas no fundo você é frágil... Eu quero proteger esse seu lado, estar sempre com você. Por isso que eu aceitei me casar.
- Eu amo você, Alice. Não há palavras para descrever o quanto te amo e o quanto você me é importante. – Eu falei, abraçando-a com força e puxando-a para mim. Ela sorriu em meio aos beijos, enquanto nos entregávamos uma vez mais. A saudade já nos perseguia, pois no dia seguinte eu viajaria para fora do país e nossa noite foi intensa, longa e curta ao mesmo tempo.
- Ah, este é seu filho, o herdeiro dos Chronos. – O Ministro alemão falou em inglês, com um forte sotaque, apertando minha mão com energia. Ele era um homem austero e forte, e transmitia conhecer muito bem a sua profissão.
Ele indicou as cadeiras diante de sua escrivaninha e ofereceu uma taça de vinho para minha mãe e para mim, que aceitamos agradecidos. Brindamos pelo futuro bruxo antes de beber a taça inteira de um único gole.
- Fiquei muito feliz ao saber que continuaria na luta, Rigel, mesmo após tantos infortúnios.
- Seria uma afronta à memória de minha família caso eu recuasse.
- E você, Alderan, sente a mesma coisa?
- Sinto, senhor. Decidi continuar lutando por todos os que pereceram.
- Excelente resposta... Seu filho é um garoto de fibra, tornar-se-á um homem magnífico.
- Obrigada, Craus. É uma honra para nós que nos tenha recebido tão prontamente.
- As portas de meu gabinete e de meu Ministério estão sempre abertas para os Chronos. Devo muito a você, Rigel, assim como a seu marido.
- Não fizemos mais do que amigos deveriam, Craus.
- Fizeram muito mais. E sinto que farão ainda mais. Bom, vamos direto ao assunto? Imagino que você esteja apresentando seu filho a todos os seus aliados.
- Exatamente. Ele é meu sucessor, herdeiro dos Chronos e de nossos ideais. Dentro em breve, anunciarei oficialmente que ele é meu sucessor, e até lá espero que todos meus aliados o conheçam e respeitem. Estarei participando ativamente de sua educação até o final das férias.
- Faz muito bem. Não duvido que Beauxbatons o tenha educado bem, assim como sua família, mas para ser o líder dos Chronos ele ainda tem muito para ver e aprender. Há coisas que nenhuma escola no mundo ensina. Apenas a vida.
- E ele aprende rápido. Em poucos meses, poderá me substituir em todas as negociações. – Mamãe falou, sorrindo de leve. Um dos principais ensinamentos que ela me dera no início da viagem fora: um líder deve observar mais do que falar. E enquanto eu não ganhasse a confiança daqueles poderosos bruxos, eu deveria ouvi-los com total atenção.
- Imaginei que não daria fim ao seu projeto. E tem meu total apoio, não só você, mas o jovem Alderan também. Se depender de mim, o Clã Chronos surgirá amanhã mesmo!
- Fico muito feliz com o entusiasmo e seu apoio, Craus. Eu trouxe Alderan também para treina-lo em defesa avançada pessoalmente, e quero que ele me ajude a escolher o local da sede.
- Então chegou no momento certo. Ainda hoje poderei acompanha-los em uma visita rápida pela região, para a escolha do terreno. Além das terras que possuem em seu nome, estou disposto a doar terras do Ministério. E tenho informações que lhe serão interessantes.
- Agradeço muito sua ajuda. Deixarei a escolha do local para meu filho. E que informações você possui?
- Recentemente, recebi relatórios da atividade de um Necromancer no interior do país, na divisa com a Áustria. Há relatos de monstros e seres malignos...E de outros bruxos também.
- Procyon... – Eu não consegui deixar de falar, pois algo me dizia que havia alguma ligação entre ele e os assuntos que o Ministro nos contava.
- Exatamente...Há suspeitas de que Procyon esteja na região. Alguns de meus aurores foram investigar, mas estão desaparecidos...Gostaria muito de contar com sua ajuda e seria uma ótima forma de treinar o jovem Alderan.
- Pode contar conosco, Craus. Eu mesma irei investigar, mas quero que sejamos apenas eu e Alderan, sem intromissões.
- O caso é todo seu. Vamos procurar o local da sede?
Logo em seguida, saímos do Ministério Alemão, saindo numa rua trouxa. O prédio do Ministério parecia para os olhos trouxas uma antiga e fechada sede dos correios e poucos sequer tentavam entrar nela. O Ministro, Craus Olbrich, levou-nos para um dos carros do Ministério e seu motorista nos guiou pelas ruas agitadas de Berlim. Ele e mamãe iam conversando sobre diversos assuntos, enquanto ele entregava notas e relatórios para ela, e eu olhava pela janela, observando as ruas e prédios.
Estávamos procurando as futuras sedes do clã, e decidimos que teríamos sedes em toda a Europa, mas definimos que nossos maiores aliados, os Ministérios Britânico, Alemão e Francês, teriam uma sede especial. Estas seriam realmente as sedes do Clã. A sede britânica fora escolhida como nossa casa, no coração de Londres, e a apelidei de Spearhead, uma vez que era um excelente lugar para treinamentos. A sede francesa fora mamãe que definira o local, e eu estive com ela quando andávamos pelo interior de Paris. Mamãe parecia guiada por alguma sensação interior e achou uma colina. A colina era ampla e possuía uma larga visão de todos os seus arredores e mamãe escolheu aquele lugar para a nova sede, porém ainda não havíamos dado-lhe um nome. Porém eu tinha planos para ela.
Eu decidira que o Clã precisaria de três centros poderosos: um centro de ataque e poder, um centro de defesa e um centro de espionagem. Spearhead seria nossa lança, com treinamento e armamento pesado, sendo a sede oficial do clã. Seguindo essa linha de raciocínio, a colina na França seria o lugar perfeito para uma fortaleza, e era isto que eu pretendia construir ali, uma fortaleza inexpugnável. Na Alemanha, estaria nossa sede de espionagem, onde treinaríamos nossos melhores aurores para obtenção de informações.
Enquanto pensava nisto, algo chamou minha atenção. Um homem alto estava parado no meio de um terreno amplo, mas pouco se podia ver dali, pois a luz do final da tarde deixava o campo cheio de sombras. Eu o reconhecia imediatamente, era o homem que seguia Isa e que nos ajudara, emprestando seu poder.
Eu saltei do carro ainda em movimento e corri em sua direção, mas a cada passo ele parecia menos nítido, desaparecendo por fim nas sombras. Mamãe, o Ministro e seus aurores correram atrás de mim alarmados, e ao me alcançarem, formaram um círculo de proteção, olhando em todas as direções.
