Tuesday, July 08, 2008

The Graduation, parte I

Memórias de Isabel McCallister

A partida parecia durar dias. Já estava começando a anoitecer em Beauxbatons e ambos os times começavam a se entregar ao cansaço e exaustão. O placar acirrado: Fidei 230 X 200 Nox. Nem mesmo as torcidas se levantavam ou gritavam mais para comemorarem novos gols.
A goles estava na minha mão e eu esperava Brendan e Pacy se emparelharem aos meus lados para finalizarmos a jogada contra Bridget, que estava sozinha em frente aos gols. Quando Brendan apareceu do meu lado esquerdo, lancei a goles para ele, que se desviou de Jean Savoy e confundindo Bridget, afundou a goles no aro da direita com uma velocidade incrível. A torcida amarela mal se mexeu para comemorar os dez novos pontos. Mal a goles saiu do meio do campo, todos se levantaram na arquibancada ansiosos. Miyako e Tony voavam em direção ao pomo, na extremidade sul do campo. Eu e todos os outros artilheiros, tanto da Fidei, quanto da Nox, não começamos novas jogadas e também passamos a acompanhar os dois. Miyako estava alguns centímetros na frente e estendeu a mão. Ela fecharia o punho a qualquer momento e o jogo estaria acabado, dando a final para eles. Já estava me conformando com a idéia, quando um barulho opaco se espalhou pelo ar. Um balaço lançado com violência pelo Jacki atingiu Miyako no estômago e ela começou a despencar da vassoura de uma altura de aproximadamente 5 metros.
Depois aconteceu tudo muito rápido. Tony capturou o pomo e estendeu o braço, sorrindo vitorioso e fazendo toda a massa amarela saltar das arquibancadas e correr pelo campo. Brendan me cutucou radiante dizendo “vencemos” e descendo em direção ao restante do time, que já se misturava na torcida e comemoravam o título. Fiquei parada no ar uns minutos sem me convencer da situação. Observei Miyako se levantar e sair andando em direção ao castelo sendo ajudada pelo professor e pelo restante do time da Nox. Estava um pouco pálida, mas bem.

- ISA, VOCÊ VAI DESCER OU NÃO VAI? A TAÇA É NOSSA! – Danilo gritou lá embaixo e eu me dei conta de que era a única da casa que ainda não se misturava no gramado para receber a grande taça dourada que Madame Máxime trazia.

Sorri e segundos depois, saltei no chão. Várias mãos me levaram até onde o restante do time estava e quando Tony passou a taça para nós eu soube: estava encerrando a minha “quase carreira” no quadribol com bastante estilo.

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Era véspera da festa de formatura. Os alunos que não participariam dela já estavam ocupando o barco da escola em direção a Paris para as férias de verão. Os jardins e salões do castelo já estavam completamente decorados com discos vinis, pisos quadriculados, fotos em preto e branco de bandas e celebridades da década de 60 e diversos outros objetos.
Mal abri os olhos e Dora se exaltou na cama ao lado, empolgada.

- Finalmente você acordou, Isa! As encomendas chegaram! – ela disse apontando para três grandes caixas ao pé da minha cama. - Já experimentei meu vestido, ficou ótimo! – ela abriu um grande sorriso e me sentei depressa, abrindo a primeira caixa. Um lindo vestido de cetim prateado e com a saia plissada passou entre meus dedos.
- É perfeito! – falei admirada e Dora concordou. – Vou à Sapientai entregar a encomenda. Vai comigo?
- Claro. Quero ver como ficaram os de Brenda e Anne!

Alguns minutos depois, entramos no quarto que Bel e Brenda dividiam, na Sapientai. Anne também estava lá, sentada na beirada da cama da Bel. Ela e Brenda conversavam empolgadas, cada uma segurando uma caixa do mesmo tamanho das que eu e Dora carregávamos nos braços. Bel olhava de uma a outra sem muita animação.

