A festa de formatura já estava na metade quando Madame Máxime finalmente pediu para pararem a música.
- Convidamos todos os presentes a se sentarem, pois agora vamos anunciar os vencedores de Rei e Rainha do Baile de Formatura. – quando a pista de dança foi se esvaziando, ela tornou a falar. – A mesa de jurados foi composta por: Henri Renoir, Enrico Beltoise, Charlie Babineaux, Elena Bourque (nossos convidados especiais para esta festa, ex-alunos da escola da década de 60), pelas professoras Emily McGregor e Françoise Dekeuwer-Defossez e por mim, Olímpia Máxime. Os casais candidatos são: Anabel Damulakis McCallister e Bernard Lestel, Beatrice...
Uma explosão de gritos e palmas deu-se início ali perto. Bernard (que estava vestido com uma grossa jaqueta de couro e um enorme topete nos cabelos) acenou para nossos amigos em resposta. O avô dele, Edmond Lestel, e a avó de Ian, Danielle Renoir, comandavam a bagunça. Senti minhas pernas amolecerem de vergonha, ansiedade, e raiva. Raiva sim. Estava me sentindo um verdadeiro holofote humano com aquele vestido de cetim prateado enquanto as outras candidatas se vestiam tão adequadamente discretas. Enquanto tentava me acalmar, apertava a mão de Bernard com tanta força que meus dedos estavam ficando em câimbras e fazia uma nota mental de esganar a Isabel no fim de tudo. Uma nova explosão de palmas, mas dessa vez generalizada, anunciou que Madame Máxime tinha finalmente terminado de ler a lista dos candidatos. Ela ocupou seu lugar no centro da mesa de jurados e Emily se levantou, indo até o microfone.
- Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer em meu nome e em nome de toda a comissão de formatura e todos os formandos, a presença da nossa “vanguarda”. Vocês estão dando um toque especial à nossa festa. – todos recomeçaram a aplaudir. O avô de Ian parecia muito à vontade, e até se levantou de seu lugar fazendo reverências. – Quero parabenizar também todos os casais candidatos do concurso e dizer que foi muito difícil para todos nós escolhermos somente um. Todos são ótimos.
Novas palmas, gritos, assovios e um coro estrondoso “Bê&Be”. Meu estômago não parava de dar voltas e apertei ainda mais a mão de Bernard, que pareceu já estar familiarizado com a dor, pois não reclamou, apenas sussurrou no meu ouvido:
- Fique calma. Nós temos dois aliados na mesa de jurados. Teríamos três, mas meu avô decidiu ficar de fora, pois seria muito injusto. – ele riu irônico e falou ainda mais baixo: - como se os avôs de Ian e Clarie fossem completamente imparciais no julgamento...
- Clarie... Clarisse? – perguntei com um nó na garganta.
- Sim. Essa é a prova real de que ela não “brotou do chão” como você disse. Nossos avôs já eram muito amigos naquela época.
- É assim que você pretende me acalmar, Bernard? Primeiro me contando que a sua ligação com a Clarie é jurássica e que eu nunca vou poder mudar isso, e depois me dizendo que o avô dela é um dos jurados desse maldito concurso? Não tenho mais dúvidas de que não vamos ganhar. Eu estou mais iluminada que o globo de luz, e o avô da sua amiguinha está prontinho pra me julgar...
Bernard começou a rir, o que me irritou ainda mais. Abriu a boca para dizer qualquer coisa, mas a voz de Emily soou muito mais alta e empolgada do palco.
- Finalmente, os vencedores e Rei e Rainha do Baile de Formatura da turma de 1999 são: - ela deu uma pausa proposital e todos prenderam a respiração. Meu estômago despencou. – ANABEL DAMULAKIS MCCALLISTER E BERNARD LESTEL!!!
Foi bom Bernard estar preparado, pois minhas pernas amoleceram e eu teria caído. Mas ele me apoiou com força pela cintura, me puxando para um forte abraço seguido de um beijo. Ao nosso redor, a barulheira era tanta que estava me deixando surda. Apoiada por ele, subimos até o palco onde nos coroaram, colocaram faixas, entregaram cetros e ramos de flores. Nunca em minha vida eu me imaginava no meio de uma cena daquelas, mas era oficial: eu era a rainha do meu baile de formatura.
°°°
Após Bê&Be serem consagrados como Rei e Rainha do Baile, o avô de Ian e os outros da vanguarda falaram um pouco sobre a escola nos anos em que estudaram e contaram histórias engraçadas sobre uma professora maluca sobrevivente da guerra, sobre as aulas de etiqueta com a avó da Defossez e as tediosas aulas de História da Magia na França com uma senhora que nas palavras de Henri Renoir: já estava fazendo horas extras há muitos anos.