- Como se fala, A Sombra em alemão? – Perguntei, deixando todos surpresos.
- Der Schatten. – O Ministro respondeu, ao mesmo tempo que mamãe.
- Este será o local da sede alemã, Der Schatten, A Sombra.
- Tem certeza? – Mamãe perguntou, andando ao redor. Ela parecia procurar sentir algo e como eu a conhecia muito bem, vi que ela percebera o mesmo que eu.
- Tenho. Absoluta.
- Muito bem. Craus, podemos ficar com esse terreno?
- Ele é seu, Rigel. Assinarei os papéis de posse imediatamente. Querem voltar para o Ministério? – Ele perguntou, indicando o carro. Nós voltamos para o Ministério, mas meus olhos ainda estavam fixos naquele terreno, que parecia pulsar com energia.
Continua...
Friday, September 25, 2009
Após o ataque na casa do AJ, tivemos uma semana de aulas intensivas de Defesa contra as Artes das Trevas, com os aurores Kyle e Connor McGregor e Sarah McInnes e algumas vezes com a própria mãe do AJ. Se eu não houvesse visto a senhora Rigel em ação, duvidaria que ela pudesse derrotar um dementador.
Millie pode ficar hospedada na casa dos Chronos e sempre tinhamos algum lugar para namorar e segundo porque isso me aproximava um pouco mais do meu sonho de me tornar um auror e ter um futuro, afinal os dias de ficar paquerando todas as gatinhas da escola acabaram. Millie é ciumenta rsrs.
Embora eu tenha sido cego por um bom tempo, agora sei que ela e eu podemos fazer uma historia bonita, mesmo contrariando a irmã dela, mas como Kyle McGregor nos apóia, não me preocupo tanto.
Eu, AJ, Marcel Kwon, Andreas, Bianca Anabela, Alice e Millie tivemos que aprender num curto espaço de tempo, feitiços avançados e embora fosse um treinamento duro, eu adorava cada minuto. E no ultimo dia tiramos fotos de todos com os nossos professores, e foi muito muito bom.
Após aquela semana, voltei a morar no orfanato, enquanto AJ e sua mãe viajaram para caçar e ele pudesse ser apresentado a Ministros da magia do mundo Bruxo e ser conhecido como futuro líder do clã Chronos. Combinamos de trocar cartas sempre que possivel, e estarmos juntos na volta as aulas. Eu sempre me despedia deles com um sorriso, mas quando ultrapassava aqueles portões, eu dizia a mim mesmo que deveria suportar, mais algum tempo, logo eu iria embora. Era o que eu me dizia desde pequeno...
Quando cheguei ao orfanato eu tinha uns cinco anos de idade. Trazia algumas roupas, um par de botas velhos e um pião que eu vivia brincando com ele. Eu havia ido para lá, porque as pessoas que me criaram havia morrido e não havia ninguém mais. Uma vez ao mês o Orfanato Sacre Coeur recebia a visita de casais querendo adotar crianças que haviam ficado orfãs por causa da guerra, e então era o dia em que nos mandavam tomar banho com os sabonetes cheirosos não os baratos, nos faziam comer cedo, e nos recomendavam ser muito educados e sorrir muito, pois alguém poderia nos levar para casa.
No primeiro ano, eu tive a esperança de que a familia de meus pais verdadeiros me encontrassem e eu fosse para casa com eles, então eu não poderia ser adotado por ninguém e me perder da minha família novamente, enquanto os outros estavam cheirosos e engomadinhos, eu sempre dava um jeito de fazer alguma coisa que me sujasse, ou assustasse as pessoas, como por exemplo tirar um camundongo do bolso, dizer algum palavrão , enquanto cutucava o meu nariz com gosto. Nada enoja tanto uma mulher, mesmo que ela queira ser uma mãe adotiva, quanto ver o futuro filho limpar o salão e arrotar.
Bom, várias vezes, as freiras lavaram minha boca com sabão, ou me mandaram ajoelhar no milho para me ensinar ‘a ser humilde’, mas isso só reforçava a minha teimosia. Com o passar do tempo, elas optaram por não mais me colocar na fila dos disponíveis para adoção, e assim evitar que eu estragasse as chances das outras crianças, eu era deixado de lado. Mas isso não me incomodava, só me perturbava o fato de que com o passar do tempo, todos de alguma forma ou de outra conseguiam uma família, e a minha não aparecia para me buscar. Quando entrei em Beauxbatons e conheci os meus amigos, percebi que aquela seria a minha família, então desisti de esperar , e optei por bloequear algumas memórias que faziam com que eu tivesse esperança.
Quando fiz doze anos e sabia me virar por Paris sem me perder, comecei a arrumar trabalhos temporários durante as férias da escola, já que o diretor do orfanato nunca permitia que eu ficasse com meus amigos da ‘escola de esnobes’, como ele os chamava, mas me liberava para trabalhar e aprender qual era o ‘meu lugar’, como ele fazia questão de enfatizar. Comecei a entregar jornais, lavar pratos, aparar grama, enfim tudo que me rendesse o bastante para poder bancar minhas despesas na escola, sem depender de ninguém e estar preparado para alguma emergência. Algumas vezes eu chegava tão cansado, que eu dormia sem sonhar com a minha infância, outras vezes eu não tinha tanta sorte...
- Ele não tem ninguém??
- Não! Os velhos só tinham um único filho que morreu na guerra e não deixou filhos. Este garoto foi acolhido por eles, é um órfão de guerra...
- Mas os orfanatos estão tão cheios, ninguém vai querer ficar com ele, mesmo ele sendo um garoto bonito e forte...
- Talvez este medalhão de prata garanta uma boa vida até ele ficar por conta própria, veja os entalhes...Parece coisa de familia....
- Talvez tenha alguma pista sobre quem são os pais dele...Veja há algumas letras aqui...
Em meu sonho, comecei vter umas imagens pouco nitidas de um medalhão prateado cheio de entalhes e o queparecia ser um dragão ou uma criatura marinha, não sei bem...Estiquei a mão para virar o medalhão....
- Tristan, o diretor que falar com você!- disse uma das freiras, batendo forte na porta e eu acordei assustado. Eu estava tão perto de me lembrar de alguma coisa que pudesse me ligar aos meus parentes. Talvez, eu sonhasse novamente e pudesse resolver o mistério.