- Bom dia! – falei animada descarregando as três caixas que trazia na cama de Brenda. – Chegaram bem em tempo, não?
- Sim! Já experimentaram? – Anne perguntou apontando com a cabeça para as caixas. – O meu ficou maravilhoso. O da Brenda também.
- Eu já. Ficou perfeito também.
- Ainda não. Antes vim trazer as encomendas... – pisquei para as três que sorriram. Peguei uma das caixas e levei até Bel, estendendo a ela. Ela ficou me encarando sem entender.
- O que é isto, Isabel?
- Não é óbvio? Seu vestido para o Baile, claro. – insisti para ela pegar a caixa, mas a única reação que ela tomou foi rir.
- Obrigada, mas já tenho um. É ótimo. Um típico vestido de gala dos anos 60. Inclusive, era da nossa avó, Isabel. – ela disse ainda rindo e afastando a caixa dela.
- Tem, é? E eu posso ver esse vestido?
- Claro que pode. – Bel disse sacudindo os ombros e indo até o armário. Voltou um segundo depois trazendo um cabide nas mãos.

O vestido que vinha pendurado era de linha, verde musgo e com horrorosas estampas de flores amarelas. Dora começou uma exagerada crise de tosse e eu olhava a peça com o máximo desprezo que consegui juntar.

- Esse é o seu vestido? – perguntei enojada e Bel confirmou com a cabeça, estendendo-o cuidadosamente na cama.
- Sim. Chegou há um par de semanas atrás. Os elfos já lavaram, passaram e engomaram. E ahh... – ela abriu a gaveta de cabeceira e puxou um lenço amarelo. – ele ainda veio com um lenço para os cabelos. Está ótimo, não está?

Encarei Dora, Anne e Brenda (ambas com caretas desgostosas na cara) antes de responder.

- Está sim, está ótimo! – sorri e Bel pareceu levemente surpresa por eu ter concordado. – Ótimo para voltar para o lugar de onde nunca deveria ter saído! Essa coisa ainda está cheirando a naftalina! Era com esse vestido que você pretendia ganhar as eleições de Rei e Rainha do Baile de Formatura???
- Não é você mesma que diz que esse concurso já está ganho? – ela revidou azeda, levando o vestido de volta ao armário, como se estivesse com medo de que eu colocasse fogo nele a qualquer momento.
- Disse e repito. Mas só está ganho se você e Bernard estiverem realmente vestidos como candidatos a RAINHA e REI. Não como se fossem da plebe!
- Tudo bem. Não estou mesmo com vontade de ganhar esse concurso besta. – ela sacudiu os ombros e ri alto.
- Pra cima de mim, Anabel Damulakis McCallister? Eu sei que você está adorando essa idéia de ganhar o concurso e viajar com Bernard, mas nunca vai admitir isso. Por favor, será que uma vez na vida você é capaz de dar o braço a torcer? Olhe o vestido que mandei fazer pra você... Será a mais linda de todas as candidatas!

Sem dar tempo suficiente para que ela retrucasse, puxei o vestido prateado da caixa e estendi encostando-o em meu próprio corpo. O cetim brilhava de maneira suave a cada movimento. Anne e Brenda assoviaram aprovações e um brilho diferente passou pelo olhar da Bel. Ela ficou encarando a roupa vários segundos, até se recompor.

- É muito bonito sim. – ela admitiu, embora parecesse contrariada. – Mas muito exagerado.
- Era essa a intenção. Quanto mais exagerado, melhor. Vocês têm que se destacar em todos os sentidos. Se você for mesmo usar aquele vestido da vovó, faça-me o favor, finja que não me conhece! – falei impaciente dobrando novamente o vestido e colocando-o com cuidado na caixa. – Aqui dentro também estão os sapatos e as jóias para usar amanhã.
- Quando vocês encomendaram esses vestidos e tudo o mais? – Bel perguntou desconfiada.
- Na última visita à Paris, é claro. Enquanto você e o Bernard discutiam se iriam ou não participar do concurso, nós cuidávamos de todo o resto. Encomendamos todas as nossas roupas para uma costureira que conheci, muito competente. São modelos únicos. – respondi sorrindo orgulhosa. As três concordaram atrás de mim. – Não mude de assunto, Anabel. Você vai ou não usar esse vestido?

Ela encarou a caixa sem responder e Anne e Brenda logo começaram a falar sem parar sobre o quanto este novo era melhor do que o velho. Após algum tempo, ela finalmente puxou a caixa para perto.

