- Como você consegue ficar tão tranqüila, sabendo que em poucas horas estaremos fazendo os NIEM’s, Isabel? – perguntei enquanto observava Isa lixar as unhas e molhá-las na água morna logo em seguida, repetindo o processo sem parar. Ela sorriu.
- Simples. Não me preocupando com os exames. Eu vou ser designer de moda, Anabel. Não preciso de notas altas em exames de Poções, Feitiços e outras coisas desse tipo, para ser famosa nas vitrines e passarelas. Me dê mais alguns anos e a marca “Isabel McCallister” vai estourar nos melhores e maiores points fashions do mundo! – ela falou empolgada e Anne riu.
- Não duvido disso, Isa. Ainda vou comprar muitas roupas com sua assinatura e me gabar: 'ah, essa bolsa? Isa McCallister fez exclusivamente para mim. Somos amigas de muitos anos!' – as duas riram alto, e soltei um suspiro de impaciência.
- Quem dera eu tivesse um mínimo de talento para desenhar roupas. – Brenda falou também se descontraindo e virando uma página do pesado livro de ‘Animagos: Uma transfiguração perigosa’. – Quem dera não ter que depender dos resultados desses exames para conseguir emprego em um bom jornal!
- Ah, vocês vão se sair bem. Não se preocupem. – Isa comentou voltando sua atenção às unhas. Dora passou andando pelo corredor, as mãos carregadas de livros.
- Dora! – Anne chamou e ela parou de andar, se virando para nossa direção. Quando nos reconheceu, sorriu e largou os livros em cima da mesa, fazendo uma careta e massageando as mãos. – Onde você estava indo, com tanta pressa? E tantos livros...
- Procurar um lugar para estudar. Posso me sentar com vocês? – ela perguntou incerta e logo começamos a abrir um espaço. Ela se sentou na ponta e ficou de frente pra Isabel, que quando levantou o olho para observá-la, sufocou um grito de horror.
- Você se lembra de que cor era o hipógrifo que te destruiu? Está acabada! – Isa disse em choque e Dora sacudiu os ombros, desanimada.
- Não durmo direito há quatro noites! Fico estudando até o dia quase amanhecer, e acordo quando o sol está nascendo.
- Suas olheiras te denunciam. E seu cabelo... – Isa se levantou indo até Dora e passando a mão nos cabelos dela. – Andam sofrendo vários abusos nos últimos dias, mas eu acho que se você prender ele assim... é, melhorou. – Isa se afastou para observar o resultado da trança que fez em Dora e pareceu chegar à conclusão de que era o máximo. Sentou-se novamente.
- Porque está estudando tanto assim? – Brenda perguntou curiosa e Dora exibiu seu pior olhar de cansaço.
- Tenho que conseguir um trabalho no Departamento de Cooperação Internacional da Magia, de qualquer jeito! Ser advogada bruxa é mais do que meu sonho, agora. É uma necessidade. Sávio e eu vamos nos mudar para um apartamento nosso um dia depois que eu me formar, e uma vez que eu sair de casa é definitivo. Meus pais nunca mais vão me deixar entrar lá. Sávio fica tentando fazer a coisa toda parecer fácil, mas não é. Só o emprego dele no Ministério não conseguiria nos sustentar, entendem? E eu sei que ele também está preocupado com isso, mas não quer deixar transparecer, para que eu não fique ainda mais estressada. Sem contar que trabalharíamos juntos no Departamento... – ela deixou a voz ir morrendo, sonhadora, e Anne, Brenda e Isa sorriram.
- Eu também tenho que estudar e muito se quiser mesmo entrar para a Academia de Aurores. Então, se vocês forem continuar com essa conversinha, me avisem que vou procurar um lugar mais silencioso. – falei séria e elas se calaram. Dora logo abriu um livro e começou a lê-lo, e Anne e Brenda se afundaram novamente atrás dos seus. Isa sacudiu a cabeça.