AJ e a mãe já estavam fora, há mais de uma semana e Millie estava visitando alguns parentes na Escócia, durant este tempo, eu havia conseguido um emprego num bistrô trouxa na Champs- Elyseés, e recebia boas gorjetas, que eu estava economizando para poder levar Millie em algum bom restaurante quando saíssemos no passeio da escola.
Fui até o escritório do diretor e ele após me lançar aquele seu olhar irritado, me disse que meu tempo ali já havia terminado e eu deveria me mudar. No começo fiquei espantado, mas me lembrei que com dezessete anos e com o dinheiro que eu tinha economizado, eu poderia me aguentar, até voltar para a escola.
- Ok, vou embora, mas quero o meu medalhão.
- Que medalhão? – ele perguntou espantado e eu respondi.
- O medalhão de prata que estava comigo quando me trouxeram para cá. Sei que era de prata e é meu, era um medalhão de família. Onde ele está? - percebi que sua testa começou a suar e disse sério:
- Diga logo aonde está e eu não chamo a polícia.
- Acha que sua palavra vale alguma coisa Thorn? Você não passar de um fedelho que ninguém quis. Fizemos o favor de colocar um teto sobre a sua cabeça e você nos agradece assim? Até o mantivemos aqui mais tempo que o necessário...
- Fiquei aqui, porque era interessante para você que meu amigo o principe de Mônaco, fizesse doações ao orfanato, e ele fez não é? Por isso você permitiu que eu ficasse aqui por mais algum tempo, mas agora que o dinheiro deve ter acabado, e você vai gerar desconfianças se pedir mais doações, então você está me mandando embora. – vi que as gotas de suor de sua testa aumentavam e disse:
- Dê-me o meu medalhão e eu não falo nada a sua alteza real, que o dinheiro dele serviu para pagar o seu agiota. É, eu sei que você iria perder os movimentos das pernas por uns tempos...Não tente dizer nenhuma mentira, sabe que nunca fui muito paciente, me dê o que é meu. – ele ficou pálido e disse:
- Não posso...
- Como não pode, deve estar no cofre.
- Eu...o...vendi...Tive que fazê-lo... Você sabe, as despesas do orfanato são altas e manter você aqui, custou dinheiro. Aquilo era apenas uma jóia, então eu o vendi para custear as suas despesas na escola...
- Minhas despesas?? Tudo o que usei aqui foi doado, até a comida e a escola, foi bancada por um fundo escolar, a professora Lefreve sempre cuidou de tudo, você não pagou por nada. Aquele medalhão era meu....Como você pode roubar algo que não era seu??- perguntei enquanto o apertava pelo colarinho, e o empurrava e ele caiu sobre a cadeira, fazendo um barulho enorme, e a secretaria abriu a porta e nos olhou assustada:
- Quer que chame a polícia, por causa deste delinquente, diretor? - antes que ele respondesse eu disse irritado:
- Isso chame a policia, mas se prepare para responder as perguntas deles sobre roubo, porque não deve ter sido apenas o meu medalhão roubado, deve haver outras coisas. – e a mulher ficou chocada enquanto olhava para o diretor. Eu repeti a pergunta, enquanto o puxava para cima:
- Aonde está o meu medalhão??
- Eu o vendi, um ano depois que você chegou aqui. Eu precisava de dinheiro rapido e eu o peguei emprestado, com o tempo eu iria pega-lo de volta....Ninguém seria prejudicado...
- Ah sim, claro, um empréstimo... Pra quem o vendeu??
- Eu o levei para a loja de penhores em Saint-Maur, no subúrbio, tentei recupera-lo, mas quando voltei lá ele já havia sido vendido...
Contei até três, minha vontade era sacar a varinha e fazer aquela criatura bater na parede repetidas vezes, ate virar uma massa disforme, mas isso não traria meu medalhão de volta. E me complicaria com o Ministério, eu não posso ter nada contra mim, se eu quiser me tornar auror. Respirei fundo e perguntei:
- Você deve ter algum recibo da loja de penhor, me entregue...Lá tem as caracteristicas do medalhão e vai me ajudar a procura-lo...
- Não eu não tenho mais o recibo, eu o joguei fora há algum tempo, não ia conseguir achar o medalhão mesmo...- perdi a cabeça e dei-lhe um murro, que o jogou por cima da mesa e ele caiu desacordado, coisa típica de quem tem queixo fraco. A secretaria gritou e eu passei por ela furioso, mas ainda ouvi quando ela correu até o diretor.
Fui até o meu quarto peguei minhas coisas com um aceno da varinha e ninguem apareceu no meu caminho para me impedir de ir embora. Eu precisava pensar em alguma coisa para recuperar meu medalhão, mas minha primeira necessidade era conseguir um lugar para morar, e dar um jeito para que aquele ladrão fosse punido. E tudo isso antes das aulas começarem....
Millie pode ficar hospedada na casa dos Chronos e sempre tinhamos algum lugar para namorar e segundo porque isso me aproximava um pouco mais do meu sonho de me tornar um auror e ter um futuro, afinal os dias de ficar paquerando todas as gatinhas da escola acabaram. Millie é ciumenta rsrs.
Embora eu tenha sido cego por um bom tempo, agora sei que ela e eu podemos fazer uma historia bonita, mesmo contrariando a irmã dela, mas como Kyle McGregor nos apóia, não me preocupo tanto.
Eu, AJ, Marcel Kwon, Andreas, Bianca Anabela, Alice e Millie tivemos que aprender num curto espaço de tempo, feitiços avançados e embora fosse um treinamento duro, eu adorava cada minuto. E no ultimo dia tiramos fotos de todos com os nossos professores, e foi muito muito bom.
Após aquela semana, voltei a morar no orfanato, enquanto AJ e sua mãe viajaram para caçar e ele pudesse ser apresentado a Ministros da magia do mundo Bruxo e ser conhecido como futuro líder do clã Chronos. Combinamos de trocar cartas sempre que possivel, e estarmos juntos na volta as aulas. Eu sempre me despedia deles com um sorriso, mas quando ultrapassava aqueles portões, eu dizia a mim mesmo que deveria suportar, mais algum tempo, logo eu iria embora. Era o que eu me dizia desde pequeno...
Quando cheguei ao orfanato eu tinha uns cinco anos de idade. Trazia algumas roupas, um par de botas velhos e um pião que eu vivia brincando com ele. Eu havia ido para lá, porque as pessoas que me criaram havia morrido e não havia ninguém mais. Uma vez ao mês o Orfanato Sacre Coeur recebia a visita de casais querendo adotar crianças que haviam ficado orfãs por causa da guerra, e então era o dia em que nos mandavam tomar banho com os sabonetes cheirosos não os baratos, nos faziam comer cedo, e nos recomendavam ser muito educados e sorrir muito, pois alguém poderia nos levar para casa.