- Tudo bem, vocês venceram. Vou usar este. Mas tem uma coisa: Bernard também providenciou roupas dos avôs para usar.
- Cuidamos de Bernard também. Já coloquei as roupas dele, de papai e de Henrique nos correios.
- É claro que você já providenciou... Você nunca se esquece desses detalhes. – ela disse mais como um pensamento alto e ri.
- Uma irmã prevenida vale mais do que quinze, Bel. E eu sou essa irmã para você. – falei convencida e ela sacudiu a cabeça, entediada.
- Quanta humildade! Brenda, me ajuda a experimentar o vestido?

Brenda concordou com a cabeça e seguiu com ela até o banheiro. Larguei-me satisfeita na cama.

- Uma já foi. Agora preciso convencer Rebecca. Vou mandar o vestido e um bilhete suplicando para ela usá-lo amanhã, por pó-de-flú. Espero que ela se dê por vencida. A intuição que tenho é que ela já está preparando um vestido pior que aquele no armário da Anabel. – Dora e Anne riram.
- Se você convenceu Anabel, convencer Rebecca vai ser moleza. Aliás, tenha certeza de citar no bilhete que Bel vai usar o vestido que você encomendou também. – Dora aconselhou e sorrimos.
- Desejem-me sorte. – falei, antes de sair do quarto com uma caixa fechada na mão.

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Durante a entrega dos diplomas, Ian, Samuel, Bernard, Sávio, Dominique, Mad, Manu, Viera e companhia ilimitada, lideraram coros sincronizados gritando nossos nomes e agitando o restante dos convidados. Bel, que foi a primeira do "grupo" a ser chamada, recebeu seu diploma das mãos de Máxime com os olhos baixos e as bochechas roxas de tanta vergonha, o que provocou ainda maior rebuliço quando eles perceberam que haviam atingido-a. Após todos receberem seus respectivos canudos, Brenda e Wentworth começaram o discurso.

- Em Beauxbatons vivemos os melhores sete anos de nossas vidas. Este castelo foi nosso abrigo nos momentos mais difíceis e nos melhores que já passamos. A formatura é uma conquista, mas estaremos para sempre ligados com esses corredores, salas, torres, masmorras e gramados. Aos familiares, professores, diretora, e demais funcionários deste castelo, os nossos mais sinceros agradecimentos e pedidos de desculpas pelas tantas detenções, notas baixas, falta de compreensão, irresponsabilidades, blá blá blá. – Brenda discursou deixando a voz ir morrendo irônica e todos riram. Wentworth pegou o microfone, também sorrindo. - Ao restante da turma de 1999 desejamos muita sorte e sucesso. A formatura não significa o fim da amizade. Os laços que fizemos aqui dentro, ninguém desata. Nos vemos por aí, muito em breve. – ele parou propositalmente, encarando todos nós, de becas azuis celeste impecavelmente lisas e chapéus cônicos. – Enfim. Agradecemos a todos pela presença esta noite, mas tenho certeza que não foi só para ouvir nosso discurso que vocês vieram. Então... à festa! – ele disse animado e Brenda novamente pegou o microfone. – E não se preocupem: a nossa querida professora Françoise Defossez não vai gritar com ninguém se por acaso comer a carne com garfo para peixe. Tenham uma boa noite!

Dezenas de chapéus cônicos voaram no ar e os formandos bem como os diversos convidados começaram a se abraçar e comemorar. Rocks agitados dos anos 60 estouraram por todos os lados e várias pessoas já se encaminhavam para a pista de dança. Todos os nossos amigos logo nos fecharam em um grande círculo para nos cumprimentarem. Avistei papai e Henrique e fui até eles, que me abraçaram com força. Papai tinha os olhos molhados de lágrimas. Mais adiante vi Bel e para a minha grande surpresa e satisfação Rebecca, vestida com um bonito conjunto de saia e blusa lilás e um lenço mais escuro no pescoço. Acenei para que elas se aproximassem. Rebecca me abraçou, enquanto papai abraçava Bel. Os dois se encararam longamente.

- Rebecca. – papai disse um pouco confuso e ela sorriu. – Como vai?
- Bem. E você, Richard?
- Orgulhoso. – ele disse sorrindo aberto e ela retribuiu. Eu e Bel nos entreolhamos.
- Venham, vou mostrar a mesa de vocês. – eu disse puxando Henrique pela mão e Bel nos seguiu, obrigando nossos pais a virem atrás. As surpresas de formatura estavam só começando...

All these places have their moments
With lovers and friends I still can recall
Some are dead and some are living
In my life I’ve loved them all


N.A.: In my life – The Beatles

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