A música voltou e a pista tornou a se encher. Henrique me arrastou até nossa mesa para recobrarmos a energia por um tempo. Rebecca e papai estavam sentados lado a lado e pareciam estarem se divertindo muito, pois suas taças de whisky de fogo jaziam pela metade e eles riam abertamente. Quando nos viram sentados do outro lado, pararam de conversar, sorridentes. Bernard e Bel chegaram um minuto depois, também parecendo exaustos. Ela usava a jaqueta de couro dele por cima do vestido. Estava sem sandálias, com os cabelos soltos, a maquiagem borrada, e claro, sem coroa, faixa, cetro e tudo o mais. A Cinderela havia se tornado Gata Borralheira. Sentaram-se do meu lado.
- A festa está muito divertida. Estava agora mesmo comentando com Richard o quanto essas músicas dos anos 60 são animadas! – Rebecca disse alto tomando mais uma boa dose de whisky. Papai concordou. – A propósito, parabéns Anabel. Sabia que você e Bernard ganhariam esse concurso! Então... uma semana na Itália, ham? – ela disse sorrindo e Bel corou. Bernard passou o braço por seus ombros, concordando satisfeito. – Quando vão?
- Vamos marcar para agosto, quando eu tirar férias do trabalho. – Bernard respondeu. Bel continuou em silêncio. Eu e Henrique nos entreolhamos e sufocamos a risada.
- Isabel, porque você nunca me levou uma garrafa de whisky de fogo para provar? É delicioso! – papai falou tomando todo o resto de sua taça parecendo impressionado. Ri.
- Porque é viciante também, papai. Não queremos que você se torne um engenheiro alcoólatra, não é? A NASA não iria gostar nada disso. – Henrique riu. – Amanhã eu te apresento à famosa “cerveja amanteigada”.
Ele sacudiu os ombros apanhando mais um copo de whisky de fogo de um elfo que passava na mesa. Rebecca logo começou a contar a história do whisky de fogo e os dois se fecharam para o mundo. Henrique se levantou.
- Vamos voltar a dançar! – ele olhou expressivo pra Bernard, que também puxou uma Bel muito contrariada de volta para a pista.
- Meus pés estão cheios de bolha! – ela disse resmungando.
- Eu te carrego, minha rainha. – Bernard disse simpático e segurou-a no colo, levando-a até a pista de dança. Ela pareceu constrangida de início, mas envolveu os dois braços no pescoço dele e se deixou levar. Acho até que dormiu.
Nos juntamos com o restante de nossos amigos e esquecemos a hora passar. Só saímos da pista de dança quando o sol já estava alto no céu de Beauxbatons.
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No dia seguinte as conseqüências da festa se mostraram bem evidentes no café da manhã. Os convidados haviam passado a noite no castelo e a maior parte deles exibia expressões exaustas e de ressaca. Sentei-me em uma das grandes mesas (que agora já não mostravam traços das quatro casas), onde meus amigos se aglomeravam. Samuel e Anne, Sávio e Dora, Brenda e Chris, Bel e Bernard, Ian e Marie, Manu e Viera, papai e mamãe (que também pareciam sonolentos, mas continuavam conversando entre si), os avôs de Bernard, Ian e Enrico Beltoise. Dominique, Gabriel e Mad, Miyako, Ty. Henrique. Tomamos café da manhã com calma repassando os melhores momentos da noite anterior e quando chegou a hora de partirmos, me deu um aperto no coração. Subi uma última vez até o Salão Comunal da Fidei para apanhar todas as minhas malas mas não queria me despedir. Dora também estava muito silenciosa enquanto juntava todas as suas coisas na porta.
- Não vou me acostumar tão cedo com a idéia de não voltar para cá em setembro.
- Nem eu... Mas não vão se livrar de mim tão fácil. Vou só esperar começar meus estudos e vou sugerir à Máxime que me contrate para reformar os uniformes desse colégio. Acho que são os mesmos desde 1920. – Dora riu reprimindo as lágrimas que queriam saltar dos olhos dela. – Você disse aos seus pais que iria morar com Sávio, ontem?
- Disse. Esperei até me entregarem o diploma, para ao menos ver um último olhar de orgulho deles. Foram embora assim que a festa começou e vão me deserdar. – as lágrimas venceram a batalha e escorreram sem parar. Ela limpou rapidamente, sacudindo os ombros. – Não vou voltar atrás. Eu amo o Sávio e eles não podem mudar isso. – Concordei com a cabeça e ela sorriu. – Estamos parecendo duas comadres. Nem a senhora da vanguarda, como é mesmo o nome dela...? Elena Bourque! Nem ela parece tão antiquada. Vamos descer. O futuro nos aguarda.
- Isso aí. – incentivei e fiz todas as minhas coisas começarem a levitar com um aceno de varinha. Ela fez o mesmo e demos uma última olhada ao dormitório antes de sairmos fechando a porta.