No primeiro ano, eu tive a esperança de que a familia de meus pais verdadeiros me encontrassem e eu fosse para casa com eles, então eu não poderia ser adotado por ninguém e me perder da minha família novamente, enquanto os outros estavam cheirosos e engomadinhos, eu sempre dava um jeito de fazer alguma coisa que me sujasse, ou assustasse as pessoas, como por exemplo tirar um camundongo do bolso, dizer algum palavrão , enquanto cutucava o meu nariz com gosto. Nada enoja tanto uma mulher, mesmo que ela queira ser uma mãe adotiva, quanto ver o futuro filho limpar o salão e arrotar.
Bom, várias vezes, as freiras lavaram minha boca com sabão, ou me mandaram ajoelhar no milho para me ensinar ‘a ser humilde’, mas isso só reforçava a minha teimosia. Com o passar do tempo, elas optaram por não mais me colocar na fila dos disponíveis para adoção, e assim evitar que eu estragasse as chances das outras crianças, eu era deixado de lado. Mas isso não me incomodava, só me perturbava o fato de que com o passar do tempo, todos de alguma forma ou de outra conseguiam uma família, e a minha não aparecia para me buscar. Quando entrei em Beauxbatons e conheci os meus amigos, percebi que aquela seria a minha família, então desisti de esperar , e optei por bloequear algumas memórias que faziam com que eu tivesse esperança.
Quando fiz doze anos e sabia me virar por Paris sem me perder, comecei a arrumar trabalhos temporários durante as férias da escola, já que o diretor do orfanato nunca permitia que eu ficasse com meus amigos da ‘escola de esnobes’, como ele os chamava, mas me liberava para trabalhar e aprender qual era o ‘meu lugar’, como ele fazia questão de enfatizar. Comecei a entregar jornais, lavar pratos, aparar grama, enfim tudo que me rendesse o bastante para poder bancar minhas despesas na escola, sem depender de ninguém e estar preparado para alguma emergência. Algumas vezes eu chegava tão cansado, que eu dormia sem sonhar com a minha infância, outras vezes eu não tinha tanta sorte...
- Ele não tem ninguém??
- Não! Os velhos só tinham um único filho que morreu na guerra e não deixou filhos. Este garoto foi acolhido por eles, é um órfão de guerra...
- Mas os orfanatos estão tão cheios, ninguém vai querer ficar com ele, mesmo ele sendo um garoto bonito e forte...
- Talvez este medalhão de prata garanta uma boa vida até ele ficar por conta própria, veja os entalhes...Parece coisa de familia....
- Talvez tenha alguma pista sobre quem são os pais dele...Veja há algumas letras aqui...
Em meu sonho, comecei vter umas imagens pouco nitidas de um medalhão prateado cheio de entalhes e o queparecia ser um dragão ou uma criatura marinha, não sei bem...Estiquei a mão para virar o medalhão....
- Tristan, o diretor que falar com você!- disse uma das freiras, batendo forte na porta e eu acordei assustado. Eu estava tão perto de me lembrar de alguma coisa que pudesse me ligar aos meus parentes. Talvez, eu sonhasse novamente e pudesse resolver o mistério.
AJ e a mãe já estavam fora, há mais de uma semana e Millie estava visitando alguns parentes na Escócia, durant este tempo, eu havia conseguido um emprego num bistrô trouxa na Champs- Elyseés, e recebia boas gorjetas, que eu estava economizando para poder levar Millie em algum bom restaurante quando saíssemos no passeio da escola.
Fui até o escritório do diretor e ele após me lançar aquele seu olhar irritado, me disse que meu tempo ali já havia terminado e eu deveria me mudar. No começo fiquei espantado, mas me lembrei que com dezessete anos e com o dinheiro que eu tinha economizado, eu poderia me aguentar, até voltar para a escola.
- Ok, vou embora, mas quero o meu medalhão.
- Que medalhão? – ele perguntou espantado e eu respondi.
- O medalhão de prata que estava comigo quando me trouxeram para cá. Sei que era de prata e é meu, era um medalhão de família. Onde ele está? - percebi que sua testa começou a suar e disse sério:
- Diga logo aonde está e eu não chamo a polícia.
- Acha que sua palavra vale alguma coisa Thorn? Você não passar de um fedelho que ninguém quis. Fizemos o favor de colocar um teto sobre a sua cabeça e você nos agradece assim? Até o mantivemos aqui mais tempo que o necessário...
- Fiquei aqui, porque era interessante para você que meu amigo o principe de Mônaco, fizesse doações ao orfanato, e ele fez não é? Por isso você permitiu que eu ficasse aqui por mais algum tempo, mas agora que o dinheiro deve ter acabado, e você vai gerar desconfianças se pedir mais doações, então você está me mandando embora. – vi que as gotas de suor de sua testa aumentavam e disse:
- Dê-me o meu medalhão e eu não falo nada a sua alteza real, que o dinheiro dele serviu para pagar o seu agiota. É, eu sei que você iria perder os movimentos das pernas por uns tempos...Não tente dizer nenhuma mentira, sabe que nunca fui muito paciente, me dê o que é meu. – ele ficou pálido e disse:
- Não posso...
- Como não pode, deve estar no cofre.
- Eu...o...vendi...Tive que fazê-lo... Você sabe, as despesas do orfanato são altas e manter você aqui, custou dinheiro. Aquilo era apenas uma jóia, então eu o vendi para custear as suas despesas na escola...
- Minhas despesas?? Tudo o que usei aqui foi doado, até a comida e a escola, foi bancada por um fundo escolar, a professora Lefreve sempre cuidou de tudo, você não pagou por nada. Aquele medalhão era meu....Como você pode roubar algo que não era seu??- perguntei enquanto o apertava pelo colarinho, e o empurrava e ele caiu sobre a cadeira, fazendo um barulho enorme, e a secretaria abriu a porta e nos olhou assustada:
- Quer que chame a polícia, por causa deste delinquente, diretor? - antes que ele respondesse eu disse irritado:
- Isso chame a policia, mas se prepare para responder as perguntas deles sobre roubo, porque não deve ter sido apenas o meu medalhão roubado, deve haver outras coisas. – e a mulher ficou chocada enquanto olhava para o diretor. Eu repeti a pergunta, enquanto o puxava para cima:
- Aonde está o meu medalhão??
- Eu o vendi, um ano depois que você chegou aqui. Eu precisava de dinheiro rapido e eu o peguei emprestado, com o tempo eu iria pega-lo de volta....Ninguém seria prejudicado...