- Sempre azeda, Anabel. – ela comentou secando os dedos e fazendo a tigela de água desaparecer da mesa. Levantou. – Vocês estão me entediando. Vou treinar quadribol, porque esse ano a taça é da Fidei e ninguém tira! – ela falou determinada e Dora bateu seu punho fechado no peito, em cima do brasão da casa, sorrindo pra ela.
- Ela é mesmo minha irmã gêmea? – perguntei mais como um pensamento alto e em tom de descrença e todas riram. – Quadribol! Os NIEM’s batendo na nossa porta, e ela se preocupando com a taça de quadribol e as unhas. Inacreditável. – completei, antes de voltar todas as minhas atenções para o livro de Runas.
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Assim como vieram, os NIEM’s se foram. Embora tivessem me sufocado por uma semana inteira, no fim de tudo eu percebi que havia feito o meu melhor e estava confiante quanto aos resultados.
Agora, não se falava em outra coisa no castelo se não as férias de verão. E para nós, os formandos, a festa de formatura. Isa e o restante da comissão de formatura andavam de um lado para o outro fechando os últimos detalhes da comemoração e os jardins já haviam adquirido um bonito toque de anos 60. Poucos dias antes da festa, Bernard veio me visitar depois de sair do Ministério. Estávamos andando pelos corredores enquanto conversávamos, e quando passamos em frente à sala onde funcionava a rádio, Isa saiu sorridente para a porta.
- Já arrumaram as malas? O concurso é de vocês. – ela disse animada.
- Como você tem tanta certeza, Isabel?
- Vocês não viram a quantidade de pessoas que está andando por aí com uma camiseta: Votem Bê&Be para Rei e Rainha do Baile? Vocês cativaram os alunos, irmãzinha.
- Camisetas não provam nada. Não são eles os jurados. – Bernard falou sensatamente e concordei com a cabeça. Isa sorriu.
- Realmente, não são. Mas o carisma e a aceitação do “povo” é um dos quesitos mais pesados. Fora a afinidade entre vocês... – ela disse sonhadora e como eu e Bernard continuamos com expressões indiferentes, ela sorriu ainda mais. – Vocês não estão acreditando, não é? Então sentem-se e ouçam isso.
Ela fechou a porta da sala e eu e Bernard nos sentamos em um sofá que tinha no canto. Colocou o fone de ouvido, arrumou o microfone e colocou a rádio no ar.
- Boa tarde, Beauxbatons. Estamos começando mais um “Bate-papo com Isabel”, e vou começar o programa de hoje lendo algumas cartas de vocês.
‘Isa, eu sou Marta Depailler, do 4° ano da Lux. Infelizmente não vou poder participar da festa de formatura, mas estou torcendo para Bernard e Anabel ganharem o Concurso de Rei e Rainha do Baile. E para eles, eu quero dedicar a música Two Less Lonely People In the World da Celestina Warbeck. Felicidades ao casal!’
Isa terminou de ler mais cinco cartas desejando sorte ao casal “Bê&Be”, cada uma delas dedicando uma música diferente. Quando ela finalmente começou a rodar a lista de músicas para nós dois, e se virou para nos olhar, riu da nossa cara de surpresa.
- Agora vocês acreditam que são os preferidos da maioria? – ela perguntou sorrindo e me virei para Bernard, que tinha o queixo levemente caído. – Eu tentei avisar.
- Isso é loucura! Eles nem nos conhecem! – falei assombrada e Bernard apenas balançou os ombros.
- Acho que é melhor eu bater o pó das minhas malas. Nós vamos viajar. – ele falou se virando pra mim e sorrindo. Isa concordou com a cabeça, entusiasmada.
- Vocês são a sensação do momento. O casal mais popular de Beauxbatons, ou arrisco dizer, da França!
- Menos, Isabel. – falei séria e ela riu voltando-se novamente para a apresentação de seu programa. Encostei a cabeça no ombro de Bernard e uma onda gélida e furiosa invadia meu estômago enquanto eu constatava: eu era a McCallister popular do momento e o pior é que não estava achando isso tão ruim assim...
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