°°°
A viagem até Paris nunca fora tão divertida. Henri Renoir, após um pedido de Ian, começou a relatar histórias ainda mais engraçadas sobre sua época de escola, sendo eventualmente lembrado de alguém ou algum detalhe por Edmond Lestel, Enrico Beltoise e Danielle Renoir. Escutávamos com atenção.
- O castelo era recheado de pessoas exóticas. A banda da escola “Le Bonnet-Blue” (Os barretes azuis) sempre tocava nas festas. Os amigos de Danielle então, eram muito excêntricos... Uma delas queria jogar quadribol no time da escola, mas naquela época não era permitido. Acho que se vocês, meninas, têm direito a jogarem quadribol hoje em dia, devem muito à Bianca. Um príncipe sem parafusos na cabeça. Os irmãos Perrineau, um africano, um asiático e outro havaiano, surfista, que nadava todos os dias no lago do castelo mesmo que estivesse congelado! Ah, e Olívia que escrevia contos e só descobrimos isso muito tempo depois, se lembra Danielle? – a avó de Ian concordou com a cabeça, saudosa.
- E vocês dois, que comeram o pão que o diabo amassou debaixo do braço para poderem ficar juntos! A história de vocês daria um bom livro... – o avô de Bernard comentou e Henri sorriu, segurando a mão da mulher.
- Vocês estão se esquecendo das rádio novelas! Eram muito divertidas! E aquele menino que tinha fama de “bad boy”, o rebelde sem causa, se lembram? – Enrico Beltoise sorriu. Henri, Edmond e Danielle também.
- Era amigo do menino que tinha uma fixação estranha em combater seres das trevas. Só falava disso. E falando em fixação, aquela outra garota que jurava que tinha azar no amor e que todos que se apaixonavam por ela acabavam morrendo! Acho que você saiu algumas vezes com ela, não saiu, Edmond? Me lembro de você contar às risadas quando se afastou que ela era doida e tinha pedido para que você não se apaixonasse por ela. – Henri contou rindo alto e Edmond concordou.
- Sim, me lembro. Acho que se chamava Penélope ou qualquer coisa assim. – Vocês se lembram das greves de fome que a professora de botânica começava, nos jantares com muitas carnes? Ela até nos obrigava a rezar pelas almas dos frangos, porcos, vacas ou o que quer que fosse.
- Só não eram mais engraçadas que as festas de despedida que a professora de adivinhação promovia, dizendo que o mundo ia acabar.
Eles recomeçaram a rir e nos entreolhamos quase sem entender nada.
- Vocês deveriam escrever um livro sobre aquela época! Assim nós poderíamos ler com detalhes sobre cada história dessas e não ficaríamos “boiando”. – Ian deu a idéia e concordamos. Henri falou pensativo.
- É, você tem razão. Deveríamos escrever um livro sobre aqueles “anos dourados”...
Ele completou sorrindo saudoso enquanto observávamos ao longe, a silhueta minúscula de Beauxbatons desaparecer no horizonte.
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N.A.: ACABOU! ACABOU! A-C-A-B-O-U! A C A B O U!!! *aos prantos* Desculpem a minha empolgação, mas é que depois de três anos sendo fiel a este blog (e a outro antes deste, mas que prefiro não me lembrar já que ele também acabou), eu ainda não consigo acreditar que finalmente consegui formar Isa e Bel.
Formadas estão, mas isso não quer dizer que elas acabaram por aqui. Muito pelo contrário. Acho que já deixei boas indiretas de que elas vão continuar contando suas histórias, não é? Claro que com menor freqüência, afinal, o fim do texto já mostra uma super DIRETA de que vááários novos personagens estão vindo por aí para contarem suas próprias histórias.
Caríssimos leitores, estamos fechando essa era de Beauxbatons para começarmos outra. Isso mesmo. A partir de agosto, nesta mesma página, voltaremos 50 anos no vira-tempo, para o ano de 1958. Entrará no ar a “Beauxbatons Retrô” ou “Anos Dourados”, como preferirem.
Mas para continuarem acompanhando as histórias das irmãs IsaBel Damulakis McCallister, a nova casa delas é: Pink&Brain. E para continuarem acompanhando as histórias de Seth e Griffon Chronos, Tyrone McGregor, Gabriel Storm, Rory Montpellier e Miyako Kinoshita (os integrantes dessa era “atual” do blog, que ainda estão a um ano de suas formaturas) o novo endereço é: Os renegados.
Este espaço ficará fechado por um mês e passará por manutenção para acomodarmos os novos integrantes, mas os outros blogs continuam com seus funcionamentos normais. Esperamos encontrar todos novamente, em breve.
Obrigada pela paciência, compreensão, tempo, etc. e tal. Malfeito feito!
I’m useless but not for long
The future is coming on, is coming on, is coming on ♪
Clint Eastwood – Gorillaz
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