- Ah sim, claro, um empréstimo... Pra quem o vendeu??
- Eu o levei para a loja de penhores em Saint-Maur, no subúrbio, tentei recupera-lo, mas quando voltei lá ele já havia sido vendido...
Contei até três, minha vontade era sacar a varinha e fazer aquela criatura bater na parede repetidas vezes, ate virar uma massa disforme, mas isso não traria meu medalhão de volta. E me complicaria com o Ministério, eu não posso ter nada contra mim, se eu quiser me tornar auror. Respirei fundo e perguntei:
- Você deve ter algum recibo da loja de penhor, me entregue...Lá tem as caracteristicas do medalhão e vai me ajudar a procura-lo...
- Não eu não tenho mais o recibo, eu o joguei fora há algum tempo, não ia conseguir achar o medalhão mesmo...- perdi a cabeça e dei-lhe um murro, que o jogou por cima da mesa e ele caiu desacordado, coisa típica de quem tem queixo fraco. A secretaria gritou e eu passei por ela furioso, mas ainda ouvi quando ela correu até o diretor.
Fui até o meu quarto peguei minhas coisas com um aceno da varinha e ninguem apareceu no meu caminho para me impedir de ir embora. Eu precisava pensar em alguma coisa para recuperar meu medalhão, mas minha primeira necessidade era conseguir um lugar para morar, e dar um jeito para que aquele ladrão fosse punido. E tudo isso antes das aulas começarem....
Thursday, September 17, 2009
Desde o inicio das férias de verão, Danielle, Bianca e eu éramos os únicos habitantes da nossa turma a permanecer em Mônaco. Cada um dos outros havia programado alguma viagem e não vi ninguém além das meninas desde que desembarcamos em Paris, no dia 1º de Julho. A cidade não era muito grande, mas os atrativos para o verão eram intermináveis. O tempo passava depressa, mas ainda nos restavam duas semanas em casa e planejamos passar três dias em Saint-Tropez para aproveitar os últimos dias de férias antes de voltarmos para Beauxbatons.
Eu estava particularmente animado para essa viagem, não via a hora de pegar minha velha prancha de surfe e pegar algumas ondas. Passei a semana inteira que antecedeu a viagem limpando ela, passando parafina e retocando alguma falha que pudesse ter na pintura, mal me preocupei com a mala que deveria levar. Se tivesse minha prancha, não ia precisar de mais nada. No dia combinado para irmos, deixei tudo na sala, próximo à lareira, e fiquei esperando pelas meninas. Íamos através de lareira, porque embora já soubesse aparatar, ainda não nos sentíamos seguros de fazer uma aparatação para aquela distancia toda.
- Kalani, as meninas chegaram – ouvi minha mãe chamar da cozinha e depois fechar a porta.
- E ai? Prontas? – levantei do sofá agitado, mas percebi que só Bianca carregava uma mala – Dani, cadê sua bolsa?
- Ela não vai – Bianca respondeu parecendo irritada – Está nos dando cano!
- Não estou dando cano em ninguém, só mudei de idéia, ok? – Danielle se defendeu. Pelo visto as duas vinham discutindo no caminho.
- Mas por que não vai mais? Aconteceu alguma coisa? – perguntei preocupado.
- Não aconteceu nada, eu só não estou muito no clima pra viajar – ela deu de ombros – Não sei o que é, mas sinto que não é para eu acompanhar vocês até Saint-Tropez. Algo me diz que devo ficar aqui.
- Danielle está virando hippie, vai passar a seguir seus instintos – Bianca zombou e Danielle fez uma careta impaciente.
- Deixe-a em paz, Bia – tentei intervir – Se Dani acha melhor ficar, então podemos remarcar a viagem.
- Não, de jeito nenhum! Não quero que deixem de ir por minha causa, especialmente você, Kal. Está alucinando por causa das ondas da praia tem dias, temo pela sua saúde se você não for mais.
- Não vai ter a mesma graça sem você – Bianca abandonou o ar sarcástico e olhou desanimada para ela.
- Tenho certeza que vocês vão se divertir do mesmo jeito.
- Tem certeza disso? – perguntei.
Danielle nos garantiu que não ia ficar chateada por não desmarcarmos os planos, então nos despedimos dela e entramos na lareira. Caímos direto na lareira do hotel La Pinede, onde nos hospedaríamos e pertencia a uma família de bruxos. Ficava bem em frente ao oceano, eu não poderia estar me sentindo mais em casa ao largar a mala no chão e sentir o cheiro da maresia invadindo o saguão.
- A gente se encontra aqui em 10 minutos? – falei ajeitando a mochila no ombro e Bianca assentiu com a cabeça, subindo as escadas animada.
Não demorei nem 5 minutos para trocar a calça jeans e a jaqueta por uma bermuda e uma camiseta, e os tênis novos por um chinelo folgado nos pés. Tirei meu velho boné da mochila e os óculos escuros que não usava há quase um ano e desci outra vez para o saguão com a prancha debaixo do braço. Bianca demorou uma eternidade para descer, mas quando apareceu ao pé da escada, percebi o porquê da demora. Ela estava toda produzida, nem parecia que ia a praia se molhar na água salgada e pisar na areia. Mas apesar da produção nada convencional, ela estava linda. Usava um vestido de tecido fino que caia perfeito em seu corpo cheio de curvas e podia ver que usava uma roupa de banho com babados, por causa das elevações em algumas partes. Seu rosto estava maquiado, mas só pude notar isso quando se aproximou, pois a sombra que o chapéu fazia disfarçava. E ela usava perfume, o mais delicioso que já senti.
- Vamos? – ela sorriu passando por mim – PJ diz que sou azarada, então é melhor irmos logo antes que comece a chover.
- Ahn, por que está tão produzida para ir à praia? – perguntei depois que consegui fechar a boca outra vez – Seu cabelo está muito arrumado pra ser todo bagunçado na água.
- Você queria que eu saísse na rua toda desleixada só porque não estamos indo a algum lugar fechado? – ela perguntou, mas não esperava uma resposta e saiu andando na minha frente.
Peguei a prancha encostada na parede e corri atrás dela, sem tocar outra vez no assunto. Mas apesar de todo o preparo para chegar até a praia, Bianca abandonou tudo quando pisou na areia. Ainda nem tinha a alcançado e ela já havia tirado o vestido, revelando um biquíni de duas peças cheio de babados e estampa de bolinhas. Senti uma gota de suor escorrer pela minha nuca, mas forcei um sorriso quando ela me olhou animada, avisando que ia entrar na água logo.
Enterrei a prancha na areia e me larguei ao lado dela, observando Bianca entrar devagar na água, pulando por causa da temperatura gelada. Não adiantava tentar me enganar, eu havia me encantado por ela desde o momento que a conheci, mas quando descobri que ela era namorada do Philipe passei a ignorar aquele fato. E estava ignorando tão bem que achava que podia passar três dias sozinho com ela numa praia, mas estava enganado. O problema era que agora era tarde demais e teria que afastar qualquer idéia inapropriada da mente, pois ela não só tinha namorado como esse namorado era agora meu irmão e eu jamais teria coragem de magoá-lo. Eu era bom em fingir, podia sobreviver a Saint-Tropez. Bianca acenou de dentro da água sorrindo e levantei da areia, pegando a prancha e correndo até ela, decidido a aproveitar o fim das férias com a consciência limpa.
Estava me saindo muito bem no meu papel de fingir que não carregava nenhum tipo de sentimento além de amizade por Bianca. Já estávamos na manhã do nosso terceiro e ultimo dia em Saint-Tropez e estávamos nos divertindo muito, como bons amigos. Passávamos a maior parte da manhã na praia, mas também perambulávamos pelas ruas da cidade comprando lembranças para os amigos e gastando dinheiro com sorvetes para tentar amenizar o calor que fazia. À noite sempre íamos ao mesmo quiosque na praia, onde tinha luau durante todas as noites do verão.
As malas já estavam prontas no hotel e voltamos para uma última visita a praia. Bianca havia decidido que ia aprender a surfar e passou os últimos dois dias tentando me persuadir a ensiná-la. Alugamos uma prancha para ela e depois de uma aula na areia, entramos no mar. Por sorte estava calmo, o que facilitaria bastante. Bianca era boa no quadribol, mas não era tão ágil assim no mar.
- Lembra o que ensinei na areia? – perguntei sentado na minha prancha, a ajudando a se manter sentada na sua – Quando a onda vier, faça exatamente aquilo.
- Mas como vou ficar em pé? Na areia a prancha estava firme no chão!
- É muito rápido, a prancha não vira nesse meio tempo em que você toma impulso e fica de pé nela.
- E se eu cair no meio da onda e me afogar? – ela estava começando a se desesperar e comecei a rir – Philipe vai matar você se eu morrer afogada. E se por acaso ele não matar, eu volto pra puxar seu pé!
- Você não vai morrer afogada e Philipe não vai me matar – talvez matasse, mas por outro motivo – Apenas faça o que ensinei e vai conseguir. As ondas estão fracas hoje, não tem perigo. Fica preparada, está vindo uma...
Bianca olhou para trás concentrada, o corpo rígido deitado sobre a prancha. A onda que se aproximava não era violenta e ela conseguiu executar todos os movimentos simples que havia ensinado, deslizando pela água de pé na prancha. Já estava quase no final quando olhou para trás me procurando e perdeu o equilíbrio, caindo feio dentro d’água. Nadei o mais rápido que pude até ela assim que vi sua prancha voar para um lado enquanto ela afundava do lado oposto, tentando se sobressair na onda que ainda batia um pouco agitada. Consegui alcançá-la a tempo e a agarrei pela cintura, arrastando-a até a areia segura e seca.
- Bia, você está bem? – perguntei preocupado. Embora ela respirasse, estava muito ofegante.
- Não, não estou bem! – ela respondeu irritada, tossindo e cuspindo água – Devo ter engolido 2 litros de água salgada e minha cabeça doi.
- Deve ter entrado água pelo seu nariz – falei sério, mas logo estava tentando não rir – Foi um tombo feio.
- Você disse que a onda era fraca!
- E era! Se parar pra pensar, a culpa foi sua, não da onda – ela me lançou um olhar indignado, o que só me fez rir mais – Você estava indo bem, só caiu porque olhou pra trás e acenou pra mim. Erro primário, nunca perca a concentração até que esteja na areia!
- Vou me lembrar disso da próxima vez.
- Vai ter uma próxima vez? – perguntei surpreso.
- Claro! Acha que vou desistir na primeira tentativa que deu errado? Vamos voltar aqui no próximo verão e você vai continuar a me dar aulas.
- Pensei que tinha enjoado da minha cara nesse verão, vai querer continuar me tendo por perto? – brinquei e ela riu, mas depois ficou séria.
- Não posso me cansar da pessoa que salvou o meu verão. Se você não tivesse sido minha companhia permanente, acho que teria entrado em depressão outra vez.
- Não foi nenhum sacrifício, você é uma ótima companhia. É meio maluca, mas é muito divertida – e ela riu outra vez.
- Você também não é nada mau, havaiano. Só precisa melhorar suas habilidades com a dança.
- E você com a prancha – abri um sorriso debochado outra vez e ela parou de sorrir – O tom foi realmente espetacular.
- Para de rir, não teve graça.
- É porque você não teve a visão que eu tive – agora já estava gargalhando – Bia, você voou sem uma vassoura, tem noção de que isso pode revolucionar o quadribol? Pena não ter uma câmera na mão, daria uma bela filmagem.
Bianca ainda me fuzilava com os olhos, mas em um movimento rápido, enfiou a mão na areia e atirou uma coisa que se mexia pra cima de mim. O objeto não-identificado parou em cima da minha cabeça e se embolou no meu cabelo, me fazendo saltar da areia com um grito de susto, enquanto tentava arrancá-lo de lá. Agora quem ria era ela, enquanto eu lutava contra meus cabelos embolados para livrá-los do bicho. Por fim consegui me livrar dele e atirei no chão, vendo que era um filhote de caranguejo. O bicho rapidamente sumiu pela areia da praia e Bianca rolava no chão de tanto rir.
- Ah, você é uma pessoa morta...
Quando viu minha expressão, levantou em um único salto e saiu correndo pela areia, ainda rindo. Fui atrás dela e a alcancei numa questão de segundos, a agarrando pela cintura e derrubando no chão, mas caindo junto. Ela agora lutava pra se livrar das minhas mãos, que enchiam seu cabelo de areia, mas ainda caçoava do incidente com o caranguejo.
- Que maricas, gritando daquele jeito – ela me provocou, tentando se soltar – Parecia uma menininha.
- Vou te mostrar quem é menininha.
Ela gritou por socorro, mas continuava rindo. Agora tinha suas duas mãos bem presas e prendi suas pernas com o peso das minhas, tinha total controle da situação. Ela parou de gritar quando viu que não ia conseguir se soltar e passou a me encarar. Estávamos muito próximos, meu corpo estava todo em cima do dela e não tinha dúvidas de que se ela não fosse comprometida, estaria tirando proveito daquela situação. Mas mais uma vez me forcei a lembrar que ela era namorada do meu irmão, era território proibido.
Bianca continuou me encarando sem dizer nada por quase um minuto e, num movimento que eu jamais poderia imaginar, ergueu a cabeça da areia e me beijou. Minhas mãos automaticamente soltaram as suas e procuraram por sua cintura, enquanto ela passava seus dedos em meus cabelos e nuca. Eu sabia que aquilo era errado e que no segundo que acabasse, me sentiria a pessoa mais suja e horrível do mundo, mas tudo que conseguia pensar naquele momento era que tinha a garota dos meus sonhos tomada em meus braços. E que havia sido ela a dar o primeiro passo.
Well I didn't mean for this to go as far as it did
And I didn't mean to get so close and share what we did
And I didn't mean to fall in love, but I did
And you didn't mean to love me back, but I know you did
Plain White T’s - A Lonely September
Eu estava particularmente animado para essa viagem, não via a hora de pegar minha velha prancha de surfe e pegar algumas ondas. Passei a semana inteira que antecedeu a viagem limpando ela, passando parafina e retocando alguma falha que pudesse ter na pintura, mal me preocupei com a mala que deveria levar. Se tivesse minha prancha, não ia precisar de mais nada. No dia combinado para irmos, deixei tudo na sala, próximo à lareira, e fiquei esperando pelas meninas. Íamos através de lareira, porque embora já soubesse aparatar, ainda não nos sentíamos seguros de fazer uma aparatação para aquela distancia toda.
- Kalani, as meninas chegaram – ouvi minha mãe chamar da cozinha e depois fechar a porta.
- E ai? Prontas? – levantei do sofá agitado, mas percebi que só Bianca carregava uma mala – Dani, cadê sua bolsa?
- Ela não vai – Bianca respondeu parecendo irritada – Está nos dando cano!
- Não estou dando cano em ninguém, só mudei de idéia, ok? – Danielle se defendeu. Pelo visto as duas vinham discutindo no caminho.
- Mas por que não vai mais? Aconteceu alguma coisa? – perguntei preocupado.
- Não aconteceu nada, eu só não estou muito no clima pra viajar – ela deu de ombros – Não sei o que é, mas sinto que não é para eu acompanhar vocês até Saint-Tropez. Algo me diz que devo ficar aqui.
- Danielle está virando hippie, vai passar a seguir seus instintos – Bianca zombou e Danielle fez uma careta impaciente.
- Deixe-a em paz, Bia – tentei intervir – Se Dani acha melhor ficar, então podemos remarcar a viagem.
- Não, de jeito nenhum! Não quero que deixem de ir por minha causa, especialmente você, Kal. Está alucinando por causa das ondas da praia tem dias, temo pela sua saúde se você não for mais.
- Não vai ter a mesma graça sem você – Bianca abandonou o ar sarcástico e olhou desanimada para ela.
- Tenho certeza que vocês vão se divertir do mesmo jeito.
- Tem certeza disso? – perguntei.
Danielle nos garantiu que não ia ficar chateada por não desmarcarmos os planos, então nos despedimos dela e entramos na lareira. Caímos direto na lareira do hotel La Pinede, onde nos hospedaríamos e pertencia a uma família de bruxos. Ficava bem em frente ao oceano, eu não poderia estar me sentindo mais em casa ao largar a mala no chão e sentir o cheiro da maresia invadindo o saguão.
- A gente se encontra aqui em 10 minutos? – falei ajeitando a mochila no ombro e Bianca assentiu com a cabeça, subindo as escadas animada.
Não demorei nem 5 minutos para trocar a calça jeans e a jaqueta por uma bermuda e uma camiseta, e os tênis novos por um chinelo folgado nos pés. Tirei meu velho boné da mochila e os óculos escuros que não usava há quase um ano e desci outra vez para o saguão com a prancha debaixo do braço. Bianca demorou uma eternidade para descer, mas quando apareceu ao pé da escada, percebi o porquê da demora. Ela estava toda produzida, nem parecia que ia a praia se molhar na água salgada e pisar na areia. Mas apesar da produção nada convencional, ela estava linda. Usava um vestido de tecido fino que caia perfeito em seu corpo cheio de curvas e podia ver que usava uma roupa de banho com babados, por causa das elevações em algumas partes. Seu rosto estava maquiado, mas só pude notar isso quando se aproximou, pois a sombra que o chapéu fazia disfarçava. E ela usava perfume, o mais delicioso que já senti.
- Vamos? – ela sorriu passando por mim – PJ diz que sou azarada, então é melhor irmos logo antes que comece a chover.
- Ahn, por que está tão produzida para ir à praia? – perguntei depois que consegui fechar a boca outra vez – Seu cabelo está muito arrumado pra ser todo bagunçado na água.
- Você queria que eu saísse na rua toda desleixada só porque não estamos indo a algum lugar fechado? – ela perguntou, mas não esperava uma resposta e saiu andando na minha frente.
Peguei a prancha encostada na parede e corri atrás dela, sem tocar outra vez no assunto. Mas apesar de todo o preparo para chegar até a praia, Bianca abandonou tudo quando pisou na areia. Ainda nem tinha a alcançado e ela já havia tirado o vestido, revelando um biquíni de duas peças cheio de babados e estampa de bolinhas. Senti uma gota de suor escorrer pela minha nuca, mas forcei um sorriso quando ela me olhou animada, avisando que ia entrar na água logo.
Enterrei a prancha na areia e me larguei ao lado dela, observando Bianca entrar devagar na água, pulando por causa da temperatura gelada. Não adiantava tentar me enganar, eu havia me encantado por ela desde o momento que a conheci, mas quando descobri que ela era namorada do Philipe passei a ignorar aquele fato. E estava ignorando tão bem que achava que podia passar três dias sozinho com ela numa praia, mas estava enganado. O problema era que agora era tarde demais e teria que afastar qualquer idéia inapropriada da mente, pois ela não só tinha namorado como esse namorado era agora meu irmão e eu jamais teria coragem de magoá-lo. Eu era bom em fingir, podia sobreviver a Saint-Tropez. Bianca acenou de dentro da água sorrindo e levantei da areia, pegando a prancha e correndo até ela, decidido a aproveitar o fim das férias com a consciência limpa.
ººººº
Estava me saindo muito bem no meu papel de fingir que não carregava nenhum tipo de sentimento além de amizade por Bianca. Já estávamos na manhã do nosso terceiro e ultimo dia em Saint-Tropez e estávamos nos divertindo muito, como bons amigos. Passávamos a maior parte da manhã na praia, mas também perambulávamos pelas ruas da cidade comprando lembranças para os amigos e gastando dinheiro com sorvetes para tentar amenizar o calor que fazia. À noite sempre íamos ao mesmo quiosque na praia, onde tinha luau durante todas as noites do verão.
As malas já estavam prontas no hotel e voltamos para uma última visita a praia. Bianca havia decidido que ia aprender a surfar e passou os últimos dois dias tentando me persuadir a ensiná-la. Alugamos uma prancha para ela e depois de uma aula na areia, entramos no mar. Por sorte estava calmo, o que facilitaria bastante. Bianca era boa no quadribol, mas não era tão ágil assim no mar.
- Lembra o que ensinei na areia? – perguntei sentado na minha prancha, a ajudando a se manter sentada na sua – Quando a onda vier, faça exatamente aquilo.
- Mas como vou ficar em pé? Na areia a prancha estava firme no chão!
- É muito rápido, a prancha não vira nesse meio tempo em que você toma impulso e fica de pé nela.
- E se eu cair no meio da onda e me afogar? – ela estava começando a se desesperar e comecei a rir – Philipe vai matar você se eu morrer afogada. E se por acaso ele não matar, eu volto pra puxar seu pé!
- Você não vai morrer afogada e Philipe não vai me matar – talvez matasse, mas por outro motivo – Apenas faça o que ensinei e vai conseguir. As ondas estão fracas hoje, não tem perigo. Fica preparada, está vindo uma...
Bianca olhou para trás concentrada, o corpo rígido deitado sobre a prancha. A onda que se aproximava não era violenta e ela conseguiu executar todos os movimentos simples que havia ensinado, deslizando pela água de pé na prancha. Já estava quase no final quando olhou para trás me procurando e perdeu o equilíbrio, caindo feio dentro d’água. Nadei o mais rápido que pude até ela assim que vi sua prancha voar para um lado enquanto ela afundava do lado oposto, tentando se sobressair na onda que ainda batia um pouco agitada. Consegui alcançá-la a tempo e a agarrei pela cintura, arrastando-a até a areia segura e seca.
- Bia, você está bem? – perguntei preocupado. Embora ela respirasse, estava muito ofegante.
- Não, não estou bem! – ela respondeu irritada, tossindo e cuspindo água – Devo ter engolido 2 litros de água salgada e minha cabeça doi.
- Deve ter entrado água pelo seu nariz – falei sério, mas logo estava tentando não rir – Foi um tombo feio.
- Você disse que a onda era fraca!
- E era! Se parar pra pensar, a culpa foi sua, não da onda – ela me lançou um olhar indignado, o que só me fez rir mais – Você estava indo bem, só caiu porque olhou pra trás e acenou pra mim. Erro primário, nunca perca a concentração até que esteja na areia!
- Vou me lembrar disso da próxima vez.
- Vai ter uma próxima vez? – perguntei surpreso.
- Claro! Acha que vou desistir na primeira tentativa que deu errado? Vamos voltar aqui no próximo verão e você vai continuar a me dar aulas.
- Pensei que tinha enjoado da minha cara nesse verão, vai querer continuar me tendo por perto? – brinquei e ela riu, mas depois ficou séria.
- Não posso me cansar da pessoa que salvou o meu verão. Se você não tivesse sido minha companhia permanente, acho que teria entrado em depressão outra vez.
- Não foi nenhum sacrifício, você é uma ótima companhia. É meio maluca, mas é muito divertida – e ela riu outra vez.
- Você também não é nada mau, havaiano. Só precisa melhorar suas habilidades com a dança.
- E você com a prancha – abri um sorriso debochado outra vez e ela parou de sorrir – O tom foi realmente espetacular.
- Para de rir, não teve graça.
- É porque você não teve a visão que eu tive – agora já estava gargalhando – Bia, você voou sem uma vassoura, tem noção de que isso pode revolucionar o quadribol? Pena não ter uma câmera na mão, daria uma bela filmagem.
Bianca ainda me fuzilava com os olhos, mas em um movimento rápido, enfiou a mão na areia e atirou uma coisa que se mexia pra cima de mim. O objeto não-identificado parou em cima da minha cabeça e se embolou no meu cabelo, me fazendo saltar da areia com um grito de susto, enquanto tentava arrancá-lo de lá. Agora quem ria era ela, enquanto eu lutava contra meus cabelos embolados para livrá-los do bicho. Por fim consegui me livrar dele e atirei no chão, vendo que era um filhote de caranguejo. O bicho rapidamente sumiu pela areia da praia e Bianca rolava no chão de tanto rir.
- Ah, você é uma pessoa morta...
Quando viu minha expressão, levantou em um único salto e saiu correndo pela areia, ainda rindo. Fui atrás dela e a alcancei numa questão de segundos, a agarrando pela cintura e derrubando no chão, mas caindo junto. Ela agora lutava pra se livrar das minhas mãos, que enchiam seu cabelo de areia, mas ainda caçoava do incidente com o caranguejo.
- Que maricas, gritando daquele jeito – ela me provocou, tentando se soltar – Parecia uma menininha.
- Vou te mostrar quem é menininha.
Ela gritou por socorro, mas continuava rindo. Agora tinha suas duas mãos bem presas e prendi suas pernas com o peso das minhas, tinha total controle da situação. Ela parou de gritar quando viu que não ia conseguir se soltar e passou a me encarar. Estávamos muito próximos, meu corpo estava todo em cima do dela e não tinha dúvidas de que se ela não fosse comprometida, estaria tirando proveito daquela situação. Mas mais uma vez me forcei a lembrar que ela era namorada do meu irmão, era território proibido.
Bianca continuou me encarando sem dizer nada por quase um minuto e, num movimento que eu jamais poderia imaginar, ergueu a cabeça da areia e me beijou. Minhas mãos automaticamente soltaram as suas e procuraram por sua cintura, enquanto ela passava seus dedos em meus cabelos e nuca. Eu sabia que aquilo era errado e que no segundo que acabasse, me sentiria a pessoa mais suja e horrível do mundo, mas tudo que conseguia pensar naquele momento era que tinha a garota dos meus sonhos tomada em meus braços. E que havia sido ela a dar o primeiro passo.
Well I didn't mean for this to go as far as it did
And I didn't mean to get so close and share what we did
And I didn't mean to fall in love, but I did
And you didn't mean to love me back, but I know you did
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